Melhores de 2016: por Fernando Bueno

Melhores de 2016: por Fernando Bueno

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Estou dando início as nossas já tradicionais lista de melhores do ano. Nos próximos dias cada consultor apresentará sua lista, além de alguns convidados que sempre participam por aqui. Após todas as escolhas individuais uma postagem final compilando as escolhas que farão uma lista oficial do site Consultoria do Rock.

Quando comecei a elaborar a minha lista tinha a certeza que praticamente só medalhões fariam parte dela. Ouvi poucas bandas mais novas ou com carreira mais recente – mais detalhes sobre um dos motivos disso estará mais adiante. Mas algo que me chamou atenção é que o número de discos de 2016 que adquiri é muito menor dos que os anos anteriores. Menos da metade. Assim, acabei chegando à conclusão de que esse ano não foi dos melhores, ou pelo menos que foi o mais fracos desses últimos cinco ou seis anos.

Por outro lado com medalhões lançando discos e se mostrando ainda ativos no mercado musical estamos adiando mais um pouco a passagem de bastão dos músicos que nos acostumamos à ouvir desde adolescentes para os músicos mais novos que nós mesmos. E, 2016, ainda vai ficar marcado como o ano da primeira vez que um cantor/compositor recebe a honra de receber um Nobel de literatura.


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01 – David Bowie – Blackstar

A morte de Bowie pode causar um sentimento de que a escolha desse disco como melhor do ano por diversos veículos seja apenas pela comoção. Lembro-me de quando vazou o disco uns três ou quatro dias antes do lançamento oficial. Ouvi Blackstar umas três vezes antes de sair e mais uma antes dele morrer. Eu ainda estava absorvendo o disco e quando saiu a notícia de sua morte parece-me que tudo se encaixou, que a mensagem dele tinha finalmente chegado para mim. É incrível de se imaginar que uma pessoa tenha tanta força de vontade de dedicar seus últimos momentos à um disco, ainda mais ele que já tinha feito tantos outros importantíssimos. Mas se alguém poderia fazer isso seria Bowie. Além do mais essa comoção já deveria ter se dissipado depois de quase um ano de sua morte. Caso ele tivesse encerrado a carreira com o ótimo The Next Day (2013) já o teria feito em alto nível, mas ele guardou o melhor para o fim.


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02 – Metallica – Hardwired…to Self Destruct

Disse uma vez que o thrash metal foi criado quando algum moleque da Bay Area tocou um disco da NWOBHM acidentalmente em 45 rpm. E a impressão que eu tenho é que Hetfield e Ulrich voltaram para as suas coleções e ouviram muito as bandas inglesas do começo dos anos 80. Eles não só trouxeram o espírito dos seus primeiros discos como emularam alguns daqueles grupos nesse novo álbum. Por ser um álbum longo temos coisas que lembram alguma coisa do Kill ‘Em All, músicas que poderiam estar no Metallica de 1991, riffs muito parecidos com os da década de 90 e passagens que me lembrou alguma coisa do Tygers Of Pan Tang. Logo quando foi divulgada a faixa título e logo em seguida “Atlas, Rise” fiquei muito ansioso com o resultado do álbum. Quando soltaram “Mott Into Flame” ficou confirmado que Hardwired…To Self-destruct seria um bom disco.


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03 – Megadeth – Dystopia

Aqui no Brasil tivemos diversas reações quando foi anunciado que Kiko Loureiro seria um integrante do Megadeth. Os que já gostavam de Angra ficaram animados, os que odiavam torceram o nariz e aqueles que simplesmente o viam como um grande guitarrista entendiam que ele merecia o posto e esperaram sair o disco. Dystopia não só se mostrou um grande disco, como acho que é o melhor álbum da banda em quase 20 anos. Com Kiko, Dave produziu passagens de guitarra que não ficam devendo para ninguém. Uma das dúvidas que os fãs tinham era a de que talvez Kiko não se encaixasse em uma sonoridade thrash metal por seu background mais melódico, mas as melodias no Megadeth sempre foram muito presentes e a técnica do brasileiro foi muito bem utilizada para as ambições musicais de Dave.


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04 – Destroyer 666 – Wildfire

Em anos anteriores eu ouvi mais bandas novas e com poucos anos de carreira. Nesse ano eu ouvi muita pouca coisa. Porém acabou chegando para mim os australianos do Destroyer 666, que se não é uma banda nova – ano que vem vai fazer 20 anos do lançamento de seu debut – era para mim uma completa desconhecida. Fazendo um amalgama de thrash metal com a temática black e algumas pitadas de Motorhead o Destroyer 666 não tem medo de mostrar que os anos 80 ainda inspiram muita gente.


