War Room: Raul Seixas – Novo Aeon [1975]

War Room: Raul Seixas – Novo Aeon [1975]

Por Mairon Machado

Convidados: André Kaminski e Ulisses Macedo

O War Room desse mês resgata uma obra-prima do rock nacional, Novo Aeon. Sequência de Gitâ, esse álbum acaba sendo jogado ao patamar de “Álbuns lançados depois de um grande álbum”, e por conta disso, recebe um nariz torcido de boa parte dos fãs. Porém, Novo Aeon sempre foi um disco aclamado pela crítica, sendo inclusive o álbum de Raul que foi recomendado pela antiga revista Bizz na tradicional seção Discoteca Básica (Bizz, 80, março de 1992).

Assim, unimos críticos e fãs de Raul para ver se o álbum realmente merece os elogios dados pela imprensa especializada ou se foi um equívoco na quadrilogia de álbuns que Raul criou em parceria com Paulo Coelho, a qual havia começado em 1973 com Krig-Ha, Bandolo!, chegou no auge com Gitâ (1974), passou por Novo Aeon e encerrou com Há Dez Mil Anos Atrás (1976).


1. Tente Outra Vez

Mairon: Tenho Novo Aeon como o melhor disco de Raul Seixas. O pessoal no geral prefere Krig-Ha Bandolo! ou Gita, mas acho que aqui ele conseguiu fazer um álbum que musicalmente é perfeito, seja no belo trabalho das guitarra ou nas vocalizações femininas, e “Tente Outra Vez” é o melhor exemplo disso. A harmonia musical é fantástica, e a letra é uma pancada, que infelizmente, virou clichê depois da lesão do Gordômeno antes da Copa de 2002.

Ulisses: Já começa com aquela música que todo mundo ouviu milhões de vezes. Acho que não tem brasileiro que não conheça.

André: Essa é uma canção que me gera umas ´duvidas e não sei se um de vocês tem a resposta. Mas Raul sempre deu umas alfinetadas na religião. Sabem a razão dessa ser uma canção um tanto quanto… “gospel digamos assim”?

Mairon: Ele sempre usou bastante esses vocais gospel André, principalmente nessa fase inicial.

André: O que é curioso porque a canção seguinte é a “canção do capiroto” no mesmo disco.


2. Rock do Diabo

Ulisses: Aqui já temos um andamento mais roqueiro canastrão.

Mairon: Rockzão para colocar a casa com o baixo, no estilo fanfarrão, e com o naipe de metais complementando o ritmo saculejante da banda de Raul

André: Digamos que esses “opostos” da primeira para a segunda canção sempre me deixaram em dúvidas sobre qual a intenção do barbudo baiano.

Ulisses: Se me lembro bem o Raul teve contato com a Thelema (de Aleister Crowley), logo não acho estranho ele trazer deus e o diabo tão próximos assim.

André: Mas sim, sei que ele sempre foi um anarquista e fascinado pelo ocultismo.

Mairon: Eu imagino o que seria desse disco se o Gay Vaquer tivesse participado dele. Para mim foi o melhor guitarrista que tocou com o Raul.


3. A Maçã

Mairon: Cara, como a letra dessa música foi interpretada na década de 70? Me choca ainda hoje essa pancada que o Raul fez para a ex-mulher dele

André: O que mais impressiona é como Raul com alguns poucos instrumentos e sua voz consegue fazer algo tão único no mundo. Tipo, não consigo sequer encontrar imitadores

Mairon: A interpretação vocal do Raul aqui é algo. Uma pena Deborah Blando ter destruído com a canção anos depois.

Ulisses: Sim, André, dá de 10 a zero nos discos “wall of sound”.

Mairon: Quanto a questão de Deus e o Diabo, André, acho que Raul pregava em suas músicas o fato de a diversão ser algo atribuída ao demo, mas é o lado bom do paraíso, enquanto que os problemas que são solucionados por Deus são coisas do demo, ou seja, os dois andam juntos em nossas vidas, pois afinal, nós que criamos eles

André: Até o Led Zeppelin tem imitadores, Raul tem só os imitadores daqueles que se vestem igual ao ele, mas nunca em termos musicais.

Mairon: Esse arranjo de cordas é tão singelo que até uma formiga chora.


