Consultoria Recomenda: Rock sem guitarra

Consultoria Recomenda: Rock sem guitarra
Bassinvaders
Schmier (Destruction), Markus Grosskopf (Helloween), Peter Wagner (Rage) e Tom Angelripper (Sodom)

Por André Kaminski

Tema escolhido por Ulisses Macedo

Com Davi Pascale, Diogo Bizotto, Fernando Bueno, Mairon Machado, Marco Gaspari e Ronaldo Rodrigues

Mais uma edição do Consultoria Recomenda e desta vez nosso jovem futuro psicólogo, amante de Jung e que acha que Megadeth é melhor do que Metallica, nosso ilustríssimo Ulisses Macedo foi convocado para escolher o tema desta edição. Já tivemos uma matéria similar aqui indicando 5 Discos Para Conhecer: Rock sem guitarra, e agora temos nova oportunidade para indicar mais alguns discos sobre o tema. Como é de se esperar por parte dos consultores, os oito discos recomendados aqui são bem diferentes um do outro – embora o psicodélico tenha sido o mais lembrado – e que comprovam claramente que dá sim para fazer rock sem guitarra. No mais, comente sobre nossas escolhas lá embaixo. Não se reprima!


Katzenjammer-Le-Pop

Katzenjammer – Le Pop [2008]

Por André Kaminski

Quando conheci essas gurias, foi paixão a primeira vista. Canções contagiantes, animação, belas harmonias vocais e um bom gosto instrumental de cair o queixo. Elas se encaixariam melhor no tema anterior de bandas femininas, mas só depois de mandar a lista e a minha sugestão é que lembrei delas. Então aproveitei que elas se encaixam também nesse tema (apesar de serem mais folk pop do que exatamente folk rock) para sugerir por aqui. Quando surge a oportunidade, sempre gosto de recomendar estas bandas inusitadas e disso essas norueguesas tem de sobra. Tanto elas quanto os brasileiros do Terra Celta surgiram no mesmo ano, em 2005. Imagine uma turnê em conjunto de ambas as bandas por aqui? Eu daria um jeito de aparecer em algum show aqui perto!

Davi: Não conhecia o trabalho dessas garotas, mas gostei. Achei bem interessante. Fazem um som pop se utilizando de alguns instrumentos não tão usuais dentro desse universo. As minas são criativas e as composições são bem resolvidas com melodias bem bacanas. Audição agradabilíssima.

Diogo: Rapaz, o que é isso? Uma mistura de bluegrass com música circense transformada em trilha sonora para algum cabaré à moda antiga? De qualquer maneira, não vejo Le Pop como um disco digno de figurar nesta seção, que se presta a citar álbuns de rock sem guitarra. O trabalho das norueguesas não é ruim, pelo contrário, até é criativo nos arranjos e nas às vezes tresloucadas melodias vocais, mas não é algo que eu pretenda escutar novamente. Simples questão de gosto.

Fernando: O disco começa todo sério e denso e daí entra uma puta melodia que me fez imaginar um circo. Para a música pop a guitarra nunca foi predominantemente a protagonista, assim não é algo que chama muito atenção. O que chama atenção é que é um pop feito de uma maneira bem orgânica onde você não se perde em sintetizadores e efeitos conseguindo diferenciar bem os instrumentos tocados. Foi divertido. Vou passar pra minha mulher, talvez ela goste.

Mairon: Álbum de estreia desta banda norueguesa que poderia ter aparecido por aqui no Consultoria Recomenda: Bandas Femininas, e que faz um som meio circense, muito pop como diz o nome do disco, e que não conseguiu me agradar. A mistura de instrumentos incomuns como acordeão, violoncelo e banjo, não surtiu nenhum efeito a não ser o de sentir o tempo ser desperdiçado. Aturar a choradeira em “Wading in Deeper” é uma tortura que não se faz nem para o pior inimigo. Disquinho chatérrimo!

Marco: Não conhecia as meninas. E me odeio por isso. Porque é muito legal. Pop safado e debochado, no melhor estilo B-52’s e que tais.  E lembrando que Katzenjammer Kids, Hans e Fritz são Os Sobrinhos do Capitão, heróis de 9 entre 10 velhotes aqui do ASPABROMI.

Ronaldo: Só recomendo esse disco a quem tem 30 minutos ou mais sobrando e deseja jogar esse tempo pela janela. Uma mistura bizarra de música tradicional européia com ar de trilha sonora cantado em vocais adolescentescos estilo Avril Lavigne. Esquisitices sem conteúdo que andam em voga nesses tempos.

Ulisses: É complicado categorizar a música que este quarteto de multi-instrumentistas norueguês faz, mas é divertidíssima! Tem um espírito indie e carnavalesco que é, ao mesmo tempo, muito bem tocado e arranjado. E o fato de que todas as garotas dividem igualmente os vocais, e se saem muito bem na tarefa, também surpreende. Destaque para “A Bar in Armsterdan”, “Der Kapitän”, “Demon Kitty Rag” e a faixa-título. Pra mim, o melhor disco a figurar aqui.


