Ace Frehley – Tom Brasil (05/03/2017)
Por Davi Pascale
Fotos: Davi Pascale / Foto minha com o Ace: produção do Ace
Neste fim-de-semana tivemos a oportunidade de presenciar uma super apresentação do lendário Ace Frehley. Pela primeira vez, o guitarrista que fez história no Kiss, pisa em território brasileiro para se apresentar enquanto artista solo. Uma espera de décadas para os rock soldiers que foi mais do que recompensada.
A noite não era das melhores. Festa de Carnaval na Paulista (não estou brincando), chuva despencando em São Paulo e na região do ABC. E isso refletiu um pouco na quantidade do público que compareceu ao local. Por toda a reverência que existe em torno do musico, e por ser a primeira vez que se apresenta com a sua banda por aqui, esperava um púbico maior. Entretanto, aqueles que compareceram, fizeram bonito e agitaram do início ao fim.
Quando Ace entrou no palco, já sabia que estava com jogo ganho. Logo que começaram a sair dos falantes os acordes de “Fractured Mirror”, numero instrumental de seu álbum solo de 1978, a plateia já foi à loucura. Os músicos foram entrando no palco, sem nenhum tipo de produção. Entraram, pegaram seus instrumentos e mandaram logo de cara o clássico “Rip It Out”. Para aqueles que acompanharam sua carreira longe do Kiss, durante esses anos todos, o início não poderia ter sido melhor. Era exatamente assim que ele iniciava os shows de sua Frehley´s Comet, no longínquo ano de 1987.
De diferente, apenas o andamento da canção. Igualmente pesada, mas menos veloz. Com som no talo, Richie Scarlet correndo de um lado para o outro e fazendo todas suas caras e bocas, os músicos mostravam que não estavam para brincadeira. Ace, que tinha estado apenas uma vez no Brasil, quando esteve na companhia dos mascarados na turnê do polêmico Psycho Circus (1998), demonstrou que a loucura do passado ficou para trás. Se em 1999, o músico aparentava estar fora de si, no show do ultimo domingo, a realidade era outra. Totalmente compenetrado, reproduzia seus famosos solos com uma elegância fora do comum.
A segunda música do show foi extraída de seu último álbum de inéditas, Space Invader (2014), a ótima “Toys”, mas a casa só voltou a pegar fogo quando emendaram “Parasite”. Clássico dos tempos do Kiss que foi regravada em seu novo álbum. A versão do show é em cima da versão de seu novo trabalho, mais uma vez, mais cadenciada. Esse é um marco da nova fase do músico que já tem alguns anos, ele tem diminuído um pouco o andamento das canções, mas nada a ponto de descaracterizar ou a ponto de diminuir o impacto nas apresentações.
“Snowblind” veio à tona trazendo a grande polêmica da noite. Os músicos optaram por fazer um arranjo diferenciado reduzindo a velocidade no refrão, e não apenas no final, como acontecia na gravação original. Fato que nem todos os presentes entenderam. Fiquei bem feliz de poder ouvir isso ao vivo e gostei da versão. Na sequencia, o competente Scott Coogan assumiu os microfones para interpretar “Love Gun”. Bacana a ideia de deixar seus músicos cantarem nos shows, até porque todos eles têm uma boa voz, mas acho que a faixa escolhida, embora traga um de seus solos clássicos, tem mais a cara do Paul do que do Ace. Teria optado por outra canção. De todo modo, estava bem executada e foi muito bem recebida pelos presentes. O show do Ace é bem diferente ao show do Kiss. A produção de palco é super simples, não há efeitos especiais, nem nada do tipo. Apenas os músicos mandando som atrás de som.
“Rocket Ride” manteve a empolgação de seus admiradores que se emocionavam ao ver o músico reproduzindo seus famosos movimentos. Ace interpretava seu movimento clássico onde dava soquinhos com sua mão direita no corpo debaixo da guitarra, enquanto movia as posições no braço esquerdo, exatamente como aparece em seu VHS Live + 4. “Rock Soldiers” veio na sequencia, relembrando seus tempos de Frehley´s Comet e, mais uma vez, manteve a chama do espetáculo acesa. O musico não ficou falando muito no microfone. Falou o essencial e deixou sua guitarra falar mais alto. Longe do álcool e das drogas, demonstrava um feeling fora do comum.
