Cinco Discos Para Conhecer: Tommy Bolin
Por Mairon Machado
Da série “Gênios que nos deixaram cedo demais”, esse baita guitarrista só foi ter seu nome realmente reconhecido depois de sua morte, que completou 40 anos no último dia 04 de dezembro. Um braço fenomenal, com obras espetaculares, e que ficou mundialmente famoso por seu único e essencial trabalho com o Deep Purple, Come Taste the Band [1975], bem como por substituir nada mais nada menos que Joe Walsh no grupo James Gang, com quem gravou os também essenciais Bang [1973] e Miami [1974]. Esses álbuns são manjados em muita discografia de roqueiro mundo à fora, e por isso, muitos já conhecem. O que poucos sabem é que são álbuns de uma carreira muito maior, que passeou por diversos estilos principalmente antes de chegar ao Deep Purple.
Sendo assim, o Cinco Discos Para Conhecer de hoje traz algumas das principais e melhores obras de Bolin seja como guitarrista exclusivo ou como convidado, onde os fãs que admiram o trabalho desse incrível artista irão poder deleitar-se com suas marcantes passagens e levadas de guitarra.
Zephyr – Going Back to Colorado [1971]
O grupo americano foi a primeira empreitada grande de Bolin. Este é o segundo disco da banda do casal Givens (David e Candy) com Bolin, sendo um achado setentista, com um som bastante característico do final dos anos 60, início dos anos 70, marcado também pela contribuição de um trio vocal feminino em diversas canções. Temos inspirações southern em “The Radio Song”, contando com a importante participação de metais e Candy na harmônica, que também toca o instrumento no ótimo blues southern da faixa-título, onde podemos conferir o slide de Bolin com força, enquanto há presença flower power na delicada “At the Very Moment”, na viajante balada “Night Fades Softly”, com uma introdução maluquíssima, regada a saxofones e flautas alucinantes, instrumentos que também destacam-se em “Take My Love”. O casal divide os vocais na ótima “Miss Libertine”, que junto com “Keep Me”, nos permite conferir um pouco de Bolin ao violão. Como ele é o nome a ser exaltado nesse texto, ouça o que ele apresenta nas faixas que criou, com ótimos solos na embalada e pesada “Showbizzy”, as notas precisas da sensacional “I’ll Be Right Here” e principalmente na fantástica “See My People Come Together”, faixa excelente para sair pulando pela casa enquanto aprecia uma lisergia, com flautas arrepiantes e Bolin detonando em solos embasbacantes. Para mim, depois de Come Taste the Band, esse é o principal álbum com a presença de Bolin a ser ouvido para quem quer conhecer o artista, que na sequência, cansou do som do Zephyr e foi criar o Energy, inspirado nas obras de Miles Davis do final dos anos 60.
David Givens (baixo, vocais em 2), Candy Givens (vocais, piano e harmônica), Tommy Bolin (guitarra, guitarra steel, violão, violão de 12 cordas, vibes), John Faris (órgão, piano, saxofone, flauta, vocais em 8), Bobby Berge (bateria)
Participações especiais
Paul Conley – moog em 3
Eddy Kramer – piano, clavinete e percussão
Albertine Robinson, Eileen Gilbert e Tasha Thomas – vocais de apoio
Paul Fleisher – saxofone em 4
Buzzy Linhart – vocais em 4
Gerard “Ginger Face” McMahon – vocalizações
- Going Back to Colorado
- Miss Libertine
- Night Fades Softly
- The Radio Song
- See My People Come Together
- Showbizzy
- Keep Me
- Take My Love
- I’ll Be Right There
- At This Very Moment
Billy Cobham – Spectrum [1972]
Com apenas vinte e um anos, Bolin chamou a atenção do gigante baterista Billy Cobham através de sua nova banda, e logo foi convidado para participar do super grupo que ele estava montando para o registro de seu primeiro álbum solo. Com boa inspiração na Mahavishnu Orchestra (grupo que Cobham estava tocando ao mesmo momento da gravação desse disco), Spectrum é considerado uma das obras-primas do jazz fusion, e claro, isso se deve não só ao magistral talento de Cobham, mas também ao afiadíssimo estilo de tocar de Bolin, que não se intimidou em tocar ao lado de gigantes como o próprio Cobham, Jan Hammer e Lee Sklar, só para citar alguns. O guitarrista não aparece em todas as faixas, já que a dupla “Searching for the Right Door / Spectrum” é um momento para o solo de Cobham (a primeira) e o desfile de trompete de Jimmy Owens e do piano elétrico de Jan Hammer (a segunda), bem como a outra dupla, “To the Women in My Life / Le Lis”, é um espaço latino, destacando Cobham ao piano (a primeira) e um show de flauta, saxofone, moog e congas (a segunda). Mas quando Bolin surge, ele chama as atenções para si. Toda a ousadia do menino pode ser conferida logo de cara, na entusiasmante “Quadrant 4”, onde ele arranca uivos cheios de efeitos de sua guitarra. No decorrer do álbum, somos chapados pelo delicioso embalo de “Stratus”, cujo solo de Bolin é tão fascinante quanto a levada cadenciada de baixo e bateria mesclada com as apimentadas intervenções do piano elétrico de Hammer, nas notas marcadas da clássica “Taurian Matador”, uma das canções mais conhecidas de sua carreira, na qual ele faz um duelo épico e inacreditável com o moog de Jan Hammer, e em “Red Baron”, onde Bolin mostra-se ao natural, sem efeitos – com exceção de breves intervenções do slide – e solando de forma singela e com muitas influências do blues em suas escalas. Magnífico álbum, o qual deve estar na cabeceira de qualquer baterista e amante de música.
