Consultoria Recomenda: Discos representativos de estilos diversos

Consultoria Recomenda: Discos representativos de estilos diversos

Editado por Fernando Bueno
Tema escolhido por Ronaldo Rodrigues
Com Alisson Caetano, Christiano Almeida, Davi Pascale, Diego Almeida, Diogo Bizotto, Mairon Machado e Ulisses Macedo

Para quem não acompanha tão de perto esse fenômeno artístico chamado música, os gêneros musicais são como caixas que se armazenam diversas bandas e artistas. Aquela ideia das lojas de discos de colocar uma placa informando o gênero musical facilitava quem queria ser mais assertivo no seu garimpo musical. Porém quem é mais apaixonado pela música sabe que os gêneros foram se misturando ao longo da história criando estilos, sub-estilos, ondas, movimentos, expressões regionais ou qualquer outro tipo de classificação que se queira usar. Muita gente nem sequer gosta de adotar as classificações musicais existentes por aí. Porém ninguém pode contrariar o fato que essas classificações e segmentações são simplesmente úteis e ajudam o ouvinte a direcionar uma busca ou recomendar para os amigos algo que sabe que eles vão gostar. E na história da música alguns discos são icônicos quando se trata de algum estilo musical e foi nessa linha de pensamento que Ronaldo Rodrigues sugeriu o tema apresentado hoje aqui na Consultoria do Rock.


Hawkwind – Warriors on the Edge of Time (1975) (Space Rock)
Recomendado por Ronaldo Rodrigues

O space rock surge das entranhas do rock progressivo, mas com a premissa de privilegiar mais a sonoridade do que o virtuosismo e a complexidade instrumental. Apoiado em grande aparato sonoro de teclados e efeitos (aplicados indistintamente em instrumentos elétricos, acústicos ou até mesmo nos vocais), tudo neste estilo busca colocar o ouvinte em galáxias distantes. O Hawkwind em 1975 cristaliza com perfeição este conceito, se apoiando em um rock muito sólido e ótimas composições, balanceando toda a experimentação inerente ao estilo com uma pegada contagiante. Pode se notar batidas frequentemente constantes, baixo pulsante, riffs hipnóticos de guitarras, flautas e teclados passeando de um lado para outro do estéreo. Um dos grandes discos de rock da era progressiva e ápice desse subestilo.

Alisson: Hawkwind personificou melhor que ninguém toda a psicodelia lisérgica em seu grau máximo (sim, a galera de São Francisco fez um ótimo trabalho também, mas isso aqui transcende). As longas composições cheias de camadas sonoras e improvisos são o convite imediato para você chamar o seu colega de ácido ao som desse disco no volume máximo. Mesmo não tão intenso ou cru quanto os anteriores, mantém a qualidade com um disco que tem uma ótima unidade e belas paisagens melódicas e contemplativas.

Christiano: Depois de ouvir novamente esse ótimo disco, posso dizer que sua escolha foi muito acertada. Quando pensamos em space rock, esperamos encontrar elementos como climas futuristas (pelos menos para época em que ele foi gravado), experimentações instrumentais, temáticas que lembram os clássicos da ficção científica etc. E está tudo aqui, perfeitamente condensado em um só álbum de uma das bandas mais icônicas do estilo. Impossível não destacar pérolas como “Assault and Battery/The Golden Void”, “The Demented Man” e “Spiral Galaxy 28948”.

Davi: O último dos 3 discos a conter o lendário Lemmy Kilmister (Motorhead) no contrabaixo, nessa época ainda com o nome de Ian Kilmister. Entretanto, já devo alerta-los que o som pouco – ou nada – tem a ver com o grupo que o tornou famoso. O som dos caras era bem viajado, mesclando momentos calmos com momentos mais pesadinhos. Bastante influência de progressivo (“The Demented Man” soa como uma musica do Pink Floyd). O disco é repleto de sons estranhos, teclados, violino. É uma viagem só. Conhecia o trabalho do Hawkind, mas não tinha esse disco em específico. O disco é bacaninha, mas tem que estar no espírito de fechar os olhos e viajar. Faixas preferidas: “Assault And Battery / The Golden Void”, “Magnu” e “Kings of Speed”.

