Cinco Discos Para Conhecer: Carlos Santana
Por Marcelo Vieira (Publicado originalmente no site Van do Halen)
Um dos principais guitarristas de todos os tempos e um revolucionário quando o assunto é fundir diferentes estilos musicais. Já estava mais do que na hora de Carlos Santana ter sua vez neste quadro. Antes tarde do que nunca, aqui estão os cinco melhores discos para conhecer sua vasta obra e os muitos momentos de sua vertiginosa carreira.
* O texto não inclui as line-ups dos álbuns por serem listagens imensas de músicos em cada obra.
Santana – Santana III [1971]
Quando deu as caras, no final dos anos 1960, o grupo Santana, sob a liderança de Carlos Santana, cativou quase que instantaneamente a todos com sua mistura de música latina com rock de influência britânica. Inclua neste caldeirão pitadas de jazz, blues, R&B, funk e ritmos africanos, cubanos, brasileiros, espanhóis e, claro, mexicanos, para sacar o porque de uma sonoridade tão peculiar. Ok, em matéria de clássicos, tanto Santana (1969) quanto Abraxas (1970) vencem a disputa, mas o disco que melhor representa a “fase Woodstock” é, sem dúvidas, Santana III. Lançado em setembro de 1971, o terceiro e último álbum do sexteto original contou com a guitarra adicional de Neal Schon (futuro guitarrista do Journey) a percussão e backing vocal de Coke Escovedo (que co-escreveu as duas canções de maior sucesso daqui: “No One to Depend On” e “Everybody’s Everything”) e a seção de sopro da Tower of Power, afinal, “experimentar” era a palavra-chave. O caráter dançante de “Guajira” e “Para Los Rumbeos” levou Santana III direto para os bailes de rumba, enquanto que “Everything’s Coming Our Way” garantiu sua vaga nas Fms da época.
1. Batuka
2. No One to Depend On
3. Taboo
4. Toussaint L’Overture
5. Everybody’s Everything
6. Guajira
7. Jungle Strut
8. Everything’s Coming Our Way
9. Para Los Rumberos
Carlos Santana and Buddy Miles – Carlos Santana & Buddy Miles! Live! [1972]
Por mais que os álbuns de estúdio sejam de alto nível, é no palco a mágica acontece pra valer. Acompanhado do monstro Buddy Miles, ex-baterista da Band of Gypsies de Jimi Hendrix, Santana realiza uma de suas performances mais memoráveis, na cratera de um vulcão em Honolulu, capital do Havaí, em festival realizado no Ano-Novo de 1972, e lançado em disco cinco meses mais tarde via Columbia Records. São pouco mais de 45 minutos recheados de momentos de puro devaneio sonoro, em que a improvisação assume a dianteira e conduz o público por um espetáculo com cara de jam session movida a LSD. No palco, uma banda mista formada por integrantes tanto da Santana Band quanto do grupo de Miles mostra um entrosamento absurdo executando um repertório que inclui até música de John McLaughlin. O disco fez Top Ten, com 1 milhão de cópias vendidas.
1. Marbles
2. Lava
3. Evil Ways
4. Faith Interlude
5. Them Changes
6. Free form Funkafide Filth
Santana – Caravanserai [1972]
O cenário era de total instabilidade na Santana Band: David Brown e Michael P.R. Carabello haviam pedido as contas, Gregg Rolie e Neal Schon já não compareciam tanto (a dupla daria origem ao Journey em 1973) e todo o mana parecia ter sido gasto nos três álbuns de estúdio lançados até então. Era preciso dar um tempo, e foi dos locais de descanso para viajantes em rotas comerciais da antiguidade que Carlos tirou o nome para o quarto trabalho do grupo que leva seu sobrenome. Caravanserai chegou às lojas em outubro de 1972 e, ao contrário de seus antecessores, cuja marca registrada era a fusão de ritmos, trazia no decorrer de seus sulcos uma atmosfera totalmente jazzística, com longas passagens instrumentais e experimentação aos montes. A história não mente quando diz que músicos chapados quase sempre produzem grandes obras e aqui temos uma prova. Não rolou hit em paradas de sucessos, mas o lugar pra lá de especial no coração dos fãs é garantido.
