Cinco Discos Para Conhecer: Steve Vai
Por Igor Miranda (Publicado originalmente na Van do Halen)
Alcatrazz – Disturbing the Peace [1985]
Um grupo que conta com Yngwie Malmsteen no primeiro disco e Steve Vai no segundo, com certeza está bem servido nas seis cordas. A grande diferença é que, enquanto o sueco voador possui um ego descontrolado, Steve sabe dosar sua vaidade de modo que não interfira nas relações internas. Sendo assim, não é surpresa que Graham Bonnet declare abertamente que o guitarrista com o qual ele mais gostou de trabalhar no Alcatrazz tenha sido o segundo. E Vai já chegou mostrando serviço. Participou da composição das onze faixas de Disturbing the Peace, álbum produzido por Eddie Kramer (KISS, Led Zeppelin, Jimi Hendrix, entre outros). Já de cara, o álbum emplacou o hit “God Blessed Video”, que contou com um clipe muito bem elaborado. Posteriormente, a música foi incluída no game Grand Theft Auto: Vice City. Outros grandes momentos são “Wire and Wood”, a bem humorada “Stripper” (onde Steve mostra toda sua versatilidade, com uma levada que chega a lembrar Blackmore) e “Painted Lover”. Na vinheta “Lighter Shade of Green”, Steve mostra toda sua habilidade. A parceria só duraria por esse disco e a turnê, pois o guitarrista recebeu um convite irrecusável, tanto do ponto de vista financeiro quanto da exposição profissional.
Graham Bonnet (vocals), Steve Vai (guitarras), Gary Shea (baixo), Jimmy Waldo (teclados), Jan Uvena (bateria)
1. God Blessed Video
2. Mercy
3. Will You Be Home Tonight
4. Wire and Wood
5. Desert Diamond
6. Stripper
7. Painted Lover
8. Lighter Shade of Green
9. Sons and Lovers
10. Skyfire
11. Breaking the Heart of the City
Public Image Ltd. – Album [1986]
Um guitar-hero em uma banda pós-Punk? Aconteceu. E o próprio Steve considera esse um de seus melhores desempenhos em um disco concebido por outro artista. John Lydon ainda chamou outras feras – através do produtor Bill Laswell –, como o lendário Ginger Baker para completar a formação. Aqui, Vai atua literalmente como um músico que preenche texturas. Sua guitarra não toma a linha de frente, como muitos poderiam esperar. Mesmo assim, se destaca, tornando-se um componente importante para o contexto. Tanto que o próprio Joãozinho Podre sempre fez questão de elogiar sua performance – e para esse cidadão falar bem de alguém é preciso muita força de vontade. O grande sucesso foi a faixa “Rise”, hit que frequenta as rádios até os dias atuais. Sua letra foi inspirada na grande questão humana da época, o Apartheid na África do Sul. O trabalho de Steve pode ser conferido com mais clareza em sons como “Home” e “Fishing”. Segundo o próprio Steve, chegou a ser especulada uma turnê com a formação que gravou o disco, mas desencontros de agenda acabaram impedindo a possibilidade de se confirmar. Album – que se chamou Compact Disc e Cassette nas suas versões nos respectivos formatos – chegou ao número 14 na parada inglesa, onde obteve seu melhor desempenho.
John Lydon (vocals), Steve Vai (guitarras), Jonas Hellborg (baixo), Ginger Baker (bateria)
1. F.F.F.
2. Rise
3. Fishing
4. Round
5. Bags
6. Home
7. Ease
David Lee Roth – Eat’Em and Smile [1986]
Após trabalhar com um fenômeno como Eddie Van Halen, a tarefa de encontrar um novo guitarrista não deve ser das mais fáceis. Mas David Lee Roth deu o tiro certo quando montou sua primeira banda-solo. Até porque nenhum outro instrumentista poderia se encaixar tão bem com seu espírito sarcástico/debochado como Steve Vai. Completavam a banda os fantásticos Billy Sheehan (baixo) e Gregg Bissonette (bateria). Com um timaço desses reunido, só poderia sair coisa boa. E foi o que aconteceu em Eat’Em and Smile, álbum que trazia todo aquele humor que tanto fez falta ao Van Halen na fase Sammy Hagar. Os grandes sucessos foram “Yankee Rose” (com a ‘conversa’ da guitarra com Roth no começo) e “Goin’ Crazy”. Outra que se destacou foi “Shy Boy”, composição de Sheehan que até hoje é executada casualmente pelo Mr. Big. “Elephant Gun” é mais uma que mostra a capacidade técnica de todos os envolvidos, enquanto a versão para “That’s Life” – imortalizada por Frank Sinatra – e a inédita “I’m Easy” remetiam ao EP Crazy From the Heat, com seus climas lounge. Eat’Em and Smile chegou à quarta posição na parada da Billboard. Uma versão em espanhol, chamada Sonrisa Salvaje, também foi lançada. Essa é melhor deixar pra lá.
