Discografia Comentada: Volbeat
Por Alisson Caetano
Quem confere a sonoridade contagiante e envolvente do Volbeat pela primeira vez não faz ideia de suas raízes extremas, do submundo do death metal dinamarquês, quando ainda eram conhecidos por Dominus. A morbidez e o extremismo deram lugar à descontração e inovação, o death metal deu lugar ao hard rock, e a promessa à realidade. Formado no ano de 2001, na cidade de Copenhague, e contando atualmente com o vocalista e guitarrista Michael Poulsen, o guitarrista Rob Caggiano, o baixista Anders Kjᴓlholm e o baterista John Larsen, vêm chamando muita atenção da crítica e do público mundo afora pelas suas apresentações energéticas e sua música inusitada, um refresco frente as fracas novidades do meio hard rock da atualidade. Sua relativa curta carreira conta com cinco discos de estúdios, que serão brevemente comentados abaixo, tudo para que a sua curiosidade pela banda aumente ainda mais.
The Strength / The Sound / The Songs [2005]
A estreia tardia, gravada em pequeno estúdio e sob a supervisão de Jacob Hansen, produtor com longa experiência dentro do metal extremo, deu-se apenas em 2005, mas já apresentava um apanhado de boas composições e uma banda procurando sua identidade. O que fica evidente nos primeiros minutos de audição são os vocais de Michael Poulsen, um híbrido inusitado de Elvis Presley com James Hetfield, muito melódicos, versáteis e potentes. A sonoridade deste, como dos discos seguintes, transita entre o hard rock e o heavy metal de riffs pesados, mas ao mesmo tempo acessíveis. A característica sonoridade western e influência de rockabilly dos discos seguintes está pouco presente aqui, o que torna o disco menos variado e, por consequência, o mais homogêneo dos cinco já lançados. Porém, o vigor e o poder das músicas, perfeitas para grandes apresentações, se sobressai, caso de “Another Day, Another Way”, “Something Else for…” e seu refrão de clima emotivo, os riffs curtos e grossos de “Say Your Number”, a feliz sem ser brega “I Only Wanna be With You”, os semi thrash metal de “Fire Song (Danny & Lucy Revisited)” e “Alienized”, além de “Soulweeper”, uma das poucas com vestígios da sonoridade mais western dos próximos discos. Mesmo com qualidades, o disco esbarra em músicas que se repetem e, exatamente por isso, a duração do disco se torna demasiadamente longa: “Rebel Monster” é muito semelhante a “Something Else for…”, assim como outras músicas que poderiam ter ficado de fora pelo fator previsibilidade, caso de “Danny & Lucy (11pm)”, música curta, mas que tem um refrão melódico que não convence muito. É um disco divertido, alto astral e que, apesar de esbarrar em alguns momentos, se mostra um ótimo registro de estreia e que já prenunciava a busca pela qualidade nos vindouros lançamentos.
Rock the Rebel/Metal the Devil [2007]
O segundo registro marca a primeira de poucas mudanças de formação na carreira do Volbeat, tendo Tomas Bredahl ocupado o posto de guitarrista solo no lugar de Frank Hellboss. Muito superior à sua estreia, Rock The Rebel/ Metal The Devil é o reflexo da sede da banda pela busca de seu lugar ao sol. Mostrando muita versatilidade nas estruturas musicais e nas composições, o disco apresenta uma bem vinda variedade de influências fundidas ao hard rock cheio de testosterona da estreia. Temos um country rock acelerado em “Sad Man’s Tongue”, “Mr. And Mrs. Ness” e seu tom levemente épico, as urgentes de “Devil or the Blue Cat’s Song” e “Radio Girl” – que fazem jus à alta rotação demoníaca ilustrada na capa –, o trabalho vocal peculiaríssimo de Michael Polsen em “A Moment Forever” e, no geral, músicas fortes e que exploram muito bem o uso dos riffs na criação de músicas melódicas e acessíveis a qualquer ouvinte casual de heavy metal. A curta duração do play, se comparada à estreia – 11 faixas – ajuda a melhor apreciação do trabalho, fazendo com que cada música tenha um impacto mais atenuante sobre o ouvinte, partindo da abertura western de “The Human Instrument” até o encerramento mais cadenciado em “Boa (JDM)”. Conciso em suas ideias e de execução precisa, Rock the Rebel/Metal de Devil cumpre sem sustos a prova de fogo do segundo disco com um ótimo apanhado de boas composições, perfeitas para qualquer tipo de ouvinte, desde o casual até o mais exigente.
Guitar Gangsters & Cadillac Blood [2008]
Observando a ótima receptividade de seus primeiros lançamentos, a banda não se furta em entrar em estúdio e registrar seu terceiro disco, mantendo o ritmo intenso de gravações (pouco mais de um ano separa este disco do anterior). Guitar Gangsters & Cadillac Blood mostra-se, desde o princípio, como o mais bem resolvido e mais bem arranjado, tanto em termos de estruturas musicais quanto em equilíbrio de ideias, dos discos lançados até a data. Os riffs carregados e memoráveis, as melodias e a característica influência sulista marcam forte presença durante o transcorrer da audição, configurando este lançamento como o favorito deste que vos escreve. O disco transcorre de forma aveludada, com ideias inusitadas, caso de “Mary Ann’s Place” e um dueto entre Poulsen e a cantora Pernille Rosendahl, lembrando facilmente os duetos feitos por Johnny Cash e June Carter, a pop punk “Maybellene I Hofteholder” – que se encaixaria sem maiores sustos em um disco do Green Day –, e até um clima surf sacana no início de “Still Counting”. O disco possui também músicas mais tradicionais e diretas ao ponto, aqui representadas com muita categoria por “Light a Way” – onde Michael Poulsen mostra muita categoria interpretativa em uma belíssima balada –. A faixa título e “Wild Rover Of Hell”, por sua vez, vão fundo no thrash metal sem destoar do restante do conteúdo do disco. Terceiro disco, terceiro acerto consecutivo e, claro, mais um disco de audição obrigatória.