4. Eu Sou Egoísta

Mairon: Adoro esse som de bateria da década de 70. Para mim, todos os discos tinham que ter esse som de bateria. Só Falso Brilhante da Elis tem algo parecido.

André: O baixo dessa música é excelente. Na verdade, a cozinha dessa música é perfeita

Mairon: Outro rockzão com bom baixo, bom naipe de metais, uma guitarra insana e uma letra muiito atual, que diz muito mais para as pessoas de hoje em dia do que a maioria das canções populares de agora

Ulisses: A letra parece encarnar aquela coisa do “faze o que tu queres” do Crowley.

Mairon: Exato Ulisses. Esse foi o período máximo da curtição Crowleyana de Raul. É o segundo disco com o Paulo Coelho, e curioso que a mais Crowlyana não é do Coelho.


5. Caminhos I

André: Bom escutar esses discos mais antigos do Raul. Voz cristalina, energia, criatividade. Assistir o clipe de “Cowboy Fora da Lei” e é triste vê-lo perdidamente chapado lá e fingindo que toca o violão.

Mairon: Sambão com uma letra Crowleyana que muitos não se dão de conta do que quer dizer, e que levará para a obra prima que encerra o lado A.

André: Aquela coisa nordestina mesmo.


6. Tu És O MDC da Minha Vida

Mairon: Uhu!!!

André: Bregaço!!!

Ulisses: AI QUE BAIXO GOSTOSO!!

André: Lendário Reginaldo Rossi!

Mairon: Voltamos aos anos 60, com as bandas de rock fazendo seu som para sacudir os casais. Esse órgão é sensacional, mas gosto ainda mais do saxofone e do baixo, envolventes e fantásticos. Além disso, a bateria aqui é outro instrumento que comanda a voz do Raul, que por mais brega que seja, é incrível.

André: Convenhamos, deveria ser uma época divertida.

Mairon: Com certeza.

André: É a melhor música brega de todos os tempos.

Mairon: Melhor que “Garçom”? Impossível.

André: Garçom é só mais popular.

Mairon: A letra é demais

André: Essa tem todas as características bregas tocadas brilhantemente.

Mairon: Aaaaaaaaaaaah, daí sim André.

Ulisses: Não sei vocês aí do sul/sudeste, mas aqui no nordeste ainda é facílimo achar coisa assim nas redondezas. 😛

Mairon: Sério Ulisses? Nesse estilo?

André: Isso eu ouvi falar, Ulisses. Amado Batista é rei aí no nordeste.

Mairon: Virando pro lado B.

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Paulo Coelho (esquerda) e Raul Seixas (direita). Um era o MDC do outro na primeira metade da década de 70

7. A Verdade Sobre a Nostalgia

Mairon: Jazz rock para sacudir a casa.  Eu tenho muita curiosidade de saber o que é a “coisa nova” que o Raul queria ouvir na década de 70. Led? Stones? Bowie?

André: Não é possível, esse grave deve ser de um baixo acústico não?

Mairon: É acústico sim André

André: Eu não consigo imaginar isso tocado que não seja um negão de óculos e de terno sorrindo.

Mairon: Vários negrões de óculos né, por que o naipe de metais é daqueles na linha do Ray Charles

André: Não a toa que é empolgante.

Mairon: A segunda parte já traz a parte do Paulo Coelho na letra, bem Crowleyana.


8. Para Nóia

André: Essa talvez seja a única que acho inferior as demais. Mas não que seja ruim.

Mairon: É exatamente o que eu penso André A faixa mais fraca, mas com outra letra poderosa. Essas canções do Raul que tentam ser “épicas”, servem muito bem em uma audição geral, mas não encaixou na bela sequência que vinha em Novo Aeon, apesar do instrumental ser excelente. Ulisses, ce tá vivo minino?

Ulisses: Deixa eu curtir o som em paz, rapaz. :v

Mairon: Desculpa aí, hehe, é que não veio comentário seu em duas faixas seguidas, me preocupei …

André: Essas menções “religiosas” de Raul que sempre foram polêmicas.

Ulisses: Dessa aqui eu só gostei mais da guitarra debulhando

André: Digamos que nunca o “entenderam”. O pessoal mais religioso varia entre gostar de “Tente Outra Vez” e de desprezá-lo por “Rock do Diabo”, “Paranoia” e “Al Capone”.

Mairon: “Para Nóia” na verdade é uma viagem musical, e a letra é bem complexa.