David Lee Roth (vocals), Steve Vai (guitarras), Billy Sheehan (baixo), Gregg Bissonette (bateria)
1. Yankee Rose
2. Shy Boy
3. I’m Easy
4. Ladies’ Nite In Buffalo
5. Goin’ Crazy
6. Tobacco Road
7. Elephant Gun
8. Big Trouble
9. Bump And Grind
10. That’s Life
Steve Vai – Passion and Warfare [1990]
Pode um disco instrumental ser lançado por uma gravadora major e vender milhões de cópias mundo afora? Pode uma música instrumental oferercer uma mensagem mais relevante que a maioria esmagadora das que possuem letras? A resposta definitiva para as duas questões acima está aqui. Passion and Warfareé diferenciado. Inspirado em uma série de sonhos de Steve, é o álbum que marca o início de uma carreira-solo propriamente dita – Flex-Able foi lançado no mercado quando o guitarrista estava envolvido em outros projetos. Aqui, ele se afirmaria como autor e mostraria ao mundo o que era capaz de fazer quando deixava sua mente trabalhar livre de qualquer pré-conceito. Seria clichê falar tudo que “For The Love Of God” significa. Mas ao mesmo tempo não é possível deixar passar incólume um momento tão brilhante da história da música. Nunca se resumiu algo com tanto sentimento em se tratando de sons instrumentais. Jamais se passou alguma ideia sem dizer sequer uma palavra como foi feito aqui. Mas tem muito mais. A curta e apoteótica “Liberty”, a suingada “The Animal” e a bem sacada “The Audience is Listening” são apenas alguns exemplos da genialidade de Steve. Para um play nesse formato vender mais de cinco milhões de cópias, não é tarefa fácil. Mas certos trabalhos artísticos transcendem épocas, públicos e preferências. Aqui está um deles, com toda certeza.
Steve Vai (guitarras, teclados), Chris Frazier (bateria), Stu Hamm (baixo), Dave Rosenthal (teclados)
Participações especiais
Pia Vai (teclados)
Tris Imboden (bateria)
Bob Harris (teclados)
Nancy Fagen (vocals)
1. Liberty
2. Erotic Nightmares
3. The Animal
4. Answers
5. The Riddle
6. Ballerina 12/24
7. For the Love of God
8. The Audience Is Listening
9. I Would Love To
10. Blue Powder
11. Greasy Kid’s Stuff
12. Alien Water Kiss
13. Sister
14. Love Secrets
Steve Vai nunca foi um cara de fazer aquilo que parecia lógico e previsível. Mas após sua consagração definitiva, surpreende e a criação de uma banda, que levaria o seu sobrenome. Ao seu lado estariam feras como T.M. Stevens e Terry Bozzio, além do até então desconhecido (e maluco) Devin Townsend, prova do ouvido diferenciado de quem conseguiu enxergar um vocalista em um guitarrista, descobrindo um talento que daria muito à música no futuro. Sex & Religion é uma obra um tanto quanto esquizofrênica, para dizer o mínimo. Não é de fácil assimilação a ouvidos acostumados com músicas simples e diretas. Mas vai crescendo e se tornando apreciável, como se precisasse ser descoberto aos poucos pelo ouvinte. Dois singles foram lançados: “In My Dreams With You”, música que Steve compôs em parceria com o grande hitmaker Desmond Child e “Down Deep Into the Pain”, uma das músicas com a letra mais ‘navalha na carne’ da história, uma verdadeira viagem ao lado mais cruel de nossa mente. Também se destacam “Still My Bleeding Heart” com um violão marcando o ritmo e a faixa-título com vocais sobrepostos e um riff de primeira. Infelizmente, a gravação acabou tendo vários conflitos, especialmente quando Vai se deu conta que não conseguiria fazer aquilo que se propôs, trabalhar em grupo. Ainda assim, houve uma turnê, com Steve e Devin juntando-se a músicos contratados. Como o próprio guitarrista define, esse play é uma verdadeira metamorfose psicológica.
