Discografias Comentadas: Madonna – Parte II

Discografias Comentadas: Madonna – Parte II

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Por Mairon Machado

Depois de resgatar sua imagem com Bedtime Stories e Something to Remember, Madonna aventura-se novamente como atriz principal no cinema, interpretando a primeira dama argentina Eva Perón no filme Evita. Baseado no musical de mesmo nome, escrito por Andrew Lloyd Weber e Tim Rice, o filme dirigido por Alan Parker e escrito por Oliver Stone recebeu críticas positivas, arrecadando mais de 140 milhões de dólares ao redor do mundo, e recebendo também muitos prêmios, principalmente com Madonna ganhando o prêmio de melhor atriz na premiação do Globo de Ouro, sendo que o papel foi conquistado por Madonna após enviar uma carta para Parker afirmando que ela deveria ser a escolhida para o papel. Do filme, saiu a trilha homônima, e assim começamos nossa segunda parte da Discografia de Madonna.



300x300Evita – The Complete Motion Picture Music Soundtrack  [1996]

Como toda trilha sonora, há altos e baixos em Evita, mas no geral, não é um disco descartável, apesar de sua longa duração. Entre as trinta e uma faixas do disco, há momentos surpreendentes, como a interessante interpretação de Antonio Banderas (ele mesmo) soltando a voz em “Oh What a Circus”, a primeira aparição de Madonna no álbum, resgatando frases de “Don’t Cry for Me Argentina”, amanteigando ouvidos na balada “High Flying, Adored” e brilhando na intrincada “And the Money Kept Rolling In (and Out)” e no rockzão “The Lady’s Got Potential“, faixa para deixarem as fãs do ator e aqueles que menosprezam um artista de cinema como vocalista de boca aberta, pois o que ele canta não deve em nada aos grandes vocalistas do rock em geral. Destaques também para a bela instrumental “Requiem for Evita”. O disco também tem a participação de Jimmy Nail no tango “On This Night of a Thousand Stars” e abrindo “Charity Concert / The Art of the Possible”. Das diversas faixas cantadas por Madonna, destacam-se a suave “Another Suitcase in Another Hall”, a mezzo disco mezzo ópera “Rainbow High”, o single “You Must Love Me“, vencedor do Oscar de Melhor Canção Original, e o longo e conflitante épico “A New Argentina”, cantado ao lado de Jonathan Pryce e com a participação de Banderas, além de arrepiantes solos de guitarra mesclados com vocalizações poderosas e orquestrações arrepiantes. Claro, Evita ficou marcado pela emocionante interpretação de Madonna para “Don’t Cry for Me Argentina“, uma faixa emblemática que tornou-se um dos símbolos da peça, interpretada originalmente por Julie Covington, e que com Madonna ganhou o mundo. Porém, não compre a trilha achando que todas as faixas são similares a este clássico. O que ouvimos são vários gêneros musicais que representam muito bem os grandes musicais da Broadway, sendo altamente recomendável para quem curte algo do estilo. O álbum aqui retratado é a versão dupla, mas também foi lançada uma versão simples, chamada Music from the Motion Picture, que contém apenas as principais canções do filme. A trilhae atingiu a incrível segunda posição na Billboard, sendo um sucesso nos Estados Unidos, onde recebeu platina quíntupla, e até o momento, já vendeu mais de 12 milhões de cópias ao redor do mundo.

Nesse meio-tempo, Madonna envolveu-se com o preparador físico Carlos Leon, o qual tornou-se o pai da primeira filha de Madonna, Lourdes Maria Ciccone Leon, nascida em 14 de outubro de 1996. O nascimento da filha faz com que Madonna apaixone-se pela Cabala, e isso acaba influenciando direto no seu sétimo álbum.


