Review Exclusivo: Glenn Hughes (Porto Alegre, 18 de agosto de 2015)

Review Exclusivo: Glenn Hughes (Porto Alegre, 18 de agosto de 2015)

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Por Mairon Machado

Posso dizer com satisfação que já vi muitos shows em minha vida. Diversos artistas que aprecio pousaram em um local próximo de meu alcance, e eu consegui assistir suas apresentações que, na maioria dos casos, foi extremamente satisfatório. Porém, poucas vezes consegui assistir a um ÍDOLO com todas as letras garrafais. Seja por que o cidadão (cidadã) em questão faleceu, seja por que nunca veio ao Brasil (ou em um país que eu estivesse naquele momento), conto nos dedos os artistas que eu vi que eu queria realmente ver (Yes, Kiss com os quatro mascarados originais, Los Hermanos – tá, vai vir zoação, Arnaldo Baptista, Mick Box, Uli Roth, Madonna, …, para por aí).

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Um desses artistas ainda vivo, e que passou por Porto Alegre quando eu morava em Porto Alegre, mas não pude assistir por conta do trabalho, é o baixista britânico Glenn Hughes. Em dezembro de 2010, ele apresentou-se no modesto e apertado Beco, e fiquei muito triste de não poder conferir The Voice of Rock ao vivo e a cores, com todo seu talento e seu carisma, além de anos de experiência tocando alguns monstros do rock, dos quais destaco simplesmente Ritchie Blackmore, Tony Iommi, Tommy Bolin e Mel Galley – trinca feroz hein?

Pois bem, eis que o tempo passa, os cabelos caem, e em agosto de 2015, Hughes volta ao solo gaúcho, dessa vez acompanhado de Doug Aldrich (guitarrista que tocou com Dio no início da década passada) e o exímio baterista sueco Pontus Engborg.

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Sem pestanejar, decidi ir ao show, mesmo ocorrendo em uma terça-feira. Era apenas questão de rearrumar os trabalhos e planejar certo como ir e voltar mais de 1500 km entre São Borja e Porto Alegre, para conferir de perto simplesmente um dos caras que há no mínimo 25 anos me despertou a paixão pelo rock. Não é que o irmão e colega consultor Micael descobre que havia um Meet and Greet sendo oferecido para o show, e melhor ainda, por um preço bem razoável para a ocasião. Não tinha como titubear, e adquiri também o Meet and Greet, recebendo assim a honra de conversar com Mr. Hughes, The Voice of Rock. QUE SONHO!

A ansiedade era grande, mas algumas semanas depois, lá estava eu, no Bar Opinião, e ficar me beliscando para acreditar que o que estava passando era realidade.

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O fim de tarde, início de noite, do dia 18 de agosto, começou com muita chuva, mas a expectativa era as melhores possíveis. Fiz uma seleção da minha coleção de discos do Deep Purple e Trapeze que contam com Glenn Hughes, além de alguns CDs do Purple e da carreira solo de Hughes, com esperança de que ele autografasse alguns. Quanta ingenuidade minha. O Meet & Greet começou pontualmente às 18 horas, quando pude conferir a passagem de som de “Stormbringer”, enquanto recebia lembranças – uma foto 8 x 10 cm, um ingresso laminado e um crachá laminado e com efeitos 3D – e Hughes mandava beijos de cima do palco.

Na sequência, Hughes desceu do palco e atendeu os quatro participantes do encontro. E não é que ele assinou todos os discos e todos os CDs que levei? Que arrependimento. Deveria ter levado mais, para ele assinar. O melhor no fim não foi isso, foi a simpatia. Hughes atendeu à todos com uma humildade rara para alguém de sua importância, sem o mínimo de arrogância. Foi legal trocar uma ideia com ele, conversar um pouco sobre Tommy Bolin, Tony Iommi, um pouco dos velhos tempos do Trapeze, mas principalmente, estar diante de um homem que é responsável por minha formação no rock, de igual para igual, sem distinções. A conversa foi muito boa, ele se permitiu tirar várias fotos, e não posso deixar de agradecer também a Mike, um dos responsáveis pela organização do Meet & Greet e do show, que nos atendeu também com muita simpatia. Valeu a pena o investimento, e certamente, assim como o Davi já havia dito em uma resenha do Kiss, ter esse Meet & Greet com um artista que você curte com certeza é uma oportunidade que não se pode rejeitar.

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A alegria de ter conversado com Hughes, tirado fotos, conseguido autógrafos etc etc ficou estampada no rosto até a hora do show. Grudado na grade, vi o trio subir ao palco e simplesmente detonar. O baixo de Hughes sacolejou o opinião, e Doug foi uma boa surpresa, tocando muito como manda o figurino dos bons guitarristas revelados ao mundo na segunda metade da década de 80.

O surpreendente do show foi que Hughes não se focou em sucessos. Para quem esperava “Seafull” ou “You Are The Music”, dois dos principais sucessos do Trapeze, recebeu “Way Back to the Bone” e “Touch My Life”, duas pérolas lado B de You Are the Music … We’re Just the Band (1972) e Medusa (1970) respectivamente. Para quem queria ouvir “Gettin’ Tigher” ou “This Time Around”, talvez as principais canções do Purple com a voz de Hughes, veio a menosprezada “Sail Away” (Burn, 1974).

