Discografias Comentadas: Blue Öyster Cult (Parte I)
Por André Kaminski
Mais uma daquelas bandas que muitos consideram injustiçadas. E de certa maneira, eu concordo. A banda tinha tudo para ser um grande destaque do rock setentista. Eles tinham grandes álbuns, tinham hits, tinham um visual bacana, estavam no lugar certo e na hora certa. Mas sempre ficaram relegados ao segundo escalão. Quais os motivos para isso?
Há de fato algumas razões para considerarmos. Uma é que a concorrência das bandas europeias era enorme. Você tendo Black Sabbath, Deep Purple, Judas Priest, Queen, Pink Floyd, Scorpions e toda a horda progressiva britânica em seus auges, além de conterrâneos como o Eagles, fica realmente meio difícil se destacar junto àquela pilha de discos excelentes disponíveis aos rockeiros daquela época. Outra é que os temas mais ocultistas presentes em seus álbuns, com ênfase às obras de H. P. Lovecraft e Stephen King possa tê-los espantado das rádios. Não sei se alguém já ventilou essa última possibilidade que falarei agora, mas talvez o fato de nem Bloom e nem os outros membros serem lá grandes vocalistas ao vivo possa também influenciar no resultado. Assim, o Blue Öyster Cult apesar de criar uma base de fãs extremamente fiel, jamais conseguiu deixar de lado aquela impressão de “parece um ótima banda, mas nunca ouvi mais que duas músicas” ou então dos eternos memes de que “precisa de mais cowbell”.
Formada em 1967, ainda sob o nome Soft White Underbelly, continha originalmente os estudantes norte americanos de Long Island Les Bronstein (vocais), Donald “Buck Dharma” Roeser (vocais e guitarras), Allen Lanier (teclados e guitarras), Andy Winters (baixo) e Albert Bouchard (bateria). Após alguns shows pequenos e entrada e saída de vários integrantes, a banda rompe por um período. Em um dia qualquer quando Buck Dharma estava fazendo algumas jams com músicos locais, ele conhece ninguém mais, ninguém menos que Sandy Pearlman, famoso produtor musical e letrista que desejava uma banda de talento para compôr músicas em cima dos poemas que escrevia. Pearlman não foi só importante a eles, como também foi ao produzir discos do The Dictators e empresariar a fase Dio do Black Sabbath.
Os antigos membros se reuniram novamente. Nesse período, conheceram Eric Bloom que era vendedor em uma loja de equipamentos de som. Fizeram amizade e logo Eric trabalharia para eles como engenheiro de som. Após Les Bronsten pular fora da banda, Bloom foi convidado a se tornar o vocalista principal e o segundo guitarrista da banda. Depois de uma crítica ruim a uma apresentação deles, Pearlman diz que a banda deveria abandonar o nome Soft White Underbelly. Após vários nomes, a banda estabeleceu que passaria a se chamar Blue Öyster Cult. Finalmente após um show, David Lucas da Columbia Records os descobre e os leva para a gravadora. Pouco tempo depois, Andy Winters também os deixa e Albert Bouchard convida o irmão Joe a assumir o baixo. Tudo finalmente resolvido, o primeiro álbum foi lançado em 1972 como iremos conferir abaixo. Já prepare-se aí para mais umas paredes de texto costumeiras de nossa parte.
