Entrevista Exclusiva: Blackning
Por Fernando Bueno
O Blackning é uma banda de thrash metal formada em 2014 na cidade de Santo André/SP. Contando com músicos oriundos de bandas conhecidas e respeitadas do cenário nacional, se utiliza dessa experiência para alavancar sua carreira, que apesar de curta já rendeu bons frutos como shows por todo o Brasil além de dois álbuns Order of Chaos de 2014 e ALieNation lançado no final do primeiro semestre de 2016.
O trio é formado por Elvis Santos na bateria, Francisco Stanich no baixo e Cleber Orsioli vocal e guitarra. Peso e velocidade são a marca da banda que batalha muito para conseguir seu espaço. Nota-se que o grupo trabalha com afinco não só na parte musical, mas também capricha na produção visual, tem um site caprichado e cheio de informações, além da qualidade gráfica dos seus lançamentos. Eles são pioneiros na utilização de QR Code em seus encartes o que auxilia o fã a acompanhar letras e traduções.
Conversamos com Cleber Orsioli sobre os dois álbuns, as turnês nacionais que fizeram e o mercado nacional para o heavy metal. Acompanhem aí embaixo o resultado desse bate papo…
Olá Cleber, muito obrigado por atender a Consultoria do Rock.
Obrigado vocês pelo espaço tão gentilmente oferecido!
O segundo álbum, ALieNation, foi lançado há alguns meses. Como está sendo a repercussão dele tanto aqui quanto lá fora? Essa repercussão está sendo a esperada?
Está sendo melhor do que o esperado. No Brasil tivemos diversas resenhas, todas positivas, elogiando nosso novo trabalho. Na gringa saíram poucas resenhas porque o CD novo ainda não saiu por lá (pois não quisemos lançar pelo selo europeu anterior), mas logo menos teremos novidades. Mas de cara deu pra sacar que a galera curtiu e pegou a evolução da BLACKNING nesse 1 ano e meio entre cada lançamento.
Na página de vocês diz que vocês já fizeram duas turnês em nove estados diferentes. Qual é a principal dificuldade enfrentada nessas turnês e nesses shows?
Na verdade tocamos em uns 11 (ou 12) estados, se não me falha a memória, passando pelo Norte, Nordeste e Sudeste do país, o que para nós, tendo tão pouco tempo de banda, é muito gratificante. A principal dificuldade com certeza é fechar as datas com a melhor logística possível, conseguindo a melhor estrutura possível, de modo que consigamos passar nosso trabalho ao público da maneira que eles merecem.
Vocês lançaram dois clipes para músicas do primeiro álbum. Esses dois clipe juntos possuem cerca de 66 mil visualizações no Youtube. Qual é a importância do video clip para uma banda underground? Esse tipo de divulgação ainda é válida?
Com certeza. Há alguns anos atrás você poderia divulgar sua banda apenas com um link do soundcloud, reverbnation ou myspace mas o público rock está mudando, se tornando cada vez mais “visual” e menos “auditivo”, o que faz necessário um cuidado maior na finalização de tudo e um maior cuidado na divulgação. O fato de possuir clipe faz com a que a banda suba degraus e consiga maior visibilidade, entre tantas outras boas bandas na cena.
Existem planos para o lançamento de um video clip do segundo álbum, ALieNation?
Sim, inclusive o clipe já está na parte de edição, com previsão de lançamento ainda para esse semestre. O som que escolhemos como primeiro clipe desse novo álbum foi a faixa três, “Mechanical Minds”, e acredito que vai agradar a galera.
Vendo o cartaz da turnê fiquei sabendo que aquele show em Porto Velho foi o primeiro da turnê. Fiquei contente em saber que ouvimos o material novo em primeira mão. Vir aqui para o norte do país é quase como ir para o exterior, não é mesmo?
É e num é. O fato de ser no mesmo país, mesmo estando algumas horas de distância e uma ou mais escalas no trajeto, ajuda, em comparação com alguns países na América Latina. O fato de falarmos o mesmo idioma e termos cultura muito parecida faz com que nos sintamos em casa. Particularmente considero o Norte do país, atualmente, como a região com o melhor público da BLACKNING, a que mais curte os shows e a que mais adquire nossos materiais. Isso só fortalece nossa vontade de voltarmos aí sempre que possível. E por fim, o fato de começar a tour por Porto Velho foi ótima, até mesmo pela logística, e provavelmente irá se repetir mais vezes no futuro.
