Elliott Smith – Elliott Smith (1995)
Por Alisson Caetano
Somos persuadidos por nosso inconsciente à reportarmos aos meios artísticos mais intimistas, inquietos e obscuros que a mente humana já foi capaz de fornecer ao mundo. Resumidamente: sentimos um estranho prazer pelo ato do auto-flagelo mental, isto por meio de atos simples: a recordação de momentos alegres que não mais retornarão ou a reflexão do significado de sua existência em um mundo niilista.
A música geralmente é o combustível perfeito para estes momentos de masoquismo sentimental. E este combustível é farto, basta escolher aquele que melhor sirva de ignição à suas memórias lamuriosas. Em sua curta carreira, Elliott Smith soube muito bem construir músicas carregadas de sentimento em toda sua estrutura, das letras metafóricas às melodias morosas, perfeitos catalizadores sentimentais.
Elliott Smith, segundo disco de sua carreira solo e primeiro lançado pela independente Kill Rock Star, na verdade é um reflexo deturpado de sua vida pessoal. Conjuntamente à sua carreira, conviveu com a depressão. Depressão que inspirou suas melancólicas e inspiradas canções. A mesma depressão que pode ter posto fim a sua vida, com dois golpes letais de faca na região toráxica, no ano de 2003. Ele tinha 34 anos.
Se o contexto não for o suficiente para te deixar menos feliz, as canções provavelmente o farão. Além do reflexo sem floreios de sua vida pessoal regada à álcool e drogas, as letras atendem certeiramente os anceios de mentes deprimidas. O indie lo-fi de traços folk, muitas vezes conduzido solitariamente por Elliott e seu violão, é um contraste muito funcional às letras profundas e cheias de metáforas, que muitas vezes traduzem o momento pessoal vivido pelo artista.
A dependência em álcool parece ser uma problemática constante. “Clementine” é entoada em homenagem aos fiéis clientes finais de botecos, enquanto “Christian Woman” deixa transparecer em sua levada calma uma agonia quase opressiva sobre o vício. Apesar de recorrentemente as letras abordarem assuntos frios e até pesados, como o suicídio (“Needle in the Hay”) ou solidão e alienação (“The Biggest Lie”), o disco não deixa explícito sua veia obscura. À frente de tanta melancolia, os violões e bases minimalistas ajudam a equilibrar o disco, tornando-o melódico, acessível e até mesmo acalentador.
Elliott Smith ainda faria outras grandes obras em sua carreira, e seria reconhecido com uma nomeação ao Oscar pela música “Miss Misery”, composta para o filme Gênio Indomável, de Gus Van Sant. Porém, Elliott Smith, o disco, ainda é o painel mais fiel de sua vida, funcional como trilha sonroa de momentos auto-contemplativos. Apenas não exagere na emoção, é apenas trilha sonora, não uma fonte de inspiração profunda…
Tracklist:
- Needle in the Hay
- Christian Brothers
- Clementine
- Southern Belle
- Single File
- Coming Up Roses
- Stallite
- Alphabet Town
- Ides Heaven
- Good to Go
- The White Lady Loves You More
- The Biggest Lie
Ótima resenha, Elliott foi um grande artista!
Christian Brothers é muito legal. Quer ser feliz, compra cd do Padre Marcelo.
Que analise mais pobre e fatalista, sinceramente. Coisa de quem ouviu Elliott no aleatório só pra poder escrever sobre. Texto mal revisado.