Liberdades X excessos na música
Por Fernando Bueno
Muito se diz sobre o quanto a música “era melhor”, ou “foi melhor” nas décadas anteriores, principalmente até os anos 80. Acredito que esse tipo de sentimento tem muito mais a ver com a memória afetiva de cada um do que com a qualidade das músicas e dos músicos mais atuais. Difícil comparar um disco que você ouviu a vida toda, muitas vezes diariamente à um que acabou de ser lançado. O primeiro sempre vira um ponto de referência difícil de ser alcançado.
Porém um ponto que me chama atenção de uns anos para cá é o tempo de música que temos em cada álbum ultimamente. Para isso temos que lembrar qual é a definição de um álbum e como essa definição foi se desenvolvendo ao longo do tempo. Obviamente não entrarei em detalhes e tentarei resumir para não desviar o foco do texto.
A música era difundida basicamente nas rádios e os artistas precisavam de uma forma para distribuir essas obras para os meios de divulgação. Assim, os singles, geralmente com uma faixa de cada lado, atendiam muito bem a necessidade. Os álbuns até o início da década de 60 eram apenas uma compilação de singles. Quando os grupos perceberam que o álbum era muito mais importante para eles e serviam muito mais do que uma mera coletânea e sim como um dos legados que os artistas deixariam para a posteridade, começaram a ter um cuidado maior com esse lançamento. Muitos dizem que a cultura de álbuns se iniciou com o Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band (1967), porém tivemos outros bons exemplos anteriores como o sensacional Pet Sounds (1966). A era do álbum foi o início do apogeu do rock and roll.
Os álbuns eram lançados em discos de vinil de 12” e eram tocados numa rotação de 33⅓ rpm. Sua capacidade musical era no máximo de 25 minutos de cada lado, mas o mais usual é termos algo em torno de 20 minutos. Quando se acumulava muita música em um mesmo lado do disco os sulcos, onde as agulhas atuam, deveriam ser cada vez mais próximos e quanto mais comprimidos esses sulcos, menor a qualidade da transmissão do disco para a agulha. Desse modo, uma limitação técnica acabou moldando o jeito de se pensar, produzir e consumir música. Ninguém tinha a intenção de ficar horas, dias ou até mesmo meses trabalhando em estúdio para lançar algo que seria arruinado na prensagem do disco. Ou seja, os artistas tinham os 40 minutos de música como um ideal.
Os artistas de hoje não se preocupam com esse detalhe já que o CD, lançado no início da década de 80 e popularizado quase uma década depois, tem capacidade de 80 minutos e não há nem a necessidade de se trocar de lado. Ou seja, a capacidade do CD é quase o dobro de um LP e pode armazenar todo o tempo de música sem nenhuma interrupção. E é aqui que está a questão de todo esse emaranhado de palavras que escrevo. Os músicos hoje em dia não estariam “livres demais”, sem limitações, que estão os deixando sem a necessidade de lapidar melhor sua música?
Peguem os discos mais aclamados da história e analisem o tempo de execução total. Como exemplos temos o Dark Side of the Moon com 43 minutos, o In The Court of Crimson King com 42, o The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars com 38 minutos e o primeiro do Led Zeppelin com 44. Estou certo que todos esses artistas e muitos outros da época tinham muitos mais idéias que queriam utilizar que não entraram nos discos – basta ver a quantidade de material extra que entram nesses relançamentos. Assim o processo de lapidação e cuidado com o que seria entregue ao público, me parece, era mais apurado. Certamente dois riffs ou duas melodias que hoje podem resultar em duas músicas foram condensadas em apenas uma, concentrando qualidade. Alguém já se deu conta que Reign in Blood, do Slayer, o álbum número 1 dos fãs, tem apenas 28 minutos totais?
Obviamente não estou dizendo que quanto mais longo pior o álbum já que temos inúmeros exemplos contrários em ambos extremos. Os artistas lançaram álbuns duplos e até triplos ao longo da história, mas para isso eles tinham que ter o respaldo da gravadora. Ninguém queria correr o risco de dobrar os custos, dobrar o valor de venda e ver esses esforços naufragarem. Alguns vão lembrar do irretocável All the Things Must Pass (1970), álbum triplo de George Harrison, lançado assim pelo acúmulo de material de anos e anos em que o músico ficou de escanteio na hora de escolher as músicas que entrariam nos discos dos Beatles.
