Anthrax – Sound of White Noise [1993]
Por Fernando Bueno
Sound of white noise é aquele ruído que ouvimos quando a rádio ou a televisão está fora do ar e foi uma ótima idéia usá-lo para iniciar um disco. Há uma frase declamada nesse início que diz muito sobre a carreira bastante heterogênea do Anthrax que é “this is a journey into sound”. Depois de cinco álbuns considerados clássicos pelos fãs, com natural variação de grau de entusiasmo entre eles, seu vocalista Joey Belladonna, um ótimo cantor, deixa o grupo. Para explicar essa baixa foi usada a velha desculpa das divergências musicais. Como direcionamento que estavam tomando, com a absorção de estilos musicais, é possível que Joey estivesse mesmo fora de sintonia com o que os outros componentes queriam, mas sabemos que o ambiente no Anthrax nunca foi muito tranquilo como podemos confirmar anos depois.
Sound of White Noise divide opiniões de uma parcela de fãs que acham a evidente mudança musical incompatível com a sonoridade da banda. O fato de emprestarem um pouco da melancolia que as bandas grunge/alternativas tinham na época também desagradou os mais radicais. O som ficou mais lento, porém o peso continuava o mesmo. Mas a contradição dos fãs de metal é notória e aqui também temos um exemplo, afinal ninguém reclamou dos elementos de hardcore e até de rap que o grupo estava usando pouco tempo antes da entrada de John Bush, até então o vocalista da banda Armored Saint. Bush se juntou ao guitarrista chefão Scott Ian, ao baterista Charlie Benante, ao baixista Frank Bello e aos guitarrista Dan Spitz.
A produção do disco ficou a cargo de Dave Jerden, que já havia trabalhado com John Bush em um albúm do Armored Saint. Jerden também já tinha produzido discos de Alice in Chains e Jane´s Addiction, o que pode ter influenciado o resultado final.
“Potters Field”, como dito acima, inicia com o som de rádio fora do ar até a entrada com bastante peso das guitarras. Seu riff é bastante marcado, quase percussivo. John Bush mostra a que veio. Sua voz mais grave e agressiva que a de Beladonna se encaixa muito bem nesse som que a banda estava fazendo. Mesmo assim o velho thrash metal ainda está lá presente. James Hetfield já se referiu à “Only” como a “música perfeita” e isso quer dizer alguma coisa, não? Não sei se ela pode ser considerada como seu maior clássico já que músicas como “Caught in a Mosh” e “Indians” dificilmente perderão seu apelo com os fãs. Mas se eu tiver que escolher apenas uma, seria essa. O interessante que o seu solo faz parte da passagem da música como uma espécie de coadjuvante e não como protagonista. Talvez esta seja apenas uma impressão minha difícil de explicar.
O segundo single do álbum, “Room for One More” (o primeiro foi “Only”), é bastante lembrado por quem gosta do disco e tem como destaque seus riffs. O início de “Package Rebellion” me lembra a introdução de “My Friend of Misery” do álbum preto do Metallica. Claro que são música totalmente diferentes, mas vale o registro. A melodia vocal é o destaque aqui. Em seguida temos mais um single, “Hy Pro Glo”, que chamávamos de a música do Hipoglós por motivos óbvios. A exemplo da faixa de abertura temos um riff que martela com um peso absurdo. John Bush varia bastante o estilo de cantar ao longo da faixa. Bastante melodia variando com abordagens mais agressivas.
A introdução de “Invisible” remete ao grunge por conta de sua guitarra dissonante. Já “1000 Points of Hate” também se destaca por sua introdução e seu refrão, apesar das estrofes não acompanharem o nível da música. Aí temos mais uma pérola do disco, “Black Lodge”, que também se tornou um single. O efeito de tremolo da guitarra é tão marcante que certamente fez muito guitarrista desistir de usá-lo pensando que essa idéia já tinha sido usada em sua plenitude. A sua linda melodia não impede o uso de peso, bem dosado é claro, no refrão. A ponte novamente lembra alguma passagem do Metallica. É daquelas músicas que nos faz ter vontade de volta e ouvir de novo.
Antes de saber da música creio que muita gente se pergunta o que significa “C11H17N2O2SNa”. Essa é a formula química do tiopentato de sódio, também chamado de soro da verdade. Foi utilizado de inúmeras formas como anestesias, indução ao coma, eutanásia e até injeção letal em alguns estados. Porém no início era administrado em pacientes de psicólogos para que eles se sentissem mais relaxados e, portanto, mais abertos à falar, o que explica seu nome popular. Como dizia um médico da idade média “ a diferença entre um remédio e um veneno está só na dosagem”. Falando de música temos aqui a justificativa de alguns relacionarem o Anthrax com o surgimento do groove metal. Para finalizar a fraca “Burst” e “This is not a Exit” com seu ótimo riff, mas que se perde com a escolha de andamento, nenhuma dessas duas conseguem rivalizar com nenhuma das faixas anteriores.