1. Eternal Caravan of Reincarnation
2. Waves Within
3. Look Up (To See What’s Coming Down)
4. Just in Time to See the Sun
5. Song of the Wind
6. All the Love of the Universe
7. Future Primitive
8. Stone Flower
9. La Fuente del Ritmo
10. Every Step of the Way
Santana – Zebop! [1981]
Antes de Alex Ligertwood, a Santana Band nunca tinha contado com um vocalista tão completo. O escocês assumiu o posto em meados dos anos 1970 e cantou em clássicos como “All I Ever Wanted” e “You Know That I Love You”. Ao vivo o cara também não decepcionava, mas a grande questão é a sua contribuição para o aprimoramento artístico da banda, que, musicalmente, ganhou cara de banda mesmo, com cargos bem definidos. Com Alex na jogada, eram dois, ele e Carlos, no comando, e refrões passaram a ser peças-chave. Lançado em abril de 1981, Zebop! é o álbum mais reverenciado da “fase Ligertwood”, pois traz canções que, se por um lado não fizeram história, por outro ocupam posições entre as favoritas dos fãs. O som puxa uma sardinha para o pop, mas não escorrega a ponto de soar pasteurizado demais. O único sucesso por aqui foi “Winning”, composta por Russ Ballard, um dos maiores hitmakers da década de 1980. Destaque também para “Brightest Star” e para a releitura de “The Sensitive Kind”, de J.J. Cale.
1. Changes
2. E Papa Ré
3. Primera Invasion
4. Searchin’
5. Over and Over
6. Winning
7. Tales of Kilimanjaro
8. The Sensitive Kind
9. American Gypsy
10. I Love You Much Too Much
11. Brightest Star
12. Hannibal
Santana – Supernatural [1999]
Depois de quase duas décadas sem discos de ouro, platina ou prêmios de relevância, Santana teve a belíssima idéia de juntar um grande time de astros e estrelas para compor um novo disco… e deu certo! Supernatural é um dos maiores sucessos de vendas da história. Nomeado para 11 Grammys, o disco arrebatou nove, incluindo “Álbum do Ano” e três Grammys Latinos. Vendeu 27 milhões de cópias, foi disco de ouro até mesmo no Brasil e virou DVD: An Supernatural Evening with Santana. Homogêneo, Supernatural agrada desde o fã de hip hop até a menininha louca por vocalistas charmosos, como é o caso de Rob Thomas, do Matchbox Twenty, que assume o microfone no maior hit daqui: “Smooth”. Os mexicanos do Maná contribuem na ótima “Corazon Espinado” e até mesmo Wyclef Jean, do Fugees, mostra que tem algum talento na sensual “Maria, Maria” (regravada com total excelência pelo Molejo). Santana arriscaria a mesma fórmula em seus três álbuns seguintes, mas não conseguiu repetir o feito com nenhum deles.
1. (De Le) Yaleo
2. Love of My Life (feat. Dave Matthews)
3. Put Your Lights On (feat. Everlast)
4. Africa Bamba
5. Smooth (feat. Rob Thomas)
6. Do You Like the Way (feat. Lauryn Hill and Cee-Lo)
7. Maria Maria (feat. Wyclef Jean)
8. Migra
9. Corazón Espinado (feat. Maná)
10. Wishing It Was (feat. Eagle-Eye Cherry)
11. El Farol
12. Primavera
13. The Calling (feat. Eric Clapton)
14. Day of Celebration
Eu faria uma lista beeeeeeeeeeeeeem diferente para esse caso.
Meus cinco discos seriam:
Abraxas (Santana)
Carlos Santana & Buddy Miles (com Buddy Miles)
Love Devotion Surrender (com John McLaughlin)
Illuminations (com Alice Coltrane)
Carlos Santana & Wayne Shorter (com Wayne Shorter)
Mas gostei da inclusão do Caravanserai, um dos melhores discos do guitarrista, e bastante injustiçado
Engraçado o Mairon dizer que Caravanserai é bastante injustiçado. Quer dizer que eu, que não ligo pro disco, devo me sentir um injusticeiro? O disco é Rivotril na veia, assim como os trabalhos bundistas que ele gravou com o McLaughlin, outro que induz ao sono.
Santana é a minha praia. Por influência de meu irmão, curto o Santa desde 1976 aproximadamente. “Abraxas” é trilha sonora de minha infância… rerere. Apesar de ser fã de longa data, sou o honesto o suficiente para admitir que o que Santana faz hoje é quase um pastiche do que ele fazia no passado. É um gigante, sem dúvidas. Mas tem lá seus pés de barro. De todas as fases, é possível extrair coisas acima da média. Se fosse selecionar os cinco discos essenciais para se entender a obra de Santana, com certeza, haveria muito de memória afetiva. Mas vamos lá:
1. Abraxas (é o ápice da formação clássica do Santana. Um álbum que tem “Oye como va”, o medley “Black magic woman/Gypsy queen”, “Samba pa ti” e “Incident at Neshabur” não pode jamais ser subestimado!);
2. Borboletta (apesar de “Caravanserai” ser o mais festejado álbum da fase jazz-funk-fusion de Santana, meu preferido é esse aqui. Nesse temos Leon Patillo nos vocais e a participação de Airto Moreira, Flora Purim e Stanley Clarke, e “Promise of a fisherman”, de Dorival Caymmi. Favoritas: “One with the sun”, “Give and take”, “Practice what you preach” e “Mirage”);
3. Moonflower (álbum duplo, com parte das músicas gravadas ao vivo e algumas inéditas em estúdio, tem Greg Walker nos vocais. Na parte ao vivo, versões arrasadoras de “Dance sister dance (Baila mi hermana)”, “Europa (Earth’s cry Heaven’s smile)”, o medley “Savor/Toussaint L’Overture” e “Soul sacrifice/Heads hands and feet”), com solo de bateria de Graham Lear. Na parte de estúdio, “Transcendance” e “I’ll be waiting” se destacam);
4. Zebop! (não há como negar que esse é o melhor álbum da fase Ligertwood. Além das citadas pelo autor do artigo, destaco “Hannibal”, “American gypsy” e o bolero “I love you much too much”).