Diego: O Hawkwind foi uma espécie de precursor do que chamamos de space rock. A banda não foi a criadora do som, mas definitivamente a que mais carregou essa bandeira. Em seu quinto disco, Warrior On The Edge Of Time, ainda com Lemmy no baixo, a banda segue com seu – à essa altura – já tradicional som. Mesclando sons ambientes e espaciais com saxofone e flauta (graças ao excelente Nik Turner) e uma cozinha vigorosa que contava com dois bateristas – Simon King e Alan Powell – e o já citado Lemmy no baixo (este que seria o último disco dele com a banda antes de ser sumariamente demitido), que ao contrário do que mostraria com o seu Motorhead em Warrior On The Edge Of Time Lemmy mostra um lado mais melódico, mesmo que ele use, por diversas vezes, acordes em seu baixo. O Hawkwind, para mim, sempre foi meio complicado, musicalmente falando, os discos que eu ouvi da banda até o momento (os discos que antecedem este aqui), não me fizeram a cabeça. Os discos são bons, tem grandes momentos, mas geralmente caem no abismo comum dos discos do estilo, especialmente os da primeira metade dos anos 70: ‘encheção-de-linguiça-demais-e-improvisações-infinitas-que-acabam-ficando-bem-chatas’. Quando o Hawkwind aposta em canções mais concretas como “Assault & Battery Part I”, “The Demented Man” e “Magnu” Warrior On The Edge Of Time é ótimo. No entanto, quando a banda segue com suas loucas improvisações sem fim o disco perde o meu interesse. Talvez seja o fato de eu ser careta e a música do Hawkwind seja altamente ‘drogada’, não sei. O fato é que eu não me acerto com esse lado da música. No geral um bom disco, mas que não faz bem o meu tipo. No entanto, vamos dar o merecido crédito ao Hawkwind. A banda grava, incessantemente, desde 1970, e em 2017 a banda lançou seu disco de número 37! O líder da banda Dave Brock, no alto de seus 76 anos, continua lançando música que não é comercial e sem medo do virar sucesso ou não. Impressionante!

Diogo: Meu conhecimento a respeito do space rock é limitadíssimo, mas já sabia há muito tempo que o Hawkwind talvez seja a formação que melhor define o estilo. Nunca havia ouvido nenhum álbum da banda, e Warrior on the Edge of Time não frustrou expectativas. O “space” do space rock do grupo não fica apenas nas letras. A criação de paisagens viajandonas destacando teclados atmosféricos e entrecortadas por flauta e saxofone realmente remete a um clima de ficção científica como aquele retratado pelas produções cinematográficas da época. Sonoramente, trata-se de uma estirpe de rock progressivo que não é das minhas favoritas, cujas experiências sonoras não parecem acrescentar muito em relação ao que já vinha se fazendo em termos de psicodelia e progressivo desde o fim da década anterior. Em alguns momentos, sinto falta de composições mais bem estruturadas, sem tanto clima de jam movida a determinados tipos de drogas. Isso não quer dizer que os caras não façam um bom trabalho, pois faixas como “The Golden Void”, “Spiral Galaxy 28948” e a longa “Magnu” são interessantes, especialmente essa última. O vocal de Dave Brock é fraco. Seria interessante ver Lemmy cantando algo além da faixa que daria nome à sua futura banda, que saiu apenas como bônus e pouco tem a ver com o restante do tracklist.

Fernando: Seria o Hawkwind hoje mais conhecido por já ter tido Lemmy em uma de suas formações? Não leio uma resenha que ele não seja citado – inclusive eu o citando aqui mantenho a tendência. A abertura do disco com “Assault & Batter Part I” é mais agitada do que se esperaria para um disco de space rock, mas a viagem sonora já aparece na segunda parte da música “The Golden Void Part II” e vai prevalecer por quase todo o disco. Esse é o único trabalho do Hawkwind que eu tenho e quase o único que eu lembro quando penso em ouvir a banda (também ouço eventualmente o Doremi Fasol Latido) e, pelo que dá para analisar pelos comentários por aí, é o último grande disco do Hawkwind.