Blue Öyster Cult [1972]
É interessante escutarmos esses discos mais pesados do início dos anos 70. O peso das guitarras está lá, mas um certo sacolejo e uma aura psicodélica sempre se faz presente. É aquele heavy metal bem Black Sabbath, antes de se focar apenas nos riffs que se popularizaram com o Judas Priest e as bandas da NWOBHM. Por sinal, o Blue Öyster Cult tinha a ideia de Pearlman de ser o Sabbath dos Estados Unidos. Apesar das semelhanças, eu diria que no decorrer da discografia, é mais fácil chamá-los de “Deep Purple das Américas”. E o bacana também é o fato da banda contar com quatro vocalistas, sendo Bloom, Dharma e os irmãos Bouchard distribuindo suas vozes entre as várias faixas. Bloom inicia cantando em “Transmaniacon MC” e “I’m on the Lamb but I Ain’t No Sheep”, duas faixas que misturam o heavy e o psicodélico de forma empolgante, seguindo então por “Them Came the Last Days of May” em que o peso é trocado por um lindíssimo blues rock, além de solos de guitarra e harmonias vocais não menos do que brilhantes. “Stairway to the Stars” manda ver em um hard rock tipicamente setentista contando com o bônus de possuir aquele boogie contagiante marcado por palmas, guitarras e baixo fazendo com que seja impossível não balançar o esqueleto. “Before the Kiss, a Redcap” é tipicamente purpleana, com as linhas de guitarra assemelhando a várias composições assinadas por Blackmore. Até os teclados de Lanier lembram os de Jon Lord. O baixista Joe Bouchard lidera os vocais em “Screams”, este contendo uma voz mais característica do rock psicodélico, aos quais os teclados reforçam ainda mais esta impressão. Não é uma canção no mesmo nível das anteriores, mas ainda assim muito boa. Um solo de bateria finaliza a canção e emenda com “She’s as Beautiful as a Foot”, o único ponto mais baixo do álbum visto a voz de Bloom não se encaixar em nada com a música. A impressão que dá é como se Gene Simmons cantasse uma música feita para Paul Stanley, para se ter uma ideia. Mas o nível volta às alturas com aquele lick de guitarra inesquecível da famosa “Cities on Flame with Rock and Roll”, uma das mais conhecidas da banda e muito querida pelos fãs, sendo o principal single do disco. É um hard/heavy bem característico do Sabbath dessa época e com riffs que remetem claramente a Tony Iommi. De acordo com a banda, “The Wizard” dos britânicos serviu de inspiração para esta composição. Segue-se com “Workshop of the Telescopes” em um hard rock mais técnico e exibicionista, com várias mudanças de ritmo e um final meio “space rock”, para finalizarem com “Redeemed”, uma canção mais soft rock em que o uso de guitarras mais country e com uma afinação mais aguda (de certa maneira, lembra até um banjo) junto a arranjos vocais que fariam qualquer fã do Eagles ficar feliz. Disco excelente, ouça, se divirta e se impressione com a técnica e as melodias desses norte americanos.
Tyranny and Mutation [1973]
Pouco mais de um ano da estreia, composto e gravado quando ainda estavam em turnê, Tyranny and Mutation é mais um passo adiante na belíssima carreira do BÖC. Com faixas ainda mais refinadas e um clima mais “sinistro” que o anterior, mais uma vez a banda foi elogiada pela crítica e prosseguiu aumentando sua quantidade de fãs. Por sinal, é meu disco favorito deles. O início com “The Red & The Black” já chega batendo forte com guitarras destilando peso e Dharma fritando em solos complexos. Bloom também arregaça nos vocais. Bom lembrar que esta canção nada mais é do que “I’m on the Lamb But I Ain’t No Sheep” do disco anterior, regravada com um instrumental um pouco diferente e com algumas modificações nas letras. Porém, acho essa versão melhor do que a antiga. “O.D.’d On Life Itself” já possui aquele feeling rock ‘n’ roll clássico com direito a muito boogie, típico de bandas como Steppenwolf e Canned Heat. “Hot Rails to Hell” é a minha canção preferida deste trabalho. Cantada por Joe Bouchard, apresenta um instrumental rápido e uma pegada grudenta, perfeita para se ouvir dirigindo um conversível em uma estrada ensolarada. A longa “7 Screaming Diz-Busters” já é mais cadenciada e também influenciada pelo Purple, com Albert Bouchard batendo de uma forma muito semelhante a Ian Paice. Por sinal, é a faixa onde ele mais se destaca com suas viradas. Temos agora “Baby Ice Dog” que teve sua letra composta pela famosa punk americana Patti Smith, a primeira de outras que esta cederia à banda. Embora a guitarra apareça em alguns momentos, o teclado é o que se destaca por aqui. “Wings Wetted Down” é um hard/psicodélico bem mais comum. Não chega a rebaixar o disco, mas também não a vejo como grande destaque se comparada as outras anteriores. Única contribuição vocal de Dharma por aqui, “Teen Archer” é mais uma canção com a cara do Deep Purple. Bons riffs de guitarra e belos solos de teclado do meio para frente. O álbum fecha com “Mistress Of The Salmon Salt (Quicklime Girl)” com riffs mais hard rock além de belas melodias e harmonias vocais feitas pelos outros integrantes reforçando a voz de Eric Bloom. Mais um trabalho excelente por parte do BÖC.
