Cinco Discos Para Conhecer: Drone
Por Alisson Caetano
O drone popularizou-se — em escala muito pontual, obviamente — com o surgimento das primeiras bandas do circuito alternativo de heavy metal, sendo elevado à gênero musical com o lançamento dos primeiros discos de bandas como o Earth, Melvins e, principalmente, Sunn 0))).
Porém, tirando em pratos limpos, o drone, muito antes de ser um subgênero do heavy metal, é um artifício musical de origem remota. Essencialmente, o drone na música é entendido como a sustentação ou prolongamento de acordes, sons ou até mesmo ruídos, que podem ser produzidos por meio de instrumentos musicais ou com a ajuda de modulação eletrônica.
Os cinco discos que vou citar aqui não são do mesmo estilo musical, mas todos têm, como fio condutor, o uso do drone, sendo um bom ponto de partida para o conhecimento de uma das “modas” da música underground da atualidade. Obviamente, todos os discos abaixo não são de audição fácil. Portanto, se você:
- Não gosta de heavy metal;
- Não gosta de música experimental, ou;
- Acha que tudo o que vou citar abaixo nem é música de verdade.
Não se dê o trabalho de prosseguir com a leitura.
Earth – 2: Special Low Frequency Version [1993]
Lançado pela Sub Pop, selo responsável por inúmeros lançamentos seminais de rock e metal alternativo, sendo a estréia do Nirvana um dos exemplos mais conhecidos, Earth 2 foi uma espécie de pontapé inicial para o que posteriormente convencionou-se rotular como drone metal. A estrutura básica do som da banda (doom metal) é levada ao extremo pela alta dose de distorções, feedbacks e, claro, uso de drones para criação da ambientação do disco. Dividido em três enormes peças musicais, todas as camadas sonoras foram feitas usando apenas guitarra e baixo (com exceção da percussão usada em “Like Gold and Faceted”), o que torna o resultado final do disco ainda mais surpreendente.
Dylan Carlson (vocal); Dave Harwell (baixo); Joe Burns (percussão em “Like Gold and Faceted”).
- Seven Angels
- Teeth of Lions Rule the Divine
- Like Gold and Faceted
Godspeed You! Black Emperor – Lift Your Skinny Fists Like Antennas to Heaven [2000]
Não queria deixar a lista essencialmente composta por heavy metal, para não causar a impressão que justamente quis evitar ao fazer essa matéria. Atualmente elogiados por crítica e público, o GY!BE, na época do lançamento deste disco, já gozava de reconhecimento e prestígio por conta de seu disco de estreia, o esquizofrênico F#a#∞ (1996), uma verdadeira pepita do post-rock mundial, mas que, estruturalmente, é uma viagem calcada no noise de difícil digestão até para os fãs ferrenhos do estilo. Com Lift Your Skinny…, a banda promoveu uma mudança em sua música. Desta vez composto por 4 longas peças instrumentais divididas em um disco duplo, a banda passou de um post-rock com elementos de noise para algo maior. O desenvolvimento das canções, sempre partindo de sons sutis e minimalistas para partes grandiosas e orquestradas, surpreende até quem é pouco afeito à música experimental. Como não poderia deixar de ser, o disco utiliza muitos drones, mas não de uma forma que cause incômodo ou estranheza. Na maior parte das vezes os drones servem de complemento aos trechos orquestrais, tornando o resultado final inusitado e até mesmo contemplativo.
Thierry Amar (baixo); David Bryant (guitarra); Bruce Cawdron (bateria); Aidan Girt (bateria); Norsola Johnson (violoncelo); Efrim Menuck (guitarra); Mauro Pezzente (baixo); Roger Tellier-Craig (guitarra); Sophie Trudeau (violino).
Disco 1:
- Storm
- Static
Disco 2:
- Sleep
- Antennas to Heaven
Sunn 0))) – Monoliths and Dimensions [2009]
O representante mais óbvio do drone metal atualmente e o disco que basicamente levou o Sunn 0))) para uma audiência minimamente mais comercial (leia-se ouvintes casuais de metal extremo). Por mais que a própria banda negue o rótulo drone metal, é inegável que o disco não se enquadra facilmente em um gênero. Passar pelos 50 minutos de audição de Monoliths and Dimensions não é uma tarefa das mais simples, mas garanto que a experiência é gratificante. Toda a muralha de sons e distorções tem o intuito principal de te tirar do prumo. O desenvolvimento das músicas também é singular: uma mescla de incontáveis instrumentos — como a harpa, piano e os mais variados instrumentos de sopro –, modulação eletrônica e até uso de vozes soprano. Basicamente se você quer saber o que é drone, obrigatoriamente terá ouvir Sunn 0))) pelo menos uma vez.
Stephen O’Malley (guitarra, arranjos acústicos); Greg Anderson (guitarra, baixo); Attila Csihar (vocal). Para line-up completo, consulte o The Metal Archives.