03 Ray of LightRay of Light [1998]

Navegando na onda do sucesso de uma nova fase, Madonna resolve fazer mais experimentações, e assim, cria uma de suas obras primas pós-Like a Prayer.  Ninguém esperava com o que a rainha do pop poderia sair depois do que tinha apresentado nos anos 90, e ela explodiu com Ray of Light, levado pela sua conversão à Cabala, que acaba influenciando na letra de “Shanti/Ashtangi”, mas principalmente pela parceria com William Orbit, o mago das composições eletrônicos. O resultado é um acúmulo seminal de pérolas lindas, intimistas e dançantes como “Nothing Really Matters”, “The Power of Good-Bye” e “Sky Fits Heaven”, ou envolventes e viajantes como em “Swim”, sensacional riff de guitarra levado pelas batidas eletrônicas, as experimentações sonoras em “Little Star”, “Skin”, maluca faixa que pula de uma mistura eletrônica para um ritmo envenenado,  e “To Have and Not to Hold”, delicada peça musical onde Madonna aproveita para experimentar técnicas vocais que seriam impossíveis de serem ouvidas nos anos 80. O uso de samplers é feito na ótima “Drowned World/Substitute for Love” (com “Why I Follow the Tigers” – San Sebastian Strings), faixa suave e boa para relaxar, e “Mer Girl” (contendo trechos de “Space” – Gábor Szabó), abusando de passagens espacias e sintetizadas. O ritmo grudento de “Candy Perfume Girl”, despejando guitarras destorcidas entre batidas do hip hop, contrasta com os maiores sucessos, que foram “Ray of Light” e “Frozen”, as quais tocaram insanamente em tudo que é lugar, e, particularmente, prefiro a segunda que a primeira, já que considero a faixa-título muito gritada, apesar de admitir que é uma ótima faixa. O problema é que “Frozen” é arrepiante do início ao fim. O que Madonna faz nessa canção, acompanhada pelos sintetizadores e eletrônicos, é de tirar o chapéu, e se fazer pensar como o pop tem canções que realmente são capazes de marcar seu corpo e sua mente, deixando as vocalizações por algumas horas girando na sua cabeça. De qualquer forma, elas apresentaram a vovó Madonna para uma geração que só conhecia Britney Spears, Backstreet Boys, Christina Aguilera, Spice Girls e outras boy & girl bands. O single de “Frozen” fez Madonna conseguir mais um recorde, o de artista com mais singles em segundo lugar no Hot 100 da Billboard, enquanto Ray of Light também foi um estrondoso sucesso de vendas, alcançando a primeira posição em 17 países e tendo hoje superado a marca de 24 milhões de cópias em todo o mundo, sendo que foi eleito um dos 500 Melhores Álbuns de Todos os Tempos pela tradicional Rolling Stone.

Em 1998, a cantora separou-se de Leon, e lançou o single “Beautiful Stranger“, composta para o filme Austin Powers: O Agente Bond Cama, o qual ganhou o Grammy de “Melhor canção feita para o cinema, televisão ou outro meio visual”. Em 1999, sai a coletânea de clipes The Video Collection 93:99, apenas com os clipes lançados desde Erotica. Depois de uma merecida pausa, participa do filme Sobrou Para Você (2000), para o qual contribui com as inéditas “Time Stood Still” e “American Pie”, essa última um cover do clássico de Don McLean.


musicMusic [2000]

