Megadeth – Dystopia [2016]
por Ulisses Macedo
Dois anos após o fiasco de Super Collider (2013), os fãs não ficaram muito empolgados com o anúncio de um novo álbum do Megadeth. A saída de Shawn Drover e Chris Broderick em novembro de 2014 para formar o Act of Defiance foi outro golpe duro: numa banda conhecida por suas constantes trocas de formação, Shawn e Chris foram os caras que mais duraram no grupo depois de Marty Friedman e Nick Menza (e do Ellefson, claro), e já pareciam solidificados em seus postos – Shawn entrou em 2004, Chris em 2008. Rolaram uns papos nos bastidores de que a celebrada formação de Rust in Peace (1990) voltaria. Lembram das jams, filmadas logo depois pelo filho do Mustaine, com um baterista cujo rosto não aparecia? Pois é, era o Menza. Os encontros com Nick e Marty, além do empresário Ron Laffitte, chegaram a acontecer, mas nada foi para a frente.
O anúncio de que o talentoso baterista do Lamb of God, Chris Adler, gravaria o novo álbum foi uma ótima surpresa. Mas nós, brasileiros, ficamos em polvorosa quando ninguém menos que Kiko Loureiro foi o escolhido para a guitarra. Goste ou não do cara, não dá pra negar que isso é motivo de orgulho. Sabemos que Adler só entrou para gravar o disco e terminar a turnê, mas Kiko está efetivado. Desde então, Mustaine deu várias entrevistas em que falou sobre como o menino Kiko é um cara agradável e toca pra cacete – aparentemente o guitarrista que mais o intimidou depois de Marty Friedman. Bom, esse tipo de declaração é jogada de marketing, mas o fato é que Dystopia, 15º álbum de estúdio da banda, supera as expectativas.
Os singles formam a trinca inicial de Dystopia. Carinhosamente apelidada de “A Treta É Real” pelos brasileiros, “The Threat Is Real” abre o CD de forma curiosa, com uma vibe do oriente médio e um canto árabe feminino, cortesia da virtuosa Farah Siraj. O thrash metal típico da banda entra rapidamente, com bastante garra e bom gosto, botando um sorriso na cara de qualquer fã, e o fim de cada verso desliza perfeitamente para a pirotecnia de solos de guitarra. Por outro lado, é hilária a cara de pau do Mustaine de escrever coisas como ‘Sem controlar quem vem pela porta’ e ‘Os abutres vieram fazer ninho aqui em casa’ junto a este título. É bem óbvio sobre o que ele quer falar, e não se engane: o registro está cheio de momentos cínicos e hiperbolicamente politizados assim. A primeira metade da faixa-título é mais roqueira, seguindo despretensiosamente além das intrusões de guitarra. Entretanto, começando aos três minutos, Dave e Kiko ensaiam um duelo de dar gosto, que por pouco não chega ao nível intenso de uma “Hangar 18” ou “1,320′”, por exemplo. Já “Fatal Illusion” é conhecida dos fãs por ter sido a primeira a ser revelada: no site da banda, a cada semana uma parte do começo da faixa ia sendo apresentada; se me lembro bem, primeiro foi o baixo, depois a bateria e depois as guitarras. Dave Ellefson tem seu momento de destaque e se mantém sólido durante toda a faixa, que é muito bem estruturada e cujo final tem uma acelerada brutal que remete à segunda metade de “Take No Prisoners” (Rust in Peace) ou ao final de “Good Omen / Black Friday” (Peace Sells… But Who’s Buying?, 1986). Sério, que petardo!
