Samson – Before the Storm [1982]
Por Fernando Bueno
Todo mundo conhece o Samson. Todo mundo sabe da história. Mas são poucos os que realmente os ouviram. Acredito que este seja mais um exemplo de banda que é muito mais conhecida do que propriamente ouvida. Para muitos basta saber que ela existiu, atribuir uma certa qualidade por conta dos nomes que passaram por ela e pronto.
Porém, por mais que todos os conheçam, vou descrever rapidamente a história citada acima para contextualizar o texto. O Samson foi formado ainda em 1976, após o guitarrista e vocalista Paul Sanson ter passado por um monte de bandas menores. Se reuniu com alguns outros músicos, o baixista John McCoy e o baterista Clive Burr (sim…Clive Burr) e, por sugestão de McCoy, criou o nome da banda apenas mudando uma letra em seu sobrenome para coincidir com o nome do famoso personagem bíblico. McCoy também assumiria os vocais nesse início, mas ficou pouco tempo no posto e na banda. Paul resolveu também assumir os vocais e após algumas outras substituições o Samson se estabilizou com Paul Samson na guitarra e voz, Chris Aylmer no baixo e Clive Burr na bateria. Conseguiram um contrato para gravar um disco e logo antes dessas gravações ficou-se decidido que, por ter ajudado Samson a escrever muitas das músicas, o ex-baixista John McCoy gravaria o álbum, mas Aylmer voltaria para a banda depois. Nesse momento também outra mudança, Sai Clive Burr e entra em seu lugar Barry Purkis, também conhecido como Thunderstick. Essa formação gravaria Survivors (1979).
Ainda em 1979, dois meses depois do lançamento do debut, decidem incluir um vocalista de ofício e encontram o estudante de história Paul Bruce Dickinson, na época conhecido por Bruce Bruce. Algumas faixas de Survivors foram regravadas na época com o novo vocalista e esse material está presente nos bônus das edições mais recentes do álbum. No fim do primeiro semestre de 1980 sai Head On e pouco menos de um ano depois, Shock Tactics. O Samson se destaca na época e chamou atenção de um músico de outra banda emergente no cenário inglês da época. Steve Harris viu a performance de Bruce Bruce com o Samson e, por estar descontente com o vocalista de sua banda no período, decide chamá-lo para entrar na sua banda. O convite foi feito após uma apresentação no Reading Festival e este acabou sendo seu último show com o Samson. Em tempo, esse show foi gravado e lançado sob o nome de Live At Reading ’81.
Durante todos esses anos de batalha o Samson passou por problemas com os empresários do grupo e sua gravadora, a RCA, chegou a ir à falência. Tudo isso certamente ajudou a saída do seu então antigo vocalista. Mas Paul Samson não desistiu e rapidamente escalou outro para o posto. Nicky Moore era já bastante experiente. Suas bandas anteriores, o Hackensack e o Tiger, já tinham gravado bastante material, mas estava meio parado na época. Seu timbre de voz era muito mais na linha de Paul Rodgers e David Coverdale do que Rob Halford ou o próprio Bruce Dickinson. Entretanto, ao meu ver, ele se encaixa mais na proposta musical de Paul Samson do que o vocalista anterior. O Samson era muito mais um grupo de blues rock influenciado por diversas bandas dos anos 70, entre elas o Free, do que uma banda de heavy metal a la Judas Priest. Moore fez com que o Samson se aproximasse ainda mais daquela sonoridade.
Before The Storm inicia com “Dangerzone” que tem como destaque o riff simples e eficiente de Samson, além da voz grave e levemente rouca de (Big) Moore. Ótimo refrão que gruda na cabeça e nos faz lembrar dos primeiros discos do Whitesnake pré-80’s. Estranho não ter sido escolhida como um dos singles do álbum. Essas honrarias ficaram por conta de duas músicas que foram compostas pela banda ainda na época de Dickinson, “Red Skies” e “Losing My Grip”, além de “Life On The Run”, já composta depois da entrada de Moore. Apesar de Paul Samson ser a cara, e o nome, da banda ele sempre abriu espaço para que todos participassem das composições. São raras as músicas que não são creditadas à todos os integrantes. Em Before the Storm todos os então membros participaram da composição do material, além de outros que já tinham saído, como o próprio Bruce Dickinson e o baterista Thunderstick – que deu lugar para Mel Gaynor e depois Pete Jupp.