Considero esse o disco mais fraco da carreira de Madonna. O álbum foi feito em colaboração com o produtor francês Mirwais Ahmadzaï, e nele há um abuso de elementos de dance e electromusic, bem como tímidas experimentações de mesclas desses estilos com o country (“Don’t Tell Me”), e o rock (“Runaway Lover“), o que torna Music muito mais uma rave particular de Madonna do que algo que agrade os fãs antigos. Porém, os jovens do vindouro século XXI adoraram. Um destaque inicial que precisa ser dado é que pela primeira vez, Madonna arriscou-se a tocar um instrumento em seu álbum, no caso violão e guitarra, e até que ela fez um serviço decente em “Nobody’s Perfect”, balada simples cujo violão, mesmo que sem firulas, é a principal atração, e na ótima “Gone“, com certeza a melhor faixa de Music em disparado, com pouquíssimos elementos eletrônicos e privilegiando a voz e o violão. Não temos faixas longas, com exceção da densa e arrastada “Paradise (Not for Me)”, uma faixa bastante diferente das demais do álbum, muito introspectiva e com o uso de vocais destorcidos, e ainda frases sussurradas em francês. As demais giram entre três e quatro minutos, o que acaba em um álbum relativamente curto, com pouco mais de 40 minutos. Tendo isso em mente, se você quiser fazer uma festa rave pode colocar sem medo “Impressive Instant”, a faixa-título, “Amazing” ou  que o pessoal até irá dançar, mas não ficará com nenhuma lembrança marcante pós-audição, sendo este o principal problema de Music, a falta de um tema, refrão ou melodia marcante em praticamente todas as canções. As exceções ficam para a linda “I Deserve It”, comandada por um singelo violão e que poderia facilmente estar em um álbum de Lana del Rey, por exemplo, ou a levada dançante, mas agradável, de “What It Feels Like for a Girl”, cujo clipe ficou marcado por apresentar Madonna cometendo uma série de assassinatos, fazendo com que ele fosse proibido pelos canais de clipes MTV e VH1. O grande sucesso do disco foi “Music“, décimo-segundo e último single de Madonna a chegar no topo da Billboard, em uma música que honestamente não me causa grandes sensações. “American Pie” acabou entrando como bônus nas versões lançadas fora dos Estados Unidos, e com certeza, para quem adquire essa versão, a cover de Don McLean é a melhor faixa de um álbum muito irregular. Com mais de quinze milhões de copias vendidas até o momento, Music atingiu a primeira posição em 23 países, sendo que vendeu quatro milhões de cópias apenas nos primeiros dez dias. Platina quíntupla no Reino Unido e tripla nos Estados Unidos, foi o primeiro disco número na parada da Billboard desde Like a Prayer, e assim como seu antecessor, foi eleito um dos 500 Melhores Álbuns de Todos os Tempos pela tradicional Rolling Stone, o que acho um exagero.

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Madonna, Guy Ritchie, Rocco e Lourdes

Com o álbum, veio a primeira turnê de Madonna depois de 8 anos. A Drowned World Tour, registrado no DVD  Drowned World Tour 2001. Ainda em 2000, no dia 11 de agosto, Madonna deu à luz seu segundo filho, Rocco Ritchie, filho do cineasta Guy Ritchie, o qual casou-se com Madonna em dezembro daquele ano. Veio a coletânea GHV2 (2001), com sucessos a partir de Erotica, a participação no filme Destino Insólito (um grande fracasso de bilheteria), lançado em 2002, mesmo ano do lançamento da canção “Die Another Day“, explicitamente carregada de eletrônicos e que fez parte da trilha do filme homônimo de James Bond, no qual Madonna faz uma participação especial, mais um grande sucesso da americana.


americanlifeAmerican Life [2003]

Novamente em colaboração com Ahmadzaï, esse é o primeiro álbum conceitual de Madonna, com temas referentes ao sonho americano e ao materialismo. Há muitas experimentações em todo o disco, como a inclusão do rap na faixa-título, o hip hop em “Mother and Father”, e também um espaço maior para faixas com elementos acústicos, principalmente o violão, o qual surge com destaque em “Nothing Fails”, no clássico “Hollywood“, a qual une com propriedade violões e batidas dance, e na linda “X-Static Process”, onde Madonna desfila sua voz acompanhada exclusivamente de um empolgante dedilhado de violão e vocalizações, bem como fazendo a base para canções acessíveis e gostosas de se ouvir, as quais são “Love Profusion”, “Intervention” e principalmente “Easy Ride“, a obra prima que Madonna construiu nesse disco, que só por ela já vale a aquisição do álbum (as inserções de orquestra são de arrepiar). O clima rave tem presença em “Nobody Knows Me”, enquanto “I’m so Stupid” possui um clima leve, regado a alguns eletrônicos, mas com uma letra pesada criticando algumas posturas americanas. Temos ainda a inclusão de “Die Another Day”. O clipe original de “American Life” acabou banido das TVs americanas por mostrar cenas de guerra e Madonna literalmente destruindo com o “sonho americano” em uma passarela de moda (até um sósia de George W. Bush filho aparece no clipe). Apesar das letras terem um teor maduro e reflexivo, e das músicas terem melodias amenas, musicalmente não vingou, apesar de que eu gosto bastante desse disco – principalmente em relação a Music e aos álbuns mais recentes. American Life conquistou a primeira posição em vendas em 14 países, mas com “apenas” cinco milhões de cópias vendidas, é ao lado de Erotica o álbum da cantora que menos vendeu.