Billy Cobham (bateria), Jan Hammer (piano elétrico, moog, piano acústico), Tommy Bolin (guitarra em 1, 3, 4 e 6), Lee Sklar (baixo em 1, 3, 4 e 6), Joe Farrell (saxofone soprano, flauta em 2, Alto sax em 5), Jimmy Owens (flugelhorn em 2 e 5, trompete em 5), Ron Carter (baixo acústico em 2 e 5), Ray Barretto (congas em 2 e 5), John Tropea (guitarra em 5)
- Quadrant 4
- Searching for the Right Door / Spectrum
- Anxiety / Taurian Matador
- Stratus
- To the Women in My Life / Le Lis
- Snoopy’s Search / Red Baron
Alphonse Mouzon – Mind Transplant [1975]
Esse foi o Anno Mirabilis de Bolin. Nada mais que quatro grandes discos foram lançados com a guitarra de Bolin em 1975, sendo Mind Transplant um álbum fantástico de fusion e muita virtuose. O incrível baterista americano estava em seu terceiro disco, e além de apresentar sua voz na filhote da Sly Stone Family “Some of the Things People Do”, faz misérias em seu kit, Afinal, put@ que o pariu, o que é esta introdução de “Ascorbic Acid”?, na qual Mouzon, Bolin e todo o grupo soam como saídos de uma Mahavishnu Orchestra com muito mais velocidade, se é que é possível imaginar isso. Porém, Mouzon não pega as luzes todas para si, e faz com que os demais também brilhem à vontade. Assim, o baixão de Henry Davis destaca-se no swing de “Snow Bound”, Lee Tirenour mostra toda sua melodia à guitarra nos embalos de “Happiness is Loving You” e nosso homenageado é o nome principal durante o riffzão da faixa-título, na explosiva “Nitroglycerin”, faixa veloz e com mais um show de Mouzon, no endiabrado solo de “Carbon Dioxide” e principalmente, na linda “Golden Rainbows”, forte candidata a uma das melhores faixas da curta carreira de Bolin, onde ele toca magistralmente com a guitarra recheada de efeitos, fazendo as sequências de notas rápidas que ficaram marcadas na memória dos fãs do Deep Purple em Come Taste the Band, e acompanhado de delirantes pianos elétricos, sintetizadores e trovões. Um disco ímpar, para ser apreciado com muita atenção.