9. Peixuxa (O Amiguinho dos Peixes)

Ulisses: kkkk essa é hilária.

Mairon: Dessa eu gosto pacas. O ritmo infantil é divertidíssimo, mas a letra é tão fantástica e atual que deveria ser estudada nas aulas de literatura

André: Não sei se gosto mais dessa ou de “Carimbador Maluco” em termos de “infantilidade”.

Mairon: Eu prefiro essa. “Carimbador Maluco” é coisa de Coxinha, hehehe

André: Mairon curte uma “burocracia” que tô sabendo.

Ulisses: Óia o pagodão agora.


10. É Fim de Mês

Mairon: Cara, essa é difícil decifrar, pagode em ritmo de quizumba, mas com outra letra que parece ter sido escrita ontem.

Ulisses: Gostei da mudança de andamento. Letra muito legal.

Mairon: O ritmo nordestino também surge com força, e a voz do Raul contando sua história é debochada e hilária.

André: Pois é, Raul consegue fazer até uma boa música com um instrumento que eu tenho pavor, que é a cuíca.

Mairon: Bah, não gosta de cuíca André? Próximo War Room vou trazer uns sambões pra ti

Ulisses: kkkkkk

André: Nope, é tipo gostar de caixinha de fósforo. Quase sempre o mesmo som

Mairon: E esse rock agora? E dê-lhe Severina Xique Xique.


11. Sunseed

Mairon: Linda balada de Raul cantada com sua esposa Gloria.

Ulisses: Belo violão.

André: Sempre suas incursões pelo inglês. Uma pena que nunca conseguiu atingir o público estrangeiro.

Mairon: Voz de Joan Baez misturada com a voz aveludada da Joni Mitchell

André: Linda canção por sinal.


12. Caminhos II

Mairon: Uma pequena vinheta resumindo o principal de “Caminhos”, de forma bem sinistra, levando o disco para seu final.

André: Raul filosofando um pouco.


13. Novo Aeon

Mairon: Será essa a melhor canção de Raul? Uma pequena demonstração de inspirações progressivas que, assim como o início do álbum, encerra o disco misturando vários elementos musicais, desde o banjo até a guitarra alucinada, destacando as passagens assombrosas de flauta sobre um peso que não está em nenhuma outra faixa de Raul.

André: Do Raul eu particularmente tenho um carinho maior pelos singles. Gay Vaquer volta a se destacar por aqui

Mairon: André, o Gay só participou dos discos pós-Há dez mil anos. Aqui não é ele. Eu curto muito mais as canções obscuras, como essa.

André: Não é o Gay Vaquer? Jurei que fosse.

Mairon:  O Gay Vaquer estava terminando a faculdade lá nos EUA nessa época. Aliás, tem um disco que ele toca que um dia vou upar para trazer aqui no War Room.

Ulisses: É uma ótima canção, mas não diria que é a melhor nem do álbum.

André: Mas esta com certeza é uma das melhores.

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Contra-capa do LP

Considerações Finais

Mairon: Novo Aeon consegue unir todo o trabalho musical que Gita e Krig-Ha Bandolo! tem em termos de qualidade positiva, e exalta o lado Crowleyano da parceria com Paulo Coelho em praticamente todas as suas faixas. Acho que é um disco muito injustiçado, tendo apenas “Tente Outra Vez” e “Rock do Diabo” como marcos para o público em geral, e como bem disse o André, para o pessoal ficar pegando mais no lado religioso, sem prestar atenção na música em si.

Ulisses: Já ouvi a discografia do Raul há um bom tempo atrás. Ouvir Novo Aeon me convenceu de que preciso fazer isso de novo, pois praticamente o “redescobri”. É ótimo como mistura uma diversidade de estilos sem soar deslocado.

Mairon: Ulisses, sugiro então que você siga com o Há 10 mil Anos e depois o O Dia em Que a Terra Parou. É uma trinca e tanta.

André: Musicalmente este álbum provavelmente seja o mais completo de Raul. Tem rock, tem música nordestina, tem jazz, tem brega e mais uma porção de influências resumidas em pouco mais de meia hora fundidas em canções criativas e empolgantes. Ótima ideia por sinal.

Mairon: Resumiu tudo em uma bela frase André. Parabéns!