Como disse, o CD surgiu no início da década de 80 com a capacidade de exatos 74 minutos. O mais curioso é que essa capacidade foi definida quando estavam desenvolvendo o produto com base na duração total da Nona Sinfonia em D menor, último trabalho de Herr Ludwig Van Beethoven. Com o passar dos anos a capacidade do CD foi elevada para 80 minutos mais por conta da necessidade de armazenar mais dados (medidos em megabytes) do que pela necessidade musical. O The Wall, por exemplo, não cabia todo em CDs de 74 minutos, mas consegui gravá-lo em apenas um disco quando surgiram essas mídias com 80 minutos.
Gosto muito do heavy metal do início da década de 80 e as bandas que estavam surgindo no período tinham a gana de lançar seus discos rapidamente e não é raro ouvir um álbum completo com pouco mais de 26-27 minutos. Inclusive o termo ‘álbum’ era usado quando o grupo queria dar maior valor ao seu lançamento, pois com esse tempo esses trabalhos podiam ser considerados EPs ou mini LPs. Em uma recente edição do Consultoria Recomenda indiquei o For the Universe (1985) do Martyr, uma banda holandesa de heavy metal como sendo um EP, mesmo ele sendo considerado um álbum pelo próprio grupo, mas essa definição é conflitante dependendo de onde você tira essa informação.
Apesar de ser a minha banda preferida não posso deixar de lembrar que o Iron Maiden tem abusado do tempo total de seus discos há pelo menos 20 anos. Basta lembrar que o último LP simples que a banda lançou foi o No Prayer For the Dying em 1990. E seu último lançamento, o The Book of Souls, foi lançado em LP triplo (CD duplo), após vários discos em LP duplo (CD simples), sem nenhuma excessão. Tenho certeza que se fossem limitados pelo tamanho de um LP simples alguns compassos ou algumas repetições em refrãos seriam limadas do resultado final. E eu estou falando de discos que gosto do modo em que foram lançados.
Há uma brincadeira que rola na internet em relação ao tempo de duração das músicas do Dream Theater. Apesar da brincadeira ser engraçada e gerar muitas tiradas legais elas são obviamentes exageradas. Mas toda piada para ser engraçada tem que ter um grau de exagero sim, mas principalmente um fundo de verdade. Acredito que o Dream Theater anda exagerando há muito tempo. O problema de se ter músicas muito longas é que ela tem que ser atrativa ao longo de toda sua duração, se não o ouvinte perde o interesse. O Yes lançou Close to the Edge (1972) com a faixa título tomando um lado todo do LP. A música fez um estrondoso sucesso porque é possivelmente a melhor música da banda. Porém, entorpecidos com o sucesso, tiveram a brilhante idéia de fazer um álbum duplo com apenas 4 faixas e lançaram o controverso Tales From Topographic Oceans (1973), que, apesar de seus inúmeros defensores (e tenho certeza que pelo menos um aparecerá aqui nos comentários), a grande maioria concorda que é um álbum difícil de ouvir e com muitas passagens que sobram. Acredito que tivessem os egos um pouco menos inchados e uma maior dose de bom senso o conteúdo composto para aquelas músicas teriam passado por uma peneira e certamente um disco muito mais conceituado seria lançado. E é exatamente nesse excesso que o Dream Theater está pecando. Basta dizer que esse último álbum The Astonishing (2016) tem 130 minutos e para preencher essa eternidade de música eles foram capazes de fazer não só uma, mas duas introduções para um mesmo disco. É ou não é um exemplo de falta de bom senso?
Quando falamos de bandas atuais fazendo um som legal não é raro lembrarmos de grupos que tem como um de seus objetivos o resgate da sonoridade de décadas atrás. Bandas como o Ghost, o Rival Sons, o Vintage Trouble e a carreira solo de Jack White lançaram os melhores discos dos últimos anos e tinham como característica não só o som calcado em gêneros e grupos das décadas de 70 e 80, mas também o tempo de seus álbuns, todos produzidos como se tivessem sido lançados nessas épocas. Pode ser coincidência, ou não.
