Discografias Comentadas: Winterstorm
Por André Kaminski
A história dos alemães do Winterstorm surgiu das cinzas do finado Circle of Grief, banda que tocava um gothic metal e que deixou dois discos independentes que são Into the Battle (2001) e Enter the Gallery (2004). A vontade de tocar do baixista Peter Cerveny e do baterista Sebastian Albrecht continuava acesa e após o fracasso de sua banda anterior, resolveram partir para os campos do velho e conhecido power metal com grandes influências do folk europeu que já fazia parte da sonoridade de sua banda anterior. Os dois mais experientes foram atrás de alguns jovens empolgados em fazer esse tipo de som e assim, recrutaram os guitarristas Michael Liewald e Armin Haas, além do vocalista Alexander Schirmer, todos sem nenhuma experiência em grandes bandas.
Ainda sem uma reputação e pagando suas gravações na raça, a banda lança seus dois primeiros discos de forma independente, entretanto, já conseguindo chamar alguma atenção das publicações alemãs tais como a Metal Hammer e a Legacy. Somente no terceiro disco conseguem uma assinatura com a gravadora austríaca de médio porte NoiseArt Records, e assim finalmente realizaram o sonho de uma tour europeia ao lado dos conterrâneos do inusitado Van Canto.
De acordo com as páginas oficiais da banda, o quarto disco já está sendo gravado e está previsto para sair na primavera (europeia) de 2016. Enquanto este não aparece, resolvi dar uma passada na ainda curta discografia do Winterstorm como uma forma de apresentar uma banda ainda jovem mas que está crescendo na cena metálica mundial.
Apesar das letras abordarem batalhas e guerreiros em um mundo fantasioso, não há uma história definida neste debut, sendo mais hinos de guerra e de moral fantasiosa de capa e espada do que um mundo próprio. O disco é mais power metal clássico, com algumas faixas de influência do folk e do symphonic metal. “A Coming Storm (Intro)” começa como uma narrativa de um filme épico, coisa que se tornou comum nos outros registros subsequentes. A bateria e as guitarras velozes começam de fato em “The Final Rise”. É um tipo de introdução que lembra os trabalhos mais atuais do Sabaton. “A Wizard’s War” começa com uma singela introdução de um sample de teclado e mantém uma parte da faixa só no baixo, vocal e bateria, com as guitarras entrando logo em seguida. Há ainda “Battlecry” iniciando de maneira bem empolgante, além do peso das guitarras de Liewald e Haas garantir o headbanging para no final, terminar de forma tranquila e acústica. “Winterhumppa” é inusitada por ser bem folk metal, utilizando como base o som de um sample de acordeão tocado de forma bem engraçada. O restante do disco mantém uma boa qualidade instrumental e apesar de demonstrarem boas ideias, ainda mantém um certo quê de genérico de uma banda ainda muito influenciada principalmente por Rhapsody of Fire, Freedom Call e Elvenking. É um bom passo inicial, mas a banda viria a crescer muito mais no disco seguinte.
Demonstrando um entrosamento e uma evolução comparado ao disco anterior, posso dizer que tanto as composições quanto o instrumental aqui melhoraram muito. Não a toa conseguiram ganhar um slot de escalação para o famoso festival alemão Wacken Open Air nesse mesmo ano por votação online e puderam tocar por 20 minutos para uma plateia enorme. Nada mal para uma banda sem gravadora e com um segundo disco recém lançado. Quanto a este trabalho, o disco começa bem – ainda mais veloz que o primeiro – mas destaco mesmo a metade final dele. “Into the Light” utiliza bem a cadência e os vocais de apoio nos refrãos. “Stronger” lembra mais aquele heavy metal do Judas Priest (principalmente do Nostradamus para frente) mas contando com aquela aura folk que é característica do Winterstorm. “Fire of Dreams” é mais um power metal com todos os clichês conhecidos do estilo, mas que é exatamente isso que eu gosto quando bem tocado e composto. Mudando do fogo para o gelo, “Break the Ice” é uma balada levada no baixo e nos samples de teclado e orquestra, também com uma mistura de guitarra plugada e desplugada. Bons solos também aparecem por aqui. Por fim, ainda destaco “Dragonriders” que encerra o ótimo disco contando com a velocidade das guitarras e uma porradaria nas caixas de bateria. O disco recebeu ótimas notas da imprensa especializada alemã, o que os incentivou a continuarem trabalhando no próximo registro.