André: Apesar de muitos acharem que este seria um disco “batido” para o War Room, eu sempre aprendo algo novo mesmo em álbuns conhecidos. Hoje foi um exemplo de ótima sugestão

Mairon: Vou sair aqui galera. Valeu. Muito obrigado à vocês.

Ulisses: Valeu Mairon.

André: Abraços

Raul-Seixas

81 comentários sobre “War Room: Raul Seixas – Novo Aeon [1975]

  1. Raul… Apesar de ser chamado por muitos de rei do rock brasileiro (Rita Lee seria a rainha), Raul nunca me empolgou, a ponto de eu me dizer fã do sujeito. Gosto muito de algumas coisas (“A hora do trem chegar” é uma das coisas mais lindas e singelas da música brasileira), mas, no geral, Raul soa como o retrato de uma época, datado, pois. Vejo Raul como alguém aparentemente transgressor, mas ingênuo. Tinha capacidade de produzir grandes obras, pois navegava entre o sofisticado e o brega com enorme facilidade. No entanto, talvez iludido (oprimido) pela sua enorme popularidade e pela veneração de fãs radicais, deixou se levar para o fundo do poço. As imagens de sua decadência estão aí para quem quiser ver nos youtubes da vida. Triste. Sobre o “Novo Aeon”, na minha opinião, há grandes músicas (“É fim do mês”. “Tu és o MDC de minha vida” e “Para Nóia”), músicas medianas (“Rock do diabo” e “Tente outra vez”) e essa coisa insuportável chamada “Peixuxa”. É um disco razoável.

  2. Nunca seria o caso de duvidar da extrema importância de Raul Seixas para o rock e a música nacional em geral. Ele tem uma característica, de poucos, de transitar em praticamente todos os segmentos de ouvintes, do roqueiro mauricinho até o peão frequentador do pé sujo da esquina, passando pelo nerdismo rocker. São poucos que conseguem, Roberto (nem certo momento), Zé Ramalho e sobretudo Tim Maia, embora considere este último muito superior aos outros citados.
    Mas, enfim, não é pouco!
    Mas pessoalmente nunca me entusiasmei muito com seus discos. Já possuí, já passei pra frente. Comprei de novo, e hoje me contento com a coletânea A Arte de Raul Seixas.

    1. Também tive essa coletânea, “A arte de Raul Seixas”. Aliás, como era boa essa série “A arte de…”, hein? Tive do Gil, do Caetano, do Chico, do Jimi Hendrix. Hoje tenho apenas a do Chico e a do Wilson Seminal, digo, Simonal.

  3. Eu até que gosto do Raul Seixas, mas musicalmente, exceto por essas aventuras em outros estilos fora do rock, que são bem interessantes, seu rock é bem fraquinho. Pega mais pelas letras, a atitude…na música, diz pouco. Acho que minha provocação encontra eco quando vc pergunta a algum pesquisador musical de outro país a respeito do rock brasileiro dos anos 70, dificilmente ele irá citar Raul Seixas. O rock dele ainda tinha aquela coisa do Elvis Presley, que a meu ver, nos anos 70, já tinha envelhecido muito. A Rita Lee fazia rock básico, mas tinha uma roupagem mais moderna.
    Gosto desse disco, mas achei que o War Room ficou meio vazio, comentaram poucos sobre as faixas. Contudo, louvo a iniciativa de proporem também discos clássicos para serem comentados nessa seção.
    Abraço,

    1. Pois é Ronaldo, é que como as faixas são curtinhas, nós acabamos mais ouvindo as faixas e curtindo elas, sem conseguir comentar mais do que fizemos aqui. Lamento …

  4. Raul é ótimo e ponto. A gente assume que ele é e ninguém se magoa. Mas o Novo Aeiou (brincadeira com outro disco datado: O A E O Z) não entusiasma mais. Como eu disse, o Raul é otimo, mas sendo assim, qual é a dimensão de um protegido seu, o Sérgio Sampaio?

  5. O A e o Z, ou “quando os Mutantes sairam da vanguarda mundial do rock psicodélico para a rabeira do rock progressivo”. Ou será que isso foi no Tudo Foi Feito Pelo Sol?

    1. Para Eudes, eles já estavam fazendo rock progressivo de qualidade no “Seus Cometas no País dos Bauretz”. Bem melhor que muito gringo. E tanto o O A E O Z quanto o TFFPS são melhores que muitos discos do ELP e do Genesis (pronto, falei)

    1. Não sei se concordo com essa frase. Acho que o Sérgio tem sim sua importância, lançou um disco sensacional, só que a carreira dele em comparação com a fase áurea do Raul (todos os anos 70) é muito fraca.