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Madonna passando o rodo em Britney Spears e Christina Aguilera

Na promoção de American Life ocorreu o famoso beijo entre Madonna, Britney Spears e Christina Aguilera, durante a apresentação de “Like a Virgin / Hollywood” no MTV Video Music Awards de 2003. Essa apresentação entrou na coletânea Remixed & Revisited (2003), que também traz versões mixadas para “Nothing Fails”, “Love Profusion”, “Nobody Knows Me”, “American Life”, “Into the Hollywood Groove” e a inédita “Your Honesty”, a qual ficou de fora do álbum Bedtime Stories.Vale lembrar que em 2003, Madonna participou da canção “Me Against the Music“, registrada por Britney no álbum In the Zone.

Buscando mais recordes, ainda em 2003 a cantora lança seu primeiro livro infantil, The English Roses, que se tornou o livro infantil de venda mais rápida de todos os tempos. Depois, houve uma série de lançamentos em cima desse nome. A turnê de American Life, batizada Re-Invention World Tour, foi registrada no documentário I’m Going to Tell You a Secret (2004), culminando com o lançamento do primeiro álbum ao vivo de Madonna, também com o mesmo nome, já em 2006.


09 Confessions on a DancefloorConfessions on a Dance Floor [2005]

Esse álbum ficou conhecido como “O álbum que alcançou o topo das paradas em mais países”, totalizando quarenta países (mais uma vez a cantora entrava para o Livro dos Recordes) e veio descarregar pop eletrônico e resgatar a onda disco com altíssimo nível, marcando a primeira década do século XXI e fazendo muito “jovem” da geração Coca-Cola voltar a pisar em uma pista de danças. É impossível ficar parado ao longo de sua quase uma hora de duração, pois o que Madonna apresenta são canções para chacoalhar com o corpo, gravadas uma atrás da outra, sem intervalos, como se um DJ estivesse executando as canções. Só por “Hung Up” (resgatando o riff de “Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight)”, do ABBA), a sensualidade de “Like It Or Not”, e os embalos de “Jump” e “Sorry”, mais um clássico para a carreira da americana, na qual ela pede desculpas em várias línguas (francês, italiano, espanhol, alemão, japonês, polaco, hindu e hebreu), este disco já é um dos melhores dos últimos 15 anos, com seus ritmos dançantes que mostram como os anos 1980 teve seus ótimos momentos. Mas ainda temos o embalo de “Get Together”, as vozes espaciais de “Forbidden Love” (não confundir com a canção de mesmo nome, de Bedtime Stories), a viajante “Isaac”, com seu clima oriental impregnado pela voz de Yitzhak Sinwani entoando o poema “Im Nin’alu”, de Yemenite Hebrew, e os eletrônicos hipnóticos de “Future Lovers” e “Let It Will Be”, com cordas na introdução lembrando “Papa don’t Preach”, e a grudenta “Push”. “How High” me lembra um pouco de Depeche Mode, fase Violator, e o maior destaque do álbum é a grandiosa “I Love New York”, que fará muito roqueiros se jogarem no milho temendo o pecado de gostar de Madonna, com um ritmo hipnotizador, e que fez Madonna mostrar um pouco do seu talento com a guitarra. Algumas versões contém como bônus ou “Fighting Spirit” ou “Super Pop”, e a versão japonesa ainda tem como bônus um DVD com os clipes de “Hung Up” e “Sorry“, bem como o behind the scenes dos mesmos. O álbum entrou na lista de Melhores de 2005, o que já quer dizer muito para uma artista como Madonna. O single de “Hung Up” atingiu a primeira posição em 41 países (!), outra marca exclusiva de Madonna. Os singles de “Sorry”, “Get Together” e “Jump” pulularam nos Top 10 de diversos países, com “Sorry” atingindo a primeira posição no Reino Unido, enquanto Confessions on a Dance Floor já superou a marca de 13 milhões de cópias vendidas ao redor do mundo. O álbum recebeu um lançamento no formato de remixes, Confessions Remixed, e a versão em LP é em luxuosa cor rosa.