Steve Vai (guitarras, vocals), Devin Townsend (vocals), T. M. Stevens (baixo), Terry Bozzio (bateria)
1. An Earth Dweller’s Return
2. Here & Now
3. In My Dreams With You
4. Still My Bleeding Heart
5. Sex & Religion
6. Dirty Black Hole
7. Touching Tongues
8. State Of Grace
9. Survive
10. Pig
11. The Road To Mt. Calvary
12. Down Deep Into The Pain
13. Rescue Me Or Bury Me
Sei que vários vão sentir falta da cobra entrando (na lista). Mas esse tipo de coisa foi feito para criar polêmica e discussão – desde que em bom tom, portanto, ataquezinhos frenéticos e boiolas serão sumariamente deletados sem publicarmos. Sem contar que, para mim, Steve Vai não se encaixa na concepção daquilo que o Whitesnake representa do mesmo modo que John Sykes, Doug Aldrich e a velha guarda. O próprio David Coverdale já falou sobre isso em entrevistas, sempre destacando que tratava-se de um dos guitarristas mais talentosos com que ele já trabalhou, mas que ao mesmo tempo não se encaixou na proposta.
Fernando Bueno
Curto muito o Alcatrazz, do disco do David Lee Roth e do Passion and Warfare. O Public Enemy e o VAI eu não ouvi. Eu entendo a ausência do disco do Whitesnake, mas eu colocaria n alista sim…rs. Até para mostrar a versatilidade do Steve Vai. Sobre o melhor dos trÊs guitarrista que o Mairon citou eu sempre pensei assim. O Malmsteen ficaria um pouco separado pelos dois pela vertente mais clássica. Os outros dois utilizam a guitarra de uma forma mais parecida. Abusando dos sons e modos de tocar diferentes. Eles mostram que a guitarra tem mais possibilidades que os outros guitarristas…
Luciano
Eat n` Smile é do mesmo padrão que qualquer disco do Van Halen com Dave Lee Roth. Discaço! Coitado do Van Hagar… Esse disco, Da um pau no Van Hagar e toda a carreira do Hagar fácil .
RESPONDER5 de abril de 2014 às 18:02
Conheci o Vai pelo Slip Of The Tongue do Whitesnake (1989). Depois fui para a carreira solo dele.
Conheci o Vai pelo não mencionado aqui Slip of The Tongue do Whitesnake (1989).
Depois fui para a carreira solo dele.
Abs
Eu certamente colocaria o Us & Them de Frank Zappa nessa lista, provavelmente no lugar do Album (PIL). Um grande guitarrista, e dos três (Vai, Malmsteen e Satriani), para mim o melhor
Em tempo, For the Love of God é uma obra-prima imensurável para a guitarra, no mesmo nível de Little Wing e Free Bird
Concordo. Pensei que um dos discos com o Zappa estaria na lista, mas, ainda assim, acho que o disco do PIL é interessante para marcar a versatilidade do mestre. Quanto ao Slip of the Tongue, além de não ser esse bicho todo, foi só pela grana…
Micael
For The Love Of God é uma das melhores músicas que já ouvi!
Só não gosto da forma como Vai termina a música quando a toca ao vivo, brincando com a alavanca de seu instrumento (simulando uma sirene e as vezes um relincho), além de aqueles improvisos antes do fim propriamente dito. Uma música linda dessas não pode ser destruída ao vivo, ainda mais uma música do Sr. Steve Vai!
Melhor guitarrista do mundo depois do Joe Satriani (o professor que deu aulas ao Vai). Qualquer coisa que o Steve Vai faz é digno de arrancar aplausos de seus fiéis seguidores e fãs. Sobre o caso dele com o Satriani, posso até dizer que o aluno superou o mestre!
e o álbum alien love secret ? é considerado referência para conhecer o steve vai?
nesse disco tem aquela música bad horsie.
É um EP, né Gugu. Eu acho ele um bom disco, principalmente por causa da faixa citada e de “Tender Surrender”. Mas acho que para conhecer a carreira solo, o Passion and Warfare é O DISCO!
Pode ser implicância. Tenho 55 e a velhice deixa a gente ranzinza, mas Vai solo não me impressiona muito. Meu disco predileto com ele na guitarra é Ship Arriving Too Late to Save a Drowning Witch, de Zappa.
O melhor para mim continua a ser o Them or Us, mas o Ship é ótimo desde a capa!!