Marcelo Nova Blackout

Marcelo Nova – Blackout [1991]

Por Davi Pascale

Resolvi indicar um disco que sempre gostei muito. Blackout é um trabalho feito na contramão. Disco 100% acústico, muito antes do formato virar moda no Brasil. Não nasceu de um modismo, mas de uma dificuldade. Quando o Collor confiscou a poupança dos brasileiros, muitos artistas começaram a ter seus shows cancelados por conta da crise. De saco cheio com a situação, o rapaz resolveu cair na estrada com formato voz/violão. Gostou da sonoridade e foi daí que nasceu a ideia do disco. Para o LP, resolveu ir mais além e incluiu outros instrumentos. Só havia uma regra: não poderia ter nenhum instrumento elétrico. Queria manter sua ideia inicial: um LP acústico. E não achem que isso fez com que o disco ficasse bunda mole. A irreverência do músico continuava intacta, a pegada rock ‘n’ roll também. E, ah  sim, tirando a releitura de “Maluco Beleza” (Raul Seixas) e de “Summertime Blues” (para quem tem o CD), todas as canções eram inéditas. Não era um greatest hits desplugado. Para gravar o álbum, Marceleza trouxe de volta a Envergadura Moral, grupo que além de contar com seu fiel parceiro Johnny Boy, trazia o grande André Christovam nos violões. Faixas de destaque: “Deixe Eu Por Meu Carro”, “Muito Além do Jardim”, “Sexo Blues”, “Noite” e “Fogo do Inferno”. Ótimo disco!

André: Rockinho básico, mas bem agradável de ouvir. De certa maneira, me lembra muito os acústicos do Engenheiros do Hawaii, o que para mim é um elogio, exceto pelo vocal muito mais sacana do eterno Marcelo Nova. Não posso dizer que curti os covers de “Maluco Beleza” (Raul Seixas) e de Summertime Blues (Eddie Cochran), mas as músicas próprias garantem uma audição leve e de qualidade com destaque para “Muito Além do Jardim” e “Robocop”. Este é um exemplo de um cara que eu realmente não sei se lançou algum disco ruim na carreira.

Diogo: Com a flexibilidade desta edição da série, permitindo que discos acústicos fossem citados, achei que mais alguns dariam as caras por aqui, mas Blackout foi o único, ainda bem. Melhor ainda que se trata de uma obra com a qual nunca havia travado contato. O jeito irônico e debochado de Marcelo Nova se sobressai tanto quanto em seu material eletrificado, dominando o tracklist com seu estilo vocal inconfundível. A performance instrumental também chamou atenção, e, ao verificar a formação responsável pela gravação do álbum, constatei a presença de André Christovam, enriquecendo as cordas. “Muito Além do Jardim”, “Noite” e “Robocop” são destaques. Ótima surpresa.

Fernando: Bem… aqui temos um problema conceitual. Quando falamos de guitarra no rock, eu imagino que o violão deve ser considerado uma guitarra acústica. Ainda mais com cordas de aço porque senão abriríamos espaço para essa sessão à todos os primeiros discos do Bob Dylan ou todos os bluesman do início. No mais não gostei muito do disco do Marcelo Nova. Achei divertida as citações à “Era um Garoto que como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones” em “ Muito Além do Jardim”. Até acho legal algumas coisas da banda dele, mas não é algo que eu vou ouvir regularmente.

Mairon: Terceiro álbum solo do eterno vocalista do Camisa de Vênus, Blackout é considerado por muitos como o primeiro álbum totalmente acústico do rock nacional, apesar de Rita Lee ter registrado Em Bossa ‘n’ Roll [1991] na mesma época, só que ao vivo. É um disco mediano de rock ‘n’ roll, que se encaixa bem para a proposta desse Recomenda, apesar de que se fosse um “Recomenda Discos Acústicos” ficaria bem mais encaixado. Destaque para as letras de duplo sentido (ou seria sentido direto mesmo) em “Deixe Eu Por Meu Carro” e “Sexo Blues”, bem como a bela “Noite”, melhor do disco em disparado, a divertida “Robocop” e a versão de “Summertime Blues”. Por outro lado, pule faixas como “O Que Você Quer” e da desnecessária homenagem a Raulzito na pouco inspirada “Maluco Beleza”.  No geral, obrigado pela recomendação.

Marco: A virtude desse disco foi ter sido pioneiro aqui no Brasil naquele formato discos acústicos, que mais tarde a MTV conseguiu tornar insuportável. E é sempre divertido ouvir as músicas do Marcelo Nova. Mas já falei tudo o que eu tinha pra falar. Como esse disco não cheira e nem fede, paro por aqui.

Ronaldo: Blues-rock canastrão com letras irreverentes do rockeiro baiano. Mas se considerarmos violões como guitarras acústicas, o disco foge da proposta da seção. Até porque também não apresenta uma forma de usá-las que seria diferente do que se faria com guitarras elétricas, caso esse material fosse tocado ao vivo. Disco apenas ok, no geral.

Ulisses: Legal o disco. Bem tocado, com arranjos acústicos (porém bem empolgantes) e boas letras. Não faz a minha cabeça, mas também não tem o que reclamar.


Keane Hopes and fears

Keane – Hopes and Fears [2004]

Por Diogo Bizotto

A princípio, imaginei que o tema restringiria não apenas a presença da guitarra elétrica, mas também do violão e de instrumentos acústicos do tipo. Fui corrigido. Mesmo assim, mantive minha opção inicial, um disco que conta apenas com piano, teclados, baixo e bateria, além dos excelentes e dramáticos vocais de Tom Chaplin, dono de uma expressividade quase virginal. É sua voz, inclusive, o grande fio condutor de Hopes and Fears, moldando melodias inegavelmente britânicas enquanto baixo e bateria formam uma cama confortável e o piano acentua e tempera cada canção. Os dois primeiros singles, “Somewhere Only We Know” e “Everybody’s Changing”, são peças únicas e emocionantes, que deveriam fazer corar aqueles que ousam afirmar que o Keane é um seguidor dos passos do insosso Coldplay. Outras faixas, porém, também são muito boas, como “This Is the Last Time”, “Bend and Break” e “Bedshaped”, fazendo de Hopes and Fears um álbum intenso e emocional.