Secret Treaties [1974]
Último disco da trilogia “Black & White” (se referindo as capas dos três primeiros discos e dessa fase mais pesada da sonoridade da banda), muitos consideram que este seja o melhor deles. Único disco em que Buck Dharma não canta em nenhuma faixa. Iniciando com “Career of Evil” onde temos Bloom e o baterista Bouchard dividindo os vocais, é uma canção que pega justamente algumas influências do blues rock sessentista para um resultado não menos que excelente. “Subhuman” segue com com um baixo grooveado e Dharma solando várias vezes. “Dominance and Submission” tem uma pegada hard rock setentista mais próxima do que o Nazareth seria conhecido. “ME 262” fecha o Lado A mandando ver em mais um hard rock pesado típico do BÖC e muito bom como de costume. Abrindo o Lado B, “Cagey Cretins” começa com harmonias vocais e os irmãos Bouchard dividindo os microfones em uma faixa que, novamente, lembraria o Deep Purple da fase Hughes/Coverdale. Bloom irá finalizar os vocais das três últimas músicas. “Harvester of Eyes” é uma das melhores canções aqui e se tornou figurinha carimbada nos shows. “Flaming Telepaths” mistura um hard rock com teclados que variam do psicodélico ao blues dando um sabor interessante a canção. E a melhor de todas é a famosa “Astronomy”, outra que se tornou clássica do BÖC. Talvez a que mais se assemelhe a uma balada (não romântica) nestes três primeiros registros devido a alguns momentos mais calmos no decorrer dos minutos. O teclado e o estilo da canção demonstram uma pequena similaridade a alguns medalhões progressivos daquele período.
A partir daqui, o Blue Öyster Cult muda seu estilo. A banda opta por deixar de lado aquele hard/heavy de forte influência psicodélica e passa a tocar um hard rock puro e visando as rádios e o grande público. Embora canções pesadas ainda apareçam em discos futuros, ficou claro que eles estavam em busca do sucesso e de certa forma, rebater o rock britânico que dominava os Estados Unidos, cujos artistas locais se focavam mais no rock com influência country e folk (como os exemplos de Eagles, Lynyrd Skynyrd e Gene Clark).
Agents of Fortune [1976]
A postura da banda já demonstra ser bem diferente neste registro. O álbum segue hard rock, porém mais clássico e menos heavy metal. “This Ain’t the Summer of Love” começa com riffs pesados lembrando o primeiro disco. A única faixa cantada por Allen Lanier (também liderou os vocais em algumas demos) em toda a discografia principal do BÖC, “True Confessions” lembra um rock ‘n’ roll sessentista, porém, nem o tecladista se dá bem nos microfones e nem a composição ajuda muito. Chegamos no maior hit e que foi a responsável por trazer muitas verdinhas para a conta bancária do BÖC: a clássica “(Don’t Fear) The Reaper”. Um baixo pulsante, uma guitarra lindamente bem tocada, todos os vocais bem colocados e um climão de tranquilidade intercalado por solos pesados botaram a banda lá em cima nas paradas. Buck Dharma, aliás, a canta maravilhosamente bem. Nem dá tempo de apreciá-la e o Blue Öyster Cult já emenda outra clássica com “E.T.I. (Extra Terrestrial Intelligence)” dando um toque espacial ao qual a temática da faixa já ajuda a expôr. Em “The Revenge of Vera Gemini”, temos a participação de Patti Smith nos vocais. Bom lembrarmos que nessa época a cantora namorava o tecladista Allen Lanier e isto que explica a próxima relação da punk rocker com a banda. Aqui ela divide os vocais com Albert Bouchard em uma canção que parece ter sido gravada naqueles bares norte-americanos de beira de estrada do deserto para um bando de motoqueiros barbudos em suas Harley-Davidson. Seguindo com “Sinful Love”, esta é um típico hard rock norte-americano. “Tattoo Vampire” é uma canção que lembra muito o estilo de “Rock and Roll” do Led Zeppelin, com aquela pegada de bateria forte e guitarras dando o tom. Obviamente por Bloom não ser o Plant e Bouchard não ser o Bonham, não tem a mesma qualidade. “Morning Final” mostra o teclado tomando conta de um hard rock seguro e bem feito. “Tenderloin” é uma faixa que apesar do curioso baixo fazendo um boogie interessante, a composição em si não se segura muito bem. “Debbie Denise” é a música final e volta com Albert Bouchard que vocalmente se destacou muito bem neste disco. Uma música simples, com a presença do violão e parecendo realmente uma música de despedida do disco em seu tom mais leve e alegre. Alguns fãs começaram a chiar com o novo direcionamento do BÖC, mas essa grana a mais que entrou foi ótimo para que a banda não desanimasse visto que eles tinham ainda muito mais lenha para queimar.
