Entrevista Exclusiva: Bruno Sá

Entrevista Exclusiva: Bruno Sá

Por Thiago Reis

* Fotos da página oficial do facebook

Bruno Sá pode ser considerado um dos músicos mais talentosos e diversificados da cena metálica brasileira. Multi-instrumentista (domina instrumentos como teclado, piano, guitarra, violão, sax, flauta, dentre tantos outros), doutor em literatura inglesa e possuindo a experiência de ter dividido os palcos com grandes nomes do metal, como Angra, Tony Martin, Joe Lynn Turner, Doogie White, entre outros. São “n” motivos que tornam essa entrevista bem atrativa e recomendada a todos que gostam de descobrir novos talentos em nossa música. Com vocês, Bruno Sá.

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Com Geoff Nichols, tecladista do Black Sabbath e amigo pessoal de Tony Iommi

1- Bruno, primeiramente obrigado por aceitar participar dessa entrevista. Comecemos com o início de sua vida musical. O teclado foi o primeiro instrumento que você aprendeu a tocar? Existiu apoio familiar para que você entrasse no mundo da musica?

Quando criança, eu costumava improvisar uma bateria com as panelas e pratarias da minha avó, e tentava acompanhar o disco da antiga banda do meu pai. Sempre quis também ser cantor e desde cedo eu me apresentava nas festas da escola. Mas o estudo sério na música só veio a partir de 1995, quando eu comecei a ter aulas de violão clássico e guitarra, aos 15 anos de idade. Eu sempre ouvi Rick Wakeman, Kitaro e Vangelis, mas nunca havia me imaginado como um tecladista. Em certa ocasião, porém, em 96, uma amiga da família estava vendendo um teclado daqueles caseiros e deixou lá conosco para ajudarmos na propaganda. Comecei de curiosidade a brincar nele e percebi que aprendi as coisas muito mais rápido e melhor do que na guitarra e no violão.  Comecei então a inserir elementos de teclado em minha primeira banda, o Avatar. Eu era o vocalista e a banda já tinha dois guitarristas muito melhores que eu. Foi minha estreia nos palcos do underground carioca. Logo depois, entre 1997/98, fui chamado para ser tecladista do Horizon, ex-banda do Renato Tribuzy. A banda fazia um trabalho de prog-metal dificílimo, ainda mais para quem ainda mal sabia tocar. Mas aceitei o desafio e então troquei minha Fender Stratocaster com o baixista do Horizon pelo meu primeiro sintetizador profissional, um Roland JV-30. Pouco tempo depois, meu caminho se cruzou com o do Allegro (éramos vizinhos de quarteirão), e virei tecladista de mais uma banda. No Allegro então pude me desenvolver como tecladista e pianista e começar a ser reconhecido pelo meu trabalho, quando começamos a abrir shows de bandas como Dr. Sin, Angra, Stratovarius, Saxon e Exodus.

2- E quando você decidiu que era o que você queria para a sua vida? Como foi tomar essa decisão?

Sempre me vi de certa forma como um artista, ou um adepto da Arte: já quis ser ator, desenhista etc. Considero que minhas duas grandes paixões dentro da Arte são Música e Literatura. Sou professor de música e toco desde meus 17 anos, e também sou Doutor em Literatura Inglesa. Minha pesquisa acadêmica baseia-se na relação da obra do poeta e artista multimídia inglês William Blake (1757-1820) e os artistas do Rock como Jim Morrison e Bruce Dickinson. Está tudo interconectado, e isso me traduz desde sempre.

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Bruno Sá (a esquerda), ao lado de Nick Simper e Doogie White

3- Você é um instrumentista de tremendo sucesso, tendo tocado com diversos artistas da cena mundial, como Joe Lynn Turner (ex Rainbow e Deep Purple), Doogie White (ex Rainbow) e Tony Martin (ex Black Sabbath). O que você pode dizer que aprendeu ao dividir os palcos com artistas tão gabaritados?

Tem sido uma trajetória muito enriquecedora. Tocar com grandes medalhões que estiveram nas maiores bandas da história do Rock como Deep Purple, Black Sabbath, Rainbow e Uriah Heep, e ser responsável pelas teclas em músicas que saíram dos dedos de seus ídolos é surreal. Um dia você está ensaiando com o Joe e ele te diz: “Bruno, o Jon Lord fazia assim…”; no outro, você está recebendo um chamado pois “a Trans-Siberian Orchestra (formada pelos membros do Savatage) te viu tocando e quer conhecer você. O que acha de vir nos encontrar em Tampa, Flórida?”. Mal sabiam eles que sou apaixonado por Savatage, e possivelmente instantes antes eu devia estar sentado ao piano tocando e cantando alguma música deles. 🙂

4- Inclusive você tem uma colaboração com Tony Martin, que será lançada muito provavelmente no ano de 2017, o terceiro álbum solo de Tony, que será intitulado “Book of Shadows”. Como essa colaboração saiu do papel e se tornou realidade?