Outro ponto que deve ser abordado é que as bandas hoje em dia não ganham mais tanto dinheiro quanto ganhavam na venda dos discos em si por conta de todo o contexto de distribuição musical que temos e que não é necessário detalhar aqui, pois todos estamos cansados de saber. Antigamente os shows eram encarados como uma forma de divulgar a venda dos discos. Atualmente um lançamento desse é mais um pretexto para uma turnê que é a forma que as bandas realmente ganham. Isso, talvez, influencie na quantidade de esforço que um artista empregue na gravação de um álbum. Será que não existe um sentimento de “deixe como está” ou “está bom assim mesmo”, algo que não aconteceria quando o álbum era algo mais importante? Ou até mesmo a quantidade de faixas. Talvez as bandas não se importem muito em peneirar e lançar só as melhores. Um álbum de heavy metal nos anos 80 tinha em média 7-8 músicas. Hoje pode chegar facilmente à 15. Acredito que não só as bandas lançam tudo porque afinal o CD comporta, como imaginam que quanto mais material for colocado no mercado, maior a chance de se produzir um hit de sucesso. Porém, pelo menos na minha opinião, uma quantidade exagerada de músicas acaba atrapalhando na hora de identificar aquelas melhores faixas diluindo a atenção.
Alguns artistas como o Kiss e o Twisted Sister já disseram diversas vezes que não têm mais o interesse de lançar álbuns, ou por questões financeiras – por acharem que não vão vender na quantidade que queriam –, ou porque o público está só interessado nos clássicos. Mas também existe um outro fator: o modo que as pessoas ouvem música atualmente. Poucos tem o interesse de ouvir o disco como um todo, estando confortável em ouvir apenas os singles e isoladamente. Em um vídeo no canal do Gastão Moreira, André Barcinski apresentou um dado que das pessoas que ouvem a primeira faixa de um disco apenas 30% ouvem a segunda. Não sei de onde ele tirou essa informação, mas, se for real, ela é importantíssima.
Tem muito tempo que estou ensaiando em fazer esse texto. Porém nunca o levei para a frente porque tive receio em ser mal interpretado ou até mesmo em não conseguir elaborar algo que interessasse outras pessoas. Não espero que as bandas lancem músicas de 2 minutos e nem sou adepto ao punk. Muito menos estou dizendo que músicas longas são necessariamente ruins – ouçam “Thick As a Brick” do Jethro Tull. Esse é um assunto que queria abordar há muito tempo aqui e só não sabia como fazê-lo. Queria até usar mais exemplos e argumentos, mas não quero deixar o texto muito longo, apesar que isso nunca ter sido problema aqui na Consultoria do Rock. Enfim, o texto como um todo tem a característica de um brainstorm e espero que seja só o início de uma boa discussão aqui nos comentários.
Agradecimentos ao Marco Gaspari que me ajudou a botar um rumo nesse texto.
Ótimo texto Fernando. Penso muito nisto. Dificilmente um álbum com 15 faixas e 70 min irá atingir um nível de qualidade e coesão nas músicas como um álbum de dez faixas 40 min de duração. Essa moda de excessos começou no início da década de noventa com os cds e a maioria das bandas que estavam no auge na época lançaram álbuns excessivos que seriam clássicos maiores se fossem enxugados (vide GNR, Maiden e Chili Peppers). Pra concluir, um álbum de 45 min está de bom tamanho, dá pra ouvir na íntegra de uma vez só. Abraço!
Obrigado Tiago…
Acho que você sacou o que quis dizer…
Valeu
Ah, esqueci de mencionar. Sou fã do Prince e me lembro que quando acabou o contrato dele com a Warner em 96, ele lançou o cd triplo Emancipation pelo seu próprio selo e, embora tenha músicas de alto nível, caberia tudo em um álbum simples pois tem muita coisa dispensável tornando a audição cansativa. Ou seja, as vezes, quando o artista tem total liberdade pra lançar o que bem entende, ele acaba perdendo a noção de critério para filtrar sua própria obra.
Isso ocorre muito e há muitos exemplos nesse sentido. A causa disso é desprezar a importância e o papel que um produtor tem no disco. Ele é quem frequentemente corta esses excessos e faz o filtro entre o material que o músico/compositor tem na mão. Quando não há essa figura, frequentemente há excessos.