      Outro nome que é obsoleto perto do Raul, e que lançou discos tão fodomenais quanto, é o Walter Franco.

      1. Walter Franco é demais. Tanto é que, invejando a capacidade criativa de Walter Franco, Caetano Veloso lançou Araça Azul, com experimentos que não chegam aos pés dos discos Ou não (1973) e Revolver (1975)

        1. Revolver para mim é seu melhor trabalho. Gosto bastante do Vela Aberta e do Respire Fundo (“Lindo Blue” é D+), mas nada supera a loucura de Revolver

          1. Tem uma pequena e inatacável discografia. Escreve uma DC aí, Mairon.

        1. O dia que eu tiver que fazer uma DC vai ser do maior de todos os malditos: Jorge Mautner. Esse botou todos esses fenomenais listados no chinelo.

          1. Vi aqui em minha cidade um show de Jorge Mautner e Nelson Jacobina. Havia poucas pessoas na plateia, mas Jorge e Nelson não se incomodaram. Fizeram uma apresentação agradável e intensa.

          2. Fui a muitos shows do Mautner e do Jacobina nos anos 70. Eram meus ídolos. Alguns shows tiveram que cancelar e devolver o dinheiro. Estávamos eu, minha mulher e mais umas quatro ou cinco pessoas, hehe…

  6. Todos ótimos…mas, numa escala de influência, não podem ser comparados a Raul. Quem viu nascer o fenômeno popular Raul Seixas, como eu, achou estranho quando eras depois ele foi visto como herói do rock nacional. Quem o ouviu em primeira mão no rádio, lá por 72, 73, não o via como um típico rock star. Ele era, na percepção daquele tempo, um cantor povão.
    Pra mim, a melhor coisa de Raul é Ouro de Tolo, pelo estranhamento que provocou na audiência daquele tempo.

      1. Como não causa impacto? Até hoje, quem ouve “Ouro de Tolo” pela primeira vez acha que Raul é o profeta do Apocalipse …

          1. Ouro de Tolo é a nossa Walking on the Wild Side…rsrsrsrsrs

  7. Outra coisa: Raul tem muita importância na última, e menos roqueira, geração da Jovem Guarda, quando atuava como compositor e produtor. Muitas daquelas coisas breguinhas saborosas gravadas no inconsciente coletivo são de sua autoria: Doce Doce Amor, hit de Jerri Adriani, Ainda Queima a Esperança, sucesso de Diana, Se Ainda Existe Amor, êxito de um certo Balthazar (??)….e muitos outros escritos para Renato e Seus Blue Caps, Odair José, Leno e Lilian e muitos outros.

  8. Raul tem uma contribuição intensa pouco citada no albo cult de Leno, Vida e Obra de Johnny McCartney, que algum consultor poderia resenhar pra gente.

    1. Tive o cd e meu filho quebrou, o descuidado. Nunca mais vi para comprar. E por que é comigo? O eclético aqui é o Eudes.

  9. Eu tinha comentado há uns anos atrás de que Novo Aeon e Gita são os dois discos que mais me agradam do saudoso RS, e ouvir os dois em seqüência é um puro deleite. Até que o disco seguinte, “10 Mil Anos Atrás” é bom, mas acho um pouco exagerado por causa de sua faixa-título. Depois a coisa só decaiu muito… É inegável dizer que a melhor fase do Maluco Beleza foi de 1974-1976.

    E pensar que tudo isso começou com o “Krig Ha, Bandolo!” (1973) com o qual eu não sou muito chegado por várias razões, uma delas é que “Mosca na Sopa” é uma música muito chata e que “Al Capone” é difícil de engolir. “Metamorfose Ambulante” só vale pelas reagravações de Zé Ramalho e Ney Matogrosso, e este disco só é bom por conta de “Ouro de Tolo” e “How Could i Know. Só isso.

    Enfim, parabéns á Consultoria pelo War Room de hoje e fico no aguardo de um War Room com “Powerslave”, a obra-prima definitiva do Iron Maiden.

    1. Acho mt legal “Mosca na Sopa” na versão do Banquete dos Mendigos… ali pra mim tá bem o embrião, o “bisavô” da sonoridade do Chico Science & Nação Zumbi.