Alphonse Mouzon (bateria, vocais, sintetizadores, piano elétrico, órgão), Jerry Peters (órgão, piano elétrico), Tommy Bolin (guitarras), Lee Ritenour (guitarras), Jay Graydon (guitarras, programações) Henry Davis (baixo)
- Mind Transplant
- Snow Bound
- Carbon Dioxide
- Ascorbic Acid
- Happiness Is Loving You
- Some of the Things People Do
- Golden Rainbows
- Nitroglycerine
Tommy Bolin – Teaser [1975]
O álbum de estreia de Bolin é um dos grandes discos de sua carreira. Com a experiência de ter trabalhado ao lado de nomes gigantescos, o guitarrista traz diversas misturas de estilos para fazer qualquer fã cair de joelhos. As influências do funk e do soul surgem no embalo dançante da instrumental “Homeward Strut”, que poderia facilmente estar no álbum de Billy Cobham ou de Alphonse Mouzon, ou na elétrica e viajante “Marching Powder”, fácil candidata a melhor canção de Teaser. Seus famosos licks de slide estão presentes em todo o disco, surgindo com força na pesada “The Grind”, com direito aos backing vocals das “The Sniffettes”, e na grudenta faixa-título. Ainda temos espaço para a baladaça “Dreamer”, onde os vocais de Bolin são o grande destaque ao lado do piano de David Foster e do convidado Glenn Hughes no trecho final da faixa (não creditado oficialmente). A confiança de Bolin é tamanha que ele se permite exibir-se graciosamente no pseudo bolero sensualíssimo de “Savannah Woman”, faixa atiçadora para calcinhas voarem pelo quarto, e derreter velas na mais que comovente “Lotus”. Para quem gosta de reggae com percussão e saxofone, Bolin criou “People, People”, tendo participações especialíssimas de Jan Hammer e David Sanborn. O maior sucesso do álbum foi a baladaça “Wild Dogs”, que inclusive virou obrigatória no set list do Deep Purple durante a turnê de Come Taste the Band. Apenas ouça e encante-se com esse petardo.
Tommy Bolin (guitarras, vocais, sintetizadores)
Convidados:
The Sniffetes – backing vocals em 1
Stanley Sheldon – baixo em 1, 2, 3, 5, 6, 7
Jeff Porcaro – bateria em 1, 2, 3 e 5
David Foster – piano em 1, 2 e 3
Glenn Hughes – vocais em 3 (não creditado)
Paul Stallworth – baixo em 4, 8 e 9
Prairie Prince – bateria em 4 e 8
Phil Collins – percussão em 4
Jan Hammer – piano, bateria, sintetizadores e órgão em 6 e 7
Dave Sanborn – saxofone em 6 e 7
Saamy Figueroa – percussão em 6 e 7
Rafael Cruz – percusssão em 6 e 7
Narada Michael Walden – bateria em 7
Ron Frasen – piano em 9
Bob Berge – bateria em 9
- The Grind
- Homeward Strur
- Dreamer
- Savannah Woman
- Teaser
- People, People
- Marching Powder
- Wild Dogs
- Lotus
Moxy – Moxy [1975]
A estreia do grupo canadense é o que podemos definir como Clássico com C maiúsculo. Depois de uma longa turnê pela América do Norte, o quinteto assina com a Polydor Records para gravar seu debut de uma forma totalmente independente, ao mesmo tempo que não parava de fazer shows, gravando em qualquer estúdio que aparecesse quando sobrava tempo. Quando o Moxy passava pela Califórnia, na cidade de Van Nuys, eis que surge Bolin. Ele gravava Teaser no mesmo estúdio que o Moxy, e ofereceu seus trabalhos para o grupo. O resultado foi Moxy, ótimo disco que foi o início de uma noa fase para o hard rock, destacando as clássicas “Fantasy”, uma balada de tirar o fôlego, a paulada “Moon Rider“, em um belo duelo de Bolin e o guitarrista Earl Johnson, e “Train”, altíssima performance de Bolin desta que talvez seja a canção mais conhecida do álbum, junto com o hino “Can’t You See I’m a Star”. As influências em Led Zeppelin aparecem nos momentos acústicos de “Sail On Sail Away” ou no hard rasgado de “Out of Darkness (Into the Fire)”. O riff de “Time to Move On” pode ser confundido com os riffs de Blackmore na Mark II do Deep Purple, e “Still I Wonder” é responsável pelo melhor solo de guitarra que Bolin registrou em Moxy. Quando estava prestes a ser oficializado como guitarrista oficial do grupo canadense, Bolin foi chamado para substituir Blackmore no Deep Purple, e definitivamente, colocar seu nome na história como um dos maiores guitarristas de todos os tempos:
Buzz Shearman (vocais), Tommy Bolin (guitarras), Earl Johnson (guitarras), Bill Wade (baixo) e Terry Juric (baixo)
Participação especial:
Tom Stephenson: Piano em 1.
Buddy Caine (guitarras, creditado na capa, mas não participou do álbum)
- Fantasy
- Sail on Sail Away
- Can’t You See I’m a Star
- Moon Rider
- Time to Move On
- Still I Wonder
- Train
- Out of the Darkness
Desses, só conhecia o Spectrum, que é fantástico. Há tempo que eu fiquei de ouvir Teaser e não animei ainda. Bela matéria, Mairão.