Parabéns pela matéria. É um assunto que gera questionamentos, mas se a música é boa, o tempo de duração é um componente que agrega valor a fruição. Tudo depende do estado de espirito: tem dia que escutar Guided by Voices, com faixas que duram até 2 minutos, traz muito prazer. Porém, tem dias que escutar uma faixa longa do Rush faz todo sentido. O importante é ouvir, fator cada vez menos valorizado nos dias efêmeros de hoje, infelizmente.
Isso é uma outra coisa também António.
Com a facilidade que a internet nos trouxe, as pessoas querem ouvir tudo, e rápido, assim podem ouvir mais e mais. E eu não estou falando ‘dos outros’ (porque é sempre ‘os outros’, nunca você, não é? hahaha). Eu mesmo cai nessa armadilha nos últimos anos, ouvindo 5, 6, 10 discos por dia, pelo simples motivo que eu queria conhecer mais e mais. Ao rever minha conta no Rate Your Music me deparei que no caso de diversos discos que eu tinha dado boas notas, eu nem lembrava de nada daquele disco. Ai fica a pergunta, qual o sentido?
Eu dei uma guinada na minha maneira de ouvir música (mais uma vez), se antes eu TINHA que ouvir pelo menos um disco novo por dia, hoje eu estou mais preocupado em ouvir o disco direito. Era assim quando eu era muleque e gostaría que fosse assim mais uma vez, confessi que é difícil, mas estou tentando 🙂
Fernando, belo texto cara!
Eu já comentei algumas vezes aqui (agora não vou lembrar exatamente onde), mas sou um ferrenho batalhador contra o disco longo.
Inclusive já pensei diversas vezes em fazer um texto como o seu, mas no final das contas, acabei deixando pra lá por todos os comentários contrários que recebo quando falo sobre o assunto, achei que era eu o ranzinza, parece que não!
Como você mesmo colocou no texto, se o disco for longo, não quer dizer que seja ruim (vide coisas lindas como o Mellon Collie And The Infinite Sadness do Smashing Pumpkins, CD duplo com mais de 100 minutos), mas na grande maioria das vezes discos com mais de 50 minutos estão infestados de fillers, faixas que na época do LP nunca entrariam num disco.
O CD trouxe essa mentalidade que você mencionou, sempre fico imaginando uma banda no estúdio, depois de ter gravado uma faixa e ouvindo e um papo rolando, also assim:
– “Ah, essa n’ao ficou 100%”
– Sem problema, a gente coloca mesmo assim, tem 80 minutos pra encher o CD mesmo.”
A volta do LP eu vejo com dois olhos, um vê uma moda que não foca a música mas sim o status (e que infla os preços de uma maneira idiota), o outro vê bandas que ao invés de pensar no formato CD volta a pensar no formato LP e gravar discos com menos de 50 minutos. Ponto positivo.
Pra fechar aqui, vou usar a minha resenha do novo disco do Metallica (que saiu aqui nos discos de 2016, acredito eu):
“Só que o disco passa longe de ser perfeito… ele é longo demais, demais. Músicas como ‘Now That We’re Dead’, ‘Dream No More’, ‘Am I Savage?’, ‘Spit Out The Bone’ poderiam ter sido facilmente cortadas da versão final do disco e poderiam ter sido usadas na edição especial apenas, porque em nada contribuem para o resultado final, já outras poderiam ter sido editadas drásticamente. Me deu a mesma impressão de quando ouvi cada um dos discos do Metallica desde Load, que a banda quer compensar todos os anos que fica sem lançar material recheando os 80 minutos da bolachinha que é o CD. Foi assim com Load (79 minutos), Reload (76 minutos), St. Anger (75 minutos), Death Magnetic (74 minutos) e agora Hardwired… to Self-Destruct (77 minutos), só esqueceram de dizer para eles que no caso do Metallica menos É mais, encher o disco com lados B não faz com que a qualidade aumente e todos os discos que eu citei só corroboram o que eu disse. Cheio de fillers.”
Vale lembrar que concordo com você quanto ao Iron, gosto de muitos discos mais recentes (como o Dance Of Death), mas um produtor de fora, limando muita encheção de linguíça faria muito bem e ao invés de vários discos ‘bons’ teríamos uma porção de discos ‘ótimos’.
Mais uma vez, belo texto!
Obrigado Diego.