Em 2008, participei de uma turnê do Joe Lynn Turner com o Tony Martin. Eu toquei na banda do JLT, enquanto o Tony trouxe consigo a lenda Geoff Nicholls, responsável durante décadas pelos teclados (e, por detrás do palco, da segunda guitarra) do Black Sabbath. O Geoff usou os meus teclados na turnê, e ficamos todos amigos. Tempos depois, o Tony me contou que estava fazendo um disco diferente e que queria um daqueles meus solos na faixa título. Ele me enviou o material, eu gravei em meu homestudio, e uns 3 takes depois, estávamos satisfeitos. Espero muito que esse disco finalmente saia. O Tony é uma das minha vozes favoritas. Como me envolvi mais com heavy metal por volta de 1992, o Dehumanizer, com o Dio, e o Cross Purposes, com o Tony, eram naturalmente os discos do Sabbath que eu mais ouvia na época.

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Bruno e Tony Martin

5- Recentemente você publicou em seu perfil no Youtube, um vídeo com uma versão bem interessante da música “Cross of Thorns”, do álbum Cross Purposes do Black Sabbath. Existe a possibilidade de você juntar forças com Tony Martin para uma turnê conjunta, cantando clássicos do Sabbath apenas com piano e voz?

Vou sugerir a ele essa ideia! Seria sensacional! Ainda naquela turnê de 2008, nosso show em Curitiba havia sido cancelado por limitações técnicas da casa. Havia, porém, um duo de voz e violão tocando clássicos do Rock no primeiro andar da casa. Como havíamos ficado lá para receber os fãs frustrados e confraternizar, em determinado momento da noite o JLT e o Tony Martin assumiram o violão e o microfone e fizeram um maravilhoso set acústico para os poucos privilegiados que lá estavam.

6- Além do reconhecimento de artistas estrangeiros, no Brasil você também é muito requisitado. Recentemente você foi o tecladista na turnê de 20 anos do álbum Holy Land, da banda Angra. Como foi o convite para tais eventos e qual é a sensação de tocar grandes clássicos do metal nacional, como “Nothing to Say”, “Holy Land” e “Carolina IV”?

Para nós, músicos do metal no Brasil, desde o início, o Angra sempre foi o grande modelo de banda a se seguir. A referência de um trabalho de altíssimo nível e grande originalidade. Tive o privilégio de estar perto deles em duas ocasiões e aprender muito, abrindo com o Allegro um show da turnê do Fireworks, em 1998, e depois um show do Shaman, em 2001. Desde então, acho que eu de certa forma sempre estive pelas redondezas, seja tocando com os Busic e o Dr. Sin em algumas ocasiões, ou de quando eu e o Felipe Andreoli fomos chamados para tocar em um projeto que não foi adiante, ou quando certa vez eu sondei o Rafael Bittencourt para tocar guitarra em uma possível turnê do Joe Lynn Turner. Quando surgiu essa vaga para as teclas do Angra nessa turnê especial, o Andreoli me chamou e eu obviamente topei. Chegamos a nos encontrar oficialmente durante o festival Hell in Rio, mas eu só assisti da coxia, porém já sentindo o gostinho de estar fazendo parte daquilo tudo. Duas semanas depois, fizemos os ensaios em São Paulo e já caímos na estrada. O Holy Land é, para mim, a obra prima do metal nacional. Eu não poderia estar mais feliz, podendo fazer parte de um momento como esse de celebração da história do Angra.

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Em ação com o Dr. Sin

7- Existe a possibilidade de você continuar a tocar com o Angra nos shows de 2017 da turnê do Holy Land?

Não há nada oficial ainda, mas parece que a vontade é mútua para que continuemos o trabalho.

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Caught in the act

8- Há muito tempo que a banda Angra não tem um tecladista oficial em sua formação. Pelos vídeos das performances, percebe-se a banda muito bem ensaiada, o som ainda mais completo, bem fiel às gravações originais. Existe a possibilidade de essa colaboração ir além dos palcos, para o próximo disco da banda?

Como o disco é muito rico em detalhes, com a presença de vários instrumentos de sopro, por exemplo, eu sugeri que, além das teclas, eu fizesse algumas flautas, como na “Carolina IV” e na própria “Holy Land”. Eles curtiram bastante, pois foi algo que não havia sido feito, e que agregou muito ao show. Fora isso, a sintonia musical, pessoal, intelectual entre a gente tem sido ótima. Ainda é muito cedo para falar, mas as possibilidades adiante são muito empolgantes.

9- Você tem planos para a gravação de um álbum solo?

Sempre penso nisso, e eventualmente vou colocar a mão na massa. No momento, além do Angra, eu me dedico a um projeto meu chamado Diaspora Mundi, onde faço uma mistura de música celta, árabe, Rock, trilhas sonoras etc. O Diaspora é meu playground musical, onde canto, toco teclado, sax, gaita-de-foles, violão, guitarra, flautas das mais diversas, junto a músicos mestres em instrumentos como violino, contrabaixo acústico, e instrumentos de percussão como derbak e tablas.

10- Obrigado pela entrevista, Bruno. Mande um recado para os leitores da Consultoria do Rock.

Eu agradeço muito por esse papo. Espero poder sempre levar a minha paixão pela Música para vocês. Para o pessoal que está se dedicando a um instrumento e/ou uma banda: tenham sempre fome de tocar. Sejam pacientes, exigentes e perseverantes. Nunca desanimem com as negativas dos outros. As histórias dos maiores nomes do Rock estão repletas de tentativas de desencorajamento ou simples desinteresse. Procure ser bom no que faz, e trabalhe de forma a sempre deixar as portas abertas para as oportunidades.

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