Beyond Hell / Above Heaven [2010]
Beyond Hell / Above Heaven pode ser visto como um bom disco, mas com erros pungentes e que acabam puxando o resultado para baixo de forma notável. Antes de comentar sobre esses erros, atemo-nos aos pontos de destaque, e eles não são poucos. Logo de início o disco mostra seu cartão de visitas com uma ótima faixa de abertura, “The Mirror and the Green Reaper”, um hard rock padrão Volbeat com um refrão devidamente emotivo. Logo na sequência, a música mais conhecida e a mais festejada quando executada nos shows. “Heaven Nor Hell” talvez seja a síntese perfeita do que é o som dos dinamarqueses, ou seja: aquele hard rock simples, com influências musicais norte-americanas – com um solo de gaita muito bem encaixado – e um refrão marcante. “Fallen” sobressai-se em sua levada emotiva na medida certa, enquanto “16 Dollars” é um country-metal em essência. Como falei anteriormente, o disco possui alguns deslizes notáveis, e são justamente nas faixas que mais chamam a atenção do ouvinte. Uma delas é “Evelyn”, faixa que conta com a parceria de Mark “Barney” Greenway, do Napalm Death, dividindo os vocais com Poulsen. Excessiva e soando completamente deslocada do disco devido a sua estrutura demasiadamente pesada, é um dos pontos negativos, seguida muito de perto por “7 Shots”, que começa promissora, com trechos de guitarra levemente inspirados em Thin Lizzy, mas que definitivamente não precisava dos vocais de Mille Petrozza, do Kreator. “Who They Are” e “A Better Believer”, desta vez sem participações especiais, soam como reciclagens de ideias utilizadas nos discos passados, não causando tanto impacto. Apesar dos deslizes, o disco mantém o nível de qualidade de seus discos anteriores, muito devido às ótimas composições que disfarçam os deslizem do disco.
Outlaw Gentleman and Shady Ladies [2013]
Lançado em abril de 2013, Outlaw Gentleman and Shady Ladies é a consagração comercial e o reconhecimento definitivo frente a críticos, assim como seu melhor desempenho nas paradas de sucesso – rendeu oito singles, o 1º lugar nas paradas de sucesso de vários países e uma nomeação ao Grammy na categoria Best Metal Performance –. O disco marca a última mudança de formação da banda até o momento. Rob Caggiano, antes no Anthrax, assume a guitarra solo no lugar de Thomas Bredahl. No tocante à musicalidade, não houve nenhuma mudança significativa. As mesmas composições fortes, com um ótimo apelo pop e influências sulistas permanecem, porém, desta vez, mais diretas ao ponto e sem participações especiais que descaracterizassem a pegada típica do grupo. Uma pequena introdução dá as boas-vindas ao disco, que logo mostra suas armas com “Pearl Hart”, ótima faixa conduzida sabiamente em cima de andamentos simples e um refrão de assimilação imediata. “The Nameless One” mantém a pegada mais hard rock, enquanto “Dead But Rising” abusa do peso dos riffs em uma ótima faixa cadenciada. “Cape Of Our Hero” é uma bela composição melódica, enquanto “My Body” e “The Sinner Is Your” assumem um caráter mais pop punk, apenas pincelado nos discos anteriores. ”Room 24” não poderia deixar de ser comentada. Contando com a participação ilustre de King Diamond – e uma de poucas composições contendo sua voz em anos –, todo o falatório feito é justificado pela sua qualidade. Com um riff sabbhático introdutório, ótima levada de guitarras e os inconfundíveis vocais do Rei Diamante, é uma faixa de clima bizarro e que figura facilmente dentre os clássicos de ambos os artistas participantes – não por menos, foi a faixa que conferiu a primeira indicação ao Grammy dos dinamarqueses –. Outlaw Gentleman and Shady Ladies é mais um acerto dentro de uma discografia praticamente irretocável. Audição não apenas recomendada, mas obrigatória.
Tá aí uma banda que eu sempre tive preguiça em ouvir. Esse último disco mesmo eu coloquei pra tocar uma vez e nunca mais. Tenho que ouvir mais.
Tá ai uma banda que eu curto pra caralho! Som único, pegada única, essa parada de country/heavy metal, e as vezes até um thrash de leve é muito boa, a banda está conquistando seu espaço por puro mérito, valeu.
Ouvi muito em 2013, depois deixei um pouco de lado, mas de vez em quando sempre rola uma ou outra nas playlists aqui no celular.
Só acrescentando com um comentário que fiz em outro post sobre a mesma banda aqui no site:
http://consultoriadorock.com/2013/05/08/sangue-novo-volbeat/
“conheci o Volbeat ao ouvir Heaven Nor Hell na 89fm que havia retornado ao dial recentemente em São Paulo, corri para a Internet e comecei a ouvir o trabalho do grupo, ouvi todos os álbuns praticamente na sequência e viciei também, curiosamente, para mim a música citada é uma das mais fracas, tem muita coisa boa nos discos dos caras.
Assisti ao show lançado em DVD Beyond Hell/Above Heaven, além das apresentações nos festivais europeus e a minha impressão sobre a banda só melhorou.
Uma pena que aqui no Brasil parece não pegar, gostaria de assistir os caras por aqui.”