Discografias Comentadas: Ten Years After (parte 2)
Eis a segunda parte da discografia do Ten Years After. Foram ao todo 11 discos nos anos 60 e 70, 1 em 1989 e dois mais recentes, sem a presença de Alvin Lee. Passamos do ápice do sucesso comercial do grupo a um longo hiato, uma volta não muito bem sucedida e uma nova fase retornando para as origens. Uma longa trajetória de pegadas na estrada do rock and roll.
Alvin Lee & Company (1972)
O disco é na verdade uma compilação de compactos do período inicial do grupo, época em que eram contratados da Deram. Como em 1971, após a saída do selo, a banda emplacou um grande sucesso com o disco Space in Time e o hit “I’d love to change world” sob o selo Chrysalis, a Deram tentou surfar na onda do sucesso de seus ex-contratados ao colocar no mercado Alvin Lee & Company. A compilação é valiosa, pois ao abrir com “The Sounds” (lado B de um compacto de 1968) uma viajante canção com flutuantes vocais de apoio e fechar com uma possante jam session blues de quase 15 minutos (“Boogie On”), já garante a diversão para todo fã do grupo. O miolo privilegia a faceta blues e rockabilly do grupo e também não falha.
Rock and Roll Music to the World (1972)
Embalados pelo sucesso, aclamados por todos os cantos, o Ten Years After mostra-se dono da situação em Rock and Roll Music to the World. Tudo flui com muita naturalidade e o resultado positivo vem com muita facilidade. As composições continuam sendo simples e pegajosas, a banda balanceia bem as receitas do seu som e o atestado disso tudo vem na forma de sons de primeira grandeza – “You Give me Loving”, “Standing at the Station” (uma das poucas do grupo ao usar som de sintetizadores e beliscar algo do som progressivo tão em voga naquele ano), “Religion” e as irresistíveis “Tomorrow I’ll be Out of Town” e “Choochoo Mamma”. Disco bom do início ao fim, música pra curtir, pra viajar, pra sair do lugar.
Recorded Live (1973)
Uma boa prova de que uma banda já está grande demais é quando ela chega no ponto da carreira de ter sucesso e público suficiente para um disco ao vivo duplo. Os registros que originaram Recorded Live vem de uma tour européia, de shows registrados em Frankfurt, Paris e Amsterdam. Os registros contam com boa qualidade de gravação e a performance, bem, deixa pra lá. Em Woodstock o Ten Years After já tinha mostrado ao mundo do que era capaz em palco. O setlist do disco é bem dividido entre os discos que a banda lançou. As exceções são Cricklewood Green e Watt, das quais não há nenhuma canção, Rock and Roll Music to the World, que a banda promovia na época, que tem “You Give me Loving” e “Choochoo Mamma” e o primeiro disco auto-intitulado, que tem “Help Me” e “I Can’t Keep from Crying”, duas músicas que eram flechadas certeiras no coração do público. Claro, estamos na era do hedonismo no rock e há sim muitas versões estendidas e longos solos de guitarra. Os destaques ficam para espetáculo guitarrístico de Alvin Lee em “Good Morning Little Schoolgirl” e “I Can’t Keep from Crying” (em que ele cita “Outside Woman Blues”, “Cat’s Squirrel” e “Sunshine of your Love” do Cream).
Positive Vibrations (1974)
Em 1974, o Ten Years After já era praticamente um arremedo desfacelado por egos inflados, interesses difusos, problemas financeiros e abusos de toda a sorte. Porém, Positive Vibrations é um disco não tão urgente quanto os demais, mais relaxado. Ainda sim, é quase tão sujo e malicioso quanto Ssssh, só não tem canções tão inspiradas. A exceção é a abertura “Nowhere to Run”, que é das melhores músicas de toda a carreira da banda. Alvin Lee prova realmente seu amadurecimento enquanto guitarrista. Algumas baladas da banda não funcionam muito nesse disco e outras mais agitadas são excessivamente básicas. “Looking Into My Life” é quase uma releitura da banda em Cricklewood Green e “Look me Straight Into the Eyes” tem seu charme malemolente. É um disco com altos e baixos que marcou o início de um período de ausência do grupo, após o cumprimento contratual de uma última tour.
About Time (1989)
Após longo hiato dos estúdios, o Ten Years After surge com About Time. O entrosamento da formação clássica mantinha-se de pé, já que alguns encontrados esporádicos foram realizados ao longo dos anos 80. O resultado em estúdio porém mostra um Ten Years After buscando se equilibrar nas tendências e se dando mal na empreitada. A produção sonora e os timbres tiraram as identidades do grupo, pois tudo nele soa genérico e desgastado, mesmo que apele para o “novo” daquela época. A banda mantém-se firme ao rock básico que os consagrou outrora, porém, sem um pingo de apelo e com canções muito previsíveis. Pesa negativamente também aqueles feiosos timbres de teclado com a pior textura AOR possível, uma guitarra bem mais contida na hora dos solos, faixas desnecessariamente longas e uma cozinha que em nada lembra a química contagiante que Ric Lee e Leo Lyons tinham. Apesar de não ter faixas absolutamente ruins (como “Victim of Circumstances” e “Saturday Night”), a banda não escapa de ao menos uma faixa constrangedora – “Bad Blood“.
Now (2004)
Now já começa com um pecado mortal – é o Ten Years After sem Alvin Lee. Mas pra começo de conversa, o disco é bom. Discussões conceituais podem rolar aos borbotões, se a banda é a banda sem seu integrante mais reconhecido, mas na hora que você aperta o botão play, o que importa na real é o resultado. Tratemos dele. O guitarrista Joe Gooch já trava um belo duelo com o tecladista Chick Churchill em um ritmo pulsante na abertura “When it falls Down”; depois segue-se a bela balada climática “A Hundred Miles High”, o blues psicodélico “The Voice Inside Your Head” e o boogie explosivo de “Reasons Why” como os maiores destaques. Um disco que consegue fazer uma ponte entre o passado e o presente do grupo, explorando o que teve de melhor, adicionando-lhe um toque contemporâneo para atingir um resultado bastante satisfatório. Talvez não o suficiente para quem associe Ten Years After unicamente a Alvin Lee.
Evolution (2008)
Continuação do trabalho da formação do Ten Years After que gravou o disco anterior, Evolution apresenta uma concepção bastante similar com a de 4 anos antes, sugerindo que se algo evoluiu foi somente o entrosamento dos músicos e a vontade de entrar em estúdio novamente. As canções não são dispensáveis, longe disso, mas são mais do mesmo rock festeiro dantes. A produção sonora ressalta mais a pressão da performance do grupo e os teclados de Chick Churchill continuam afiadíssimos, como a abertura “I Think it’s Gonna Rain All Night” atesta. Joe Gooch se esmera tanto na voz quanto em suas bases e solos de guitarra, mostrando-se um guitarrista de alto quilate. As composições do disco não tem nada de inusitado, como nada na carreira da banda assim também o seja, mas mantém a estirpe de serem bastante eficientes e energéticas.
Ótimo texto, como sempre. Desconhecia os lançamentos dos anos 2000, mas sou um grande fã do Rock and Roll Music to the World, para mim, um dos melhores discos da história. Tive por um bom tempo o About Time, mas como bem disse o Ronaldo, é um disco menor na vasta carreira da banda. Obrigado ao nosso Solid Rock por resgatar tão preciosa discografia.