Pop Javali – Live in Amsterdam [2016]
Por André Kaminski
Apesar de ser uma banda recém conhecida no restante do Brasil, o Pop Javali já toca há mais de duas décadas na cena rockeira paulista. Fundada em 1992 e mantendo a mesma formação até hoje com Marcelo Frizzo (baixo, vocais), Jaéder Menossi (guitarras) e Loks Rasmussen (bateria), o trio faz um hard rock/heavy metal daqueles bem típicos que surgiram nos anos 90/2000. Possuindo já dois discos de estúdio chamados No Reason to Be Lonely (2011) e The Game of Fate (2014), os caras conseguiram embarcar em 2015 para uma tour na Europa onde segundo constam minhas pesquisas, tiveram performances elogiadas. Assim, gravaram oito faixas para este primeiro ao vivo chamado Live in Amsterdam, lançado esse ano pela Voice Music e com produção, masterização e mixagem do eterno Andria Busic, do finado Dr. Sin.
Após uma introdução instrumental, o disco inicia com “Road to Nowhere”, uma faixa que me lembrou o estilo de hard rock praticado pelo Van Halen. Alguns vocais de apoio dos outros membros ajudam em uma canção que não serve muito para abrir bem um show. Segue o disco com “Free Men”, uma faixa de mais peso, porém, não muito marcante. Já “Lie to Me” é bem melhor, principalmente o baixo dando corpo e peso a uma canção em que o guitarrista Jaéder toca e sola muito. “A Friend that I’ve Lost” já é um heavy mais tradicional ao estilo anos 80, o estilo instrumental me lembrou algo próximo do Riot e do Diamond Head. “Wrath of the Soul” é a melhor do disco, com riffs fortes e uma pegada que achei que faltou nas outras canções. “Time Allowed” volta ao velho hard rock, uma faixa fraca e novamente sem destaques. Diferente de “I Wanna Choose” que voltou a energizar a audição, uma pena que o disco encerra aqui.
Quanto a voz de Marcelo Frizzo, o seu timbre vocal me lembrou o de Blaze Bayley. Não sei se no estúdio muda muito, mas é o que me passou a impressão nesse ao vivo. É um vocal interessante para o hard rock, acho muito bem vindo para diferenciar os excessos de vocais agudos do estilo.
A produção de Busic me passou a impressão de querer deixar o som dos caras mais cru e mais oitentista. Com suas qualidades e defeitos desse tipo de seguimento, como de costume. Um exemplo são as guitarras abafadas típicas da época. Outra é a caixa de bateria com um volume enorme e tomando conta da percussão. Porém, passa a impressão também de algo bem underground, que agrada aos ouvidos de muitos.
Infelizmente, eu seria injusto com a própria banda se eu falasse que adorei o álbum. Alguns momentos são fracos ou medianos (as faixas mais hard rock) e os bons momentos ficam com as faixas mais heavy metal. O que sinto que acomete muitas bandas brasileiras é o principal erro dos integrantes aprenderem técnica e a ter um domínio completo sobre seus instrumentos, mas não se empenharem tanto na hora das composições. Infelizmente nenhuma das faixas me deu a impressão de tentar emplacar como um “hit” que é algo fundamental para o hard rock. Falta aquela faixa que gruda na cabeça e faz a gente cantarolar no refrão e chacoalhar os cabelos, ou um hino metálico daqueles que a gente espera ansiosamente ao final do setlist. Não tenho o que reclamar dos vocais e do baixo de Frizzo, das músicas cheias de solos e belas fritadas de Menossi e da bateria bem pegada de Rasmussen.
Sei que é bem provável que os caras ou o staff da banda venham a ler esta resenha, mas digo do fundo do meu coração: busquem um diferencial. Sei que vai sair agora um novo disco, vocês tem o controle dos seus instrumentos em mãos, agora transformem isso em canções legais que os farão destaque dentro da cena. O fim do Dr. Sin abriu um vácuo de um referencial ao hard rock brasileiro, lugar que vocês podem ocupar. Usem o contato que vocês possuem com os próprios irmãos Busic e componham canções marcantes como eles. É a dica que eu dou.
Tracklist
- Intro
- Road to Nowhere
- Free Men
- Lie to Me
- A Friend that I’ve Lost
- Wrath of the Soul
- Time Allowed
- I Wanna Choose
Recado do Marcelo Frizzo que recebemos em nossa página: “Valeu “Consultoria do Rock”, valeu André Kaminsky. Muito obrigado pela resenha e principalmente pelas dicas. São sempre muito bem vindas! Sucesso!”
Postura profissional e rara no cenário brasileiro, gostaria que mais bandas fossem como eles.
Raríssima mesmo. O pessoal só quer saber de elogio gratuito, sem aceitar nenhuma crítica. Parabéns ao Marcelo pela postura, e só por conta disso, já vou ouvir a banda com outros ouvidos.