Spectres [1977]
Aos poucos, o sucesso comercial do Blue Öyster Cult começa a declinar, mas aqui é o início da banda se estabelecer bem no underground, ao qual se mantém até hoje. Obviamente isso não impede nenhum artista de continuar lançando bons discos, caso de Spectres. É certo que a banda tentou emular o mesmo estilo do anterior, mas ainda o fez bem. Logo na abertura, mais um dos clássicos do culto, chamada “Godzilla”. Refrão ganchudo e guitarras grudentas, a receita para uma ótima faixa hard rocker. Dharma segue liderando as vozes em “Golden Age of Leather” aqui já adiantando como seria o hard oitentista poucos anos depois, além de possuir aquela tradicional batida “new wave” que começava a popularizar nesse período. Albert Bouchard prossegue com “Death Valley Nights” a primeira balada verdadeira de toda a discografia do BÖC. Por sinal, bem bonita, a banda podia ter colocado uma faixa similar a essa em todos os seus discos anteriores. Bloom aparece apenas nesta faixa do Lado A, na razoável “Searchin’ For Celine”. “Fireworks” é aquela que apela bastante para o pop rock. Nada especial nela. O Lado B começa muito bem jogando a empolgação lá para cima com “R.U. Ready 2 Rock”, música festeira na linha dos grandes clássicos do Kiss e do Mötley Crüe. Bloom que sempre foi contido e não muito seguro de sua voz (e curiosamente, ele sempre foi considerado o principal vocalista da banda) solta aqui um agudo daqueles de quebrar taças no final da música. “Celestial the Queen” é um pouco mais contida, praticamente um filler. Agora o pessoal costuma descer o cacete em “Goin’ Through the Motions”, sendo aquele pop descarado para fazer bonito nas rádios. Essa canção me lembra muito o Queen oitentista. Mas eu sempre achei uma música interessante e curiosa, muito diferente de tudo o que o BÖC fez até este momento. “I Love the Night” é a segunda balada e não tão boa quanto a primeira. “Nosferatu” termina a bolacha em mais um bom hard rock típico da banda. Embora eu o considere com um bom disco, senti falta de solos mais elaborados de Buck Dharma e linhas de baixo mais marcantes por parte de Joe Bouchard.
Mirrors [1979]
Minha relação com Mirrors é estranha. Já tive momentos em que eu o considerasse meu favorito deles e outros que eu havia me arrependido de tê-lo comprado. Hoje eu o entendo e aprecio. Poderia entrar facilmente na seção “Discos que parece que só eu gosto”. Aqui não tem segredo nenhum, são eles abraçando de vez o soft rock e por isso foi (e ainda é) o mais malhado disco do período setentista deles. Este álbum está muito mais para os britânicos do America do que para o Sabbath e o Purple dos primeiros trabalhos. Iniciando com “Dr. Music” esta nos deixa uma impressão inicial de rock polido, coros femininos (feitos em todo o disco pelas cantoras Ellen Foley, Genya Ravan e Wendy Webb), solos de gaita e guitarras bem menos proeminentes. E isso me cativa bastante. “The Great Sun Jester” é praticamente uma semi-balada AOR. São teclados dando toques de beleza e guitarras felizes. A “quase” acústica “In Thee” foi a única que conseguiu uma posição nas rádios. Uma ótima canção que poderia estar em qualquer disco do Chicago ou do Eagles. “Mirrors” e “Moon Crazy” seguem a ideia de soft rocks bacanas, contando com bons solos de Dharma e os coros femininos que são fáceis de cativar os ouvidos. “The Vigil” e “I am the Storm” são as únicas que lembram o velho BÖC dos últimos três discos com seus riffs mais proeminentes. “You’re Not the One (I Was Looking For)” é new wave puro. Muitos fãs se resolvem encarar Mirrors, com certeza pulam essa faixa. A marcação do ritmo é feita basicamente por palmas ao invés da caixa de bateria, então já podem imaginar a reação… “Lonely Teardrops” encerra muito bem na voz de Dharma. Gosto do baixo, da letra se encaixando perfeitamente na melodia e o teclado ditando bem o ritmo. Não posso dizer que é um disco excelente ou mesmo mal compreendido, mas creio que se você gosta de America, Chicago pós-75 ou mesmo algo do tipo Jefferson Starship, pode encarar esse álbum sem problema nenhum. Se não gosta de nada dessas bandas, melhor pular para o próximo disco.