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Nas mais de duas horas de apresentação, ainda rolaram outras joias, que foram “One Last Soul” (Black Country Communion) e “Sweet Tea” (California Breed), além de uma surpreendente revisão para “Good to Be Bad”, gravada pelo Whitesnake no álbum homônimo de 2008, que conta com a participação de Aldrich na guitarra. O legal foi ver também que, durante o Meet & Greet, Mike apontou bastante para Soul Mover (2004), e desse belo álbum de Hughes, saíram “Orion” e a ótima faixa título. A carreira solo de Hughes também deixou a faixa de abertura de Building the Machine (2001) ser apresentada após uma fenomenal apresentação de “Mistreated”. Meu Deus do céu. Foi uma aula vocal para ninguém botar defeito. Quase meia hora de uma apresentação inesquecível desse grande sucesso do Purple, marcado nos tímpanos com a voz de Coverdale, mas que ganhou uma dramaticidade inquestionável com a entrega e interpretação de Hughes. Que versão, que valeu ainda mais o ingresso e toda a viagem.

Veio o bis com a pancada “Black Country”, e o encerramento com uma derrubadora versão para “Burn”, para então o trio se despedir, prometendo voltar no ano que vem. Mike ainda apareceu no palco, e de lá, extraiu do solo uma palheta e um set list, os quais me entregou em mãos, entre as dezenas que pediam por uma.

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Além da incrível performance de Hughes (o cara está cantando como nos anos 70, e toca baixo com uma naturalidade de guitarrista que poucos conseguem, solando praticamente o tempo inteiro), tenho que destacar a virtuosa e boa performance de Doug, um bom guitarrista, mas que honestamente, não consegue reproduzir o talento de um Joe Bonamassa ou de um J. J. Marsh (nem vou comparar com os clássicos guitarristas citados antes), e que Pontus é um baita batera. O solo dele foi ensurdecedor, socando a pele da caixa e mostrando muita técnica, principalmente nas levadas funkyies das músicas do Trapeze.

Um showzão para não ser esquecido, e tomara que o deal feito por Hughes conosco seja cumprido no ano que vem. Mais discos serão assinados.

IMG_2395Set list

  1. Stormbringer
  2. Orion
  3. Way Back to the Bone
  4. Sail Away
  5. Touch My Life
  6. One Last Soul
  7. Mistreated
  8. Good to be Bad
  9. Can’t Stop the Flood
  10. Sweet Tea
  11. Soul Mover

Bis

12. Black Country
13. Burn

12 comentários sobre “Review Exclusivo: Glenn Hughes (Porto Alegre, 18 de agosto de 2015)

  1. A simpatia, a humildade, a cordialidade e o carisma de Mr. Hughes são coisas que dezenas de artistas com muito menos de 1% de sua história e importância deveriam aprender a ter! Que sujeito bacana, que artista maravilhoso, que músico fenomenal, que show avassalador! E que bela resenha, Mairon! Parabéns!

    Não posso deixar de citar duas passagens, para terem noção da humildade do cara (sincera, acredito eu): quando me referi a ele como uma “lenda do rock”, ele reagiu dizendo que não era lenda coisa nenhuma, que era igual a mim, um “irmão de outra mãe e outro pai”! E, quando um sujeito da plateia ergueu um cartaz pedindo por um autógrafo para tatuar (cartaz este que Hughes tomou em mãos e leu para todo o público do Opinião), ele agradeceu e disse que daria o autógrafo, mas não merecia a homenagem, pois era apenas um sujeito afortunado de poder tocar, compor e cantar há cinco décadas, e que nós todos não éramos “essa frescura de fãs” dele, mas sim parte de sua família! Pode ser um discurso demagogo, mas ali, no palco, me pareceu extremamente sincero e honesto, além de, volto a repetir, sobretudo, humilde!

    Enfim, uma noite a ser lembrada (assim como aquela de 2010, onde quem estava na beira do palco era eu)! Quem não foi, perdeu!

    1. Demagogia a gente cheira de longe. Não acho que é o caso do Glen Hughes. Lembro outra vez em que veio aqui e foi tocar no programa do Ronnie Von. A simpatia em pessoa. Parecia que ele é quem estava diante de uma lenda do rock, tal a consideração que tinha com o Ronnie. Tudo bem que estava no programa do anfitrião, mas a gente já viu tanto bostinha mascarado que até se surpreende com as atitudes de quem já não precisa provar mais nada pra ninguém. Por outro lado, nada disso justifica a tietagem do Mairon. Coisa mais gay…

  2. Acho que estou me arrependendo de não ter ido nesse show…
    No mais, ótima resenha, como sempre!

    1. Foram duas horas de show, Fernando. Só Mistreated durou mais de vinte minutos (solos de guitarra como mandavam os bons tempos de Deep Purple e Rainbow)

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