A turnê trouxe polêmica por conta de “Live to Tell” com Madonna crucificada no palco, e ainda um show de pole dance de uma veterana Madonna durante “Like a Virgin”, colocando muita menininha no chinelo. Se você quer conferir essa performance, a turnê foi registrada no CD e DVD The Confessions Tour, obrigatório para os fãs da cantora. Ainda em 2007, ao lado de Pharrel Williams, Madonna interpretou a linda balada “Hey You” durante o evento Live Earth, canção esta que foi lançada como single no formato digital, e não saiu em nenhum álbum oficial.


hard-candy-coverHard Candy [2008]

Encerrando o contrato com a Warner Bros., aqui começa uma sequência de álbuns menos populares. Madonna uniu forças com nomes do rap que estavam em voga, os quais foram o novato Pharrell Williams (aquele mesmo, da hoje clássica “Happy”, na época em parceria com Chad Hugo no The Neptunes), o polêmico Kanye West e também com o estrelado Justin Timberlake, e trouxe para os fãs um álbum que se afasta do eletrônico chocante de seu sucessor, sendo mais ligado a ritmos e batidas mais cruas. Pharrel co-escreveu sete das doze canções do álbum, as quais são “Candy Shop”, empregando elementos de hip hop, trip hop e bongôs, além da voz marcante de Pharrel, “Heartbeat”, cujos sintetizadores parecem saídos de um álbum do Pet Shop Boys, mas cujos vocais de Madonna desfazem essa nostalgia oitentista, “Incredible”, com pinceladas de pianos elétricos e sintetizadores, além de vocais rappers por Madonna (um amigo meu disse com convicção que era Angélica quando ouviu pela primeira vez), e numa das poucas que se escapa, a animada “Give It 2 Me“, que relembra os melhores momentos de Confessions on a Dance Floor. Por outro lado, cria uma obra sensacional, batizada “She’s Not Me“, com um baixão swingado e uma levada de guitarra dançante, misturados com teclados encaixados perfeitamente, que nos fazem imaginar uma pista disco tocando canções da Motown (Pharrell também coloca sua voz brevemente nessa faixa), e também a bela “Spanish Lesson“, onde a mistura de violão flamenco e ritmos eletrônicos é sensacional. Com Kanye West, solta “Beat Goes On”, que é salva pela boa interpretação vocal de Madonna e pelo ótimo dueto vocal dela com Pharrell durante o refrão, mas não curto os vocais do rapper no final da canção. Já Timberlake está presente nas cinco demais, as quais são a clássica “4 Minutes“, um hip hopzão embalado pelos vocais de Timothy Zachery “Timbaland” Mosley, com excesso de sintetizadores, dividindo os vocais com Madonna em “Dance 2Night”, que como o nome diz, é feita para dançar, principalmente pelo ótimo instrumental, e “Miles Away”, faixa originalmente gravada para o programa Change, da Fuji Television Japanese, ritmada pelo violão e batidas percussivas, concorrente com “Give It 2 Me” ao posto de melhor de Hard Candy. Ele também cria “Devil Wouldn’t Recognize You”, que se tornou xodó dos fãs, apesar de não achar ela tudo isso, e “Voices”, canção totalmente descartável. Dos três singles, “4 Minutes”, “Give It 2 Me” e “Miles Away”, apenas “4 Minutes” teve relativo sucesso. Um fato interessante é que aqui no Brasil, “4 Minutes”, “Give It 2 Me”, “Heartbeat”, “Beat Goes On” e “Candy Shop” foram certificadas como platina, por terem vendido mais de 100 mil downloads, algo inédito para uma cantora internacional em nosso país até então. O álbum estreou na primeira posição em 37 países, mas com o passar dos anos, ainda não atingiu a marca de 5 milhões de cópias vendidas em todo o mundo.