“Death From Within” é direta, lembrando algo de United Abominations (2007). O destaque fica por conta dos solos de Loureiro, que são bem melódicos aqui, e a letra sobre a invasão de Tróia serve como outra metáfora política. “Bullet to the Brain“, com ponte e refrão grudentos, é mais chamativa por manter um certo groove apesar das mudanças de andamento, e os solos de guitarra antes da última ponte são excelentes. “Post American World” tem uma atmosfera tensa, criada por riffs midtempo pesados, e apresenta mais uma bela alfinetada no refrão (‘por que se acorvardar de todos aqueles que se opõem ao mundo americano?’). “Poisonous Shadows“, a mais longa do álbum, é a tal da faixa em que Kiko toca piano, fato que também foi noticiado antes do lançamento de Dystopia. Mas ao invés de o piano abrí-la, como em “Last Rites / Loved to Deth” (de Killing Is My Business… and Business Is Good!, 1985), aqui ele a encerra de forma maravilhosa. A canção em si é bem sombria, contando com uma seção de cordas discreta e bumbos duplos precisos, além de mostrar que a voz de Mustaine segue em boa forma; o próprio patrão a elegeu como sua favorita do álbum. Farah também dá as caras por aqui, porém bem escondida.
A instrumental “Conquer or Die!” é apresentada pelo violão de Kiko, e logo descamba em cascatas guitarrísticas que estão pau a pau com suas primas “Into the Lungs of Hell” (So Far, So Good… So What!, 1988) e “Dialetic Chaos” (Endgame, 2009), trazendo os melhores momentos de Kiko. Pesada, “Lying in State” aproveita o puxadinho e vai seguindo sem perder o pique. A faixa menos interessante é “The Emperor” (que iria se chamar “The Emperor Has No Clothes”), pois vagueia naquele território mais radiofônico que o Megadeth, ultimamente, não sabe fazer direito. O cover de “Foreign Policy“, do grupo punk/hardcore Fear, fecha o álbum numa versão que acabou combinando com a proposta do trabalho. Além de não ser a primeira vez que Mustaine e sua trupe metem a mão no punk (“Anarchy in the U.K.” figurou em So Far, So Good…), o líder do Fear, Lee Ving, fez parte do MD.45, projeto mezzo Metal, mezzo Punk de Mustaine cujo único lançamento foi The Craving (1996).
Como era de se esperar, comparações com a obra-prima Rust in Peace foram lançadas ao vento pelo tio Mustaine, mas após a audição fica bem claro que foi só hype. Se for para comparar, eu diria que está mais para uma mistura de Countdown to Extinction (1992) com The System Has Failed (2004) e United Abominations. Acertaram em cheio ao querer voltar ao seu tradicional estilo thrash metal, mas ainda precisa de alguns ajustes, e quem sabe mais experimentações que se encaixem na proposta sonora do Megadeth, que possivelmente virão nos próximos discos – basta a boa vontade do Mustaine. Kiko até que se entrosou bem; há vários momentos memoráveis dele. Chris Adler trouxe uma agressividade e uma certa distinção muito bem-vinda (convenhamos, o Shawn era meio genérico), mas obviamente não pôde imprimir todo o seu estilo característico aqui. No fim de tudo, Dystopia traz um saldo final bastante positivo, alcançando uma posição de destaque na discografia da banda.
Tracklist:
- The Threat Is Real
- Dystopia
- Fatal Illusion
- Death From Within
- Bullet to the Brain
- Post American World
- Poisonous Shadows
- Conquer or Die!
- Lying in State
- The Emperor
- Foreign Policy (Fear cover)
Eu devo ter envelhecido e ficado chato, pq não consegui ver o que tão espetacular esse disco tem para todo mundo ter falado muito bem dele. Achei a gravação muito ruim, saturada, mal mixada e com a voz do Mustaine muito a frente dos instrumentos. Algo que me incomodou também foi essa “pirotecnia” dos solos de guitarra. Muitos deles sequer tem motivo para estar ali além de exibicionismo barato, não agregam nada à música, e muitas vezes não são empolgantes.
Sei lá, pra mim já é um dos mais fracos da discografia do Mustaine, junto do Super Collider e do Risk.
