Steely Dan – Pretzel Logic [1974]
Por Fernando Bueno
Soube da existência do Steely Dan depois de eles serem citados diversas vezes, em algumas edições, pelos integrantes do Poeira Cast (podcast da Poeira Zine). O tom jocoso dos comentaristas sempre quando o nome da banda era lembrado me chamou atenção. Quis saber o motivo de eles serem tratada quase como que uma piada, mas por mais paradoxal que isso possa parecer, não sentia no tom de voz deles qualquer tipo de desrespeito. Quando ouvi pela primeira vez Can’t Buy A Thrill (1972), seu debut, me pareceu que eu ouvia a banda há muito tempo tamanha facilidade com que as melodias das músicas grudavam no cérebro. Daí entendi porque tratavam o Steely Dan daquela maneira: seu som chega a ser apelativo, com seu excesso de esmero e polimento nos toma imediatamente de maneira quase que covarde. O termo soft rock nunca me pareceu tão perfeito.
Poderia ter escolhido para apresentá-los, de maneira inédita aqui no site, qualquer um dos seis primeiros discos dos californianos de Los Angeles, mas escolhi Pretzel Logic, o terceiro deles, por este ter sido o último que foi lançado como uma banda de fato – o segundo disco se chama Countdown to Ecstasy (1973). Mesmo tendo utilizado, durante toda sua trajetória, uma infinidade de músicos contratados, a partir de 1975 o Steely Dan abandonou os palcos e se tornou uma banda exclusivamente de estúdio com os trabalhos centrados na dupla Walter Becker (baixo, guitarra e vocal) e Donald Fagen (vocal e teclados).
Pra temperar o som do grupo os músicos trouxeram influências de todos os grandes estilos que sempre influenciaram o rock como o jazz, o funk e o rhythm & blues. Por se considerarem uma banda de jazz-fusion, ou jazz -rock como alguns chamam, estão também relacionados com o rock progressivo da mesma forma que o fazem com o Supertramp.
Pretzel Logic inicia com seu maior hit da carreira, “Rikki Don’t Lose That Number”, que é uma mensagem de um traficante para um viciado (ou ex-viciado) para esse guardar bem seu número de telefone. Os vocais dobrados bastante melódicos e muito suaves combinam perfeitamente e agrada qualquer pessoa, da dona de casa que ouve música pelo rádio até o mais radical dos roqueiros que procure algo para descansar os ouvidos.
Os instrumentos de sopro são os protagonistas de “Night By Night”. As poucas inserções de guitarras são pontuais e precisas incluindo um solo bem resolvido e bastante rock and roll. Em “Any Major Dude Will Tell You” alguma coisa de Elton John me vem à mente, provavelmente por ter o piano como o instrumento principal. Lembrando que Sir John era um dos artistas mais populares na época. “ Barrytown” lembra outro grupo também bastante popular em 1974, o Styx. Essas citações cruzando uma banda ou outra é puramente pessoal. Tive contato com esses grupos antes de ouvir o Steely Dan e quem sabe não eram eles que estavam influenciando os outros.
Uma regravação de “East St. Loius Toodle-Oo”, do sensacional Duke Ellington, eterno parceiro de Louis Armstrong, escancara as influências jazzísticas da banda. Algo que é interessante comentar é que não se pode achar que por ser um som de fácil assimilação ele seja pobre musicalmente. O Steely Dan traz não só as melodias do jazz, mas também as técnicas intrincadas e execução precisa. Tanto que a preocupação com a qualidade final das gravações é uma das explicações para que o grupo acabasse como banda. A dupla de líderes era tão paranoica com a execução que fazia os músicos gravar até quarenta takes de uma mesma passagem. Se não estivesse perfeito não iria para o disco.
Quando parecia que o fôlego do álbum cairia temos “Pretzel Logic” com um andamento bastante suave e um clímax em seu refrão e “With a Gun”, um dos destaques máximos do álbum que traz influências de country rock. Outra com o piano tomando conta da música, “Charlie Freak” e um rock bowieniano, “Monkey In Your Soul” fecham o disco com maestria.
Um álbum curto, pouco mais de 34 minutos, como era natural na década de 70. Porém com bastante qualidade sendo concentradas nesses poucos minutos. Para finalizar uso uma classificação de Bento Araújo, editor da já citada Poeira Zine, sobre o Steely Dan: “um combo de jazz transvestido de banda de rock com o máximo de sofisticação que o gênero poderia alcançar”.
Track List
01 – Rikki Don´t Lose That Number
02 – Night By Night
03 – Any Major Dude Will Tell You
04 – Barrytown
05 – East St. Louis Toodle-Oo
06 – Parker´s Band
07 – Though WithBuzz
08 – Pretzel Logic
09 – With A Gun
10 – Charlie Freak
11 – Monkey in Your Soul
Conheci a banda de fato quando fizemos o War Room do Royal Scam (maldito UOL host). Achei muito boa, não entendo o que há de errado neles. Rocks assim eram comuns (e por sinal, fazem falta hoje em dia).
Diria que o Steely Dan é um perigo para roqueiros diabéticos, pois suas músicas são puro açúcar e é difícil resistir.
Mas eu gosto deles mesmo, principalmente até esse disco, por causa do Jeff Baxter, o guitarrista dos 3 primeiros discos do SD e que fez o solo da música Rikki Don’t Lose That Number.