A turnê de promoção do álbum, The Sticky & Sweet Tour, trouxe mais alguns recordes para Madonna. Foi a turnê mais lucrativa de um artista solo (estimado em 450 milhões de dólares), superando a própria turnê de Madonna, na Confessions Tour, que tinha atingido a já incrível marca de 230 milhões de dólares, além de ter sido apresentada em 32 países (Brasil inclusive, com shows no Rio de Janeiro e São Paulo, e quando ela começa um relacionamento com o modelo Jesus Luz) para quase 4 milhões de pessoas. Em 2009 sai a coletânea Celebration, assim como o DVD Celebration: The Video Collection, abrangendo toda a carreira da americana. O álbum ainda traz três canções inéditas: “Celebration“, “Revolver” (incluída somente nas versões DELUXE) e “It’s So Cool”, incluída como bônus na versão digital DELUXE. Também estava previsto o lançamento de “Broken”, faixa que acabou vindo ao mundo somente em 2012, em um vinil lançado de forma promocional para o fã-clube oficial da cantora. Em 2010, os fãs da América do Sul puderam celebrar Sticky & Sweet Tour, álbum e DVD lançado mundialmente, com o show da cantora em Buenos Aires


mdna-coverMDNA [2012]

Voltando com tudo à eletrônica, Madonna surpreendeu à todos com MDNA, para muitos o pior álbum de sua carreira, o que considero um exagero. As diversas parcerias com William Orbit e nomes de menor porte, como Alle Benassi, Benny Benassi, Demolition Crew, Free School, Michael Malih, Indiigo e Martin Solveig, não surte efeito tão empolgante quanto Confessions on a Dance Floor, e poucos são os momentos marcantes do disco, sendo que recomendo fortemente que fuja de “Gang Bang”, a qual funcionava apenas ao vivo, e principalmente de “Some Girls”, provavelmente a pior música que ela já gravou. Apesar de “Girls Gone Wild“, “Give Me All Your Luvin'” (com a participação de Nicki Minaj e M.I.A.), “Superstars” e “Masterpiece” terem feito sucesso, apenas a última realmente me agrada, principalmente pela participação do violão, cordas e ótimas vocalizações. Nick Minaj também mostra sua voz na rapper “I don’t Give A”, que não diz para que veio. “Love Spent” não fede nem cheira entre as 12 faixas do disco, a maioria com pouco menos de quatro minutos. Como positivo, salvo as inspirações synthpop de “I’m Addicted”, que podia estar em algum álbum do Depeche Mode, a bela e viajante balada “Falling Free“, onde a interpretação de Madonna já vale a aquisição do disco pelos fãs, o ritmo carimbado de “I’m a Sinner” e a ótima “Turn Up the Radio”, com certeza a melhor faixa de MDNA. A versão DELUXE ainda trouxe os bônus “Beautiful Killer”, “I Fucked Up”, “B-Day Song”,  “Best Friend” e “Give Me All Your Luvin'” (Party Rock Remix), e que pouco acrescentam ao contexto geral do álbum, que vendeu pouco até o momento (pouco mais de dois milhões de cópias), e conquistou primeira posição em 18 países.

A MDNA Tour, registrada no CD e DVD MDNA World Tour (2013), trouxe a americana novamente ao Brasil, com shows em Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Vale lembrar que um ano antes, a cantora apresentou-se no intervalo do Super Bowl, chamando a atenção de todo o mundo com uma performance incendiária, onde apresentou “Give Me All Your Luvin'” (com Nicki Minaj e M.I.A. vestidas como líderes de torcida), e um medley com “Vogue”, “Music”, “Open Your Heart” e “Express Yourself”, além de “Like a Prayer”. Ainda em 2012, o lançamento do box The Complete Studio Albums (1983 – 2008) trouxe mais um recorde para a cantora, sendo ela a primeira artista mulher a ter dois álbuns ao mesmo tempo no Top 10 das paradas nipônicas (MDNA e o citado box). Em 2013 lança o curta-metragem secretprojectrevolution, dirigido por ela e Steven Klein, e que deu origem para uma iniciativa global chamada Art for Freedom, com a finalidade de promover a liberdade de expressão.