Será que vou ser chamado de ranzinza aqui? Hahahahaha
Bah Fernando, tu és muito ranzinza. Garanto que tá faltando uma defesa do Lomba na tua vida, só pode …
“A volta do LP eu vejo com dois olhos, um vê uma moda que não foca a música mas sim o status (e que infla os preços de uma maneira idiota), o outro vê bandas que ao invés de pensar no formato CD volta a pensar no formato LP e gravar discos com menos de 50 minutos. Ponto positivo.”
Honestamente, se vissem o LP na forma de gravar discos com menos de 50 minutos, ia ser ótimo. Mas duvido que alguém esteja pensando nisso
Cara, as bandas que sempre gravaram material demais e que começaram na época do cd como Ayreon, Dream Theater, Big Big Train e muitos outros, continuam gravando material demais e não pensando no LP. Ai eles acabam lançando LPs com 3 lados. O que é muito tosco.
Vou dar um exemplo, eu ganhei de natel o disco novo do Kansas em LP (discaço), o disco tem 53 minutos. É um LP duplo, mas o lado 4 não tem nada, tem uma gravura muito bonita no LP, mas é completamente sem nexo fazer isso. Um disco duplo com 3 lados apenas. Custava limar UMA música (que nesse caso, todas as faixas tem 4 minutos ou mais) e lançar um LP normal?
Agora, do outro lado, muitas bandas que começaram na época do LP e hoje em dia estão lançando LPs de novo voltam pros 40 minutos. Como o Museo Rosenbach que gravou um disco em 2013 com 40 minutos (e muitos outros). A galera das antigas tá voltando pra esse formato e o pessoal que se baseia na época do LP tb. Muito disco novo com menos de 45 minutos. Por exemplo o novo do Tiebraker com 42 e assim por diante.
Sim Diego, mas aí vem outro lado. Acho que não é só a questão de “adaptação” do vinil, mas a capacidade (ou saco) para criar música nova.
Eu to curioso, por exemplo, para ouvir o novo do Styx, ainda mais sendo ele um álbum conceitual e sendo o Styx uma banda que caiu nessas de lançar discos intermináveis nos anos 90. Tomara que seja um bom disco e sensato.
Essa do Kansas é de cair o cú da bunda, ainda mais que é um disco de 53 minutos. Mas lembre-se, Keith Jarrett também lançou disco duplo só com três lados, o Eyes of the Heart, isso por que ele julgou que o quarto lado não tinha condições de ser lançado para o público. Fora o Koln Concert, que o lado D tem só 6 minutos. E estamos falando de discos da década de 70 …
Concordo com as suas ideias. Há tempos não compro CDs, mas, nos últimos que comprei, realmente havia essa situação: uma ou duas músicas sensacionais, duas ou três razoáveis e o restante, dispensável. Para aproveitar o espaço do formato, muitos acabam “enchendo linguiça”, com material de baixa qualidade ou, o pior, repetições de ideias. Com as limitações do vinil e da fita cassete, os músicos eram forçados a filtrar suas composições, limar os excessos, evitar as redundâncias. Mesmo em temas mais longos, havia uma maior elaboração em sua construção. Porém. penso que boa música independe de sua duração. Gosto tanto de “Penumbra” (Steamhammer) e “Can you hear me?” (Renaissance) quanto de “Thinking of you” (The Edgar Broughton Band) e “Pisces apple lady” (Tucky Buzzard). Não importa a duração. O que importa é o prazer que proporciona…
Belos exemplos!
“Escrever é humano, editar é divino”. Já dizia Stephen King.
Sempre bato nessa tecla, pois penso de maneira muito parecida com o texto. É impressionante o número de bandas que se enforcam com o próprio ego e exagero.
O LP era um filtro natural para esse ego.
Obrigado pelo comentário Nathan.
Que frase linda…vou adotar! valeu, abraço!