Agora mais folk metal, o Winterstorm apresenta por aqui seu melhor disco. Diferente dos anteriores em que os temas fantasiosos eram mais gerais, este disco é conceitual e traz toda a história de um mundo fantasioso próprio criado pela banda, parecido com o que o Rhapsody of Fire fez muitas vezes em seus trabalhos. Cathyron começa de forma sinfônica com a curta introdução de “A Hero Rises” parecendo novamente uma trilha sonora de algum filme épico (costumeiro por parte da banda), antes de entrar no peso da faixa título “Cathyron” que fala da busca do heroi pelas quatro pedras elementais para obter o poder de derrotar o chamado Dark King Xeroth. Como de costume, todos os integrantes da banda fazem os vocais nos refrãos, coisa que o Freedom Call e o Hammerfall também são conhecidos por aplicarem. “Far Away” fala da jornada do heroi Teron em busca de Tira, sua amada, perdida em algum lugar de Cathyron. Agora apostando em um power metal mais clássico, “Burning Gates” demonstra que o heroi precisa passar por um teste de força em sua jornada em uma faixa que lembra muito o Rhapsody of Fire da época dos Symphony of the Enchanted Lands. “Windkeepers” mostra o heroi subindo uma torre perigosa para acender uma espécie de farol para depois seguir sua jornada pelo fundo do oceano demonstrada em “Down in the Seas”. Saindo do mar e seguindo por um túnel escuro, o heroi Teron perdido neste labirinto faz amizade com uma criatura monstruosa desconhecida em “The Maze” ao qual o guia até a saída. Chegando em um deserto, agora o aventureiro sai em busca da orientação dos sábios anciões na faixa auto-explicativa “Elders of Wisdom”. Em “Metalavial” Teron agora possui o poder para batalhar e derrotar os exércitos do Dark King. “The Evocation” e “Call of Darkness” mostram a ascensão e logo em seguida a queda do vilão, quando “The Elements Strife” encerra o disco em uma canção apenas instrumental. Posso dizer que gosto muito da sonoridade toda calcada no power/folk metal e tudo mais, com refrãos legais e talz, porém, algo me incomodou nessa história toda: que fim levou Tira, a mulher que o heroi estava atrás lá no início da terceira música? Espero que o próximo disco responda essa questão.
Ouvi pedaços dos três discos. Kings Will Fall é bem legal. Mas tem uma coisa interessante no decorrer de suas resenhas, André: a referência aos termos folk europeu, mundo fantasioso, folk e symphonic, narrativa de um filme épico, disco conceitual… Sei que não estou falando nada de novo, mas se voltarmos 30 anos no tempo usaríamos todas essas expressões para definir bandas de rock progressivo. Menciono isso porque realmente não dá para entender essa rusga entre metal e progressivo, já que ambos evoluíram no mesmo caminho e buscando um fim muito parecido: virtuosismo e grandiloquência. Basta comparar discos do Winterstorm e do Sebaton com, por exemplo, o primeiro disco do Fireballet, lançado em 1975. A temática, o conceito e até mesmo o arrepio, quando arrepiam alguma alma mais sensível, são os mesmos.
https://www.youtube.com/watch?v=ogVJ29Iiqqw
Perfeito o seu comentário, Marco.
Apesar de haver algumas poucas referências ao folk europeu em alguns trabalhos do metal oitentista, o folk mais presente mesmo (até cunhando mais um dos muitos subgêneros que é o Folk Metal) “surgiu” com uma banda noventista britânica chamada Skyclad. É até curioso que dentro do metal é comum alguns dos “fundadores” de um subgênero se tornarem referência dentro do estilo tal como o Dream Theater dentro do Metal Progressivo e o Helloween dentro do Power Metal, mas o Skyclad nunca conseguiu nada fora da Europa.
Quanto ao rock progressivo, eu concordo plenamente que o estilo sempre teve bandas que utilizam a fantasia e o folk desde sua fundação com grande qualidade. Não sei ao certo se é a teatralidade do power que o atrapalha em uma maior aceitação (por ser mais testosteronizado) ou o fato da imprensa brasileira o ter valorizado demais nos anos 2000 que causou essa rixa por parte de alguns, mas o estilo continua bem lá no hemisfério norte e sem essa “desvalorização” que parte de muitos profissionais da atual imprensa daqui. A quantidade de lançamentos novos por sinal anda bem estável.
Quanto ao link que postou, cara, banda ótima. Estou ouvindo aqui e amo esse tipo de som.
Pois você tocou no nome e no sobrenome do diabo: Dream Theater. Conheço uma porção de progheads (eu incluido, embora me considere um proghead careca, daqueles que perdeu os fios com o passar da idade) que provavelmente destilam impropérios ao prog metal justamente por causa da bronca que cultivam pelo DT. No meu caso, é como se o progressivo me tivesse feito desmaiar de coma audiófila e tentassem me reanimar injetando uma seringa de Dream Theater na veia. Uma experiência pra lá de traumática, hehe… irrecuperável. Fosse um transplante qualquer e seria rejeição irremediável.