Demorou oito anos, mas, finalmente, os suecos do Anekdoten saíram de seu período de hibernação e nos ofereceram um novo álbum de inéditas, o primeiro desde A Time of Day, lançado em 2007. Until All The Ghosts Are Gone, o sexto registro do grupo (se não contarmos álbuns ao vivo e a coletânea Chapters, de 2009), veio à luz em abril de 2015, mantendo a formação que o quarteto possui desde sua formação (Nicklas Berg nos vocais, guitarras, teclados e mellotron, curiosamente voltando a assumir no encarte o sobrenome Barker, adotado por ele já há algum tempo; Jan Erik Liljeström no baixo e vocais; Anna Sofi Dahlberg no mellotron, teclados e vocais; e Peter Nordin na bateria e percussão), e, para regozijo de seus apreciadores, apresentando também a mesma sonoridade baseada no estilo progressivo, a qual cativou a tantos fãs pelo mundo, ainda que algumas pequenas novidades sejam apresentadas aqui e ali ao longo dos pouco mais de quarenta e cinco minutos da obra.
Destes, mais de dez minutos pertencem a “Shooting Star“, os quais passam voando pelos seus ouvidos, devido à grande qualidade desta que é a faixa de abertura do registro. Com um começo pesado e agitado, a música traz uma timbragem “nova” para a sonoridade da banda, com a guitarra bastante rascante e o mellotron ocupando o fundo da canção, sempre soando de uma forma meio “sobrenatural” e até um pouco assustadora. Lá pelos dois minutos e meio, acontece uma mudança de andamento, e a composição se acalma, com a atmosfera geral ficando mais familiar aos fãs do grupo, e a música passando então a alternar entre partes mais rápidas e outras mais calmas, além da faixa possuir um longo trecho instrumental, onde o destaque fica para o “duelo” entre a guitarra de Nicklas e os teclados do músico convidado Per Wiberg (do Spiritual Beggars, e ex-integrante do Opeth), que já havia participado de outros discos dos suecos.
Anekdoten em 2015: Peter Nordin, Jan Erik Liljeström (acima), Anna Sofi Dahlberg e Nicklas Barker (abaixo)
Se “Shooting Star” foi uma excelente escolha para início dos trabalhos de audição do álbum, é a faixa seguinte, “Get Out Alive“, quem parece ter sido composta para esta finalidade. Desde a sonoridade tristonha e meio melancólica que caracteriza o Anekdoten desde seu princípio, até os versos iniciais da letra (“Hello my friend, tell me how you been“), tudo na composição parece ter sido feito para o “reencontro” do grupo com seus fãs depois de tantos anos de afastamento, em uma faixa que certamente cairá nas graças daqueles que já foram convertidos à sonoridade do quarteto, assim como também agradarão a estes os mais de nove minutos de “Writing On the Wall“, que, apesar de não trazer grandes inovações à sonoridade geral da banda, tem uma qualidade evidenciada pelos longos trechos instrumentais e pela atmosfera melancólica e calma que o Anekdoten seguidamente apresenta em sua trajetória.
A faixa título apresenta-se como a mais curta do registro (passando por pouco dos cinco minutos), mas, apesar de soar familiar aos ouvidos já convertidos ao som dos suecos, e da presença do guitarrista convidado Marty Wilson-Piper (The Church, All About Eve) e da flauta do músico Theo Travis (que já colaborou em discos de gente como Porcupine Tree, Gong e Robert Fripp), a música não consegue decolar, soando como um “momento menor” no track list do álbum, assim como “If It All Comes Down to You”, a qual dá ainda mais destaque ao instrumento de Travis, mas que, apesar de ser bastante bela e contemplativa, não consegue atingir um nível de destaque perto das demais faixas.
Arte completa da capa de Until All The Ghosts Are Gone
A instrumental “Our Days Are Numbered“, com mais de oito minutos e meio, foi a escolhida para o encerramento do disco, e não decepciona o ouvinte, com uma sonoridade bastante variada, passando pelo clima melancólico tradicional do grupo, trechos macabros e assustadores, e passagens com bastante peso no baixo e na guitarra, além do mellotron sempre em evidência, com aquela sonoridade “estranha” e meio “ameaçadora” que Anna Sofi é excelente em extrair do instrumento, além de abrir um generoso espaço para o saxofone do músico convidado Gustav Nygren (do grupo New Rose, também sueco), o qual ajuda a dar um tom de “loucura geral” á sonoridade da faixa em certo ponto, em mais uma composição que entra para o rol dos “clássicos” do conjunto escandinavo.
Until All The Ghosts Are Gone não supera a obra prima que foi Vemod (disco de estreia do grupo, lançado em 1993), e talvez não venha a ser incluído por alguns sequer no “pódio” de melhores trabalhos do conjunto. Mas é uma bela adição à discografia do quarteto, e um dos melhores lançamentos progressivos de 2015. Só nos resta esperar que o próximo trabalho não demore tanto tempo para sair do forno!
“Everyone walks alone / Struggling to find out how to get out alive”
Track list de Until All The Ghosts Are Gone, grafado na parte interna da edição digipack
3. If It All Comes Down to You
5. Until All The Ghosts Are Gone
Caramba, que disco lindo!
Disco fodomenal, candidatíssimo a um dos melhores álbuns do Anekdoten, e certamente, Top 10 de 2015