Composições boas, acima da média que a banda vinha fazendo. Não achei a gravação MUITO ruim, mas a voz do Mustaine tá com um processamento digital bem chato mesmo; bem perceptível na “Fatal Illusion”. Sei que é pra esconder o declínio causado pela idade e uso constante e tal, mas ninguém ouve Megadeth só por causa da voz…
É como sempre dizem: é aquele detalhe pequeno, uma coisa mínima, mas que enche o saco. Mas também nem sei pq to reclamando da voz do Mustaine. Ele nunca foi um cantor excepcional mesmo…
Sinto falta do vigor que tinha na voz mesmo nunca cantando bem, mas acho que não aguenta mais, no sabbath, estava tudo mais grave tbm.
no show do sabbath
Eu gostei muito do disco. Acho que é o melhor disco do Megadeth em uns 10-12 anos. Tdnho que avaliar melhor. Ainda não estou com o CD em mãos, mas eles citam de quem é cada solo igual faziam antes? Estou curioso em saber qual solo é de quem, apesar de alguns serem fáceis de distinguir.
Também não estou com o encarte em mãos. Mas sei que até o Super Collider citava os solos, não é possível que mudaria justo agora.
Se bem que no site da banda as únicas letras em que não especificam os solos são justamente as do Dystopia (http://www.megadeth.com/lyrics).
Tô com o CD aqui, Fernando, e no encarte não há nada citando quem executou cada solo.
Não consigo parar de ouvir o album, mesmo sentindo a falta do tom da voz de mustaine que cantava até com mais agressividade, a guitarra está ótima, gostosa de ouvir, sem pretensão e bem precisa.
nem vejo o tempo passar, toda hora o album acaba e volto.
Excelente disco mesmo!
Achei um bom disco. Gostei das guitarras gêmeas e da dinâmica entre o Kiko e o Mustaine. E me decepcionei um pouco com o Adler, já que, na minha inocente visão, esperava ouvir uma abordagem de bateria semelhante à do Lamb of God, o que, obviamente, não aconteceu. Mas é um bom disco, vale a pena.
Se o Adler for realmente substituído para a turnê me pergunto se não seria o caso de ter sido colocado um baterista definitivo para a gravação do disco. Já que pelo jeito isso já estava pré definido. O Lombardo chegou a ser sondado…seria ótimo!
Achei o álbum muito bom, mas compará-lo com Rust In Peace é loucura. Ao meu ver, ele esta no mesmo patamar de The System Has Failed, algo extremamente positivo. Poisonous Shadows, Bullet to the Brain, Post American World e a faixa titulo são as minhas preferidas.
Meus discos favoritos:
1- Rust In Peace (1990)
2- Peace Sells (1986)
3- Countdown To Extinction (1992)
4- Youthanasia (1997)
5- Endgame (2009)
6- Dystopia (2016)
7- So Far, So Good… Só What? (1988)
8- Killing Is My Business… (1985)
9- Cryptic Writings (1997)
10- The System Has Failed (2004)
11- United Abominations (2007)
12- Th1rt3en (2011)
13- The World Needs A Hero (2001)
14- Super Collider (2013)
15 – Risk (1999)
Al3xandr3
Eu achei esse disco muito bom, bem melhor do que os últimos cinco lançamentos do Megadeth, no mínimo. Destacoa veloz “Fatal Illusion”, o peso de “Bullet to the Brain”, a pancada “Lying in State”, a pesadíssima instrumental “Conquer … or Die”, com exímios solos de guitarra e cuja introdução ao violão é um daqueles momentos mágicos da união entre dois monstros em seus instrumentos, violão também que registra um bonito trabalho em “Poisonous Shadows”, também apresentando a inserção de orquestra e piano, elementos raros nas canções do Megadeth.
Parabéns pela resenha Ulisses, e agora, é esperar para ver se Dystopia estará nas listas individuais e final de Melhores do Ano daqui da Consultoria, o que acho bem provável