Bueno, excelente matéria para se colocar um Coltrane de fundo, baixar uns Johnny Walkers e discuti-la. Eu concordo e muito com o que escreveste. Nos anos 90, a coisa degringolou sobre essa questão dos lançamentos. Vejamos o Yes, por exemplo. The Ladder e Open Your Eyes tem alguns bons momentos, mas quando ouvimos os mais de 70 minutos deles, parece que foram uma eternidade. Várias outras bandas fizeram algo similar na época – como vc citou, o Iron é uma delas, e fez discos que podiam ficar bem melhor se fossem mais curtos – e o resultado, no geral, foi Píffero, ops, pífio. Porém, existem bons casos de discos longos que são ótimos de se ouvir. Maiores exemplos são os álbuns da Beardfish, quase todos conceituais, mas que se não fossem na duração que são, talvez não teriam o mesmo impacto que tem quando o ouvimos.
O Swans é outro bom exemplo. Sua música já é difícil de se apresentar e ouvir na integra, e para piorar, a maioria dos discos são longos. O To Be Kind é um exemplo. Acho um belo disco, mas se fosse enxugado uma meia hora, ia ser melhor ainda.
Hoje tem muito disco que está voltando a duração de 40 / 50 minutos, que é a ideal na minha visão (salvo raras exceções) para discos de uma banda que vamos a conhecer. Depois que conhecemos a banda, e tentamos “entender” a criação musical da mesma, daí varia muito. Mas que o exagero é demais hoje, bah, com certeza.
Eu adoro muitas músicas do Transatlantic e elas são quase todas gigantes. Tenho um DVD em que a primeira frase de Neil Morse para o público é “se vc não gosta de músicas longas esse não é o lugar certo para vc”. Hahahaha…
O REM foi uma das poucas bandas que percebeu que não necessitava gravar 80 minutos de música no cd, tanto que seu penúltimo lançamento teve duração de 34:39 e o último 38:59. Os artistas precisam também analisar seus lançamentos, evitando que haja a valorização da quantidade em relação a qualidade.
Boa!!
“O Yes lançou Close to the Edge (1972) com a faixa título tomando um lado todo do LP. A música fez um estrondoso sucesso porque é possivelmente a melhor canção da banda.”
Pô Fernandão, de novo esse assunto? Você sabe que isso não é verdade!
Sobre essa questão de lançar música no CD por que tem 80 minutos, mesmo ela não estando 100%, uma vez perguntei para um famoso músico brasileiro – não citarei o nome – por que que relançaram uma determinada obra dos anos 70 com pouco mais de 50 minutos, e os discos solo dele e da banda que ele estava tocando novamente tinham quase 70 minutos. A resposta foi simples: “Meu amigo, hoje em dia temos duas formas de ganhar dinheiro com o disco: ou ele tem uma faixa que é O SUCESSO, coisa que não fazemos, ou gravamos várias músicas para poder ganhar um adicional por faixa gravada”. Daí lembrei que o próprio Roger Waters já afirmou que dividiram “Shine On” em várias partes para ganhar um $ a mais, por faixa, assim como fez questão de inserir as “Pigs on the Wing” para poder garantir seu croissant matinal até a geração de seus netos. É tudo “MONEY”
Olha só…Isso é muito importante e de certa forma ajuda a explicar o conteúdo do texto hein!!!!
Eu li uma história parecido com o Zappa. O Zappa contando pra uma outra banda (que agora, PQP, não vou conseguir lembrar o nome), que eles não deveriam gravar o disco com uma música de cada lado como eles queriam, que deveriam dividir cada lado em pequenas partes (mesmo que fosse uma só faixa) como ele fizera em discos como We’re Only in It for the Money (que tem 18 faixas mas ‘só’ 40 minutos). Tinha a ver com o fato de que cada música arrecadaria direitos autorais separados. Se fossem apenas duas faixas seriam os direitos pra apenas duas faixas.
Mas, eu também li (ou vi) uma entrevista de um cantor popular, falando o porque da maioria dos discos populares brasileiros terem 14 faixas no máximo (e isso, pelo menos durante os anos 90, na era do CD, é verdade). Ele explicou que a partir da 15 faixa os deireitos autorais recolhidos por música no disco diminuiam. Nunca constatei se isso era verdade ou não, mas realmente se você pegar discos de gente como Rionegro & Solimões, Leandro & Leonardo, Zezé Di Camargo & Luciano, etc, eles tem, numa grande parte, 14 faixas.
Interessante essa das 14 faixas. Não sabia mesmo. Já a do Zappa sim. Inclusive, o Joe’s Garage virou várias músicas por conta disso que o Diego falou. É o din din quem manda, não adianta
Aí sim, faz todo o sentido. Fracionar o material…o direito autoral é pago individualmente por execução de cada canção. E isso também atendia um mercado potencial de rádios, que via de regra, não tocam músicas longas.