- Aghartha
- Big Church [Megszentségteleníthetetlenségeskedéseitekért]
- Hunting & Gathering (Cydonia)
- Alice
Nadja / Black Boned Angel [2009]
Este é um disco colaborativo entre duas das mais conceituadas bandas do cenário alternativo da atualidade: o Nadja, responsável pelo seminal Touched, e o Black Boned Angel, que seguiu uma linha mais grosseira, sendo Verdun o melhor exemplo disso. Composto por duas grandes peças instrumentais com mais de 25 minutos cada, é o disco que chega mais próximo de te levar ao abismo infernal mais profundo existente na Terra. O desenvolvimento das canções é sublime, com um crescendo abismal produzido por efeitos industriais opressivos e guitarras sombrias, que subitamente te jogam dentro de uma massa sonora impressionante. A audição, como sempre, é incômoda por vezes, mas isso não impede que o resultado dessa parceria seja menos que memorável.
Leah Buckareff (baixo, vocal); Aidan Baker (guitarra, piano, drum programming, instrumentos de sopro, vocal)
- I
- II
Phurpa – The Magic Rituals Of The BON Tradition [2014]
Disparado uma das coisas mais singulares a surgir na música em pelo menos 10 anos. A bem da verdade, o Phurpa não é uma banda. Levado à cabo por vários músicos russos, tendo como mentor Alexey Tegin, o Phurpa é um grupo que se propõe a executar mantras de rituais da cultura Bön, uma religião de origem tibetana pré budista. Nada aqui é convencional para nós, pouco afeitos a esse tipo de manifestação cultural, mas é inegável que, mesmo soando completamente atípico, é um disco que merece atenção. O som é todo feito com instrumentos acústicos tradicionais do local, e isso incluem percussões feitas de crânios humanos e alguns trompetes de fêmur. Sobre o som: é um tanto difícil de discorrer sobre. A aura criada pela música envolve o ouvinte em uma massa sonora completamente sombria e ritualística, atenuado pela técnica vocal, chamada de rgyud-skad (conhecido por nós, ocidentais, como throat singing), responsável pelos drones produzidos no disco.
Alexey Tegin; Andrei Grekov; Cheslav Merk; Eduard Utukin; Dmitry Globa-Mikhailenko.
- Long Life
- Mi Dud
- Lta Zor
Não ouço quase nada de drone, tentei ouvir há um tempo algumas bandas e desisti. Porém, uma que acho que vale a pena uma audição e que foi citada no texto é o Sunn 0))).
André, recomendo dar uma ouvida nesse disco do GY!BE. Não é metal, é mais puxado pro post-rock e ambient, um som até contemplativo e longe do incômodo que o efeito produz em quem não está muito habituado ao estilo.
Ambient já me apetece mais. Vou dar uma conferida.
Não curto Drone, mas fiquei com dúvida se o ótimo disco do Swans – To Be Kind seria Drone
Conheço muito pouco de Swans além do Soundtracks For the Blind, mas o som segue uma linha mais dark ambient e noise. Não vou afirmar ou negar nada pra não dizer bobagem.
Não curti o Swans. É muito noise pra mim.
Em primeiro lugar, parabéns ao Alisson por trazer um pouco de estranheza à CR que costuma ser muito papai e mamãe. Nunca me deparei com esse termo “drone” porque na caverna prog não tem dessas coisas, mas sou bastante chegado em vanguarda e geralmente gosto de coisas que os meus ouvidos odeiam. Daí de cima conhecia o GY!BE, mas não como drone. E gostei bastante também (agora que ouvi) do Earth. Interessante é que os discos crescem cornológicamente e vão radicalizando cada vez mais, ficando meio chatinho. Esse som do Phurpa, por exemplo, não vejo diferença dos CDs ritualísticos que minha mulher vendia quando tinha loja esotérica. Se arriscarem ouvir mantras tibetanos ou os aborígenes australianos tocando seus didgeridoos, verão que a coisa não difere muito. Mas repito: gostei desses cinco discos para conhecer. Prazer em conhecer.
Obrigado, Marco. Talvez futuramente eu repita a dose, mas com o noise. Quanto ao GY!BE, vale citar que o estilo realmente é o post-rock, mas a banda utiliza drones no meio das músicas, diferente da alcunha de drone metal que Nadja, Earth, Sunn 0))) e Jesu ganharam com o decorrer de suas carreiras. Ademais reforço o agradecimento.
Bela lista, gostei bastante das colocações. Sunn O))), Earth e GY!BE eram meio que nomes essenciais aí, o resto acredito que foi muito por gosto pessoal – gosto de Nadja e acho Phurpa bem exótico. Fiquei curioso pra saber o que vai rolar nessa lista sobre noise que tu comentou, acho que será mais complicado.
Nem acho que seria tão complicado fazer sobre o noise. Se pegar as “figurinhas carimbadas”, tipo Unsane, Velvet Underground, Today is The Day, Oxbow e até o Sonic Youth, já enche uma lista. Mas vamos ver, ainda estou planejando, não é nada concreto. Valeu pelo comentário Giovanni
Ah bom, seria “noise rock” então. Noise é outra coisa.