Era a hora de Ace dar uma descansada. Chris Wise, baixista da banda, realizou um esforçado numero solo, antes de assumir os vocais de “Strange Ways”. Um dos clássicos esquecidos do set list do quarteto americano. Seus fãs estavam em êxtase com o repertório escolhido à dedo. “New York Groove” apareceu devolvendo o microfone ao dono da noite e estampando um sorriso na cara dos fãs. Ace Frehley não fica bancando a estrela do rock. Toca quase como se estivesse em um ensaio. Por vezes, até afastando sua boca demais do microfone. Não que ele estivesse desrespeitando a plateia. Estava apenas sendo ele mesmo. E é exatamente isso que seu publico espera dele.
E eis que chega a hora de seu fiel parceiro Richie Scarlet assumir os vocais. A escolhida foi “2 Young 2 Die”, do excelente álbum Trouble Walkin´ (1989), dedicada em homenagem ao falecido Eric Carr. Richie trabalha com o spaceman desde os anos 80. É incrível a animação desse cara nos palcos. Tem momentos que você jura que ele está tendo um ataque epilético. E o que poderia ser mais divertido do que ver os 2 guitarristas duelando no final da canção? E assim foi em um rápido numero onde intercalavam solos velozes e riffs de clássicos do rock. Espetacular ver Ace Frehley puxando o riff de “Day Tripper” (Beatles). Divertido!
O clássico “Shock Me” veio na sequencia com a plateia quase salivando de tanta animação. Certamente, uma das músicas mais esperadas da noite. Ao final da canção, Frehley emendou em seu numero solo, onde faz o captador soltar fumaça. Não reproduziu nota por nota seu antológico solo registrado em Kiss Alive! (1975) – época em que fazia esse número. Manteve apenas a movimentação. Emocionante ver isso cara-a-cara.
Para fechar a noite nada melhor do que o clássico “Cold Gin”. Ace precisou cantar apenas o refrão. A casa ficou responsável por cantar todos os versos com os pulmões cheios, quase como uma torcida organizada. Depois de um rápido intervalo, os músicos retornam ao palco com os fãs indo ao delírio e músico avisa. “Temos tempo para mais 1 ou 2 músicas”. E assim, foi. Mais dois sons para fechar a noite com chave de ouro.
As escolhidas? “Detroit Rock City” (mesmo ‘problema’ de “Love Gun”, bem interpretada, bem cantada – mais uma vez por Scott Coogan – mas não acho que traga a assinatura do Ace, a não ser no solo, é claro) e “Deuce”. A casa veio abaixo!
Depois de 95 minutos de show, os músicos deixaram o palco tendo entregado um show competente, empolgante, divertido, e, acima de tudo, honesto. Teve algumas gafes? Teve um ou outro errinho, mas nada que diminuísse o espetáculo ou tirasse o brilho. Aliás, isso é absolutamente normal quando estamos diante de um show 100% ao vivo, como os rapazes fizeram. Sem músico escondido atrás do palco, sem playback, sem samplers, sem base pré-gravada, sem músico de apoio. Apenas guitarra, baixo, voz, bateria, som dos falantes e nada mais. Esse é um show raiz, não nutella. Faltaram algumas músicas? Óbvio, mas isso já era esperado. Estamos diante de um cara que tem mais de 40 anos de estrada, mais de 20 álbuns gravados e apenas 90 minutos de show. Ao menos que ele brincasse de Jorge Benjor e ficasse fazendo vários medleys intermináveis não tinha como tocar tudo mesmo.
Antes da histórica apresentação de Ace Frehley, tivemos uma apresentação muito bacana de uma banda brasileira chamada Mahabanda. Infelizmente, muita gente não sabia que teria numero de abertura e eles acabaram tocando para um numero muito reduzido de pessoas. O que é realmente uma pena. A banda estava muito bem ensaiada, os músicos mandam bem. Infelizmente não conheço sua discografia para comentar escolha de repertório, mas quem assistiu, gostou.
E alguns felizardos, como eu, tiveram a oportunidade de tirar um retrato e assinar alguns itens com o lendário guitarrista do Kiss, após a apresentação. Jogo rápido. Entra, tira a foto, pega a assinatura, os brindes e tchau, mas valeu. Não é todo dia que temos a oportunidade de ficarmos cara a cara com uma lenda viva do rock n roll. Emocionante ver o cara de pertinho. Valeu, Ace! Espero que essa não seja sua única passagem em nosso país. Já estamos aguardando ansiosamente seu retorno. It was hotter than hell!!!