Isso não é mais realidade já há um bom tempo. Nem músicos famosos (session-mans) ganham mais por faixa gravada; os trabalhos são contratados por empreitada, digamos assim. E só no auge da indústria fonográfica é que se pagava por quantia de música composta e gravada por um álbum, sendo uma coisa até fora do padrão. Um contrato com um artista era feito baseado em álbuns, não em quantia de canções. Se o contrato era de 3 discos, poderia haver quantas músicas o artista quisesse, contando que fossem 3 álbuns.
Na verdade Ronaldo, existiam casos e casos. A maior parte realmente tinha contratos por discos.
Mas, por exemplo, li a biografia do Creedence e lá explicava que o contrato dos caras com a gravadora Fantasy era por ‘master’, ou seja, por música, os caras tinham que entregar uma quantia X de masters por ano, fosse singles ou discos. Por isso mesmo o Creedence gravava pra cacete em em 1969, por exemplo, lançou discos.
*3 discos
Esses 3 discos, aliás, todos ótimos!!
Vou te falar Mairon que Creedence é uma das minhas bandas favoritas. Mas pra mim os caras não faziam bons discos. Na discografia toda deles tem muita faixa fraca no meio dos discos.
Do tipo 75% do disco é fabuloso, mas os outros 25% acabam ‘fodendo’ com o disco em si. Talvez o lance de ter que gravar sem parar por causa do mal contrato que eles assinaram acabou ferrando com a qualidade no geral.
Mas em contrapartida, se você pegar aquela coletânea deles, Chronicle, com 20 músicas e quase 70 minutos…. BOOM! Melhor disco já lançado na história do Rock, não tem um segundo fraco naquelas 20 faixas.
Tem também o The Concert, eu não gosto de discos ao vivo, mas aquele show do Royal Albert Hall é simplesmente uma bordoada. E pensar que eu tinha em LP (que eu paguei 1 real, novo, com plástico ainda, em 1999) e ele acabou indo pro lixo depois que eu vim pra Polônia…..
nunca me liguei mto nesse assunto, mas depois que comprei o novo do metallica e lendo seu texto, td que vc escreveu faz mto sentido sim, e me lembro que nos anos 80 nao era só a banda que escolhia as musicas que entravam nos albuns, e sim as gravadoras, british steel teve a ordem das musicas alteradas em alguns países como o brasil e o primeiro play do wasp nao tinha animal ( fuck like a beast ), pois os executivos tinham medo de represalias em funçao de sua letra .Sem as gravadoras ditando as regras nao vejo mto futuro pra musica nao .
Kra, não acho que a ascensão do rock ou o sucesso de um hit tenha a ver apenas com a influência das gravadoras. O primeiro Wasp por exemplo, seria um sucesso estrondoso ou até maior com a música fuck like a beast, devido ao conteúdo rebelde e subversivo da letra. Tudo gira na verdade em torno de grana mesmo, jabá pras rádios e programas de TV, etc…. Um artista independente pode estourar tanto quanto se tiver condiçõe$ para isso.
A gravadora influencia no sucesso de um disco ou hit por ter condiçõe$ de empurra-los para o público através dos jabás aos meios de comunicação. Fora isso, quando um disco é bom, é bom. Independente da grana que é investida nele. Quantos the number of the beast, apettite for destruction e nevermind a gente vê por aí? Nem as próprias bandas conseguiram repetir a fórmula. E hoje em dia o que mais tem é artista medíocre sendo alçado ao patamar de gênio da arte de fazer música.