  10. Gostei de reouvir este discaço com mais atenção e acompanhando com os comentários de meus colegas. Acho bom pegar de vez em quando uns discos mais conhecidos porque sempre surge curiosidades que normalmente me passa batido.

    Toquem mais Raul!

  11. Primeira vez que comento neste blog. Sempre fiquei no modo leitura, mas quando se trata do grande amor da minha vida (kkkk) preciso falar.
    No documentário, “O início, o fim e o meio”, onde Caetano Veloso de forma bem espontânea fala uma que, ao meu ver, é uma das maiores verdades de nossa música popular, “Raul é coisa grande”.
    Foi comentado aqui que Raul é curtido por todos os tipos de ouvintes, do peão de fábrica ao hipster nojentinho. Isso pra mim, já é de imensa.
    “Tente outra vez” é uma daquelas canções que todo brasileiro já nasce sabendo, assim como “Emoções”, “Asa branca”, “Carinhoso” e “Garota de Ipanema”.
    A forma livre e sem compromisso com que ele passeava entre os estilos musicais pode estranhar os ouvidos mais puritanos ou aqueles que procuram inovações sonoras.
    Essa característica é o ponto forte de sua obra, principalmente no fabuloso disco “Novo Aeon”.
    O sacro e o pagão caminham lado a lado na obra de Raul para desmistificar tanto um quanto outro. Os dois fazem a parte da mesma brincadeira sonora e não devem ser levados tanto a sério.
    Da pra fazer uma tese de mestrado sobre Raul e sua relação com o público brasileiro.
    Mas não dá para desenvolver neste espaço.
    Enfim, fiquemos com Caetano, “Raul é coisa grande”.

    1. Não conhecia a frase de Caetano. Ela é verdade independentemente do gosto de cada um acerca de Raul. E olhe que, reza a lenda, Raul detestava Caetano.

      Tem fundamento?

      1. “Raul Seixas sempre foi meu amigo.Vi o último show que ele fez,aqui no Rio,com Marcelo Nova.Raul já estava quase sem poder falar,sem poder cantar. Fui homenageá-lo,conversar com ele,porque era meu amigo desde que
        voltei de Londres.Nunca tivemos briga,rusga,discordância,nada – nem pessoal nem artística. Raul Seixas queria ser feito um roqueiro que falava inglês,queria estudar numa high school,usava bota como se fosse do oeste,vivia vestido de Elvis Presley. Eu não: desde menino,nunca tive vontade disso.Meu negócio é outro : eu gostava de Sílvio Caldas. Mas entendi essas pessoas.” (Caetano Veloso, em entrevista a Geneton Moraes Neto, em 2007).

        1. Pelo jeito debochado de Raul, acredito que se um dia ele fez alguma declaração contra a música de Caetano e dos Tropicalistas se deve mais como uma provocação, do que uma crença pessoal.

        2. Poxa Francisco, quando comecei a ler achei que quem estava narrando a história era vc. Decepção ver Caetano Veloso no final …

  12. Melhor disco da carreira do Raul, seguido de perto por A Panela Do Diabo e eu particularmente gosto muito do Abre-te Sésamo de 1980 (o último grande disco do Raul antes da parceria final com o Nova).

    1. Abre-te Sésamo é o melhor disco de Raul depois do 10 mil anos.
      Uma pena que ele não seja tão conhecido por aqueles que não são fãs do Raul. Um grande disco, com influência de rock e música sertaneja.

      1. Nele estão duas obras-primas do Raul: “Ê Meu Pai” e “Angela”, além das clássicas faixa-título, “Rock das Aranha” e “Aluga-se”

        1. Difícil pra mim dizer quais as faixas favoritas. Gosto do disco todo, mesmo de Rock Das Aranha que eu nunca gostei.

          Mas gosto muito de ‘Abre-te Sésamo’, ‘Anos 80’, ‘O conto do sábio chinês’ e ‘É meu pai’.

          ‘Hey! Anos 80!
          Charrete que perdeu o condutor’ hahaha demais!

