And Then She Came – And Then She Came [2016]

And Then She Came – And Then She Came [2016]

And Then She Came

por Ulisses Macedo

Leitor, com que frequência você decide ouvir um disco após ser atraído por sua capa? O pessoal mais velho diz que era comum, há algumas décadas, ir à loja e comprar um disco só por causa da capa e, chegando em casa, torcer para que a qualidade da música correspondesse à das imagens. Entretanto, mesmo na era digital elas mantêm seu aspecto chamativo: a imagem aí de cima é simples, limpa, e tão inquietante quanto convidativa, o que logo me levou à banda que os apresento agora. Não demorei a topar com o clipe da faixa de trabalho, “Hellfire Halo“, que me puxou pelo braço com seu rock industrial de vocal feminino.

A banda é formada por Ji-In Cho (voz), Frank Stumvoll (baixo), S.C. Kuschnerus (bateria) e Olli Singer (guitarra). Conhece esses nomes? Os três primeiros vêm do Krypteria, grupo alemão de symphonic metal da década passada que entrou em hiato por tempo indefinido em 2012, devido à gravidez de Cho. O trio se reuniu novamente para conferir o trabalho de Frank na trilha sonora do filme Bad Trip (2015). As coisas fluíram e eles decidiram aproveitar o momento, mas sem se limitar a retornar ao Krypteria, preferindo começar do zero sonoramente. Olli, que já tocou com a antiga banda, completou o time. Em seu álbum de estréia, o quarteto contrasta a voz de Cho com guitarras pesadas e inserções de música eletrônica, soando próxima de grupos como Evanescence, Linkin Park e até um pouco do Disturbed de Asylum (2010).

And Then She Came
Frank Stumvoll, S.C. Kuschnerus, Ji-In Cho e Olli Singer

Para a minha surpresa, a banda até que consegue ser inventiva dentro desse manjadíssimo patamar. “Five Billion Lies” é uma ótima faixa de abertura, com riffs grooveados que brincam com versos sintetizados e até vocais guturais, proporcionados por ninguém menos que Alissa White-Gluz, amiga dos tempos de Krypteria. “Public Enemy #1” completa o ‘one-two punch‘ inicial surpreendendo novamente não só pela ótima pegada industrial, mas principalmente por intercalar estrofes em Alemão, Inglês, Espanhol e Francês com a maior naturalidade do mundo.

Na pesada “Spit It Out”, quem dá as caras é Jen Majura, atual guitarrista do Evanescence. A faixa é empolgante e bem desenvolvida, aproveitando os espaços criados pela atmosfera eletrônica gótica e pelas boas mudanças de andamento para inserir um breve solo de baixo e até uma críptica canção de ninar coreana – cortesia dos pais de Cho – após o solo de guitarra. Em seguida, já na metade do CD, vem a minha favorita: “Who’s Gonna Save You?”. Ela vai de um desenvolvimento eletropop a uma ponte com levada levemente reggae (!!!) e um refrão roqueiro, unidos com desenvoltura e harmonia assombrosas.

Ji-In ChoApós a direta “Like a Hurricane”, a banda nos dá um tempo para respirar com a única balada do registro, “I Carry On“, que tenta encaixar um piano e uma boa interpretação vocal em discretas batidas eletrônicas. O resultado é apenas agradável, e não impressiona em nenhum momento, mas pelo menos não exagera. “Find Another Way” (esta sim com MUITA cara de Evanescence) e a grudenta “Where Do We Go From Here?”, com o solo de guitarra mais melódico do CD, encerram um álbum sólido.

Em sua estréia com o novo projeto, o quarteto demonstra versatilidade na hora de compôr, o que os permitiu criar canções variadas e bem arranjadas como “Public Enemy #1” e “Who’s Gonna Save You?”. Por outro lado, a banda tenta emplacar algumas canções que não têm nem agressividade empolgante e nem arranjos criativos, apostando, ao invés, numa acessibilidade barata; é justamente o caso de “Why So Serious?” (que tem apenas um bom refrão) e “Find Another Way”. A edição de luxo vem com três faixas bônus, mas só as boas guitarras de “Would You Die Tonight?” valem a audição. A banda vai tocar com o Arch Enemy em festivais na Alemanha, Áustria e França, e tem até planos de lançar um DVD. Enquanto isso, irei aproveitar a deixa e conhecer melhor o Krypteria.


Tracklist:

 01. Five Billion Lies (feat. Alissa White-Gluz)Ji-In Cho
02. Public Enemy #1
03. Why So Serious?
04. Spit It Out (feat. Jen Majura)
05. Who’s Gonna Save You?
06. Like a Hurricane
07. Hellfire Halo
08. I Carry On
09. Find Another Way
10. Where Do We Go From Here?

Deluxe Edition:

11. If You Hate Me That’s Okay, But…
12. I Just Killed a Man
13. Would You Die Tonight?

8 comentários sobre “And Then She Came – And Then She Came [2016]

  1. Gosto do Krypteria e não conhecia este projeto. Gostei da faixa linkada. A voz da Cho tem o timbre típico daquelas cantoras orientais chinesas/japonesas (por que será, né?)que dá uma diferenciada legal nesse típico rock industrial.

  2. “Leitor, com que frequência você decide ouvir um disco após ser atraído por sua capa?”

    Com muita frequência. Estou fugindo deste exclusivamente por conta da capa 🙂

  3. Peço aos universitários que me ajudem: gostei da banda e da japonesinha (embora quanto mais eu ouço a Cho, mais eu gosto da Ono), mas não entendi essa classificação de rock industrial. Acho que é a idade, pois fico tentando comparar com o que eu ouvia (e só vou citar os mais audíveis) Ministry, Nine Inch Nails e Young Gods e picas, a distância é coisa pra sonda da NASA. Alguém pode esclarecer, por favor?

    1. Bem Marco, talvez porque eles também dão uma misturada com o metal gótico e industrial que faz com o que eles soem bem diferentes das bandas que citaste. Há também um termo novo que estão usando chamado “Modern Rock”, mas eu confesso que o evito porque eu mesmo não sei defini-lo com exatidão sobre a sonoridade desse estilo.

    2. Efeitos de estúdio, o ritmo intenso e cíclico da bateria (ritmo “bate estaca”, como alguns se referem), a produção digitalizada, efeitos nas vozes da moça e inclusão de teclados e sintetizadores para criação de ambientação nas faixas.

      Algumas bandas, como Nine Inch Nails e Young Gods, são mais incisivas no experimentalismo e vão pro lado avant-garde da coisa. O Ministry pira o cabeção mesmo. No caso dessa banda aqui, o termo industrial é completamente correto, mas o fazem de forma a complementar outros gêneros, como o hard rock e o gótico.

      Espero ter ajudado, Marco.

    3. Acho esquisito é a denominação “rock industrial”…significa o que que os músicos são capitalistas ou operários?

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