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05 – Anthrax – For All Kings

Quando o Anthrax lançou Sound of White Noise (leia matéria sobre esse disco aqui no site) a banda diversificou um pouco seu som do thrash metal para um metal tipicamente anos 90. Em For All Kings a banda saiu um pouco do thrash novamente e, ao meu ver, se inspirou em banda mais clássicas de heavy metal. Claro que se você só ouvir a faixa de abertura, “You Gotta Believe”, vai ficar com uma sensação diferente de mim, mas “Moster in the End”, “For All Kings”, “Blood Eagle Wings” e “All os Them Thieves” podem corroborar meu ponto de vista. Achei For All Kings melhor que Worship Music, e você?


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06 – Pretty Maids – Kingmaker

O Pretty Maids talvez nunca mais faça um disco do nível de Red, Hot and Heavy (1984) ou Future World (1987), mas eu não me lembro de ter ouvido um disco ruim ao longo de toda sua carreira. O que eles conseguem fazer ao misturar de uma maneira tão natural o heavy tradicional com hard rock e em alguns momentos até thrash e AOR é admirável. Caso você não conheça a banda sugiro buscar os dois álbuns citados acima ou os mais recentes Pandemonium (2010) e Motherland (2013).


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07 – Running Wild – Rapid Foray

Voltei a ouvir direto o Running Wild. Tinha alguns anos que não pegava todos os discos para ouvir e só ficava nos clássicos. Aquela pegada hard/heavy dos anos 90 está de volta em Rapid Foray. Temos até uns ôôôô no disco! Rapid Foray é o melhor disco depois dessa “volta” da banda de Rock n’ Rolf.


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08 – Death Angel – The Evil Divide

O Death Angel é uma das bandas mais regulares do thrash metal americano. São oito discos e todos eles são nivelados em relação à qualidade, exceto o seu debut que é considerado o melhor pelos fãs e estaria em um patamar acima dos outros. Após The Dream Calls for Blood, The Evil Divide bota de novo o nome do grupo nas rodas de conversa sobre metal. “Lost” é uma das melhores músicas do ano.


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09 – Anderson / Stolt – Invention of Knowledge

Deve ser uma satisfação um músico conseguir gravar e conviver com um ídolo. Roine Stolt é um ótimo guitarrista e tem uma banda até certo porto criminosamente esquecida, The Flower Kings, com uma carreira longa e muito influenciada pelo Yes – muitos o conhecem também ou apenas pelo Transatlantic. Daí poder fazer um trabalho com um cara que ele provavelmente ouviu diariamente deve ter sido uma satisfação enorme, ainda mais quando o trabalho tem um resultado tão bom.


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10 – Diamond Head – Diamond Head

Acredito que existem outros disco que poderiam entrar aqui nessa minha lista, mas eu quis citar esse do Diamond Head, até porque colocando-o em décimo da minha lista não faria diferença nenhuma para a lista final que publicaremos depois que todo mundo fizer a sua. Hoje a banda é muito diferente daquele Diamond Head que teve quase todas as suas músicas do primeiro disco regravadas pelo Metallica. Brian Tatler claramente montou um line up com o objetivo de poder continuar fazendo shows e usar o nome do grupo. Por mais que esteja desfigurada hoje em dia é inegável que ele tenha um grupo bastante competente de músicos ao seu redor. E esse vocalista Rasmus Bom Anderson é um excelente cantor. Ouso dizer que esse disco é o melhor desde Borrowed Time de 1982. Melhor até que Canterbury, que já foi assunto aqui na Consultoria do Rock e não está mais disponível (e esse é o último “agradecimento” ao UOL Host do ano). Ouça a faixa “Silence” e eu duvido que você não goste.


thrash-metal 2016 – o ano do thash metal

Além dos que entraram na lista acima o estilo teve outros lançamentos muito legais. Basta lembrar que das quatro bandas do Big Four americano, mais as três maiores alemãs, foram cinco discos. Apenas Slayer (que lançou álbum em 2015) e Kreator (com álbum pronto para o início de 2017) não lançaram nada em 2016. Olha só a lista: Testament – Brotherhood of the Snake, Sodom – Decision Day, Destruction – Under Attack, Suicidal Tendencies – World Gone Mad, Exumer – The Ranging Tides, Artillery – Penalty by Perception (que eu ainda não consegui comprar), Flotsam and Jetsam com um álbum auto intitulado, além de banda nacionais como os paulistas do Blackning e Woslom e as meninas do Nervosa. E tenho certeza que nos comentários alguém vai lembrar de outros que eu não citei. Para um estilo que foi muito caracterizado como apenas um revival saudosista é bastante coisa.


