Direto do Forno: Ultranova – Orion [2017]

Direto do Forno: Ultranova – Orion [2017]

O Ultranova é um grupo originário de Belém (PA). Formado em 2012 pelos primos Daniel Leite (guitarra) e Thiago Albuquerque (teclados), a partir de gostos musicais que tinham em comum e com a ideia de dar uma roupagem atualizada ao rock progressivo setentista. Encontraram em Henrique Penna (bateria) e Mario Neto (baixo) os predicados necessários para dar vazão aos temas de orientação espacial que a dupla vislumbrava. Essa orientação foi o que ajudou a banda então formada a se batizar como Ultranova. O baixista Mario Neto seria substituído posteriormente por Príamo Brandão, completando o line-up atual do grupo.

A estreia do Ultranova ocorreu em um festival local, em 2013 e de lá para cá, participaram de eventos importantes na região, dividindo palco com artistas como Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal, Sebastião Tapajós e a banda progressiva Violeta de Outono. O grupo vem ganhando visibilidade na comunidade de fãs do prog dentro e fora do país, com execução em rádios web, zines e websites dedicados ao estilo. Com o primeiro trabalho pronto, em maio de 2017 a estreia do Ultranova, intitulada Orion, foi lançada pelo conceituado selo Rock Symphony. Em parceria com a Rock Symphony, o selo francês Musea (que tem em seu cast inúmeros trabalhos clássicos e contemporâneos de rock progressivo) se encarrega de distribui-los pela Europa.

A atenção que a banda tem gerado no público do estilo não é a toa. Orion foi disponibilizado para a Consultoria do Rock (numa caprichosa embalagem digipack) pelos membros da banda e traz em seu conteúdo música de alto nível.

O disco abre com a faixa “Órbita” e já nesta faixa destaca-se a mais forte característica do grupo – as músicas se desenvolvem gradativamente e com grande funcionalidade. Há fragmentos que se repetem na medida exata para serem devidamente deglutidos pelo ouvinte, mas sem soar maçante (como tem sido frequente em outros estilos do rock contemporâneo), já que a banda é capaz de trabalhá-los com ligeiras singularidades. As transições entre as diversas partes das canções são fluidas, os arranjos são cuidadosos, os timbres tem assinatura própria e são os mais propícios ao estilo. Em “Órbita”, destaca-se o feliz dialógo entre os teclados de Thiago Albuquerque e Daniel Leite, abrindo magistralmente o álbum. A banda imprime uma dinâmica firme e segura, evitando demonstrações estéreis de virtuosismo. O instrumental trabalha todo a favor da música, de modo a fortalecer a composição.

Segue-se com “Abismo Azul”, uma balada etérea com belíssima harmonia, que remonta aos melhores momentos do progressivo brasileiro da década de 70; “Aquântica” conduzida pela bateria e pela guitarra já tem um toque mais contemporâneo e riffs fortes de sintetizador; “Salinas” aposta na simplicidade e em uma estrutura mais convencional, com bastante swing; “Chronos” é a faixa onde a guitarra tem mais destaque, com solos faiscantes e belas convenções junto com a bateria de Henrique Penna e o baixo de Mario Neto. A longa “Orion“, com mais de 13 minutos, fecha o álbum (foi a única faixa gravada pelo atual baixista Príamo Brandão). A faixa desenrola-se vagarosamente a partir de um belo tema de piano e guitarra , até chegar a um groove poderoso, no qual guitarra e sintetizadores abusam de seus méritos, até arremataram-se em um final dramático.

A se comentar apenas que apesar de bem gravado e produzido, e carregar música inventiva e bem executada, o disco ainda não atinge o mesmo padrão das produções européias/norte-americanas de rock progressivo. Há algo que se descobrir em como fazer este tipo de som soar realmente denso ao ser transportado para os “sulcos digitais” dos CDs. Este fato tem se revelado frequente no rock progressivo brasileiro, que vive um momento de positiva efervescência. Oferecendo muito menos em termos musicais, bandas estrangeiras de rock progressivo viajam pelos continentes e figuram com tranquilidade nas principais publicações do estilo.

Orion é a primeira incursão ao espaço de um grupo bastante promissor no território do rock espacial.

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2 comentários sobre “Direto do Forno: Ultranova – Orion [2017]

  1. Parabéns pela resenha e também para a banda paraense Ultranova, com uma produção de muita qualidade tanto musical quanto gráfica. Gostei muito do som do disco e recomendo a todos que gostam de um Rock Progressivo instrumental com influências de ícones da década de setenta e personalidade própria.

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