Sound of White Noise acrescentou mais variedade ao som do Anthrax e isso fez com que eles tivessem liberdade de compor tendo um leque maior de possibilidades. Os discos mais recentes com Joey Beladonna são beneficitários dessa maior abrangência musical, já que eles deixaram de ser totalmente thrash metal e os fãs aprovam.
Os discos seguintes com Jonh Bush nos vocais não tiveram o mesmo nível. Talvez a saída do guitarrista Dan Spitz tenha influcenciado isso. Vejo Stomp 442 como uma tentativa sem sucesso de recriar Sound Of White Noise com os mesmo timbres, tipos de riffs, etc.. Já Volume 8 – The Threat Is Real é um disco confuso e sem inspiração. Esse insucesso quase resultou na dissolução da banda. Mas 5 anos depois de Volume 8 eles retornaram com o ótimo We´ve Come for You All. A partir daí as confusões foram enormes até termos a volta de Joey Beladonna, mas isso fica para depois… Caso queiram mais informações sobre o Anthrax leiam as duas partes da discografia comentada que publicamos algum tempo atrás nesses links: Parte 1 e Parte 2.
Expliquei logo no primeiro parágrafo o significado do nome do álbum, mas na época foram reportados alguns manifestos contra a banda dizendo que o termo white noise na verdade tinha um cunho racista. Uma bobagem, é claro! Anos depois, durante uma das inúmeras guerras que os EUA se envolveram, começaram a usar o antraz como arma, inclusive, quando houve alguns incidentes de cartas serem enviadas à altas autoridades americanas contendo o pó que pode transmitir a doença, fizeram manifestações com o pedido que o grupo trocasse de nome. Isso durante um momento já conturbado internamente, quase contribuindo para causar seu fim. O Anthrax tem a característica de ser uma banda cheia de clássicos, variações sonoras, um dos logos mais legias e como vimos, muita polêmica também.
Track List
01 – Potters Field
02 – Only
03 – Room For One More
04 – Packaged Rebellion
05 – Hy Pro Glo
06 – Invisible
07 – 1000 Points of Hate
08 – Black Lodge
09 – C11H17N2O2SNa
10 – Burst
11 – This Is Not a Exit
Disco bom pacas, um dos melhores do Anthrax. Peso e melodias misturadas com precisão, e aqui o maior clássico da carreira da banda, “Only”, além de performances individuais muito acima do que encontramos nos álbuns anteriores do grupo, principalmente na melhor faixa do disco – e talvez do grupo – “Packaged Rebellion”, uma das introduções mais fodásticas da história. Disco maduro e fundamental para quem curte um som mais pesado. Até vou colocar para ouvir de novo, já que o belo texto do Fernando me fez pensar muito no disco novamente, e é legal ver uma nova visão de um consultor sobre o mesmo disco, já que o Pablo havia feito uma resenha para os 20 anos do Sound of White Noise em 2013, mas essa ficou na lista das matérias consumidas pela Uol Host. Valeu Fernando!
Fernando, me tira uma dúvida. A capa em CD se abre em nove partes? Por que a imagem das capas em CD que eu vi é apenas uma das nove imagens que compõem a capa do vinil
A capa da versão do Cd é a imagem central do vinil que vi nas suas fotos…
Não abre em 9 então?
Sim, a capa/encarte do CD é dobrável, e quando desdobrada inteira fica com 9 quadrados. Fica tão grosso quando está todo dobrado que é até difícil de tirar da caixinha do CD!
Essa capa “completa” que você se refere no vinil saiu no Brasil, mas nem todos os lugares foi assim. Tenho o vinil coreano, e a capa é a mesma que o CD, ou seja, só com o quadrado central.
Outra curiosidade do vinil é que a Black Lodge (talvez a música mais intensa do disco e mais diferente da carreira do Anthrax também) não está presente! Só saiu no CD e como single. Além disso, o tremolo da música foi inspirada no trabalho do Angelo Badalamenti na trilha do seriado Twin Peaks, que os caras do Anthrax eram muito fãs. Inclusive o próprio título (Black Lodge) é uma referência direta à série.
Abraço!
Tirando “Hi Pro Glo” que podia ser limada do tracklist, é um dos discos que mais tenho gostado do Anthrax.
Tava ouvindo aqui: disquinho porreta de bom.
SÉRIO MARCO!!!
Vou enquadrar esse comentário!!
Finalmente vc concorda comigo!!!
HAHAHAHAHAHAHA
De agora em diante só vou na sua.
Uma das bandas mais empolgantes que eu já tive o prazer de ver ao vivo, quando abriram pro Iron aqui em BH nesse ano de 2016. Anthrax é foda!
Adoro esse disco. Foi um dos primeiros CDs que comprei.
“Room for One More” é uma das minhas preferidas do Anthrax.
Ótima matéria.
Este álbum é muito bom, quando lançado foi uma época que o Grunge vinha expandindo, quando eu ouvi a musica Black Lodge foi demais, depois de muito tempo comprei o cd usado de um colega que estava desfazendo de alguns CDs. Tenho outro do Anthrax com o Beladona o Alice 2, mas o Sound of the Noise é um álbum que tem mais o meu estilo.