Queen Nos Bastidores: Minha Vida Com a Maior Banda de Rock do Século XX [2012]
Por Mairon Machado
Peter Hince foi um jovem roadie responsável pelo palco do Mott the Hopple em 1973, quando teve o primeiro contato com o grupo Queen, a banda de abertura da trupe de Ian Hunter naquele ano. Dois anos depois, Hince acabou sendo contratado para ser o roadie de Freddie Mercury e John Deacon durante a turnê do álbum A Night at the Opera, lançado pelo grupo Queen em 1975. A partir de então, foram 20 anos dedicados as turnês da banda, subindo de roadie a chefe de equipe de apoio da banda, e esse anos são retratados no interessante livro Queen Nos Bastidores – Minha Vida Com a Maior Banda de Rock do Século XX (no original, Queen Unseen), lançado aqui no Brasil em 2012 pela editora Prumo, com tradução de Maria Elizabeth Hallak Neilson.
A orelha do livro já nos conta o que iremos nos deparar nas 296 páginas escritas por Hince: a história de uma das poucas pessoas que tinha livre acesso aos camarins do grupo não somente nos shows, mas também nas gravações, sendo uma peça chave para a grandiosidade que o Queen se tornou a partir da segunda metade da década de 70.
Hince também anuncia no Prólogo que “se você quer fofocas sórdidas e revelações bombásticas, compre um tabloide … aqui você vai deleitar-se com muitas risadas e surpresas ao longo do caminho“, ou seja, não há nenhuma revelação sobre os casos homossexuais de Mercury ou alguma novidade escabrosa que não chegou até então na imprensa, mas sim, uma emocionada apresentação de alguém que viveu na estrada, aproveitando os bônus (e os ônus) de fazer parte de uma banda enorme.
Sem seguir uma ordem cronológica, passeamos pelo livro de Hince como se presenciando as cenas in loco – similar ao que acontece no clássico filme Quase Famosos – e capítulo por capítulo, vamos sentindo as alegrias, loucuras e por que não, uma ponta de inveja com a quantidade de histórias de mulheres, sexo, famosos, drogas, bebidas, festas, viagens e muitas outras situações que um roadie passa e se quer imaginamos.
Tudo começa com Hince relatando um dos inúmeros ataques de fúria de Mercury, antes de um show no auge da carreira do Queen, onde Ratty (apelido dado por Mercury a Hince) é o único que consegue acalmá-lo, ou seja, somos apresentados a um homem que realmente era importante para a banda. Conhecemos um pouco do “por trás do palco”, com Ratty revelando que Deacon só subia para tocar quando tivesse um grande bar com bebidas caríssimas preparado para ele atrás das caixas de som, e como muitas dessas bebidas acabavam nas barrigas dos roadies pós-show, os problemas de audição causados por ficar dia após dia em cima do palco, responsável pelo controle do piano de Mercury e do baixo de Deacon, os apelidos que os roadies deram para cada integrante de banda (Melina, Maggie, Elizabeth e Belisha, adivinhem quem é quem) e como vagarosamente ele foi conquistando seu espaço junto ao grupo, principalmente com Mercury.
O mais interessante são detalhes cômicos que o Queen passou e que se quer imaginamos que possam ter acontecido, como em uma apresentação em Munique durante a final da Copa do Mundo de 1986, quando Mercury estava preparado para subir ao palco fardado com a camiseta da Alemanha, que fez a final daquele ano com a Argentina, para cantar “We Are the Champions” e teve que largar a ideia por que a Argentina acabou ganhando o jogo, ou quando em outra apresentação, John Deacon dando um espetáculo de dança em uma casa noturna no Japão, Hince tendo que empunhar o baixo a força durante um show nos Estados Unidos para tocar “Another One Bites the Dust”, enquanto Deacon esvaziava a bexiga.
O primeiro encontro com o grupo, as diferenças de estar na estrada nos Estados Unidos, onde tudo é feito a base de caminhões e locais grandiosos, e na Europa, com muitas viagens dentro de uma van por países e lugares minúsculos, os primeiros deslumbres com o sexo e com as drogas, e as aventuras de um jovem roadie em Los Angeles, preenchem a primeira parte do livro, mas é a partir do capítulo Japão que Queen Nos Bastidores nos pega na leitura. Hince descreve o país como um apaixonado pelo Queen, e também faz curiosas – e bizarras – citações a comida local, como um prato onde enguias-bebês vivas boiando na cerveja são servidas como iguaria, e os seguranças entravam em deleite mastigando a cabeça dos bichos, e muitas doenças sexuais sendo transmitidas pelas groupies, as quais não gostavam de serem chamadas assim por terem sentimentos com o pessoal da banda.