5. Festival (é um caso em que TODAS as músicas são de meu agrado. O medley “Carnaval/Let the children play/Jugando”, a mela-cueca “Give me love”, a emocional “The river”, a raveliana “Revelations”… Eis um disco que não consigo pular faixas…)
Curiosidade: Alex Ligertwood, antes de ingressar na Santana Band, participou do grupo Brian Auger’s Oblivion Express. Jazz-rock de qualidade!
Muito estranho Borboletta não ter entrado nessa lista.
Borboletta é outro baita disco, mas ainda prefiro o Caravanserai.
Tenho apenas os três primeiros discos do Santana e os acho muito bons. Meu preferido é o III. Depois só conheço algumas músicas isoladas de outros discos.
Muito boa a matéria!
Comodoro, OUÇA os discos da fase jazzy (do Buddy Miles até o Amigos) e também os discos entre Festival e Zebop
Zeebop eu conheço! Me emprestaram na época! Valeu!
Se você gosta dos três primeiros discos do Santana, acho que vai gostar da banda Changò, que, em 1975, lançou um disco que alguns chamam de Santana IV, por soar muito parecido com o que Santana fez no início de carreira. O guitarrista George Tacktikos emula muito bem o estilo de Carlos Santana e Thomas Alletto não faz feio no Hammond. Ouça “Changò” e “Fire over water”, nos iutubes da vida…
Aliás, “Santana IV” é o nome do novo álbum do Santana, que traz parte da formação clássica: Santana, Gregg Rolie, Neal Schon, Michael Carabello e Michael Shrieve. Ainda não ouvi… Mas será que a química ainda rola?
Já correndo atrás. Obrigado pela dica, Francisco.
Olô, Mairon Machado, lendo o excelente texto de Van do Halen, lembrei do meu próprio artigo sobre os 3 primeiros LPs do Santana, perdido no imbroglio com o OUL, e de que jamais te mandei os textos que retive em word. Vão já, já…
3 ótimas indicações: III, Ao vivo com Miles e Caravanserai, clássicos sem discussão…mas, pro meu gosto, claro, Zeebop, incluo na fase “decadente”; e Supernatural, digamos que vale pela volta ao mundo dos vivos.
kkkkk Nos anos 80 Santana derrapou legal! Mas quem não?
Exato, quem atira a primeira pedra?
Tem dois que não derraparam nos anos 80: Queen e Supertramp
Provocação?
Eu não concordo muito. Acho o Queen setentista infinitamente superior ao oitentista. A banda ficou muito mais pop. Já não conheço muito do Supetramp oitentista…
O Supertramp é a minha cueca derrapada.
Mentira! O Supertramp derrapou depois que Roger Hodgson saiu, já o Queen se saiu muito bem nos anos 80, quando lançou seus melhores discos, em minha opinião.
Comentando aqui nesse site (muito bom por sinal) pela primeira vez.
Acho que se eu fosse indicar 5 discos pra conhecer o Santana e sem usar de álbuns de parcerias nesse caso, indicaria simplesmente os 4 primeiros e o Borboletta e está tudo certo. Acho que depois dos produtivos anos 70 (mesmo com alguns álbuns menos expressivos já naquela década), ele meio que não se encontrou mais e mesmo no “ressurgimento” com Supernatural as coisas não soaram tão bem, ao menos não pra mim. Complicado depois de se deliciar em obras tão belas de outrora ver uma sequência de discos tão pobres. Tirando os discos da sua fase inicial o que eu mais curti foi Shape Shifter de 2012, comparações à parte com álbuns 70’s achei esse um registro bem interessante.
Só para constar, meu Santana Top 5, em ordem:
1. III
2. Abraxas.
3. Santana (1969)
4. Caravanserai.
5. Moonflower (mezzo ao vivo mezzo estúdio).
Minha lista:
Caranvaserai
Abraxas (o melhor)
III
Borboletta
Supernatural (pelo ecletismo)
estou a procura da capa do disco do Santana ano 1969-1970 ou 1971 não estou bem certo mas no verso ou na contra capa está um texto sobre “o som” da PARAMAHANSA YOGANANDA. Se alguem tiver por favor poste!!!
Essa André?
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