“Stealing Away” aumenta um pouco a velocidade e mostra a criatividade da banda, principalmente para os refrãos. A já citada “Red Skies” aposta mais na melodia, é menos direta que as duas primeiras e mostra que Dickinson influenciava a banda de uma maneira diferente de Moore. Da mesma forma que acontece com “Life On The Run”. Fechando o lado A do LP, “Test of Time” com o melhor trabalho de baixo do disco. A faixa mais blueseira talvez seja “Turn of the Lights”, apesar das frases de guitarras totalmente ligadas ao rock and roll do período. A esquecida “I´ll Be Around” remete totalmente ao início dos anos 70.
“Losing My Grip”, como disse antes, tinha sido composta em parceria com Bruce chegou a ser gravado com o mesmo. A faixa saiu como bônus em Shock Tactics. Interessante ouvir as diferenças entre os vocalistas nela. Possui um single em versão picture que é um dos mais bonitos que já vi no formato (foto). Aliás, o lado B desse single tem uma outra faixa, “Pyramid to the Stars”, que também já tinha sido gravada com Bruce.
O álbum encerra com os dedilhados iniciais de “Young Idea”, a faixa mais longa do disco, que conta a história de uma garota que vinha de a perspectiva de um futuro brilhante, caiu na prostituição e que chegou ao suicídio. Tenso. Possui um andamento mais lento que o restante das faixas, sem ser uma balada, exceto na parte do longo solo de guitarra, que a velocidade é aumentada.
A resenha da Kerrang da época previa que esse seria o disco que faria o Samson mudar sua história e impressionar a todos. A mesma revista tinha publicado um artigo em uma edição anterior em que o analista dizia que Bruce só tinha saído da banda pelos problemas já citados acima (gravadora, empresários) e que se o Samson tivesse um status pelo menos no mesmo patamar que o do Iron Maiden na época ele não teria saído. Acredito que avaliando a qualidade de Before the Storm como um todo ele estava certo, mesmo sabendo que o Maiden era um ponto fora da curva na ocasião, o que faz essa conjectura não fazer muito sentido. Inclusive, se compararmos o conjunto do álbum e não apenas algumas faixas arrisco a dizer que Before de Storm é o melhor álbum do Samson. Caso o leitor se instigue a ouvi-lo sugiro ainda a versão de relançamento possui bônus bastante interessantes, faixas extras, ao vivo, oriundos de EPs ou lados B de singles. Aliás, vale a pena ir atrás dessas edições de todos os discos da banda.
Para finalizar gostaria de levantar uma questão puramente conceitual. Durante todo o período em que estava ouvindo o disco e escrevendo essas linhas eu fiquei com o seguinte pensamento: será que o Samson não foi incluído na NWOBHM apenas por ter surgido no mesmo período? Explico. Apesar das bandas da NWOBHM serem, entre si, bastante variadas em termos de sonoridade ao meu ver o Samson tinha uma característica que talvez fizesse não ser parte do movimento, apesar de ter sido bastante atuante dentro da cena da época. As principais características que o leitor encontrará em qualquer texto que tente explicar o que foi a NWOBHM, e aqui mesmo na Consultoria do Rock temos diversos deles, é de que essas bandas eram influenciadas por aqueles grupos mais pesados do início da década de 70 que foram ofuscados pelo surgimento do punk. Mas um ponto importante, e mais técnico, é de que essas bandas, por mais diferentes que fossem entre si – como o Venon, Def Leppard e Saxon, por exemplo – estavam rompendo o cordão umbilical que o rock tinha com o blues. As bandas setentistas que inspiraram essas outras tinham no blues um pilar musical, já as que estavam surgindo uma década depois não tinham mais tanta afinidade com o estilo. Muito provavelmente a evolução musical a que o rock foi submetido, com o surgimento do punk, da new wave, pós-punk, resquícios do progressivo, etc, tenha influenciado isso. Assim, volto ao Samson. Como disse ao longo do texto o som da banda era tende muito mais para o blues, fazendo-a destacar na cena, mas, tecnicamente, deixando-a de fora do movimento. Claro que isso é algo totalmente menor, provavelmente sem importância a não ser de curiosidade histórica e muita gente pode até refutar. Essa questão da relação do blues com as bandas inglesas do início dos anos 80 foi debatido em um livro sobre a NWOBHM que até já apresentei aqui no site ainda em 2010. O livro não foca o Samson como faço agora, mas cita esse afastamento que o heavy metal estava tomando.