Davi, das diversas formações do Kiss, quais integrantes você ainda não conheceu pessoalmente? Sobre o show vejo que foi meio dividido em termos de opiniões, muitos dizendo que foi bom (como você), mas outros dizendo que foi mais ou menos. Eu gostaria de ter ido, mas o dia não ajudou…
Fala Marcel. O show foi bem legal. Apresentação típica do Ace. A maioria das pessoas que tenho visto descer a lenha na internet, não estavam lá no dia. A impressão que tenho é que a maior parte curtiu. Logico que não deu para falar com um por um, e sempre vai haver quem não curta, mas a recepção do publico estava calorosa demais para quem estava decepcionado. Cantando junto, pulando… Pessoalmente, só me falta conhecer o Vinnie Vincent.
Muito legal Davi, e quanto a escolha de “Love Gun” e “Detroit Rock City”, relembro o show da turnê do Psycho Circus quando o Paul Stanley passou “voando” sobre mim, todo mundo olhando para ele e eu grudado no palco para ver o Ace detonando num de seus melhores. E só o riff de DRC tinha que ser obrigatório, a canção inteira então, nem se fala. Faltou “Black Diamond” e queria muito ter ido nesse show. Pena que não veio para o sul. Abraços
Valeu Mairon. São clássicos, né? Preferia que tivessem mandado alguma que tivesse a assinatura dele como “Dark Light”, “Talk To Me”, ou até mesmo alguma coisa de seus trabalhos solo como “Ozone”, “Shot Full Of Rock”, “Something Moved”, mas está valendo. O batera canta bem.
Gosto muito de ler resenhas de shows feitas por fãs, não por “profissionais” da crônica musical. Por quê? Porque elas não tem a intenção de ser isentas, e deixam transparecer todo o “fanatismo” do redator a respeito dos artistas “resenhados”. É o caso desta bela resenha do Davi, que consegue passar as emoções que ele sentiu no show mesmo a um sujeito que, como eu, não tem muito apreço pela obra de Ace, seja no Kiss ou em sua carreia fora dele.
Mas, lendo o texto, fica claro que, quem foi lá para curtir as músicas e ver um ídolo de perto, certamente teve o objetivo atingido. Se os “profissionais” esperavam que Ace tocasse como se ainda tivesse 20 anos e a mesma saúde (e fôlego) dos anos 70, os fãs queriam era escutar o cara, ver o sujeito “cara a cara” (lembrar os “movimentos clássicos” de uma velha fita VHS certamente não é todo crítico musical que consegue, hahaha) e aproveitar uma oportunidade que talvez seja única na vida. Pelo visto, como disse, objetivo mais do que cumprido, então, por que pedir mais?
E o Davi ainda conseguiu ficar frente a frente e trocar uma ideia com o “hômi”, ou seja, deve estar nas nuvens até agora, sentimento que dificilmente certos “críticos influentes” poderão ter algum dia!
belo texto, Davi! Parabéns!
Muito obrigado, Micael. Grato pelas palavras. Nunca escondi de ninguém que o Kiss é minha banda favorita. Sem duvidas, Ace é um dos meus ídolos. Tudo o que quis com meu texto, contudo, foi ser honesto. Não tenho nada contra criticas negativas, quando são bem fundamentadas. O problema do texto daquele famoso jurado é que ele não fez uma resenha. Ele pegou tudo o que julgou de negativo e criou um ataque ao artista, se utilizando, inclusive, de um titulo sensacionalista. Ele nem sequer explica na ‘reportagem’ o papo da volta. Daí, é pedir para ser atacado mesmo. Não tinha como o resultado ser outro. O Ace entregou aquilo que os fãs esperavam dele e, honestamente, achei que ele tocou muito melhor domingo do que no show de Interlagos em 99. E, mais uma vez, obrigado pelos elogios.
micael falou tudo, pro meu gosto pessoal poderia ter tirado love gun e drc e tocar hide your heart ( tão boa qto á do kiss ) e musicas dele no unmasked e dynasty .
Também teria trocado essas duas. Nem que fossem por musicas de sua carreira solo. Adorei o show, mas gostaria de ter escutado mais uma musiquinha do Frehley´s Comet, por exemplo.
Boa! Estive no show e concordo com tudo o que está dito no texto. Ace rules!
Valeu Roberto!
Com certeza esse show foi demais Davi. Eu não estava lá, mas não tem como o velho Ace mandar mal com um repertório desses. Trocaria apenas DRC e Love Gun por qualquer uma dele no Kiss como Talk to Me, Save Your Love ou Two Sides of The Coin.
Verdade. Essas duas poderiam ter sido trocadas mesmo. Abração.