Na poeiraZine eu tinha uma coluna chamada Elo Perdido – Crônicas Jurássicas e uma vez esvrevi sobre ele. A história é muito interessante e vou repetí-la aqui, que é pro Bueno não dizer depois que meus comentários não acrescentam nada à matéria:
“Os músicos são a linha de frente dos que lutam pela paz.”
O músico que disse a frase acima foi simplesmente o guitarrista de dois dos mais bem sucedidos grupos americanos dos anos 70. Jeff “Skunk” Baxter tocou no Steely Dan do seu álbum de estréia, Can’t Buy a Thrill, até Pretzel Logic de 1974. É dele o solo de guitarra em Rikki Don’t Lose That Number, o maior sucesso do grupo. De-pois entrou para o Doobie Brothers, marcando o melhor período na carreira do grupo.
Jeff nasceu em Washington em 1948 e sua estréia sonora se deu no terceiro disco do grupo underground californiano Utimate Spinach, em 1969. Alguns boatos dão conta de que ele tocou baixo por algumas vezes durante os três meses de existência da banda Jimi James and the Flames, de Jimi Hendrix, mas não consegui confirmação em minhas pesquisas e mesmo Randy Califórnia, que tocava na banda, não lembra de suas participações.
Ele também se deu bem na carreira de produtor, exercendo essa função para vários de grupos, principalmente o Nazareth.
A partir dos anos 80, de forma paralela à sua intensa atividade profissional como músico, Jeff começou a se interessar por assuntos envolvendo alta tecnologia militar, principalmente aqueles ligados a sistemas de mísseis de defesa. Desen-volveu tamanho conhecimento no assunto que em 2001 acabou sendo contratado como consultor e analista de defesa para a administração Bush e para o Congresso americano na área de defesa militar, opinando sobre mísseis de defesa, contra-terrorismo, armas de destruição em massa e segurança nacional.
A frase título desta matéria foi dita após o 11 de Setembro, quando perguntado se a música e a tecnologia militar não eram incompatíveis. Completando a resposta de Jeff: “Os homens maus têm mais medo da música do que de armas ou bombas e qualquer um que toque música é um guerreiro da paz. Quando o Taliban começou a cortar fora as mãos dos músicos, foi aí que eu me envolvi. A América é super poderosa militarmente, mas a cultura tem um raio de ação muito mais forte. Fui abençoado por ter uma mão em cada um desses campos”
Gosto muito do primeiro disco do Steely Dan, “Can’t buy a thrill”. Apesar de Jeff Skunk Baxter ter bastante destaque, prefiro a atuação de Denny Dias, que também é um bom guitarrista. Aliás, há algumas gravações de Becker e Fagen, pré-Steely Dan, bastante interessantes, e dessa fase vem uma de minhas favoritas dessa dupla, “Come back baby”. Nesta música, há um solo muito bom de Denny Dias, que entra fácil fácil na minha lista de solos favoritos…
Como sempre o Marco dizendo inverdades ao meu respeito…
Esse seu texto acrescentou e muito à matéria. Quando comecei a escrever decidi que não iria comentar sobre os outros músicos e foi ótimo esse adendo.
Ninguém adenda os adendos como eu adendo, Bueno. E o Dias mandava muito bem, Francisco, mas ele não virou cão cheirador de terroristas do George Bush. O que mais me atrai nesses caras são as historinhas.
Não lembro exatamente de ter ouvido citações do pessoal da Poeira Zine no podcast – lembro sim da edição com o Steely Dan na capa – em tom jocoso, mas se isso ocorreu, eu só tenho a lamentar pelo seu autor, pois o Steely Dan é dono de uma carreira que, em seus anos iniciais (até “Gaucho”), foi quase perfeita, com uma maioria de discos excelentes, sendo três estupidamente magníficos e “Pretzel Logic” meu provável favorito. Recomendo fortemente que assistam o episódio da série “Classic Albuns” abordando “Aja” e todo seu processo de gravação. Infelizmente, a edição da seção “War Room” com “Royal Scam”, por mim proposta, está entre nossos textos perdidos.
Steely Dan é fundamental. Doa a quem doer. Todos os álbuns estão entre meus favoritos mas ‘Aja’ tem uma especial atenção de minha parte.
Gosto de tudo, incluindo os discos solo pós-banda. Meu coração bate mais forte por Gaucho (nada a ver com os chefes aqui do site).
Puxa saco!!!
Conheço ou conhecia (faz tempo que não ouço) todo mundo do podcast da poeira. Alguns são amigos de décadas (caso do José). Esse negócio de tom jocoso para falar do Steely Dan é complexo de rejeição por parte do Bueno. Tem bandas cuja qualidade é inegável e é difícil sustentar um argumento contrário. Acaba virando birra de viadinhos, caso dos irmãos Machado quando metem o pau nos Beatles. Daí, para não dar o braço a torcer, ouvem os discos escondidos, chegando ao cúmulo de guardarem os vinis das bandas desafetos nas capas dos discos do Los Hermanos.
Conheci a banda justamente por esse disco através da indicação do Diogo. Sonoridade riquíssima, realmente me impressionou absurdamente. Porém, o que mais me agradou em termos de sonoridade foi o Countdown to Ecstasy. Com toda certeza irei explorar mais essa banda. No mais, ótima matéria, Fernando.