André: Não posso negar que o trabalho dos caras é honesto e digno. Fizeram um disco baseado principalmente no piano, teclado e baixo. Dentre as bandas alternativas, é uma das poucas que tenho um certo respeito pelos seus trabalhos e até entendo seu sucesso comercial. Mas é muito difícil me ganhar como ouvinte principalmente por esses vocais chorosos e tristonhos de Tom Chaplin, também muito comuns no britpop. Um pouquinho menos de “emoção” por parte do vocalista e talvez um pouco mais de energia e a banda passaria por um soft rock bacana e muito provavelmente me ganharia. É um ótimo disco para quem gosta do estilo, mas não me atrai.

Davi: Belíssimo álbum de estréia dos rapazes. O som deles não é pesado, é um rock mais calmo. Meio que um mix entre U2 e Coldplay, só que puxando um pouco mais para o grupo de Chris Martin. O disco conta com um belo trabalho de piano e arranjos lindíssimos. Algumas músicas daqui como “Somewhere Only We Know” e “Everybody’s Changing” invadiram as rádios da época. Pena que seus discos mais recentes não mantiveram o nível. Esse e Under The Iron Sea [2006] ainda são seus melhores trabalhos, para mim.

Fernando: Há um tempo atrás fiz uma matéria para a sessão “Cinco Discos para Conhecer…” com esse mesmo tema e esse foi o único disco que acabou se repetindo por aqui.

Mairon: Disco que marcou época. Só a faixa de abertura, “Somewhere Only We Know”, deve ter sido ouvida por você no mínimo umas cem vezes nessa última década. O clima do álbum é semelhante a essa faixa, e se você não está ligando o nome a música, prepare-se para 45 minutos de baladinhas bem construídas com piano, bateria, baixo e o vocal dramático de Tom Chaplin. Não sei se estou errado, mas vejo muito de U2 nesse álbum, não no mesmo nível que os irlandeses, mas mesmo assim, com pitadas aqui e acolá. Sendo assim, é impossível não destacar a U2ana “Everybody’s Changing”, outra que tocou muito por aqui, e a alegre “Can’t Stop Now”, ambas me trazendo fortes lembranças do passado e da turma de Bono. Rock pop de qualidade, e sem guitarras, como exige a recomendação de hoje.

Marco: Já tive a oportunidade de comentar o Keane aqui na Consultoria e sinceramente não me recordo se naquela oportunidade desci o pau ou não. Pouco importa. Sou um vira casaca sem vergonha. Esse disco eu gosto muito. Ele me lembra o High Llamas e suas tentativas bem-sucedidas de desembalsamar o Brian Wilson. Não que o som do Keane e do High Llamas seja parecido, mas ambos são ricos em harmonias. O tipo de trilha sonora em que dá vontade de ser o mocinho naqueles filmes mela cueca da Emma Stone.

Ronaldo: A primeira faixa já me traz uma triste lembrança, por ser uma música que eu já queria esquecer lá pelos idos de 2004 quando ela foi lançada. Um pop choroso como esses que polulam as FMs mundo afora. Interessante como a banda, apesar da pinta de mega produção, se resolve bem entre piano, teclados e bateria. Bono Vox fez escola pra muita gente e se não fosse o vocal estressante de Tom Chaplin algo mais se aproveitaria no som do grupo.

Ulisses: Com influências perceptíveis de bandas como The Smiths, Coldplay e U2, logo no início da audição eu já vi que não iria curtir o disco. Na verdade, ficou no mais ou menos. As linhas de teclado e a voz melosa trazem melodias entristecidas que, apesar de agradáveis, também não me representaram muita coisa. Gostei mesmo só de “Somewhere Only We Know”, “Open Your Eyes” e “Bedshaped”.


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Triumvirat – Mediterranean Tales (Across the Waters) [1972]

Por Fernando Bueno

Quantas vezes vocês viram citar o Genesis quando estavam falando do Marillion? O mesmo acontece com o Triumvirat, só que no caso citam o Emerson, Lake & Palmer. Já ouvi falarem que existe um excesso de arranjo nas músicas do Triumvirat, mas daí me pergunto: o prog não é quase sempre assim? Talvez eu seja um dos únicos que preferem o Mediterranean Tales aos outros disco dos alemães, já que Illusions on A Double Dimple [1974] e Spartacus [1975] parecem ter a preferência da maioria, mas para mim a ótima “Across the Waters” é sinônimo de Triumvirat. Ahhh…a capa é linda!!

André: Conhecia o Triumvirat apenas pelo álbum Pompeii [1977] quando estavam tendo problemas legais com o nome da banda. E rapaz, esse disco selecionado por aqui é muito melhor. A banda soa como um prog pesado sem nem precisar da guitarra, com o hammond dominando tudo com uma sonoridade intensa sem deixar um segundo de técnica de lado. E esse baixo incrível do também vocalista Hans Pape? Sei lá, a pólvora da segunda guerra deve ter infectado por anos a água da Alemanha, porque nesses anos sessentistas e setentistas só saiu bandas enérgicas e incríveis por lá. Melhor disco que eu ouvi pelo menos neste semestre. Daí tenho que dar o braço a torcer quando rasgam seda para as bandas dessa década em se tratando de originalidade.

Davi: Rock progressivo com muitas influências de The Nice e Emerson, Lake & Palmer. Ótimos músicos, onde coloco em destaque os trabalhos de teclado de Jürgen Fritz. O cara rouba a cena em diversos momentos. Não conheço toda a discografia para dizer se esse é seu melhor trabalho ou não. Nesse álbum, as canções que mais me chamaram a atenção foram “Broken Mirrors” e a longa “Across The Waters”. Ótimo álbum!