Realmente, tbm sou um dos muitos que conhece o Samson, e no entanto, nunca parei pra ouvir o material da banda.
Do pouco de bandas da NWOBHM que já escutei (Iron, Saxon, Def Leppard, Angel Witch, Diamond Head, Tygers of Pan Tang e Girlschool), fiquei satisfeito no geral, a sonoridade me sacia bem.
Curioso da banda ser considerada mais “blues rock”, esse ponto meio inesperado em relação aos outros nomes da época me instigou a querer ouvi-los.
Raphael…em qualquer conversa sobre essas bandas vão aparecer trocentos nomes que, em muitos casos, são apenas mais nomes mesmo. A quantidade enorme de bandas veio acompanhada de muita coisa fraca também. Assim não é pq tem o rótulo NWOBHM que é bom. Isso é meio óbvio, mas muita gente tenta vender uma banda apenas usando o rótulo como um selo de garantia de qualidade. Para recomendar bandas que vc não citou e eu acho que vale a pena eu diria que Satan (Pariah/Blitzkrieg), Tank, Jaguar, Praying Mantis, Tokyo Blade e Witchfinder General são bandas que valem a pena parar para ouvir. Depois delas eu poderia citar mais outras e assim por diante. Mas quem quer ter uma visão geral já tá bom todos esses aí…
Sim Fernando, ser generalista ao ponto de afirmar que só “Pq é da NWOBHM é bom” seria um ato muito falho, principalmente tratando-se de um movimento com tantas bandas heterogêneas entre si.
Desses nomes que vc citou, de ter escutado só o Jaguar mesmo, o álbum de debut é ótimo, os outros vou pegar gradativamente pra ouvir…..
Não conheço o Samson mas conheço, e gosto muito, do Hackensack!
Abraço,
Esse sim eu nunca sequer fui atrás…
Esse lance de ‘movimentos’ ou ‘cenas’ não me desce e é sempre uma papagaida sem fim. o NWOBHM é uma delas, as bandas até tem uma linha entre elas, mas basicamente qualquer banda que tocasse Hard Rock entrava nessa cumbuca, onde o Hard entre na New Wave Of British HEAVY METAL é uma coisa que dá nos nervos.
Mas, como eu disse, o povo adora inventar cenas. Peguemos o Grunge, nenhuma banda soa como a outra, todas as bandas que recebem esse selo não tem porra nenhuma a ver com a outra. Puro marketing, mas funciona, até hoje, incrível isso! hehehe
Eu discoode de vc. Acho válido incluir essas bandas em um “movimento” já que marcou o renascimento de uma música pesada que estava um pouco esquecida no período. Claro que essas coisas aconteceram rápido demais, mas isso também característica da época. O rock pesado, como chamavam, tinha perdido força por conta da disco, do punk e da música pop da época. Essas bandas foram surgindo e resgatando o peso combinado com técnica musical em um mesmo momento, em um mesmo país e certamente um influenciando o outro. Assim chamar isso de movimento é válido sim.