Resenha dupla: Kim Meinert e Whyte Hart

Resenha dupla: Kim Meinert e Whyte Hart

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Por Fernando Bueno

Uso muito um site de compras chamado Musicstack. Não me lembro exatamente como o conheci, mas não sei de muita gente que o usa também. Algumas das coisas mais diferentes da minha coleção vieram desse site que funciona como se fosse um Ebay apenas musical e sem leilões. Uma das compras que fiz já há um bom tempo foi de dois singles em vinil do Praying Mantis e um dos álbuns clássicos da NWOBHM o Son of Odin do Elixir. O vendedor desses disco era da Dinamarca e junto do meu pedido recebi também dois outros CDs. Não é praxe o envio de itens extras no Musicstack, mas já tinha acontecido outras vezes. Agradeci ao vendedor e coloquei os discos na pilha de CDs para ouvir.

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Kim Meinert – Foto tirada de sua página do Facebook

Voltei aos CDs quase dois meses depois e para minha surpresa os dois discos eram muito legais. Porém não encontrei nenhuma informação sobre os artistas naquele momento além de que eram dinamarqueses. Pensei, o vendedor estava apenas promovendo artistas locais. O primeiro que ouvi era de um artista solo chamado Kim Meinert, ou Kim Meinert Pedersen, intitulado Too Small to Take It Seriously. As pouquíssimas informações que encontrei dele apenas dizia que era um engenheiro de som e produtor de bandas diversas da Dinamarca. Ele também fundou uma gravadora chamada BUMS Records ainda nos anos 80 que também continua na ativa até hoje. A impressão que é passada é que depois de produzir um monte de gente ele teve vontade de fazer algo com o nome dele e não seguir uma carreira propriamente dita como músico.

O disco é direcionado para o AOR ou mesmo para o que alguns chamam hoje de melodic hard rock. Tem uma pegada de várias daquelas bandas oitentistas, mesmo tendo sido gravado em 1994. Kim é o cantor de todas as faixas, mas não é o compositor de nenhuma delas. Os compositores foram outros músicos que também participaram do álbum, como Chris Birkett, que compôs a faixa de abertura, “Hold On” e tocou todos os instrumentos. Essa música, e seu refrão pegajoso, poderia ter sido hit em qualquer lugar do mundo. “Sometimes” já é uma parceria com outro músico, Dave West, que resultou em uma baladona daquelas que embalariam os bailinhos. Dave também toca todos os instrumentos.

Ou seja, Meinert estava rodeado de bons músicos. Chris Birkett, por exemplo, é um prolífico multinstrumentista inglês. Já trabalhou com diversos artistas como Talking Heads, Sinead O´Connor e Bob Geldof. Mais um compositor ajudou Kim a fazer o disco, porém não consegui encontrar seu nome completo e nem Google me ajudou. Ele é apenas creditado como G. Vindel. Porém, ao contrário dos outros dois citados ele não toca em suas músicas. “Tower of the World” não fica devendo nada para qualquer clássico oitentista. Em outra composição de G. Vindel, “Playing with Time”, Kim divide os vocais Renée McGill, de quem também não consegui nenhuma informação. A faixa é a mais pop do álbum e poderia ter entrado em qualquer disco de novela do final dos anos 80.

Buscando informações sobre o artista acabei encontrando o seu perfil no Facebook. Mandei uma mensagem perguntando sobre os dois discos que eu tinha em mãos. Ele me respondeu e acabamos conversando. Primeiro ele ficou surpreso e perguntou se eu realmente tinha os discos em mãos. Mandei até uma foto dos CDs. Ele deve ter vasculhado meu perfil e viu algumas fotos da minha coleção de discos e se convenceu de que eu deveria tê-los mesmo. Falou que está na ativa todos esses anos trabalhando com diversos tipos de artistas dinamarqueses e de outros países. Indicou algumas cantoras que ele estava produzindo naqueles dias, porém, por ser artistas estritamente pop, elas acabaram não me chamando muita atenção. Falei sobre a Consultoria do Rock, ele elogiou a abrangência do site, mas por ser em português não fez mais comentários. Sobre seu álbum ele acabou falando pouco. Comentou que era algo lançado há muito tempo e que tinha vendido bem no Japão. Eu respondi que música boa não fica velha e ele concordou. Seu entusiasmo em falar dele foi o mesmo que alguém perguntar para você sobre aquele trabalho de biologia da sexta série. Acredito que para quem trabalha no ramo dele seu interesse é sempre o novo, o que ele está fazendo agora. Fosse um álbum que tivesse rodado o mundo e trazido mais retorno ele tivesse um carinho maior. Mas foi no geral foi bastante simpático e me disse que poderia até me enviar mais música no futuro.

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O outro disco é uma jóia! Chamado de Matchless da banda Whyte Hart. Se o disco de Kim Meinert tinha pouquíssima informação na net esse tem ainda menos. Nem no próprio encarte do CD eles se dispuseram a creditar os instrumentistas. Mas pela foto interna chegamos à conclusão que se trata de um duo. O crédito do disco diz que o compositor de tudo é Peter Öhgren e a direção musical de Jeanette Andersson. Assim deduzo que essas pessoas são as da foto interna. Agora, adivinhem quem é o produtor do disco e a gravadora que ele foi lançado: claro que as respostas são Kim Meinert e BUMS Records. O Whyte Hart pode ser considerado um grupo de folk progressivo, destacando mais a veia folk em algumas faixas e mais o progressivo em outras.