madonna-rebel-heartRebel Heart [2015]

Fechando a discografia de Madonna até o presente momento, seu último lançamento ocorreu no ano passado. Rebel Heart traz parcerias com Diplo e Kanye West, ou seja, a nata do rap norte-americano, bem como o mestre da música eletrônica e do house, Avicii. A faixa de abertura, “Living for Love“, se tornou o grande sucesso do álbum, principalmente por conta de sua levada e a presença de vocais gospel que nos remetem a “Like a Prayer”, mas há mais boas faixas nesse disco. Gosto das batidas aceleradas de “Body Shop”, e da balada pop “Ghosttown“, uma pequena aula para Lady Gaga de como se cantar um pop com estilo. Como não se encantar com a emotiva levada de “Devil Pray”, cuja melodia vocal de Madonna parece ter saído dos mais lúgubres cânticos flower-power, com os vocais harmonizados de “HeartbreakCity” ou com a singela beleza de “Joan of Arc“? Madonna faz dupla novamente com Nicki Minaj, na ótima “Bitch I’m Madonna”, bem como surpreende com a parceria com Mike Tyson (ele mesmo!) em “Iconic”, faixa simples onde Tyson faz as falas iniciais, e que temos também a presença do cantor Chance the Rapper em um breve rap no final da faixa. Falando em rap, Madonna solta a voz nesse estilo durante “Illuminati”, e exagera nos eletrônicos durante “Wash All Over Me”. Por outro lado, nos remete aos bons tempos de Bedtime Stories em “Hold Tight” e “Inside Out”. Além disso, temos uma espécie de reggae mesclado com pop em “Unapologetic Bitch” e a estranha eletrônica “Holy Water“, uma ode a cunilíngua (sexo oral na mulher) com Madonna associando os fluídos vaginais com a água sagrada, ambas faixas musicalmente esquecíveis. Pouco menos de um ano depois de lançamento, Rebel Heart atingiu a marca de um milhão de cópias vendidas, tendo conquistado a primeira posição em vendas em mais de doze países, mas curiosamente, não no Reino Unido e nos Estados Unidos, fato raríssimo dentre os discos de Madonna. Para os fãs, fica a dica de ir atrás da versão SUPER DELUXE, a qual traz canções que ficaram de fora do álbum (“Best Night”, “Veni Vidi Vici”, “S.E.X.”, “Messiah” e “Rebel Heart”), e que haviam vazado junto com diversas outras faixas, de forma ilegal, fazendo com que Rebel Heart tivesse seu lançamento antecipado em alguns meses, e que são faixas tão boas quanto as que entraram na versão final.

A partir de setembro de 2015, começou a Rebel Heart Tour, que terminou em março de 2016, com shows pela Austrália (primeira apresentação dela naquele país em 23 anos), Ásia, Europa e América do Norte. Ao mesmo tempo, Madonna passou por problemas com Ritchie, por conta de uma batalha judicial pela guarda de Rocco, já que o menino queria viver com o pai na Inglaterra. O resultado foi um acordo entre ambos, com guarda compartilhada e Rocco podendo viver com quem quisesse. Mais uma pequena polêmica na carreira de uma artista incrível, que deixou seu legado para a história da arte com mais de três centenas de milhões de discos vendidos, filmes clássicos, superou preconceitos, shows e turnês arrebatadoras e extremamente lucrativas, recordes quebrados como pratos em um dia de fúria, mas principalmente, um talento raro em todo o pop mundial.

