Ian Gillan & Tony Iommi: Who Cares [2012]
O projeto Who Cares surgiu depois de uma visita de Ian Gillan (vocalista do Deep Purple) e Tony Iommi (guitarrista do Black Sabbath) à cidade de Gyumri, na Armenia, local destruído por um terremoto em 1988, e para o qual os dois músicos e diversos outros artistas gravaram singles e um disco beneficente no mesmo ano (chamado The Earthquake Album), como parte do projeto Rock Aid Armenia, tentando arrecadar fundos para a reconstrução da cidade. Ao visitarem o local em 2011, os músicos ficaram sabendo de uma escola de música local que precisava de reparos urgentes, e resolveram unir forças e gravar um single exclusivo para arrecadar fundos à tal escola. Com a ajuda de músicos como o saudoso Jon Lord (teclados, ex-Deep PUrple), Mikko Lindström (guitarras, HIM), Jason Newsted (baixo, ex-Metallica) e Nicko McBrain (bateria, Iron Maiden), lançaram no mesmo ano o aclamado single Out of My Mind / Holy Water, com duas músicas inéditas que fizeram a festa dos fãs dos artistas envolvidos. No meio deste ano, os dois músicos anunciaram o lançamento do primeiro álbum completo do projeto, deixando o mundo da música com água na boca pela expectativa do que viria pela frente.
Frustrando a expectativa geral, Gillan e Iommi decidiram não gravar um álbum juntos, mas fazer um “catado” de faixas de suas carreiras que estavam esquecidas em alguma gaveta por aí, ou que não haviam sido muito trabalhadas quando de seu lançamento. Assim, o disco duplo Ian Gillan & Tony Iommi: Who Cares veio ao mundo no segundo semestre de 2012, e, embora não seja um trabalho em conjunto da dupla, fica longe de desagradar quem o ouve.
Apenas três faixas não contam com os vocais de Gillan: a surpreendente “Anno Mundi”, originalmente lançada em TYR (de 1990, um dos álbuns menos lembrados do Black Sabbath, e que conta com Tony Martin nos microfones), a qual ganha uma segunda chance aqui, e duas sobras do álbum Fused, lançado em 2005 por Iommi ao lado do vocalista e baixista Glenn Hughes: a pesada e lentona “Slip Away” (com mais um grande riff do mago da guitarra, em um material bem ao estilo do Sabbath) e a mais agitada “Let It Down Easy” (com uma bela performance de Hughes, em uma excelente composição). Fica difícil explicar porque estas duas músicas ficaram de fora daquele álbum, pois o certo é que não fariam feio no track list final. Vá saber as razões do guitarrista!
Nas outras quinze faixas, além das duas já presentes no single de 2011, temos apenas duas colaborações efetivas entre Gillan e Iommi: a excelente “Zero The Hero” (originalmente lançada no álbum Born Again, do Black Sabbath) e “Trashed”, originalmente do mesmo álbum, mas aqui na versão do álbum Gillan’s Inn, de 2006.
De resto, muita coisa da careira solo do cantor, como “Don’t Hold Me Back” (de Toolbox, álbum lançado em 1991) ou “Can’t Believe You Wanna Leave Me” (de Accidentally on Purpose, gravado ao lado do baixista Roger Glover, também do Purple, em 1988), além de participações do vocalista em álbuns de outros artistas, como “Get Away” (da colaboração de Gillan com o grego Michalis Rakintzis presente no álbum Etsi M’ Aresei, de 1993) ou “Can I Get a Witness”, retirada do álbum Raving with Ian Gillan & The Javelins, do grupo The Javelins, lançado em 2000 pelo selo Purple Records. Há ainda duas faixas lançadas apenas em lados B de compactos, a quase AOR “Hole In My Vest” (do single Nothing But the Best) e “She Think It’s a Crime”, música que lembra alguns dos piores momentos do Deep Purple, e que apareceu na versão limitada do single One Eye to Morocco.
Ainda há espaço para as inéditas “Easy Come, Easy Go” (rockão gravado em 1994 ao lado da banda Repo Depo) e “No Laughing In Heaven“, uma faixa com letra divertida e ritmo contagiante prevista para o álbum Garth Rockett and the Moonshiners (onde o tal Garth era nada mais nada menos que o próprio Gillan), gravado ao vivo em 1989, mas só lançado (também pelo selo Purple Recors) em 2000, além de uma versão “voz-harmônica-e-violão” gravada ao vivo para a Absolute Radio da clássica “When a Blind Man Cries” (originalmente um B-Side do disco Machine Head, do Deep Purple), aqui com o guitarrista Steve Morris ao violão (ou Steve Morse, visto as notas do encarte citarem os dois músicos).
Completam o pacote a versão para “Smoke On The Water” presente no disco Live at the Royal Albert Hall, do Deep Purple (de 2000, e que tem a presença do também saudoso Ronnie James Dio nos vocais, ao lado de Gillan) e a melhor de todas as novidades, uma jam do Deep Purple com mais de dez minutos chamada “Dick Pimple“, registrada durante as sessões de gravação de Purpendicular (1996). Esta é apenas uma brincadeira de estúdio registrada pelos músicos, mas, aqueles que conhecem o poder de improviso e a criatividade do Púrpura Profundo, sabem que não vão se decepcionar com este material. Arrisco até a dizer que esta faixa despretensiosa é melhor que qualquer coisa que o Deep Purple gravou desde então, superando fácil álbuns inteiros como Abandon ou Bananas. Confira você mesmo!
Contracapa co CD
Enfim, Ian Gillan & Tony Iommi: Who Cares é sem dúvidas um catado de raridades e faixas de menor importância nas carreiras de Ian Gillan e Tony Iommi. Mas, reunidas em um mesmo álbum, acabam perfazendo um disco surpreendente, e que ainda tem todo o caráter beneficente por trás (os músicos juram que todo o dinheiro arrecadado vai direto para a escola citada lá no começo). O encarte conta com esclarecedoras liner notes escritas por Gillan ou Iommi (nunca os dois juntos), e a distribuição nacional se dá através do selo Hellion Records. Se tiver a oportunidade de ouvir, não desperdice, pois não irá se arrepender.
Track List:
CD 1:
1. “Out of My Mind”
2. “Zero The Hero”
3. “Trashed”
4. “Get Away”
5. “Slip Away”
6. “Don’t Hold Me Back”
7. “She Think It’s a Crime”
8. “Easy Come, Easy Go”
9. “Smoke on the Water”
CD 2:
1. “Holy Water”
2. “Anno Mundi”
3. “Let It Down Easy”
4. “Hole In My Vest”
5. “Can’t Believe You Wanna Leave Me”
6. “Can I Get a Witness”
7. “No Laughing In Heaven”
8. “When a Blind Man Cries”
9. “Dick Pimple”
Uma coletânea bem fuleirazinha hein? parece mais um caça-níqueis. Bem que podiam ter feito algo melhor, como ampliar o Who Cares (single) gravando mais uma meia dúzia de canções. Enfim, pelo menos tem novidades na mídia.
Bem….pelo carater beneficente é legal. Se fosse algo sem essa idéia por trás eu nem me preocuparia…
Apesar de ter o "selo Brian May de qualidade caça níquel", tem coisas interessantes aí sim… só acho um absurdo dizer que a Dick Pimple é melhor que o Bananas… um disco com House Of Pain, Haunted, I've Got Your Number e Walk On (só pra citar algumas, existem outras ótimas), não pode ser chamado de fraco em nenhuma circunstância