          1. “Rock das Aranha” é outra das minhas preferidas do Maluco Beleza, regravada pelos caras do Ultraje a Rigor (casou direitinho com eles), pena que nem meu pai que é fã do RS gosta, não sei porque… Aliás, por curiosidade, por que você nunca gostou da música? Acho tão engraçada…

          2. Igor. Rock Das Aranha é uma música engraçadinha, e só. O Raul tem tantas pérolas fantásticas em sua discografia que ficar conhecido por essa música é tão… sei lá, bobo. rs

          3. Sensacional. São os últimos momentos de inspiração de Raul. Acho o Panela do Diabo fraco perto de muitos, Diego. Me surpreendeu seu comentário.

  13. Tb acho que é o melhor disco do Raul. Dispensa comentários! Valeu ai!! Jorge Mautner, Sérgio Sampaio e Walter Franco merecem aparecer por aqui também! Abs

  14. “Mairon: Adoro esse som de bateria da década de 70. Para mim, todos os discos tinham que ter esse som de bateria. Só Falso Brilhante da Elis tem algo parecido.

    André: O baixo dessa música é excelente. Na verdade, a cozinha dessa música é perfeita”

    O som de bateria nos anos 70 era outra coisa mesmo. O que fizeram nos anos 80 que faz ter aquele som enjoado de bateria nas gravações?

    1. Muitos efeitos e a troca de peles originais por sintetizadas. Infelizmente, isso é um resumo da decadência musical que assolou a música a partir dos anos 80. Abraços Bruno

      1. Sinceramente, me dá quase uma dor física ouvir o “Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!” com aquela bateria eletrônica, pq apesar da decadência do Raul nessa época, com a voz já lascada, esse disco tem várias coisas que gosto (“Gita” em inglês não é uma delas, hahaaha…)

      2. Outro que não consigo entender é o “Metrô Linha 743”, pq já li tanto sobre o Raul falando que era pra ser um disco preto e branco, um disco quase acústico, orgânico etc etc e daí o disco tem esses efeitos sintetizados na bateria, aqueles “barulhinhos” estúpidos da música dos anos 80… não me entra na cabeça, não entendo. Lendo as entrevistas eu penso, “Era pra ser um Raul meio cru, orgânico” (penso no Dylan, ou também no American Recordings do Cash) e daí tem esses troços, será que isso era uma tentativa dele de parecer mais atual pras novas gerações? Pressão da gravadora para tentar um apelo mais comercial? Também é desse disco a pior música do Raul na minha opinião: “Canção do vento”, não consigo ouvir 20 segundos disso.
        Queria ouvir um “Metro Linha 743… Naked”. Será que as herdeiras dele olham a seção de comentários aqui? Fica o pedido hahaha.

  15. Novo Aeon é um disco brilhante, tem desde um brega altamente calculado até Paranóia, uma viagem musical em que Raul exorciza seus demônios

    1. Obrigado Vilmar. Estou lendo a Biografia que o Sylvio Passos fez para o Raul, e olha, é visível que esse disco é o ápice da criatividade do Raul. Abração

  16. O disco que eu curto do Raul por incrível que pareça é “A Panela do Diabo” que ele gravou junto com o grande Marcelo Nova o “Marceleza” como Raul o chamava. Ali podemos sentir todo o drama que Raul estava passando por causa de sua saúde cada dia mais deteriorada e que acabaria levando-o à morte. As letras daquele disco são engraçadas, sombrias, divertidas e o disco como bem observou essa página na série “Os sete pecados do rock nacional” é um disco preguiçoso e em alguns momentos feito “nas coxas”, com Raul e Marcelo cantando fora do tempo em algumas canções.

  17. Sempre existiu a lenda de que Raul Seixas conheceu John Lennon pessoalmente e até debateu com ele sobre a sua “Sociedade Alternativa”. Mas tudo não passou de lenda que o próprio sempre sustentou até o fim da sua vida. Marcelo Nova afirmou que Raul esteve de fato em Nova York mas que no máximo pode ter cumprimentado John e Yoko e só.

  18. A ‘Tente Outra Vez” do Raul lembra um pouco a versão do Joe Cocker para With a Litte Help From my Friends principalmente por causa do coro feminino. Engraçado, quase ninguém comenta a semelhança dessa faixa com a música do Joe Cocker.

      1. Isso mesmo! A Metamorfose Ambulante se parece muito com With a Little Help From My Friends. O Lobão costuma criticar as bandas dos anos 80 porque segundo eles as bandas daquela época copiavam tudo que vinha de fora. E esse coxinha nunca falou nada sobre essa música do Raul. Fora os outros plágios que Raul copiava descaradamente.

