Origin of Iron [2015]
Por Fernando Bueno
Os colecionadores de Iron Maiden costumam estender suas coleção às carreiras de integrantes e ex-integrantes fora da discografia da banda. As coleções de Bruce Dickinson e Paul Di Anno, por exemplo, são muito maiores e cheias de detalhes que muita banda consagrada por aí. Porém muitos dos ex-integrantes não possuem trabalhos fora do Maiden por terem parado de tocar ou por simplesmente não terem algo relevante.
Também é difícil acompanhar todos que já foram gerenciados com mãos de ferro pelo patrão Steve Harris já que muita gente já fez parte de seu line up. Como exemplo, listo abaixo todos os músicos citados pelo Rate Your Music que já fizeram parte da banda, juntamente do período em que isso aconteceu, fora o sexteto que estão lá hoje.
Paul Mario Day (vocal, 1975-76)
Dennis Wilcock (vocal, 1976-77)
Paul Di’Anno (vocals, 1977-81)
Blaze Bayley (vocals, 1994-99)
Terry Rance (guitarra, 1975-76)
Dave Sullivan (guitarra, 1975-76)
Bob Angelo [Robert Sawyer] (guitarra, 1976)
Terry Wapram (guitarra, 1977)
Paul Cairns (guitarra, 1979)
Paul Todd (guitarra, 1979)
Tony Parsons (guitarra, 1979)
Dennis Stratton (guitarra, 1980)
Doug Sampson (bateria, 1977-80)
Ron Matthews (bateria, 1975-77)
Thunderstick (bateria, 1977)
Clive Burr (bateria, 1980-82)
Tony Moore (teclados, 1977)
Uma multidão, não é? Pois bem, no começo do ano saiu uma coletânea chamada Origins of Iron que apresenta alguns desses músicos que passaram pela história do Iron Maiden com graus de importância bastante distintos. Porém diferente de vários lançamentos parecidos, esse tem uma causa nobre. Todo o dinheiro arrecadado foi revertido para a Hit ‘em Hard for MS: The Clive Burr Foundation, que é um órgão de caridade fundado por um primo de Burr para ajudar pessoas que possuem o mesmo problema que causou a morte do baterista em 2013. A doença que ele tinha, a Esclerose Múltipla, ataca o sistema nervoso central e interfere na capacidade do cérebro de controlar funções como caminhar, falar e outras.
Um exercício interessante ao ouvir o disco é imaginar aquele tipo de som que o cara está executando sendo encaixado no próprio Iron Maiden, mesmo que isso não faça sentido algum. Muitas dessas músicas não foram gravadas na época que eles estavam com a banda e a função de compositor sempre foi de Steve de qualquer maneira. Logo na primeira faixa temos algo totalmente diferente com o estilo musical da Donzela. “Spaceboogie Pt. 1”, de Robert Sawyer, é uma viagem sonora feita com auxílio de efeitos de guitarra. Lembra alguma coisa de Robert Fripp quando utiliza seu frippertronics ou algum disco solo de Jan Akkerman nos anos 80. Essa faixa não está presente no LP.
O baterista Doug Sampson participa junto de sua atual banda chamada Airforce – não confundir com o Airforce de Ginger Baker dos anos 70 – com a faixa “War Games”. Destaque para o vocalista Sam Sampson que tem uma voz bastante agradável. Seria Doug parente de Sam? Sei lá! Dificil encontrar informações sobre a banda, mas parece-me que o chefe da coisa é o guitarrista Chop Pitman. No encarte existe um link em que temos acesso a várias outras músicas, mas nada mais do que isso. Para quem gosta de um hard que pese para o AOR vale bastante a pena.
Se alguém leu a matéria que fiz sobre a banda More aqui na Consultoria do Rock vai se lembrar que comento sobre algumas pessoas na Inglaterra que ficaram anos repetindo que o vocalista “bom mesmo” que tinha passado pelo Iron Maiden era Paul Mario Day. Bem, aqui está mais uma chance para você verificar se isso é real ou não. Paul participa com a faixa “Guilty” de um disco de 2011, autointitulado, da banda Crimzon Lake, em que o destaque mesmo vai para o guitarrista Daniel Jackson. Paul Day já está com outra banda atualmente, o Defaced.
Lembram daquele baterista malucão que tocava com uma balaclava de couro no Samson, o Thunderstick? Pois é! Muito nem se lembram que ele também foi baterista do Iron Maiden. Na verdade ele trocou a banda quando foi para o Samson e Clive Burr saiu do Samson e veio para o Iron. Novamente as informações são precárias e o site que ele disponibiliou no encarte não leva a nada. Participando com uma banda que leva seu nome com a ótima faixa “Thunder Thunder” mostra que o baterista tem/tinha certo potencial como compositor. Conhecem a história de “The Ides of March”, não é? A vocalista Jodee Valentine faz um ótimo trabalho principalmente no pegajoso refrão.
O guitarrista Terry Rance foi um dos primeiros a fazer parte do Iron Maiden e ficou na banda cerca de 17 meses. A faixa “On the Run” de sua banda Lizard é a que mais remete ao NWOBHM do ábum e é razoável. Precisaria ouvir mais material do grupo para poder avaliar melhor.
