Direto do Forno: Tim Bowness – Lost in the Ghost Light [2017]
Por Mairon Machado
O nome de Tim Bowness é conhecido dentro do atual cenário do rock progressivo. Quem se atualiza e não vive no passado da década de 70, reconhecerá Tim como o parceiro de Steven Wilson no projeto No-Man, cujo primeiro álbum, Loveblows & Lovecries – A Confession (1993), é uma mistura de synthpop, artpop e até trip-hop que faz muita gente – principalmente os fãs de Wilson – se surpreender com o que está saindo das caixas de som, em nada lembrando nomes consagrados como Porcupine Tree ou Blackfield, por exemplo.
Em paralelo ao No-Man, Bowness lançou-se em carreira solo em 2004 com My Hotel Year, conquistando mesmo o mercado prog com Stupid Things That Mean The World, que alcançou a décima posição em vendas no Reino Unido no ano de seu lançamento, 2015. Agora, ele está no seu quarto álbum, Lost in the Ghost Light, o qual está sendo lançado nos formatos somente com CD, CD + DVD e LP 180 gr duplo. É um álbum conceitual, que trata sobre um músico de rock clássico no final de sua carreira, tendo que conviver com os ônus e os bônus de estar nos palcos e nos estúdios depois de muito tempo em ativa. Nas palavras do próprio Tim: “Se isto parece como uma ópera rock, cheira como uma ópera rock, então …“
A banda de apoio de Tim é de primeira, com Stephen Bennett (teclados, guitarras), Colin Edwin (baixo, Porcupine Tree), Bruce Soord (guitarras, The Pineapple Thief), Hux Nettermalm (bateria, Paatos) e Andrew Booker (baterista, Sanguine Hum e Peter Banks), além de Steven Wilson na mixagem e masterização, bem como os músicos convidados Kit Watkins (teclados, Happy The Man e Camel), Steve Bingham (baixo, No-Man), e Andrew Keeling (arranjos orquestrais e de flauta, e que trabalho com Robert Fripp).
O álbum abre com o ritmo suave de “Worlds of Yesterday”, levado pelo dedilhado da guitarra, o baixo fretless e a voz sussurada de Bowness, em uma linha que irá agradar em cheio aos fãs de Spock’s Beard, e com um breve mas chamativo solo de flauta, além da magistral guitarra de Soord solando hipnotizantemente. A longa “Moonshot Manchild” mantém o clima Spockiano, destacando a grande presença dos sintetizadores e uma levada floydiana que irá agradar aos apreciadores da fase pós-Waters do grupo inglês, principalmente pela presença de vocalizações, tudo isso temperado com um moogzinho fascinante, essencialmente no solo do trecho central da canção, o qual traz sensações de relaxamento para o corpo muito boas, assim como as melhores criações do progressivo.
“Kill The Pain That’s Killing You” muda todo o ritmo leve do disco até então, com uma frenética bateria e uma aguçante guitarra que nos remetem aos últimos discos de David Bowie, com a guitarra repleta de efeitos sendo o centro das atenções, nessa que é a faixa mais agitada de Lost in the Ghost Light. “Nowhere Good To Go” volta ao ritmo suave das faixas anteriores, com alguma orquestração e aquela sensação de leveza novamente impregnando o corpo.
Chegamos na faixa-título, uma comovente balada com predomínio de piano e teclados, onde seu trecho final ficará alguns dias em sua cabeça (“you’ll be the silent and then can make some noise“). A vinheta “You Wanted To Be Seen” é uma faixa estranha, com um clima soturno, bastante divergente das demais faixas do álbum, mas que por ser curta, acaba passando despercebida, e para fechar o disco, Ian Anderson surge com sua flauta na linda “Distant Summers”, não por acaso aquela que para mim é a melhor faixa do álbum, principalmente pela virada que ela faz a partir dos seus dois minutos. Apenas ouvindo para descrever o que acontece no disco, seja pelo ritmo empolgante de baixo e bateria ou pelo malucaço moog que permeia os vocais de Tim, e o encerramento, putz, Steve Hackett irá se admirar, com certeza.
Enfim, uma ótima surpresa esse novo álbum de Tim Bowness, com belas harmonias e composições que preencherão o coração dos amantes do rock progressivo, apesar de não ser um disco revolucionário. Destaque também para a bela capa conceitual do disco, criada por Jarrod Gosling, e que mostra um pouco do que ouviremos nos pouco mais de 43 minutos de um álbum que já promete emplacar nas listas de dez melhores lançamentos de 2017.
Track list
1. Worlds Of Yesterday
2. Moonshot Manchild
3. Kill The Pain That’s Killing You
4. Nowhere Good To Go
5. You’ll Be The Silence
6. Lost In The Ghost Light
7. You Wanted To Be Seen
8. Distant Summers
A descrição parece interessante e me fará ir atrás…contudo, baixo fretless já me deixa receoso…não consigo curtir.
Abraço,
Sério??? E o Pastorius?? Pode ouvir sem medo, talvez vc curta! Abração
Acho que o Ronaldo tem um ponto na colocação dele.
E Mairon, o ‘culpado’ é justamente o Jaco. Tudo o que veio depois dele em se tratando do Fretless copia o Jaco, a maioria pelo menos.
Sim, concordo. Mas tinha outros baixista fudidaço no Fretless, Patrick O’Hearn, com um estilo em paralelo ao do Pastorius, mas tão bom quanto