Diogo: Nunca havia ouvido anteriormente esta banda prog alemã e gostei bastante do que escutei. A influência do Emerson, Lake & Palmer é evidente, mas o que o trio apresenta é suficiente para satisfazer o ouvinte ávido por esse tipo de sonoridade. É verdade que Hans Pape passa longe da potência vocal de um Greg Lake, mas Jürgen Fritz não chega a fazer feio frente ao mestre Keith Emerson, mostrando quem é que manda no grupo, algo bem evidente pela mixagem, que ressalta suas teclas, fazendo as vezes da guitarra nos momentos de timbres mais “ardidos”. Tanto na suíte que preenche todo o lado A (“Across the Waters”) quanto nas canções mais curtas que formam o lado B, o Triumvirat apresenta uma experiência agradável. O ponto mais fraco é mesmo o vocal, mas não o suficiente para estragar a audição.

Mairon: Considerada por muitos como uma das maiores bandas prog da Alemanha, o trio Triumvirat sempre foi um dos sonhos de consumo que eu gostaria de apresentar no Maravilhas do Mundo Prog, e especificamente, a linda suíte “Across the Waters”, que ocupa o Lado A desse magnífico álbum de 1972. Acho muito injusta a comparação com o ELP, já que o trio alemão apresenta influências muito mais transparentes na música clássica do que os britânicos, além do que não há o exibicionismo exagerado que Emerson, Lake & Palmer traziam, mas sim, uma conjunção de ideias muito bem trabalhadas por Hans Pape (baixo, vocais), Hans Bathelt (bateria) e Hans-Jürgen Fritz (órgão, teclados), com Fritz sendo o centro das atenções não só no órgão e no piano, mas em moduladores, sintetizadores, moog e vários instrumentos que na época eram saudados como novidades. Gosto bastante também do lado B, com os duelos de baixo e piano em “Eleven Kids”, as belas linhas de “Broken Mirror” e a louca viagem de “E Minor 5/9 Minor /5”. Acredito que talvez o Trace – grupo holandês liderado pelo excelentíssimo Rick Van der Liden – seja uma comparação mais válida, apesar de colocar o Triumvirat em um patamar acima. Uma aula de como se fazer rock sem guitarra, e uma obrigatoriedade nas casas de admiradores de um bom e velho progressivo.

Marco: Adoro Triumvirat, mas não gostei de vê-los por aqui. Triumvirat, ELP, Collegium Musicum e Le Orme são bandas que celebrizaram o formato teclado, baixo e bateria. Escolha preguiçosa, que não traz surpresa alguma. Embora, repito, sejam ótimas bandas.

Ronaldo: Enxertar passagens de música neoclássica no formato rock foi algo que teve seu momento na música pop mundial, sob a mão de músicos que não economizaram virtuosismo e que ganharam algum espaço das gravadoras para extravagâncias. O trio alemão Triumvirat surfa na onda desbravada pelo The Nice e pelo Ekseption, combinando passagens clássicas com improvisos jazz e uma pegada intensa que dispensa as guitarras. Por usar uma sonoridade de órgão e de bateria muito próxima do trio britânico Emerson, Lake & Palmer, acabaram se colocando na sombra destes. Poderia arriscar a dizer que justamente quando tratam a coisa pelo lado autoral é que obtém o melhor resultado, como nas formidáveis “Eleven Kids” e “E Minor 5/9”.

Ulisses: Na falta de ELP, temos o Triumvirat! É aquele mesmo prog de qualidade, com influências de música clássica trazidas pelo tecladista. A suíte de abertura, “Across the Waters”, já é logo de cara o melhor momento do disco, que também traz a mais alegre “Eleven Kids”, a instrumental “E Minor 5/9 Minor” e a ótima “Broken Mirror”. Muito boa a recomendação. Só não gostei muito dos vocais.


Mal Waldron The Call

Mal Waldron – The Call [1971]

Por Mairon Machado

A soberania das teclas do mestre do jazz Mal Waldron junto com os novatos Jimmy Jackson (órgão), Eberhard Weber (baixo) e Fred Braceful (bateria), em um álbum que mesclou o fusion e o rock progressivo de forma ímpar e inigualável. Duas longas e delirantes faixas, recheadas de harmonias impensáveis, muita técnica e inspiração, que passaram despercebidas pelos leigos quando de seu lançamento, mas que vieram a influenciar gênios como Herbie Hancock e John McLaughlin a fazerem seus melhores álbuns, além de a faixa-título ser uma das principais obras registradas posteriormente pelo excelente grupo de krautrock Embryo. Para se apaixonar de primeira, e provar que rock de qualidade não precisa em nenhum momento da guitarra.

André: Baixo, bateria, piano e órgão. Aquela atmosfera krautrock (não por acaso, Jimmy Jackson tocou no Embryo) misturada com jazz fusion. Aparentemente, as duas faixas foram gravadas em uma jam session, visto a espontaneidade dos quatro instrumentistas. Solos e dedilhados a torto e a direito. Não vou me estender porque não quero correr o risco de falar besteira quando se trata de jazz fusion. Só digo que adorei.

Davi: Reconheço que não sou um especialista em jazz. Gosto de algumas coisas do gênero, mas nunca me aprofundei muito no assunto. Nitidamente, os músicos envolvidos aqui são geniais, mas as composições não me agradaram muito, não. Extremamente bem tocado, mas igualmente cansativo.

Diogo: Quando vi a citação a Mal Waldron, pensei, “opa, já ouvi falar nesse”. Pois bem, conhecia justamente este The Call, boa obra do pianista, apresentada pelo colega Mairon Machado, apesar de não ouvi-la há um bom tempo. De cara, um problema: o tema da edição é “rock com guitarra”, e neste caso temos um álbum de jazz. Entendo que o rock seja um gênero elástico, capaz de interseccionar outros, mas, a princípio, não via The Call como um álbum que chega a merecer ser enquadrado como fusion. Ouvindo a faixa-título, no máximo associei a performance do organista Jimmy Jackson ao estilo. Entretanto, a segunda canção, “Thoughts”, até apresenta alguma proximidade com a vertente mais progressiva do gênero e restaurou minha boa vontade em avaliar The Call como um disco digno da citação, mas com ressalvas.