Uma das maiores artistas da história da música

24 comentários sobre “Discografias Comentadas: Madonna – Parte II

  1. A versão mais moderna do musical Evita (originalmente de 1976) com Madonna fazendo o papel principal (trilha sonora e filme) é das coisas mais lindas que eu pude presenciar, ressaltando que o cérebro por trás deste musical foi o grande compositor inglês Andrew Lloyd Webber, que também ganhou um tributo do pianista Richard Clayderman (cês sabem do quanto que eu gosto dele), dedicando-lhe um álbum com 12 dos melhores temas dos musicais eternos que ele compôs, dos quais Evita está presente.

  2. Essa segunda parte infelizmente reserva algumas bombas incríveis, ao mesmo tempo que tem o meu disco favorito dela (Ray of Light).

    O Rebel Heart até cheguei a escrever uma resenha sobre ele quando ainda tinha um blog, e na época eu não fui nada complacente com o disco. Fraco, umas músicas mal montadas, a voz da Madonna cheia de efeitos desnecessários em muitas das músicas. MDNA eu mal lembro de algo pra falar alguma coisa e o Hard Candy é disparado a pior coisa que ela já gravou e lançou.

    1. Então Alisson, o Hard Candy é dose mesmo. Muitas faixas ali não tem fundamento. O Rebel Heart eu venho curtindo cada vez mais, mas concordo contigo que tem excesso de efeitos. Para mim, o pior ainda é o Music

  3. Muito bom, Mairon. Aguardamos agora a 3ª parte da discografia comentada, que vai abordar o período Matronna.

  4. Mairon , ótimas resenha , n mais assino embaixo em tudo q vc escreveu , só uma ressalva . Music é ótimo ! Abraço !

  5. Sensacional! Apesar de todas as criticas que ela vem sofrendo, ainda acho a Madonna genial. Daí, acho o MDNA e o American Life razoáveis e a trilha do Evita meio mala sem alça.Os outros acho de bons para ótimos. Meus favoritos dessa fase são o Ray of Light e o Confessions On A Dance Floor. ótimo trabalho, Mairon.

    1. São meus favoritos também Davi, seguidos pelo Evita – acho um baita disco – e o American Life. Os piorzinhos mesmo são o MDNA, Rebel Heart e Music

        1. O American Life foi um disco que eu demorei a gostar. O conceito dele não me foi compreensível de imediato. Hoje, vem amadurecendo como um belo vinho!

  6. Não sou fã de Maddona, mas acho que Ray of Light é um dos melhores discos de todos os tempos.

    1. Para mim, é top 4 da Madonna.

      Aliás

      Like a Prayer
      True Blue
      Like a Virgin
      Ray of Light
      Confessions on a Dance Floor

  7. Otima resenha….apesar de não concordar com o que vc disse sobre Gang Bang. Gosto da versão do CD…. e ao vivo tbm!

    1. Valeu Fox, mas essa é a ideia, compartilharmos nossos gostos e opiniões, sempre de forma respeitável. Abração e obrigado pelo comentário

  8. Ótimas resenhas. Fico até surpreso com tamanha bagagem, entendimento e credibilidade que o Mairon possui em analisar álbuns, com muita polidez. O álbum Ray Of Light é uma obra-prima que eu não pensaria que viesse dela. Music eu não acho tão ruim como você disse, mas uma coisa eu concordo com você: Mesmo eu não achando tão ruim, estar na lista da Rolling Stone entre os 500 maiores álbuns também acho um exagero.

  9. A capacidade q ela teve de criar músicas pop ATEMPORAIS durante esses 40a é incrível! É pra poucos! (Até as demos dela são boas, eu adoro as do “Erotica”).Acho o máximo como ela se reinventou a cada álbum. Só não entendo como muitos filmes q ela fez tiveram um retorno de bilheteria muito baixo… Ok, a maioria dos filmes são sim ruins rsrs e ela não é lá uma óoootima atriz (apesar de gostar muito dela no filme “Dangerous Game”, pouquíssimo conhecido. Talvez a melhor atuação dela), mas só o fato do nome Madonna, já não era um atrativo pra galera ir ao cinema? Nunca entendi…

    1. Verdade Guilherme. Acho que os filmes “Evita” e “Surpresa em Shangai” são os mais famosos né?

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