foto-discos-materia-2016Relançamentos em 2016

Como disse lá no início do texto não ouvi muita coisa mais nova esse ano. Muito disso se deve ao fato de que durante boa parte de 2016 eu ter ficado obcecado por bandas do terceiro, quarto ou até quinto escalão do heavy metal oitentista. E tudo isso começou depois de eu ter adquirido uma cópia do primeiro disco do Maniac, banda austríaca. Por algum motivo fui fuçando cada vez mais e descobrindo coisas que sequer tinha ouvido falar como Fortress, Axewitch, Kraken, Adrian, Salem´s Wich, Royal Air Force, Necronomicon, Slauter Xstroyers, Hallowed, Scavenger, Seikima-II e vou parar por aqui para que a lista não fique gigante e cansativa. Tinha algo em mente enquanto estava nesse processo arqueológico: meu foco seria do anos de 1982 até 1987. Coisas de antes de 1982 eram “velhos demais” e após 1987 “eram muito recentes”. Mas o objetivo era ouvir aquelas bandas que ajudaram a moldar o heavy metal e todos os seus sub-gêneros que foram surgindo ao longo dos anos em um período em que essas divisões praticamente não existiam, além de tentar entender porque algumas bandas conseguiram se destacar das outras quando a qualidade do material que todas estavam produzindo era muito nivelado. Como colecionador tentei encontrar muitos dos discos que eu ia ouvindo e gostando, mas por serem praticamente desconhecidos ou não os encontrava ou cada um deles custava uma pequena fortuna. Além do fato de muitos sequer terem sido lançados em CD e só estavam disponíveis em LP. E como todos sabem, os LPs sofreram uma inflação absurda nesses últimos anos por conta do saudosismo desse tipo de mídia. Porém ao longo do ano as gravadoras aqui do Brasil foram relançando muita coisa que fizeram minha alegria. Temos novamente à disposição tanto discos de bandas clássicas de fora quando de bandas nacionais. Discos clássicos de Cirith Ungol, Omen, Chateaux, Acid, Brocas Helm, Angus, Living Death, Trhust além de bandas nacionais como o Attomica, o The Mist e o Chakal. Conversando com os distribuidores desses discos soube que podemos esperar mais relançamentos do tipo. Isso mostra que o a procura por essas músicas ainda está viva e que o mercado está bom. Parabéns aos envolvidos. Entretanto, como nunca estamos satisfeitos deixo aqui algumas sugestões de relançamentos que pelo menos me deixariam feliz se aparecessem por aí: Winterhawk – Revival (1982), Legend – Death in the Nursery (1982), Oz – Fire in The Brain (1983) e algum disco dos russos do Aria.


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Bon Jovi

Depois do ruim Burning Bridges de 2015 e do péssimo What About Now a trupe de Jon Bon Jovi, agora sem Sambora, solta This House Is Not For Sale um álbum que se está longe de qualquer coisa que fizeram até These Days é, talvez, o melhor da banda em 20 anos. Ainda não tem nível suficiente para entrar em uma lista de 10 melhores do ano, mas eu queria deixar registrado isso aqui afinal o banda já pode ser considerada clássica e fazer um disco relativamente bom depois de tanto tempo de produção abaixo da critica é digno de nota.


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Parece que nessas tradicionais listas de fim do ano essa sessão vai ser fixa, mas não pude deixar de lembrar dos ídolos que nos deixaram nesse ano também. Além de David Bowie citado na lista, tivemos dois terços do Emerson, Lake and Palmer, Maurice White do Earth, Wind and Fire, Nick Menza, baterista da formação mais clássica do Megadeth, Leon Russel, Prince, o produtor George Martin e muitos outros. Mesmo não gostando da obra de alguns deles é triste pensar que músicos estão indo embora como é o caso de George Martin, Leonard Cohen e de Cauby Peixoto. Que descansem em paz.

 

7 comentários sobre “Melhores de 2016: por Fernando Bueno

  1. Gostei da lista Fernando. Belo texto. Acho que foi o ano do thrash sim e espero que em 2017 também seja e ai vamos parar de falar de ano e começaremos a falar em tendência.

    1. Muita velharia, e esse ano foi ótimo. É que vc ficou no mais do mesmo, hehehee. Mas a lista é boa. Belos discos aí (principalmente os 3 primeiros)

    1. Caramba!!!
      Não sabia que o Hexvessel tinha lançado algo em 2016. Difícil acompanhar essas bandas mais obscuras. o primeiro álbum deles é muito bom. A lista do fenriz é interessante. Vou colocar na sequencia aqui. Valeu pela dica Alisson!!!

      1. A maioria é tudo heavy tradicional ou coisa old school. Não faz meu gosto, mas gostei mesmo assim da honestidade da lista do cara.

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