Fernando: No rock progressivo a guitarra não é tão importante quanto para outras vertentes. O teclado muitas vezes divide o protagonismo. Mal Wadron pelo jeito é originalmente um combo de jazz que engana em fazer prog e utiliza os diversos tipos de teclados para fazer um sonzaço instrumental de respeito. Ouvir isso ajuda-nos à entender melhor a denominação fusion. Muito bom.

Marco: Quando a gente escreve as impressões de um disco não sabe quem o escolheu. Mas vou chutar: Mairon Machado. E pegou pesado. Esse trabalho é do tipo mba do jazz rock, conclusão de curso com mesa examinadora. Tive esse LP, aliás, e lá pelas tantas dá uma preguiça danada. Mas não sou nem louco de criticá-lo. Mal Waldron foi só o pianista que acompanhava Billie Holliday no final dos anos 50. Isto posto, vou ficar na minha e dizer que adoro.

Ronaldo: Bendito seja quem trouxe essa indicação pra essa sessão. O rock monopolizou o conceito de atitude, um embolado entre postura artística e forma de expressão musical. Mas essa tal atitude sempre permeou o universo do jazz, antes dele vestir os pijamas ou querer se fantasiar de forma asséptica e inofensiva. Aqui o que temos é jazz com postura de rock, o que faz dele mais rock do que muito rock. Uma insanidade canalizada em um instrumental envolvente, transando os ouvidos em cada tilintar de piano elétrico ou ataque nos cymbals. Viagem pura e certeira. Foi tão intensa que ninguém nem precisou clamar por guitarras.

Ulisses: Duas longas, virtuosas composições de jazz. A faixa-título tem momentos solos muito bons, enquanto que “Thoughts” peca pela “freiada” bem em sua metade. Vale para os fãs do estilo.


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The United States of America – The United States of America [1968]

Por Marco Gaspari

Joseph Byrd batizou sua banda de Os Estados Unidos da America e diria depois que o entusiasmo dos executivos das gravadoras foi quase nenhum: o nome eles odiavam, o som não entenderam e, pior, achavam que os rapazes eram um bando de traidores.  Se não da pátria, pelo menos da música popular, pois seu apelo era experimental demais mesmo para os cérebros fritados dos californianos. Gravaram apenas um disco, com os instrumentos mais inusitados e francamente inspirados em seus mestres Cage e Stockhausen. Claro que a guitarra teria lugar aqui, mas não faz falta alguma. Foi moeda de troca para resgatar os sons eletrônicos mais subversivos. Podem não ter agradado em sua época , mas duas décadas depois foram reverenciados por toda uma geração que trocou o peito analógico pela amamentação digital.

André: Já conhecia o The United States of America. O disco traz muitas sonoridades interessantes e faz um uso de instrumentos até curiosos como o cravo e o calíope. É curioso que o disco soa como uma colcha de retalhos de sons e instrumentos, mas ainda é uma colcha de retalhos bem costurada. Apesar de gostar dessa salada, algumas coisas poderiam ser deixadas de fora como alguns trechos que contém um som parecido com uma cornetinha de plástico de festa de aniversário bem desafinada. Tirando isso e as visões políticas comunistas estereotipadas por parte de Joseph Byrd (que parecem implícitas em algumas canções como “Love Song for Dead Che”), o trabalho é bem legal, embora essa sonoridade lisérgica seja difícil de digerir de primeira.

Davi: Banda de Los Angeles que durou apenas um álbum. Faziam um rock psicodélico, cheio de viagens e sons inusitados. Em algumas músicas, como “Coming Down” ou “The Garden of Earthly Delights”, funcionava bem. Em outras, como “Hard Coming Love” e “Stranded In Time” acho que exageraram nos efeitos. Não achei o disco fantástico, mas foi bacana de escutar.

Diogo: Este foi o disco que mais ouvi antes de escrever meu comentário. Entendo que as experimentações eletrônicas contidas no álbum estivessem à frente do seu tempo e sejam até hoje motivo de exaltação, mas, sinceramente, não é o tipo de som que me agrada. Mas isso sequer se deve a esses elementos: na verdade, minha simpatia pela psicodelia norte-americana ainda está em níveis bem baixos. Quanto ao tema da seção, que versa sobre o rock sem guitarra, não posso dizer nada a não ser tecer elogios ao grupo, pois a ausência do instrumento é um mero detalhe em meio a uma musicalidade ambiciosa. Ah, talvez um vocalista mais marcante ajudasse.

Fernando: Quando não conhecemos uma banda pintamos um quadro em nossa mente de como ela poderia soar. Muitas vezes relacionamos elas com outras e pelo ano e movimento que estavam inseridos. Mas no caso dos presidentes aqui foi uma total surpresa. Nem posso dizer ainda se a surpresa foi boa ou ruim. Eu esperava algo bem na linha dos Beatles dos primeiros discos, na linha de uma boy band sessentista, e acabei recebendo uma psicodelia que nem os Fab Four se aproximaram.