Encerro aqui a primeira parte da excelente discografia do Blue Öyster Cult. Na próxima, encararemos os anos mais recentes da banda, a saída dos irmãos Bouchard (e os motivos para essa decisão) e apesar dessas bandas longevas costumarem apresentar perda de qualidade em seus lançamentos, ainda há bons discos que merecem ser ouvidos por quem gosta de um bom hard rock. Retorno em 15 dias!
Essa é uma das bandas que fui conhecer através da capa do disco que me chamou a atenção.
A enigmática capa do primeiro álbum.
Gosto do som dessa primeira fase da banda, o que veio depois não conheço.
Belo Texto!
Há coisas muito boas deles nos discos pós-setentistas, embora seja fato que já não estavam mais em seu auge criativo. Acompanhe a segunda parte para conferir daqui 15 dias!
As capas dos primeiros três discos são condizentes com a sonoridade: enigmáticas e sensacionais. Baita discografia André. Esperando a segunda parte
Sonoridade ideal para quem quer escutar algo na linha Purple/Sabbath sem necessariamente ser algo desses dois gigantes britânicos.
Ótima matéria. Aguardo os comentários sobre “The Revölution by Night” e “Imaginos”.
Segunda parte tem discos bem peculiares. Esses são bons exemplos.
Revolution tem a minha preferida deles: “Shooting Shark”.
Bom, eu estava “positivo e operante” quando começaram a aparecer os discos importados do Blue Oyster Cult por aqui. E três coisas fizeram a fama da banda entre nós: o nome enigmático, a arte de Gawlik para os primeiros dois discos e, mas importante que tudo, o ataque de três guitarras nos nossos pobres ouvidos adolescentes. A soma disso tudo era considerável para a suscetível imaginação imberbe. Imagine só: três guitarristas na frente do palco! Era demais. Era inédito. E o que são essas capas cheias de símbolos? O culto da ostra azul tinha personalidade e, pra mim pelo menos, não concorria com nenhuma banda citada pelo André. Na minha cabeça (e provavelmente só nela) eles tinham um quê do Status Quo do disco Piledriver, talvez reforçado pela foto da banda inglesa no palco na capa do disco. Mas apesar do terceiro LP do BOC ainda ser muito bom, o encanto tinha ido embora quando eles apareceram desenhados na capa. Bastou mudar o artista gráfico da capa e bau bau magia. Daí em diante nunca mais comprei um disco deles.
Sabia que tinha estima pelos três primeiros discos, só não imaginava que era acima do Sabbath e do Purple. Esse Marco é uma caixinha de surpresas!
Pera, não foi isso que eu quis dizer. Você comparou às bandas inglesas Sabbath, Purple e sei lá mais quem. Eu não achava que eles tinham um som comparável à essas bandas, mas sim ao Status Quo do disco Piledriver. Não achava o BOC melhor que purple ou sabbath. Eu ficava fissurado mesmo é em saber o que havia por trás do BOC, daqueles símbolos, daquele nome… As informações eram muito poucas então a gente ficava viajando.
Agora entendi, você tinha falado bandas citadas por mim, achei que eram essas.
A capa do Tyranny and Mutation ainda hoje é uma viagem
Também conheço pouquíssima coisa dessa banda. Vou verificar esses primeiros trabalhos que acho que combinam mais com meu gosto. Ah, mas lembro de um disco duplo ao vivo dos anos 70, chamado On Your Feet Or On Your Knees.
Confira que são muito bons.
Conheço quase nada do BOC além do Fire of Unknown Origin, um dos poucos exemplares AOR que eu realmente curto ouvir.
Esse disco possui “Burnin’ For You” e “Veteran of the Psychic Wars”, duas das melhores músicas gravadas por eles.