As apresentações da banda vem sendo muito elogiadas por fãs do Brasil todo. Existe a chance de documentar uma dessas apresentações e lançarem um DVD?
A idéia é exatamente essa. No nosso último show, aqui em São Paulo, capital, filmamos o show todo com diversas câmeras no intuito de lançarmos algo de qualidade ainda no ano que vem. Iremos continuar registrando para, quem sabe, termos nosso primeiro DVD com materiais que agreguem em nossa carreira. É só esperar que vem coisa bacana.
Pergunta de colecionador: algum outro formato em vista como LPs, compactos, singles, etc?
Estamos em contato com um selo paulista que lança exclusivamente títulos em Vinil, com esperança de prensagem dos dois álbuns para o ano que vem. Vamos torcer!
Qual é a história que vocês estão tentando criar com as capas dos discos? Essa mensagem está presentes nas suas letras?
A de uma Ordem que manipula a sociedade como um todo, forçando, mesmo sem que a sociedade perceba, a fazer o que é da vontade deles, mesmo que seja uma vontade nefasta. Tudo começou no primeiro álbum (ORDER OF CHAOS, de Dezembro/2014), onde a sociedade era simbolizada pelo bebê de colo, sendo segurada pela caveira, que simbolizada a Ordem. No ALieNation (álbum de Junho de 2016) demos prosseguimento, imaginando a sociedade evoluindo (agora uma criança) sobre “as asas” da Ordem, simbolizada pela mesma caveira, como se fosse uma mãe cuidando do seu filho e passando seus ensinamentos. A mensagem sobre manipulação, alienação, etc, está mais latente nesse nosso novo trabalho, que abrange temas como as citadas anteriormente. Queremos criar uma identidade, do som à parte gráfica.
Os componentes do Blackning vieram de outras bandas já conhecidas do metal nacional. Quais são os aspectos positivos dessas experiências anteriores que ajudam no desenvolvimento da carreira com o Blackning? Existe algum aspecto negativo?
Os aspectos positivos foi ter errado bastante nos anos que passamos com nossas ex-bandas e conseguir corrigir os mesmos, evitando assim passar novamente por isso com a BLACKNING, além de abrir portas com alguns organizadores e festivais pelo Brasil. O ponto negativo é de, mesmo se passado quase 3 anos após termos largado aquelas bandas, lançados dois álbuns e com duas turnês nacionais na bagagem, a galera na mídia continua a citar o passado, como se não tivéssemos história pra contar, o que não é verdade apesar do pouco tempo de banda. Entenderia se tivéssemos tocado em bandas de renome como Slayer ou Metallica, mas não é esse o caso. Para sacar o que estou dizendo, com a BLACKNING tocamos em alguns estados e cidades onde não passamos anteriormente com nossas respectivas ex-bandas e credito isso somente ao nosso esforço e correria, e não à algum passado que agregasse em nossa atual história. Espero que uma hora a galera desencane desse lance e enxergue apenas nosso trabalho atual.
A banda existe há pouco mais de 2 anos. Com esse tempo de trabalho, vocês ainda têm outros empregos ou já podem se manter com a banda?
Sim, nos viramos com podemos. Eu trabalho atualmente por conta, na parte de produção de eventos, produção de palco, booking de shows para outras bandas (e pra Blackning), além de gravar algumas bandas aqui da região. O Francisco Stanich trabalha com consultoria e o Elvis Santos trabalha na parte administrativa de uma multinacional. Todos ralamos muito para levantar grana para nossas coisas pessoais e para a banda, além de fazer de tudo para conseguirmos permanecer na estrada o máximo possível.
Não é um fenômeno apenas nacional, mas algumas bandas que surgiram mais recentemente fazem apologia ao metal “old school” em detrimento dos elementos modernos do metal. Qual é sua visão em relação à isso?
Acredito que cada banda deve fazer o que sentir honesto consigo mesmo, indiferente se soa old ou moderno. Curto tanto bandas que soam old school quanto bandas com pegada moderna, desde que soem bem aos meus ouvidos. E isso vai além do estilo. Vou curtir o trabalho se a música me soa bem, mesmo que não seja especificamente Thrash Metal. O que não pode haver é amarras na criatividade de cada artista.
Quais são as principais influências de vocês? Vocês concordam que o thrash metal do Blackning está mais para o modelo alemão que para o americano?