Mairon: Psicodelia das boas, misturando a sensual voz de Dorothy Moskowitz com a alucinada wall of sound formada por Joseph Byrd (órgão, sintetizadores), Gordon Marron (violino), Rand Forbes (baixo) e Craig Woodson (bateria). A fantástica “Hard Coming Love” é a melhor amostra do que esse grupaço foi capaz de fazer, com uma pancada lisérgica de colocar elefantes para dançar, assim como as três partes da mini-suíte “The American Way of Love”, uma violenta faixa onde o violino é o senhor das atenções entre a maluquice eletrônica de Byrd. Não tem como não se contagiar com as alucinantes viagens eletrônicas de Byrd em “The Garden of Earthly Delights”, com o ritmo acelerado de “Coming Down”. Mas não é apenas violência o que o USA fez. Basta conferir o lindo arranjo de cordas da claramente beatle “Stranded in Time”, mas audaciosamente melhor do que as canções do grupo de Liverpool, o blues eletrizante e fora da casinha de “I Won’t Leave My Wooden Wife for You, Sugar”, com Byrd assumindo o vocal principal, a sutileza de plumas como “The American Metaphysical Circus”, “Love Song for the Dead Ché” ou “Cloud Song”, a arrepiante introdução com cantos gregorianos na lunática “Where is Yesterday”, para que o ouvinte seja transportado por diversas outras dimensões. Um disco chapante, de uma banda que infelizmente que durou apenas um disco, mas que bom que o mesmo foi relançado diversas vezes, e não ficou tão difícil de ser achado no mercado. Ótima escolha de uma banda com rock sem guitarras. Parabéns ao consultor que nos trouxe essa pérola.

Ronaldo: Disco que te vira de cabeça pra baixo ao condensar os clichês da psicodelia de 67 com parafernálias eletrônicas de música eletroacústica. Experimentação que não se apóia na muleta de uma música insípida. Vocais etéreos com passagens instrumentais cruzando o panorama sem necessariamente estabelecer uma conversa inteligível com o restante da base da música. O disco funciona neste nível por ter elementos vanguardistas, mas se você quiser imaginá-lo sem toda a maquiagem, seria ainda sim possível ter ao pé do ouvido um belo disco de rock.

Ulisses: Ainda tenho que ouvir este álbum várias vezes para digeri-lo, mas já vi que é muuuito bom. Rock psicodélico com elementos eletrônicos e um vocal maravilhoso da versátil Dorothy Moskowitz. Além da ótima cozinha, o uso de violino e sintetizadores, somados aos efeitos eletrônicos, criam algo que, acredito eu, estava musicalmente muito à frente dos outros grupos da época. Uma bela duma viagem.


Hansson & Karlsson

Hansson & Karlsson – Monument [1967]

Por Ronaldo Rodrigues

Um duo sueco que soa como um Procol Harum às avessas, enviesado em lampejos de jazz. Em certos momentos, a coisa vai caminhando placidamente e depois ferve em vibratos e glissandos frenéticos no órgão Hammond assinado por Bo Hansson. A maior contribuição da dupla para a música mainstream foi ter sido o autor de Tax Free, tema instrumental retrabalhado por Jimi Hendrix, depois de ter assistido um show da dupla durante uma tour na Suécia. Perguntar que não quer calar… porque não se grava mais a bateria com essa sonoridade?

André: Dupla completamente desconhecida para mim. Logo de cara, percebo apenas o Hammond e a bateria e me surpreende que o álbum inteiro possui apenas estes dois instrumentos. O disco varia entre o progressivo psicodélico (típico do final dos anos 60) e momentos que me lembra o jazz fusion, com destaque a “Richard the Lionheart” e uma agressividade descomunal de ambos os instrumentos e “February”, com claras influências de ritmos negros fazendo parte do background desses dois nórdicos. Os consultores estavam inspirados quando selecionaram os discos para este tema.

Davi: Dupla sueca. Som instrumental formado apenas por órgão e bateria. Som com bastante improviso. Uma pegada meio prog, em determinados momentos. De interessante, temos uma versão de “Tax Free”, musica que Jimi Hendrix costumava tocar em alguns shows e que está imortalizada no álbum póstumo South Saturn Delta [1997]. Não sabia que era deles. Os músicos são excelentes, mas achei o álbum um pouco cansativo.

Diogo: Interessante a música feita por essa dupla sueca. Apenas bateria e órgão, mas inegavelmente seguindo uma estética roqueira rumo ao que brevemente seria conhecido como rock progressivo. Bo Hansson, o organista, é quem acaba se sobressaindo, fazendo uma linha mais sinfônica, não muito distante de coisas que o Yes apresentaria pouco tempo depois. A faixa que abre o disco, “Richard Lionheart”, é destaque, assim como “Tax Free”, na qual o baterista Janne Carlsson mostra que, apesar da pegada jazzística, também sabia distribuir porrada. Curti bastante a audição.

Fernando: Ótimo som para ouvir tomando um destilado forte. Em alguns momentos parece que a improvisação não leva a lugar algum, mas no todo é um bom disco.

Mairon: Como que uma dupla de órgão e bateria pode fazer uma sonzeira? Simples, basta que eles sejam suecos e se chamem  Bo Hansson (órgao) e Janne Carlsson (bateria). Esse único e belo disco da dupla é uma viagem de improvisações no órgão, bastante homogêneo, e difícil de destacar apenas uma única canção. Porém, não tem como não delirar com as passagens de “Tax Free” ou o blues levanta-defunto de “February”. Baita disco, que agradeço ao consultor que o indicou por ter me propiciado momentos de pura alegria.

Marco: Se existe uma caverna prog, esses dois suecos foram dos primeiros a pintar suas paredes. Arte feita de teclados e bateria que nada tinha de rupestre, pois sua sofisticação encantou até mesmo Jimi Hendrix nas suas idas a Estocolmo. E Bo Hansson é um capítulo à parte. Tanto no rock sueco quanto na história do próprio progressivo.  Ótima sugestão.

Ulisses: Só Hammond e bateria criando um som com recheios em partes iguais de prog, jazz, rock e psicodelia. Tudo instrumental, mas bem interessante.