A primeira lembrança que me vem à cabeça são os trabalhos vocais de bandas como o Crosby, Stills, Nash and Young e The Beach Boys nas três faixas de abertura “The Kembles”, na vinheta “Wonderboys” e em “Pidgeonwheel”. Nessas faixas além das vozes se destacam os violões e isso muda já na faixa seguinte, “The California” em que os teclados já são os protagonistas.

A veia mais progressiva se apresenta mais marcadamente em “Gloria in Excelsis” em que os efeitos de teclados do Yes do fim dos anos 70 me parecem uma grande influência. Também é a primeira faixa que a guitarra, apesar de um pouco discreta, se mostra mais agressiva e com efeitos. Os efeitos de teclados de outra grande banda, no caso o Rush, aparecem em “You Can Do Anything”. A faixa título,me parece uma música inferior às outras, apesar de ser bonitinha. O disco fecha com “Siter Galleons”, a faixa mais longa do disco e também a que o representa como um todo por ter quase todas as características das outras faixas. Não sei se todos aqui conhecem o disco Elementi do Le Orme, mas eu sempre lembro dele quando ouço essa música e quem ouvir vai saber o motivo.

Tentei conversar também entrar em contato com o lojista que me enviou os discos. Pensei até que ele poderia ser o próprio Kim. Mas descobri que a loja, pelo menos a virtual, não existe mais. A compra foi feita há quase um ano. Um mistério que me incentivou a escrever a primeira resenha dupla do site.

O Youtube se tornou uma grande jukebox e muita gente utiliza o site para conhecer bandas e discos, mas se vocês tentassem procurar ambos os discos descritos aqui nesse texto não acharia nada, nenhuma faixa. Assim, resolvi movimentar o canal da Consultoria do Rock que estava há alguns anos esquecido por nós e disponibilizar esses dois discos. Aliás, a intenção é começar a usar mais esse canal para ajudar e complementar o conteúdo aqui do site. Não tinha idéia de como fazer isso, tive que assistir à vários tutoriais, aprender a usar alguns programinhas. Deu trabalho, apanhei um pouco, mas o resultado está aqui:

Kim Meinert – Too Small To Take It Seriously (1993)

Whyte Hart – Matchless (1997)

Ouçam, comentem aqui, assinem o canal do Youtube e indiquem o site, o canal e os discos aos seus amigos.

9 comentários sobre “Resenha dupla: Kim Meinert e Whyte Hart

  1. Gostei do Fernando ter inovado os já manjados formatos aqui da CR. E como eu sou fã de obscuridades, fui com sede ao pote: Kim Meinert, pro meu gosto, poderia muito bem se chamar Kim Merda!, mas imagino que muita gente por aqui vá gostar. White Hart é mais a minha praia, música pra embalar pazinha e baldinho de areia. Parabéns, Bueno. Só de você se dar ao trabalho de ir atrás dos músicos já valeu a leitura.

    1. Como disse, o Kim é mais um produtor que um músico. Imaginei que vc não gostaria do que ele fez, mas dê um crédito para ele já que ele é o produtor do outro que vc gostou…

  2. O Fernando tinha me passado para ouvir estes dois discos, gostei principalmente do AOR do Kim Meinert, embora o Whyte Hart também se demonstrou muito bom.

    É aquela coisa, em todos os países a gente acha umas pérolas escondidas que só foram lançadas por lá e ninguém além de algumas poucas cabeças locais conhece. Se isso ocorreu na Escandinávia, se imagina o resto do mundo o que deve ter de música boa perdida em alguns poucos cds e vinis que passaram despercebidos na época.

    Muito foda a história toda, Fernando.

  3. A breve troca de ideias do Fernando com o Kim é incomparável com o que ele gravou. Que disquinho fraco da porra, hein meu caro. Me surpreendeu você gostar disso, se nem o coitado do dinamarquês gostou … Essa “Lay Your Hands On Me” me lembrou uma coisa oitentista, meio Chris deBurgh, algo assim, …, horrível, sendo que essa achei a melhorzinha. “Good News” podia estar em qualquer novela ou filme adolescente dos anos 80, daqueles que o carro passeia pela praia enquanto jovens jogam fresbee e um cachorro aparece correndo com uma criança feliz pulando ao seu lado. Deve ter sido daqueles discos que o lojista recebeu lotes enormes, e acabou virando apoio de poltrona na casa. Por isso que mandou pro Fernando … Vou ouvir o Whyte Hart agora.

  4. É, o som do Whyte Hart é bem mais agradável de se ouvir. Não vi tantas influências progs assim, mas se eu ganhasse esse CD, ia ficar que nem pinto no lixo.

    1. Gostei principalmente da delicadeza de “Pidgeonwheel” e a linda guitarra de “Yearbook”. E PQP, “The California” é uma homenagem para Simon & Garfunkel?

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