Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia [2006]
Nelson Motta e Tim Maia juntos em Nova Iorque
As histórias e relatos (por vezes beirando o inverossímil, mas quase sempre engraçadas, e todas muito interessantes, graças à forte personalidade de Tim, que, como declara Motta, era um personagem de tal feita que nenhum ficcionista seria capaz de criar) sucedem-se de forma natural, bem como as análises feitas pelo autor da discografia do cantor e dos bastidores de suas gravações. A vida particular de Tim também não é deixada de lado, e a importância de sua família, de seus amigos e de suas (várias) mulheres é ressaltada ao longo de toda a narração da trajetória do “síndico” (apelido que recebeu de Jorge Benjor, eternizado na música “W/Brasil (Chama O Síndico)”). Destaca-se ainda, ao longo da leitura, as inclusões de termos “peculiares” do vocabulário do cantor, como “Bauret” (gíria para maconha eternizada pelos Mutantes no disco Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets, e cuja origem é esclarecida no livro), “Garrastazu” (um local no prédio onde estivesse no qual ele poderia se esconder e “queimar um bauret”), “Levadinho” (o cachê de seus trabalhos, que poderia ser um “levado” ou um “levadão” dependendo do tamanho) ou “Estratégia”, comando que, quando dado por Tim a seus músicos, significava algo como “abandonar o navio”, independente das consequências que a debandada fosse causar.
Chama a atenção também a quantidade de hits que o cantor gravou ao longo de sua carreira (mesmo eu, que nunca fui o mais dedicado fã deste artista, ao ler o nome das músicas de destaque em sua trajetória citadas por Motta ao longo da obra, lembrava quase que imediatamente a melodia e/ou a letra – ou pelo menos o refrão – de praticamente todas elas), assim como o grande número de personalidades que surgem aqui e ali ao longo das páginas do livro, em interações por vezes fugazes, por outras duradouras e permanentes na vida de Maia. Músicos, artistas, políticos, jogadores, muitas e muitas figuras conhecidíssimas, as quais normalmente não seriam associadas a um cantor tão popular quanto o biografado, acabam marcando presença em situações as mais variadas, e cujos rumos a personalidade forte e decidida de Tim poderia mudar rapidamente!
Algumas imagens das páginas do livro Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia
Depois de saber tudo isto a respeito do livro, o caro leitor há de estar pensando: “Ok, pode até ser interessante, mas eu já assisti ao filme (ou ao musical, ou ainda à minissérie exibida na televisão) baseado nesta obra aí, então já conheço a história, e não preciso perder meu precioso tempo me dedicando a conhecer um registro tão comprido (400 páginas, por favor, né?)”. Ledo engano, meu estimado amigo: o que você viu na tela (ou no palco) não corresponde, arrisco a dizer, a vinte por cento daquilo que consta nas páginas da biografia. E mesmo aquilo que foi selecionado para ser filmado (ou encenado) surge de forma mais extensa e detalhada no livro, tornando a leitura deste bastante prazerosa (e, sobretudo, indicada) mesmo aqueles que já tiveram a oportunidade de estar presentes às três mídias que usaram Vale Tudo como fonte de inspiração. Confira lá, e depois venha aqui me dizer que estou errado, caso tenha coragem!
Taí um artista que foi levantado pela mídia e destruído pela mesma. O cara era fora do normal. Antes da fama “global”, as composições que ele criou são marcantes, não somente “These are the Songs”, magistral canção com a Elis citada no belo e motivador texto do Micael, “Jurema”, “Primavera (Vai Chuva)” ou “Azul da Cor do Mar”, isso só do primeiro álbum dele. Depois que a Globo pegou ele para corinho, os inúmeros clássicos então nem tem como colocar aqui. Mas não adianta, a fase Racional é a melhor de todas. Uma pena que seus discos viraram marco de aumento de preço significativamente em comparação aos outros, alavancando os vinis em preços exorbitantes.
Bom, de um jeito ou de outro, todo mundo que atingiu o estrelato foi catapultado, também por uma razão ou outra, pela mídia. Não vejo isso como uma particularidade da carreira de Tim. Na verdade, o cantor começou a carreira fonográfica já na principal gravadora da época a operar no Brasil, a Philips (multinacional holandesa). Seu cast incluía os maiores best sellers da música brasileira, ao ponto de ser chamada de a Seleção Brasileira da Música. Seleção, contudo, sem Pelé: Roberto gravava pela CBS. Então Tim foi muito retardatário numa carreira de mídia (uns 10 anos de atraso em relação a seus chapas da Tijuca, Roberto, Erasmo e Jorge Ben), mas já entrou por cima!Nesse sentido sua afirmação pode ter algum sentido.
Quanto à queda, se deveu sobretudo, e o livro deixa isso claro, ao caos permanente que era a vida pessoal de Tim…a instabilidade pessoal levava à crise na carreira, a súbitos empobrecimentos e a um descontrole geral da vida profissional.
De todo modo, Tim tem uns bons 10 discos irretocáveis, altamente originais, de musicalidade maiúscula e imprescindíveis a todo mundo que gosta de rock e pop.
Ah, acho o Nelson Motta um babaca lambe botas da Globo, mas o livro dele é excelente e merece ser lido. Assim como excelente ficou a resenha!
É exatamente o que você citou que eu me referia, Eudes (em relação a ele ter começado bem depois, e alavancado apenas pela mídia).
Surpreendente que você não gosta do Nelson Motta
O problema do Eudes nunca foi a Nelson Motta. O problema do nosso querido canhoto é a Globo.
Tem um compositor e cantor californiano chamado Lee Michaels. Daqueles tipos que parecem nunca ter superado sua juventude riponga. Para quem não conhece, seus discos são ótimos e valem muito a pena. Lee Michaels teve um único disco lançado no Brasil, chamado Barrel, de 1970, pelo selo Odeon na mitológica capinha sanduíche, que eu reproduzo abaixo. Pois bem, lá pelas tantas desse livro (eu não vou me dar ao trabalho de saber em qual página), Motta conta uma passagem em que o Tim estava conversando com o engenheiro que iria fazer seu estúdio, o Vitória Régia. Tim sabia exatamente o que queria, tanto que deu ao engenheiro esse disco do Michaels e foi categórico: faz igual. http://www.allmusic.com/album/barrel-mw0000648455
Tim tocava estúdio num nível assim Jimmy Page.
Ótimo livro! Devo ter lido em 2 dias!! Bela matéria, Micael! Abs
Grato pelos comentários, Aronna e Marco!
Bah, me cortou …
Desculpa, Mairon! Foi sem querer! Valeu o apoio também!
Tim Maia foi o cantor mais sacaneado pela turma do Agnaldo te Mostro (quadro do Pânico na Band), inclusive enviei dias atrás um vídeo desse quadro em que eles começam a zuar com uma música do saudoso “síndico”. Caso haja dúvidas, acessem: https://www.youtube.com/watch?v=rkxvQIeXWCU
Putz, não sabia, há anos que não assisto mais ao Pânico!
Assista que é mó zueira, véio!
Excelente livro! Tão divertido quanto a biografia do Ozzy!! 🙂
Bela lembrança, Marcel! O livro do Ozzy é muito bom, extremamente engraçado!
Tim merece muito um 5 Discos ou até uma discografia comentada, mas aí haja tempo e pesquisa.
5 Discos é mais simples, mas a DC comentada é complicada. Os discos pós-Racional são algo que não me aventurei a ouvir ainda.