Bassinvaders

Markus Grosskopf’s Bassinvaders – Hellbassbeaters [2008]

Por Ulisses Macedo

A guitarra elétrica é, sem dúvidas, o instrumento maior do rock. O baixo, por outro lado, costuma ser um tanto subestimado. Sendo assim, para o tema que escolhi, nada melhor do que um projeto que reúne uma dezena de baixistas juntos tocando heavy metal pra ninguém botar defeito, sem a tal da guitarra. A formação é composta pelos baixistas Markus Grosskopf (Helloween, e líder do projeto), Tom Angelripper (Sodom), Marcel Schirmer (Destruction) e Peter Wagner (Rage), compondo uma mistura de hard rock, thrash e power metal. Completa o time um bocado de convidados lidando com os vocais, a bateria e… mais baixistas! Entre os convidados, estão Billy Sheehan (destaque “Romance in Black”), Lee Rocker do Stray Cats na última faixa, Rudy Sarzo e muitos outros… só penso que, se tem um baixista que ficou de fora, mas merecia estar aí é o icônico Lemmy Kilmister, mas tudo bem, porque a lista completa de baixistas é gigante e traz um resultado satisfatório, mas não perfeito: o registro se estende um pouco além da conta e traz algumas faixas bem descartáveis – odeio “The Asshole Song”. No fim, tudo funciona porque, apesar do foco nas quatro cordas, as composições são bem amarradas e não trazem enrolação excessiva, com destaque para o hino “We Live”, a pesada “Godless Gods” e a memorável “Empty Memories (Break Free)” trazendo os holofotes para o próprio Markus. A cereja do bolo é nada menos que um excelente cover da clássica “Eagle Fly Free”, com os solos e tudo!

André: Quando soube da ideia por parte de Markus Grosskopf em gravar um disco inteiro só com baixo e bateria, sem qualquer tipo de guitarra, fiquei bem curioso em ouvir como ficaria. Na época de lançamento, todavia, confesso que não gostei. Sendo o baixo o instrumento que eu adoraria aprender a tocar (quem sabe um dia…), ficou uma sensação de que faltava algo (mas não era a guitarra). Retomando a audição desse disco hoje, após alguns anos, tive uma impressão melhor. Os vocais e os baixos das diversas lendas do heavy metal tais como Tom Angelripper e Schmier soam bem fortes. Mas agora descobri o que me incomodava: as composições em geral. Me soam como sobras das bandas originais dos integrantes que parecem ter se aproveitado delas para gravarem esse disco. Assim, o trabalho vale pelo esmero dos instrumentistas e das ideias aqui contidas. Dá para ouvir tranquilamente, ao menos se não esperar muita coisa dele.

Davi: Baixista do Helloween resolveu criar um álbum de heavy metal sem guitarras. No mínimo, ousado. Ainda mais em um gênero como esse, onde guitarra costuma falar alto. O time em sua volta é genial. Tanto os bateristas, quanto vocalistas (se bem que algumas musicas, achei que escolheram o cantor errado) são caras talentosos. E os inúmeros outros baixistas envolvidos aqui também são músicos de respeito. Os arranjos são meio que variados. Algumas músicas como “Empty Memories” são geniais. Entretanto, há alguns erros, como a releitura do clássico “Eagle Fly Free” que ficou parecendo uma demo inacabada. O disco, no geral, é bacana. Não é um clássico, mas é um trabalho interessante. Vale uma audição!

Diogo: O baixo é meu instrumento musical favorito. Que tal um projeto criado por Markus Grosskopf (Helloween), baixista que, apesar de tocar um subgênero que não costuma dar tanto destaque ao instrumento, consegue imprimir sua personalidade e mostrar um bom trabalho, ao lado de outros baixistas alemães, sem guitarra alguma? Parece legal, não? Some a isso participações especiais de grandes nomes do instrumento, como Billy Sheehan e Rudy Sarzo. Ótimo! Só que o resultado não passa nem perto do que a expectativa pode criar. Apesar da ideia de dar destaque ao instrumento, colocando-o praticamente como guitarra base e guitarra solo, junto a uma bateria e diferentes vocalistas ser muito boa, a execução não faz jus à ambição. Falta justamente o elemento mais básico para amparar o projeto: boas músicas. Por mais que haja ideias boas aqui e acolá, geralmente elas são postas a perder por melodias vocais bem fracas. Vale pelo experimentalismo, e só. “Romance in Black”, escrita por Peavy Wagner (Rage) e com a participação de Sheehan, talvez seja a melhorzinha.

Fernando: Nunca tinha tido interesse nesse disco por achar que seria uma bomba. A meu ver, o nome de Markus Grosskopf como se ele fosse o cara aí talvez seja demais, já que o disco ainda tem diversos outros monstros do instrumento como Billy Sheehan, Schmier do Destruction, Tom Angelripper do Sodom e Peavy Wagner do Rage, ou seja, só fera! Porém o disco de todo não é ruim mas é o tipo de coisa que eu teria apenas como uma curiosidade. Se todo baixista é na verdade um guitarrista frustrado, fazer um disco só com baixos é o auge. A distorção dos baixos em algumas músicas foi regulada para que o instrumento emulasse uma guitarra. Qual é o sentido de fazer isso? Já que é para fazer o baixo soar como uma guitarra, por que não colocar logo uma?