Quem não pode faltar quando o assunto é Iron Maiden? Pois é, o eterno ex-vocalista do Iron Maiden, Paul Di Anno, também participa. Com sua atual banda chamada Architects Of Chaoz Paul nos trás uma das melhores faixas do disco, “When Murder Comes to Town”. Eles estão fazendo um metal bem mais moderno que o apresentado no restante do disco e temos uma bela idéia de como é o disco todo do grupo que foi lançado há alguns meses. Quem acompanha o que Paul tem feito nesses últimos anos sabe que ele anda usando bastante drive na voz atualmente, mas aqui ele faz variações bastante interessantes.
Em seguida temos a participação de outro vocalista, o controverso Blaze Bayley. A faixa escolhida foi uma participação que Blaze fez com um guitarrista chamado Chris Declereq, um músico de estúdio bastante experiente, apesar da pouca idade. Parece-me que Chris quer começar a dar seus próprios passos e está gravando um disco solo e “A Miracle Away” é seu primeiro single. Blaze Bayley deixa o som bastante parecido com o material de sua carreira solo pós Iron Maiden. Junto da faixa anterior são os maiores destaques do disco. Dos participantes de Origins of Iron, Blaze Bayley é o que mais tempo ficou no Iron Maiden, cerca de 5 anos. Um detalhe bastante interessante dessa faixa é a participação de Michael Kenney um membro não oficial do Iron Maiden desde Seventh Son of a Seventh Son. É ele que faz todas as partes de teclados, inclusive participou dessa última turnê Maiden England. Na bateria David Moreno que chegou a tocar na banda solo de Bruce Dickinson.
Se a idéia era levantar fundo para um órgão de caridade que leva o nome de Clive Burr nada mais justo que algo em que ele participou fizesse parte do disco. E a faixa escolhida, uma demo, foi retirada dos baús de Paul Samson do início da banda Samson em 1977. “The Shuffle” é um boogie e mostra bem o estilo musical com a banda começou bem diferente do que fizeram a partir da entrada de Bruce Dickinson.
Por fim uma participação que particularmente gostei muito e estava bastante curioso quando ainda não tinha ouvido o disco. A maioria não sabe, mas o Iron Maiden já teve um tecladista como membro oficial. Por pouco tempo, mas teve. Steve estava tentando uma formação na linha do Deep Purple e do Rainbow, mas depois viu que isso não iria funcionar para fazer as músicas que queria e um segundo guitarrista era necessário. Assim, Tony Moore ficou somente cerca de quatro meses na banda. Moore canta, toca teclado e violão em “Rockstars Don’t Retire” em que o principal destaque é a letra. Falando sobre a vida de um músico em início de carreira ele cita alguns hábitos comuns entre essas pessoas, de destruir hotéis até assinar contratos duvidosos. Canta que a internet acabou fazendo com que as vendas de CDs diminuíssem, mas agradece aos iPods por continuarem tocando suas músicas. Bastante trabalhada, a faixa é bem setentista com elementos folk. Bela surpresa!
A idéia do CD veio da publicação de um livro chamado Outside Iron Maiden, publicado, em edições bastante restritas, na Hollanda, por um colecionador chamado Erwin Lucas que apresenta em seu site uma coleção fantástica de itens do Iron Maiden. Nesse site ele também vende seu livro.
A capa e contra capa, toscas a princípio, trazem bastantes referências das bandas que estão na coletânea e também da história do Iron Maiden. Podemos ver uma avião em alusão ao Airforce, o lago vermelho (Crimzon Lake), um lagarto azul (Lizard), algumas caricaturas dos músicos e uma citação do Cart and Horses, famoso pub em que o Iron Maiden deu seus primeiros shows. Até uma placa da Kibon podemos ver em uma das fachadas. Depois de olhar com mais atenção a tosqueira até fica em segundo plano.
Pelo caráter beneficente que a coletânea se propõe acho que a tiragem foi muito limitada. Já que nesse caso o importante seria a maior arrecadação possível. Foram lançados apenas 250 cópias em CD, 250 cópias em LP e mais 100 pôsteres. Até mesmo por isso tenho dúvidas sobre a veracidade dessa limitação de tiragem. Primeiro porque como disse acima acho que o valor arrecadado poderia ser muito maior – pelos preços praticados no lançamento o total giraria em torno de 7.000 libras. Outro ponto é que no site ainda existem cópias sendo vendidas e eu tenho certeza que existem mais colecionadores do que o número de cópias anunciadas. Em todo o caso a minha cópia do CD veio numerada a mão com o número de 58, a do pôster 49 e ainda não recebi o LP. Será que isso vai se tornar valioso no futuro?
Track List
01 – Bob Sawyer – Space Boogie Pt. 1 (Inédita)
02 – Airforce – War Games (Doug Sampson na bateria – Inédita)
03 – Crimzon Lake – Guilty (Paul Mario Day no vocal)
04 – Thunderstick – Thunder Thunder (Inédita)
05 – Lizard – On The Run (Terry Rance na guitarra)
06 – Architects Of Chaoz -When Murder Comes To Town (Paul Di’Anno no vocal)
07 – Chris Declercq – A Miracle Away (Blaze Bayley no vocal)
08 – Samson – The Shuffle (1977 Demo) (Clive Burr na bateria)
09 – Tony Moore – Rockstars Don’t Retire