Belgrado – Obraz [2016]
Por Micael Machado
Em uma das muitas matérias que o site UOL Host fez o “desfavor” de excluir, certa vez eu escrevi sobre a banda espanhola de pós-punk Belgrado (formada pelos venezuelanos Renzo Narvaez no baixo, Fergu Marquez na guitarra, e Jonathan Sirit na bateria, além da polonesa Patrycja Proniewska – Pat para os íntimos – nos vocais), que à época divulgava seu segundo LP, Siglo XXI, lançado em 2013. Três anos depois, o quarteto lança seu terceiro registro, Obraz, novamente pela gravadora independente espanhola La Vida Es Un Mus, e, mais uma vez, com edição apenas em vinil. O resultado, como no disco anterior, tem tudo para agradar os admiradores do estilo adotado pela banda.
Ao contrário de outros ícones do pós-punk, a música do Belgrado não é lenta, arrastada, tristonha e sorumbática. Os músicos, sediados em Barcelona, optam por uma versão mais rápida e agitada do estilo, mantendo o baixo à frente das composições, a bateria seca e marcada e a guitarra com mais licks e efeitos do que riffs e solos memoráveis. Neste disco, belas amostras desta “fórmula” podem ser encontradas nas faixas “Wiatr“, “Dalej” (que abre o LP com muitos efeitos na guitarra e uso de eco na bateria), “Kulminacja Oddzielenia”, “Raz Dwa” (um dos destaques), “Nierealne Realne Społeczeństwo” e “Fragmenty Świata“, a faixa de encerramento. Mas nem tudo é “mais do mesmo” quando tratamos de Obraz. “Na Ten Czas”, por exemplo, é um pouco mais lenta que o usual do grupo, com melodias de guitarra um tanto “incomuns” ao estilo de suas companheiras de track list. “Pasaż” e “Krajobraz” são instrumentais, a primeira guiada pela guitarra de Fergu, e a segunda usando e abusando de elementos eletrônicos e efeitos de som, em uma faixa que foge bastante daquilo que se espera das composições do grupo. Já “1000 Spektakli” traz um acento de reggae no baixo de Renzo, além de alguns efeitos de guitarra típicos do dub style jamaicano, em uma composição que foge completamente ao padrão das demais faixas da carreira do Belgrado, mas que serve para mostrar que o grupo não se deixa acomodar em uma mesma “receita” para compor suas obras.
Belgrado ao vivo em 2016: Fergu, Jonathan, Pat e Renzo
Outra mudança em relação a Siglo XXI está nos vocais de Pat. Ela continua soando como uma espécie de versão loira de Siouxsie Sioux (cantora do Siouxsie & the Banshees), mas desta vez abriu mão dos gritinhos e interjeições que colocava frequentemente em meio aos arranjos, e que, sejamos honestos, por vezes soavam bastante irritantes. Neste novo registro (que apresenta, apenas no encarte, o subtitulo “w dziesięciu konstrukcjach”, que significa “em dez construções”), Pat se limita a representar as letras usando apenas alguns efeitos na voz, sem exagerar na interpretação. É também nas letras que se percebe outra grande mudança em relação aos primeiros registros: como o leitor mais atento já deve ter percebido, desta vez o inglês, o espanhol e o catalão foram totalmente excluídos da parte lírica, a qual se limitou ao polonês, prejudicando bastante a compreensão dos temas abordados pelo Belgrado, ainda mais que, ao contrário do que ocorre no álbum anterior, desta vez não há um encarte extra com as traduções para o inglês, e a parte gráfica, em formato de livreto, apesar de bastante interessante, usa praticamente apenas a língua natal de Patrycja em sua composição.
Mas não é esse mero “detalhe” da incompreensão das letras que nos impede de ouvir e apreciar esta bela “obra” feita pelo quarteto (que pode ser escutada na íntegra pelo youtube através deste link), a qual pode não ser tão direta e atraente quanto seu antecessor, mas mantém o nome do grupo como um dos principais representantes do pós-punk em plena atividade neste século XXI. Se você curte este estilo musical, dê uma chance para a banda, e garanto que não irá se arrepender.
Contracapa do álbum Obraz
Track List:
01. Dalej
02. 1000 Spektakli
03. Wiatr
04. Kulminacja Oddzielenia
05. Krajobraz
06. Raz Dwa
07. Nierealne Realne Społeczeństwo
08. Na Ten Czas
09. Pasaż
10. Fragmenty Świata