Blue Öyster Cult é uma daquelas bandas que, na minha escala de preferências, está ao lado de Slade, Bachman Turner Overdrive e Nazareth. O primeiro contato que tive com essa banda foi ouvindo “(Don’t fear) the reaper”, clássico absoluto dos anos 70. Mais tarde, encontrei na Discolândia aqui de Porto Velho um pack com os três primeiros álbuns da banda e descobri outras maravilhas, como “Flaming telepaths”, “Astronomy”, “Subhuman”, “Then came the last days of May”, “Before the kiss, a redcap”, “The red & the black”, “Hot rails to hell”… Realmente, é uma banda injustiçada, muito superior a muitos medalhões que estão por aí. Talvez o grande problema da banda (e das que citei anteriormente) seja a questão do direcionamento de estilo. Ao saírem da trilha firmada pelos três primeiros álbuns, a banda ganhou mais “money”, mas perdeu muito “feeling”. No mais, Donald Roeser é um puta guitarrista. Em tempo: não sabia da participação de Genya Ravan, no disco “Mirrors”… Grande cantora! Seu trabalho com a banda Ten Wheel Drive merece ser mais valorizado.
Genya Ravan era uma gostosa, solo ou com banda.
E cantava muito…
Francisco, esse problema de direcionamento do estilo é algo bem complicado. Por mais que seja hoje quase unânime que os três primeiros trabalhos tinham uma qualidade indiscutível, o fato é que venderam pouco. Eles não conseguiam atrair o mesmo público que consumia as bandas inglesas e as americanas apostavam em rocks mais leves.
Daí é aquela situação em que ou davam um jeito de atrair um grande público (até porque, as grandes gravadoras eram poucas e se saísse de uma, era complicado conseguir outra) ou acabam encerrando as atividades. No caso deles, não os culpo por buscarem outros sons porque eles tinham ótimas composições e materiais em mãos e deveriam seguir adiante. Aparentemente, o melhor mesmo era lançar o material mais leve, mas no shows incluir o mais pesado como forma de continuar com os dois possíveis públicos.
Quando conseguiram uma melhor estabilidade financeira, eles até retornaram a sonoridades que remetiam ao passado, conforme iremos conferir na segunda parte.
Entendo essa situação. E sou daqueles que acha que não há uma “traição” ao estilo. Música é negócio, e compor boas canções com a barriga roncando só acontece na cabeça de algum romântico empedernido. O que penso é que, por essas concessões, o grupo perdeu um pouco a “pegada”. Logicamente não se tornaram um lixo total, mas… É certo, porém, que aqui e ali Buck Dharma e sua turma acertavam em cheio! Como é uma discografia comentada, fica complicado falar um pouco mais sobre a história do grupo. Em especial, as tretas do BÖC com o Black Sabbath do Dio, no começo dos anos 80, naquela turnê que as bandas fizeram juntas…
Aliás, vou falar um pouco sobre essa tour no início da próxima parte.
Como o Gaspari, ouvi o BOC, se não na época dos primeiros lançamentos, pelo menos perto disso, lá por 76, quando eles começaram a aparecer no Rock in Concert (Rock Concert, no original), transmitido pela Globo, aos sábados à tarde.
Ao lado de BTO, Kanzas, Earth Band, Fogh até, entre outras, já que o programa era centrado no rock americano, soava para nós como banda do segundo escalão, já que estávamos hipnotizados pelo Hard Rock inglês. Depois fui gostando muito de algumas destas bandas, entre elas o BBC. De outras, nunca cheguei a gostar muito, como do Kansas.
Conheço nada pós anos 70. Esperando aqui a parte 2. Parabéns, André pelo ótimo review.
BOC e não BBC como diz este corretor intrometido.
Em tempo: no NWOBHM, assim como no futebol bretão, o problema é a falta de cintura, malandragem que sobra no Hard setentista, se é que entendi o que o André disse no abre do texto.
“Foghat”
Bandaça!!!!! “Foghat Live” (1977) é um dos melhores álbuns ao vivo de todos os tempos!
BOC é uma das minhas bandas favoritas, gosto de praticamente tudo que lancaram. Deste período, meu album favorito é o Spectres. Nosferatu é uma obra prima.
Muito bom,ótimo texto.Blue Oyster Cult uma banda essencial para ver e ouvir,as letras dos primeiros plays a sonoridade idem.Como bem dito a plêiade de bandas como a Santíssima Trindade do hard heavy (Sabbath Led e Purple) e nomes do cenário do rock progressivo,a enxurrada de álbuns,somente os abnegados em conhecer algo além da cena inglesa comprou a ideia da estética musical do B.O.C
Muito bom! Lendo essa série ouvindo a discografia do BOC!