Mairon: Discaço do baixista do Helloween, acompanhado por diversos baixistas e dois bateristas convidados que distribuem-se nas faixas. Um disco bastante inovador e audacioso, onde o baixo soa não somente como um acompanhamento, mas fazendo riffs e solos que lembram muito uma guitarra. O peso come solto, com destaque para a veloz “Dead from the Eyes Down”, a instrumental “Awakening the Bass Machine”, “Empty Memories”, “Razorblade Romance” e “We Live”, além da estupidamente brutal versão de “Eagle Fly Free”, tão linda quanto a versão original do grupo que Grosskopf eternizou na década de 80, que entrou como bônus junto da divertida “To Hell and Back”. Claro que nem tudo é perfeito, como as desnecessárias “Boiling Blood” e “Romance in Black”, canções menores onde podemos imaginar a presença da guitarra e sentir sua falta, mas até a Alemanha pecou ao deixar Oscar marcar um gol na copa de 2014, então, isso não diminui a qualidade de um surpreendente álbum.

Marco: Isso me cheira a malandragem: o disco não tem guitarras, mas o Markus toca baixo de tudo quanto é jeito.  E a sensação que fica é que tem guitarra o tempo todo. Bom, palmas pra ele. E aposto que os fãs do Helloween  devem amar de paixão. Se eu ainda tivesse tímpano ia gostar também.

Ronaldo: Um trabalho que vale pelo inusitado de ouvir um instrumento muitas vezes vilipendiado, como o baixo elétrico, em um papel de protagonista. Contudo, o fato do baixo ser usado como guitarra detona um pouco dessa autenticidade. As composições também não contribuem, por tratarem-se de estruturas genéricas de heavy metal. Ainda sim, em algumas músicas se destacam interessantes passagens instrumentais e solos extremamente técnicos e musicais.

22 comentários sobre “Consultoria Recomenda: Rock sem guitarra

  1. Os primeiros comentários desse Consultoria Recomenda me trouxeram à mente um pensamento que agora será difícil de não ter mais: RONALDO É UM GÊNIO, e ULISSES É SURDO!!

  2. Apesar de estar triste de ter sido chamado de preguiçoso pelo Marco, gostei do resultado. Porém vou tentar me desculpar… quando escolhi lembrei do Keane e mandei para o André. Porém como o Diogo roubou minha indicação tive que tirar outra em 1 minuto e apelei para o Triumvirat, que dificilmente é citado aqui no site…

    1. Interessante que o Van der Graaf tem essa aura de banda sem guitarra por causa da presença carismática do David Jackson. Não deu pra sair pesquisando e posso estar errado, mas acho que só o primeiro disco do VdGG não tinha guitarra elétrica. Todos os demais tinham pelo menos um convidado a cargo de um solo ou outro de guitarra (Fripp, por exemplo). A partir de Godbluff, o Peter Hammill empina a guitarra em todos os discos.

      1. Cheguei a dar uma ouvida mais atenta em parte do material da banda e percebi que, apesar de geralmente aparecer de maneira mais sutil, não é tão incomum assim identificar guitarras nas canções. É coisa mais a nível de arranjo, de incrementar a música, não algo essencial, por exemplo, na execução das canções ao vivo, ao ponto de ter que contratar um guitarrista para apoiar a banda nas turnês.

  3. Sobre os comentários, o Davi e o Diogo escreveram o que eu imaginava que fosse acontecer. O Fernando eu nunca imaginava que gostasse de Keane (e ainda recomendasse o mesmo álbum). O Mairon sempre é uma caixinha de surpresas por simplesmente elogiar o Keane e o Bassinvaders (e eu achando que fosse descer o pau em ambos). O Marco surpreendeu porque achei que iria agradecer por esses “consultores metaleiros” lembrarem do Triumvirat e acabou que foi justamente o contrário! hahahahahahaha

    O Ronaldo seguiu o que eu imaginava e o Ulisses achei que bateria no The United States, mas surpreendentemente elogiou o disco. Melhor eu não tentar mais adivinhar nenhum gosto.

    1. É um exercício interessante, isso!
      no geral, achei que a maioria detonarei o Katzenjammer…ledo engano!

    2. Eu prefiro seeeeeeeeeeeeeer, essa caixinha de surpresas, do que ter aquela velha opinião metalera ….

      1. Fala em “opinião metaleira” mas curtiu o Bassinvaders! Eu, que gosto de vários dos caras envolvidos, não tenho plano algum de ouvir esse disco novamente.

  4. Parabéns a todos pelo texto, gostei muito!
    Mairon, obrigado pela genialidade da sua escolha…abraço!

    1. Valeu Ronaldo. Conheci Mal Waldron com um amigo que tinha o vinil bastante esfolado, e só aparecia THE CALL. Tanto que por muito tempo, eu e o Micael chamávamos a banda The Call. Só depois de muitos anos que descobri que o The Call era um disco do Mal Waldron. E as companhias dele nesse disco são fodomenais, concorda? Abração

  5. Quanto à minha escolha, sinceramente, eu não lembrava que o Fernando já havia feito a indicação do Keane em outra seção. Foi a primeira banda da qual lembrei quando o Ulisses sugeriu o tema. Até cheguei a fazer uma prospecção pra saber se alguma outra coisa mereceria mais minha recomendação, mas não encontrei. Lamento por quem não gostou, mas gostaria de ouvir mais coisas como o Keane no mainstream atual.

  6. Achei engraçadas as descrições tão distintas que o pessoal fez do som do Katzenjammer. Pra ver como a banda parece um balaião, teve gente falando em B-52’s, Avril Lavigne, folk pop, bluegrass, música tradicional europeia, circense, de cabaré…

  7. Parabéns pessoal da consultoria. Muito bom o tema escolhido e bem interessante os discos listados. Não conheço a maioria, mas gostei de ver o Mediterranean Tales (Across the Waters), e o The Call, que são excelentes. Legal ver essa variedade de estilos na lista, pois acho que essa é a intenção, provocar o leitor a ouvir algo que ainda não conheça. Se tivesse que escolher um disco seria o Loki!

    1. Eu tinha pensado no Lóki, mas como já falamos bastante nele aqui, preferi trazer algo que achei que o grupo não conhecia

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