Valeu Ulisses. Como você curte o Spectrum, ouça e detone seus ouvidos sem piedade com Mind Transplant. A faixa de abertura é uma ode tão espetacular quanto a vista do alto do Corcovado!!
A faixa título de Teaser foi regravada pelo Motley Crue em uma coletânea e a versão ficou ótima.
Tommy era um guitarrista completo e a frente do seu tempo, mesclava as escalas pententativas, as harmónicas e as tríades como ninguém. Com isso seu som tinha uma identidade própria, que quem conhece o identifica na hora. Seu estilo era camaleônico, hora jazz, funk, hard, blues, folk e assim por diante. Usava as vezes afinação própria, meio tom acima ou abaixo, cordas bem acima dos trastes para o slide sobressair, efeitos exagerados como o Delay dobrado ( Camera de eco ) , como na música ” Coming Home ” e muito usado em sua época de James Gang, fuzz avassalador, Marshall gritando e super saturado, esse era Tommy Bolim
Parabéns Mairon. Excelente resenha dos discos. Devido aos seus comentários, estou atrás dos discos para ouvir. E o que achou do Fear, do Marilion?
Como o próprio nome diz: MEDO!!
Eu já achei o disco bem interessante. Não consegui ouvir muito ainda, mas me parece um bom disco
Puta que pariu. Que belo resgate. Penso no que esse camarada poderia ter feito se não tivesse morrido tão cedo. 25 anos, tocou com Billy Cobham, substituiu Blackmore, sem jamais tentar copia-lo. Enfim, um cara que já tocou com Jon McLaughlin, não vai convidar qualquer um pra tocar em seu disco. Teaser é muito bom. Se não estivesse bêbado falaria mais, mas pra isso serve os consultores haha. Deixa eu botar Quadrant 4 pra rodar. Sem mais…
Esse ano Glenn Hughes tocou num pub aqui em Floripa e, pela primeira vez, consegui juntar uns trocados pra ir ver o cara. A poucos metros do palco, eis que no meio do show o cara fala algumas palavras a respeito de um tal de Tommy Bolin e manda You Keep On Moving. Cara, não acreditei. Não sei se é de costume ele cantar músicas da mark IV, mas quando ele mandou esse som eu simplesmente pirei, jamais imaginei que um dia ouviria esse som, ao vivo, executado com maestria por um daqueles caras que fizeram parte daquela formação. Sensacional.
Então meu caro Luiz, no show do ano passado, em Porto Alegre, ele não tocou nada do Come Taste the Band, mas mandou ver em Burn, Stormbringer e Mistreated (a qual, honestamente, ficou uma baita música só com ele no vocal).
Mas vez que outra ele toca Gettin Tigher.
Abração, e se quiser conferir a resenha do show do ano passado, tá aqui
https://consultoriadorock.com/2015/08/25/review-exclusivo-glenn-hughes-porto-alegre-18-de-agosto-de-2015/
Grande guitarrista, que, a despeito do curto período de vida, conseguiu criar uma obra marcante. Espero matérias afins de outros não menos geniais guitarristas, como Rory Gallagher, Paul Kossoff, Jukka Tolonen, Glenn Schwartz, etc.
Tb espero Francisco. Abraços
Eta cabra bom! mas o pecado dessa lista foi não ter o Bang, o melhor disco do James Gang, na qual não sou o Bollin arrebentou como guitarrista mas também como compositor. Cara chegou bancando todas na banda – recém ingresso, compôs a maioria das faixas. Era um cara muito especial mesmo!
Pois é Ronaldo, mas é que esse é manjado. Quis pegar os mais desconhecidos mesmo. Mas já comentei sobre o Bang aqui
https://consultoriadorock.com/2016/04/17/discografias-comentadas-james-gang-parte-ii/
Abraços
entendi, meu caro!
Foi uma boa estrategia pra apresentar esse herói da guitarra além do óbvio.
Abraço!
O album solo de Bolin “Teaser” de 1975, ja escutei em digital. Glenn Hughes faz Backing vocals numa faixa. So que o guitarrita ja estava no Deep Purple. O primeiro album do Zephyr de 1969, ainda é desconhecido aqui no Brasil!! – marcio “osbourne” silva de almeida – joinville/sc