      2. Plágios de verdade, só tem uns 4 na carreira de Raul: Rock das Aranhas, Loteria da Babilônia, Mas I Love You e Dia da Saudade. O restante são referências propositais que Raul colocava nas músicas e tem mané que acha que é plágio. Por exemplo: Rock do Diabo e Peixuxa. Qualquer pessoa percebe que as introduções de Honey Don’t e Ob la di foram colocadas nessas músicas propositalmente para fazer uma brincadeira, a exemplo de qualquer música que leve o riff de Jhonny B good na introdução. Entretanto, tirando as introduções, Peixuxa e Rock do Diabo são diferentes de Honey Don’t e Ob la di. Portanto, não são plágios.

  19. Sempre classificaram o Raul como sendo rock, mas seus discos tinham muito mais flerte com baião, com sertanejo de raiz e folk do que rock mesmo. Em cada disco dele, é um roquinho ou outro que tem no disco. Com todo respeito, mas Raul sempre foi superestimado demais. E o engraçado é que hoje em dia tá cheio de reacionário e coxinha fã dele. Aquele mala deve estar decepcionado aonde estiver de ver pessoas retrógradas que são fãs da música dele.

  20. Mais uma vez falando da canção “Tente Outra Vez”, essa música possui uma letra muito positiva principalmente em se tratando do Raul que era nitidamente introspectivo e um tanto quanto pessimista em relação à vida. Até uma certa dupla sertanoja medíocre já falou que essa música serviu de estímulo para a vida deles.

  21. SENHORES: OS VERDADEIROS PARCEIROS DA COMPOSIÇÃO “TENTE OUTRA VEZ” SÃO RAUL SEIXAS E LUCIANO LOPEZ, A PSEUDO PARCERIA RAUL SEIXAS, PAULO COELHO E MARCELO MOTTA FOI CELEBRADA EM PLENA DEPENDÊNCIA QUÍMICA DA DROGA PRESENTE NOS ANOS SETENTA COMO FATOR DE CORPORATIVISMO.
    A COMPOSIÇÃO DEU-SE EM MAIO DE 1975 NO APARTAMENTO 1.101 DA ESTRADA DA GÁVEA, 638, SÃO CONRADO, ESTAVAM TÃO SOMENTE NO LOCAL EU (LUCIANO), RAUL E GLÓRIA VAQUER, SENDO QUE ESTA ME RECEPCIONOU NO APARTAMENTO MAS NÃO PARTICIPOU DOS DIÁLOGOS.
    O MANUSCRITO NA INTERNET, AINDA EM FORMA DE RASCUNHO, CONTÉM O ESTÁGIO DA LETRA QUANDO EU DESCI DO APARATAMENTO.
    AINDA ESTÁ EM FORMATO DE RASCUNHO, O SEGUNDO VERSO NÃO FOI GRAVADO E SÓ CONSTA RAUL ENTRE PARÊNTESES A VERMELHO NO LOCAL CLÁSSICO DO AUTOR, ALI O MEU NOME NÃO FOI EXCLUÍDO, NA REALIDADE ELE SEQUER FOI INCLUÍDO.
    HÁ UMA AÇÃO NO FÓRUM DO RIO DE JANEIRO PELA RECUPERAÇÃO DOS REAIS DIREITOS AUTORAIS.
    MAIS DETALHES ACESSANDO YOU TUBE: LUCIANO LOPEZ DEDILHANDO.

    GRATO E EM NOME DA VERDADE DESEJO A TODOS BOA SORTE.

    LUCIANO LOPEZ RODRIGUEZ
    COMPOSITOR

      1. Fiquei sabendo só hoje que o Luciano Lopez Rodriguez faleceu há dois anos. Infelizmente acho que jamais saberemos a verdade.

  22. Mairon, um comentário atrasado:
    Em “A Verdade Sobre a Nostalgia”, Raul critica uma onda de rock and roll dos anos 50 que assolou nossa TV e rádio por causa de algumas novelas da globo, como por exemplo, Escalada de 1975 e Estúpido Cupido de 1976.
    A gravadora Som Livre mandava nos hits da época e a trilha de Estúpido Cupido vendeu centenas de milhares de LPs.
    A “coisa nova” era, portanto, qualquer coisa inédita que não estivesse na mídia.

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