No final das contas tudo gira em torno de money mesmo.
isso depende do estilo de musicas do artistas, musicos como herbie hancock, stanley clarke, e outros musicos de estilos mais livres os cds a maioria das vezes tem de 4 a 6 faixas, mas cada faixa, tem entre 6 a 14 minutos.
e sinceramente eu prefiro um album com duraçao de 80 minutos, que assistir a um show de rock e ouvir uma musica que no album tem 5 minutos mas ao vivo a musica consegue ter mais de 10 minutos isso sim que é um exemplo de ego imenso, ficar fritrando uma guitarra por longos minutos.
outro ponto a se pensar é o fato de demorarem cada vez mais tempo pra lançar algo novo, o próprio Metallica até o Garage lançava disco com intervalos menores entre os álbuns e agora ficou quantos anos pra lançar? Chinese Democracy quanto tempo? Enfim, concordo que com a liberdade de tempo os álbuns de maneira geral incharam com muito material descartável, que inclusive poderia ser reeditado e reaproveitado em outro momento como foi o caso do Tattoo you dos Rolling Stones, e até mesmo o Physical Graffiti do Led Zeppelin que foram feitos a partir de sobras, mas com ideias mais maduras e em outro período conseguiram ficar entre os melhores discos de suas discografias
Nesse caso eu acredito que é algo mais prático Leonardo. Bandas (grandes) não fazem mais dinheiro como antigamente lançando discos. Nos anos de ouro se lançava disco todo ano porque sabia-se que ia vender pelo menos um milhão. Hoje em dia, o próprio Metallica, o todo poderoso, vendeu ‘só’ 750 mil cópias do disco novo, e já fazem quase 6 meses que o disco saiu. Bandas menores, que outrora vendiam milhões, mal chegam aos 100 mil. (O Korn, por exemplo vendeu 110 mil cópias do disco novo). O Megadeth vendeu pouco mais de 150 mil cópias do disco mais recente.
Então é mais negó$io fazer turnês grandes e lançar discos mais espassados.
Primeiramente, parabéns ao Fernando pelo texto e pela pauta super relevante e instigante.
O comentário do Leonardo e do Diego tem bastante a ver com o que vou falar, um pouco do outro lado da cerca (de músico auto-produzido). Hoje arrecada-se pouquíssimo com a venda de álbum, contudo os custos para produção (estúdio, gravação, mixagem, masterização e prensagem das cópias físicas) continua ainda bastante elevado. Então, ter um disco longo e lançamentos espaçados tem a ver não só com exageros (que acho que sim, eles existem, e nesse caso atribuo à ausência de produtores dispostos a investir em música e dar inteligência de mercado para a imensa maioria dos materiais lançados), mas também com um mecanismo de racionalização de investimento. Custa bem menos produzir um disco de 75 minutos a cada 3 anos do que 3 discos de 27 minutos por ano. Também há a questão da multiplicidade…poucos músicos hoje, dado o desmantelamento da indústria fonográfica, podem se dar ao luxo de ter dedicação exclusiva à uma única banda (até mesmo a profissão de músico, e isso é um panorama mundial, não só no Brasil). Nisso, o cara tem que se equilibrar entre várias bandas e atuações distintas no mercado (aulas, produção fonográfica, projetos tributos, participação em outras bandas, etc.). O volume de produção de música e de dedicação alteram bastante o resultado – especialmente os aspectos da criação coletiva, dos arranjos, da maturação das canções primeiramente nos palcos, ficam absolutamente mais frios do que o que acontecia no passado. Abraço a todos!
Pensei um pouco antes de comentar, e agora lendo algumas opiniões me deixou mais a vontade. Acho que a questão nem é tanta a liberdade dada aos artistas, acho que pesa muito mais as questões mercantis e financeiras mesmo. No auge do CD as próprias gravadoras meio que exigiam que os artistas gravassem mais. Era um tipo de compensação pelo CD ser novidade ou mais caro. Na lógica das gravadoras, as pessoas iriam se zangar se comprassem um produto que cabia 75 minutos de musica com apenas 40… De uns 10 anos pra cá eu já acho que mudou um pouco de figura. Muita banda nem disco lança mais porque não dá dinheiro. As que lançam acabam não investindo muito pra ficar muito tempo de em estúdio, e não digo nem investimento em dinheiro, mas o tempo mesmo. Não querem ficar tanto tempo cozinhando um disco e vai vender aquilo mesmo. Além disso pensam em “dar mais” pelo mesmo valor, quanto mais melhor, etc…
É, tem isso. Muitos discos foram feitos com “encheção de linguiça” por que era uma vergonha ter um disco de 70 minutos com só 40 gravados. Desperdício de mídia (que acabava virando desperdício de ouvidos)
É chefão, e também isso é o resultado da megalomania de várias bandas dos anos 70, centradas no rock progressivo.