Na verdade eu não sei. Os três integrantes na banda têm gostos musicais em comum e outras coisas específicas que cada um ouve no seu dia a dia e acho que isso é o que nos faz soar um pouco mais rico do que algumas outras coisas por aí. Eu ouço thrash metal, death, extremo, heavy, hard, black, punk e hard core, e o fato de ouvir tanta coisa me faz ter um vocabulário musical mais vasto pra criar algo. Do thrash alemão curtimos bastante o Sodom, mas não os enxergo como nossa maior influência pois temos muitas influências na mesa.
Nos anos 80 era notória a diferença de qualidade de gravação dos discos do Brasil se comparados com a de outros países. Hoje em dia essa diferença praticamente não existe. Sabendo que não devemos nada pra ninguém em relação à qualidade dos músicos, qual é o próximo passo que o metal nacional deve tomar para ganhar cada vez mais o mercado mundial
Se internacionalizar e profissionalizar. E na real acredito sim que estamos passos atrás em relação aos músicos de fora. Eles estudam música desde criança, muitos não trabalham, podendo se dedicar exclusivamente a seu instrumento musical. No Brasil é diferente, tudo é mais difícil. Alguns pontos devem ser corrigidos para isso mudar. Por exemplo, as bandas brasileiras devem melhorar suas apresentações, escolher seu melhor repertório, ensaiar bastante, definir cada detalhe da performance, trabalhar o visual dos integrantes, o visual do palco, tentar deixar seu equipamento soando cada vez melhor, trabalhar sua imagem (da banda) na cena, divulgar seu trabalho para além de sua região, alastrar a banda para novos lugares, gravar trabalhos de qualidade (se dedicando mesmo nas composições e se colocando no lugar de quem vai consumir seu trabalho), lançar bons produtos por aqui, fazer contatos lá fora (gringa), ir com a cara e a coragem pra cima fechando datas e fazendo shows lá fora, até que consigam parceria para lançar algo por lá, conseguindo assim também uma exposição em novos lugares para, aí então, trabalhar os shows por lá, divulgar, trabalhar, tocar, etc, etc, etc. Parece muita coisa mas enquanto uma banda faz um a dois ensaios por semana, têm bandas ensaiando todos os dias. Enquanto tem banda fechando shows na sua cidade, tem outras fechando em outros estados, ou até mesmo em outros países. A galera das bandas têm de ter em mente que cada banda luta por um espaço na cena, tentando conseguir um lugar que bandas internacionais estão também indo atrás. Temos de trabalhar profissionalmente para conseguirmos nivelar o patamar e sermos comparados enfim apenas pela música, apesar de não considerar isso tudo uma competição, pelo contrário. Outra questão é a união, troca de contatos, etc. Dificilmente uma banda virará sozinha sem ajuda de ninguém, por isso acho fundamental que a cena se ajude mais, e faça a diferença. Poderia escrever um livro por aqui, mas acho que já deu pra sacar o ponto de vista (risos).
Parabéns pelo grande trabalho que vocês vêm fazendo. Agradeço demais a entrevista e toda a Consultoria do Rock deseja boa sorte para o Blackning. Pra finalizar deixo o espaço aberto para falarem com os nossos leitores.
Muito obrigado à você, Fernando, e à todos da Consultoria do Rock pelo espaço tão gentilmente cedido para nós. Sem palavras! Aproveito para deixar aqui o nosso convite para todos aqueles que se interessaram em nosso trabalho, para que acessem nossas páginas na web e acompanhem nossos corres por aí. Nos vemos na estrada!!! Tamo junto!!!!
www.blackning.com
www.blackningstore.com
www.soundcloud.com/blackning
www.youtube.com/blackningmetal
www.blackning.bandcamp.com
Bela entrevista Bueno. Uma ótima matéria para celebrar esta data tão importante para todos nós. Feliz aniversário meu caro. Que mantenhas a tradição de aumentares a tua coleção, e principalmente, que lembre dos amigos quando for se desfazer de alguma coisa dessa vasta coleção.
Coxinhas e empadinhas para ti!
Ótimo som deles e ótima entrevista, Fernando. Porém, apesar da banda ter negado parcialmente, concordo contigo que o som deles parece mais com o thrash europeu que o americano.
Fernando, ótima entrevista. Eu mesmo não conhecia a banda e não acompanho o mundo metal em geral, então é bacana saber sobre novidades. Vou ver se escuto a banda mais tarde 🙂