Passando pelos nomes falsos dados pelos integrantes da banda ao se hospedarem em hotéis, travessuras na estrada e alguns detalhes sobre a filmagem de clipes importantes, como o de “Tie Your Mother Down”, “Play the Game”, “Crazy Little Thing Called Love” e “Another One Bites the Dust”, Hince conta quais foram os piores momentos nas apresentações do Queen: um show em Chicago em 28 de janeiro de 1977, sob sensação térmica de -40 °C, onde tudo deu errado; uma apresentação em Saarbrücken, Alemanha, em 18 de agosto de 1979, realizado ao ar livre sob forte chuva e para um público diminuto, onde os fogos de artifício comprados a preço de ouro para embelezar o espetáculo estragaram; o show de Indianápolis em 11 de setembro de 1980, onde novamente nada deu certo, mas dessa vez Freddie quebrou com tudo no palco, e depois bateu no próprio Ratty; e uma apresentação em Melbourne, no dia 17 de abril de 1985, abaixo de muita chuva e com luzes, alto-falantes e monitores desligando-se automaticamente, além do microfone de Mercury não funcionar.
Depois, o livro nos remete aos momentos de gravação do quarteto inglês, concentrando-se em um acidente de carro envolvendo o roadie e Freddie. Mas o ponto que chama a atenção nessa parte do livro, é quando Hince conta sobre o encontro do Queen com os Sex Pistols no estúdio Wessex de Londres, em 1976, e que a turma se dava muito bem, apesar de um determinado dia, Freddie ter retirado Sid Vicious de dentro do estúdio pelo colarinho por conta do baixista dos Pistols ter-lhe perguntado: “Você já conseguiu levar o balé às massas?“, em alusão a uma declaração que Freddie havia dado dias antes para a imprensa. É engraçado imaginar Freddie, um homem que não era tão alto assim, carregando o gigante Vicious pelos corredores do Wessex.
As gravações do álbum Jazz em Montreux ganham um capítulo especial recheado de momentos hilários, como o piano de Freddie estragando o chão de uma tradicional escola de balé da cidade, e também o envolvimento com as mulheres suíças. A partir daqui, o livro torna-se ainda mais atrativo, com Hince contando detalhes sobre locais onde o Queen passava. Em Munique, a cidade das drogas pesadas e MULHERES (grafado em letras garrafais no livro), Hince descobriu o talento de Freddie com o ping-pong, e também viu e ouviu ao vivo a criação de “Crazy Little Thing Called Love” pelo cantor do Queen, o qual estava tomando banho no Hotel Hilton e começou a cantarolar a canção naqueles momentos de inspiração que acontecem poucas vezes.
Na capital inglesa, o autor narra sobre os prazeres (e desprazeres) de se estar em casa, e como foi a participação de Mercury no Royal Ballet em 1979, além da gravação do clipe de “Crazy Little Thing Called Love”, onde sabemos que um do par de mãos que ficam batendo palmas no vídeo é o de Hince, e de “Play the Game”, “I Want to Break Free”, “Backchat”, “Calling All Girls” e “It’s a Hard Life”. Para quem gosta de curiosidades, é um prato cheio. Depois de peregrinarmos por várias cidades do mundo, Hince chega na América do Sul.
Aqui, o autor rasga elogios ao público argentino, dizendo que o melhor show do Queen ao ar livre foi realizado no estádio Velez Sarsfield em 1981, mas também critica a organização dos shows no Brasil, ao mesmo tempo que ficamos sabendo do cancelamento de dois shows em 1981 aqui em nosso país, um em Belo Horizonte, por motivos que o autor prefere não revelar, e outro no Maracanã, por que o governo do estado não aceitou liberar o estádio com medo de danificação ao gramado. Uma perturbada passagem pela Venezuela e inúmeros problemas no México levam ao encerramento do capítulo América do Sul com a apresentação no Rock in Rio, e assim, o autor nos leva para as apresentações do Queen na África do Sul. Foi nesse período que ele começou a se desgastar como funcionário do Queen, já que agora ele não era mais o roadie, mas o responsável pelo palco inteiro, e também viu os ânimos entre os membros da banda ficarem mais acirrados, destacando que por várias vezes, Deacon confessou estar com vontade de sair da banda – e as vezes saía mesmo, voltando semanas depois de uma viagem para algum lugar paradisíaco.
O encerramento do livro conta como foram os dias de preparação do Live Aid em 1985, bem como a saída de Ratty da banda no mesmo ano, mas antes sem deixar de coordenar a longa e última turnê do grupo, a Magic Tour, durante o ano de 1986, mais como forma de manter a amizade com Mercury do que uma opção profissional do escritor.
Hoje, Hince é um fotógrafo reconhecido na publicidade, profissão alternada com a escrita, e em todo o livro, ele ressalta que a carreira dele foi feita com muito trabalho, mas o Queen tornou-a relativamente fácil, já que ele era livre para fazer o que quisesse, desde que cumprisse o que o Queen pedia, e por isso, agradece a banda por tudo o que ele conquistou. A maioria das fotos que ilustram o livro (e não são poucas) foram retiradas por ele.
É um livro para fãs, mas que vale também para pensarmos que um grande grupo não é feito apenas pelos seus músicos.
pena ele nao mencionar o chilique que freddy deu no backstage do rock in rio .
Chilique esse bundero do Mercury era craque, ainda acham esse maldito o melhor vocalista do rock, um absurdo!!!