Mairon: Uma das mais lindas capas da história do rock, e um disco fantástico, para ser deglutido suavemente, ainda mais nesse invernão que tá fazendo aqui no sul. Uma mistura enigmática de instrumentos (mellotron, saxofone, flautas, baixo carregado de distorção, guitarras pesadas, vocais com efeitos), fazendo aquele que acredito ser o melhor trabalho do Hawkwind. Adoro o mellotron e a flauta insana de “Assault and Battery (Part 1)”, o ritmo lisérgico de “Dying Seas”, as esquizofrenices instrumentais de “Opa-Loka” e os sintetizadores de “Spiral Galaxy 28948”. Quando o grupo mergulha na insanidade, é que a coisa realmente fica boa. Afinal, como não se conter com o que acontece em “The Golden Void (Part 2)”, onde os sintetizadores praticamente enlouquecem nossa mente, e o saxofone é um delírio a parte. A melhor canção do disco com certeza é a longa “Magnu”, oito minutos de solos de guitarra, sintetizadores, efeitos e muita chapação, envoltos em escalas pseudo-orientais. Acho a banda uma ótima expansão do que o Gong fazia, por exemplo, mas com mais qualidade individual nas loucuras. Faixas curtas, como “The Wizard Blew His Horn”, “Warriors” e “Standing at the Edge”, são as que mais me mostram isso. Mesmo quando a banda cria algo mais terrestre, tudo funciona bem, como a linda acústica “The Demented Man” e o rockaço de “Kings of Speed”. Esse disco é detentor de um som espacial, viajante, que similar a essa qualidade, somente Flying do UFO – mas era outro nível de viagem. Discaço!

Ulisses: Também vejo o Hawkwind como representante do space rock, mas é porque não conheço outras bandas seminais do estilo. Quem sempre curtiu o Motörhead se espanta ao conferir a antiga banda de Lemmy Kilmister, que traz um rock progressivo espacial e psicodélico contando com sintetizadores, instrumentos de sopro e uma seção rítmica de respeito. O lado A do vinil é bastante forte, tendo a suíte “Assault & Battery / The Golden Void”, a hipnótica “Opa-Loka” e a soturna “The Demented Man”. O lado B traz a melhor composição do álbum, a longa e sinuosa “Magnu”, mas depois disso somente a instrumental “Spiral Galaxy 28948” oferece algo de bom para o ouvinte. Um disco que vale a pena ser conferido por quem se dispõe a ouvir um rock bem viajante.


Kendrick Lamar – To Pimp a Butterfly (2015) (Hip Hop 2010’s)
Recomendado por Alisson Caetano

O hip-hop vem mostrando constante evolução desde os primeiros exemplares do estilo, no começo dos anos 80, quando ainda era refém de bases synth-funk e rimas super simples sobre festas e discotecas. O transcorrer dos anos 80 trouxe maiores possibilidades, mostrando mesclas com outros estilos antes sequer imagináveis, como as rimas claramente inspiradas no estilo livre de John Coltrane de Rakim (da dupla Eric B. & Rakim), a explosão do G-Funk e o surgimento dos primeiros super astros do estilo nos anos 90, como Notorious B.I.G., Tupak Shakur e Snoop Doggy Dogg, passando para os anos 2000, quando o estilo encontrou o equilíbrio perfeito entre o mainstream e os fãs “das antigas”, casando programação eletrônica e tirando de foco o turntablism puro das antigas. Surgiam aí os primeiros astros pop com base no hip-hop. Falo de Eminem, Jay-Z e, principalmente, Kanye West. Os anos 2010’s continuaram essa evolução, tanto no mainstream quanto no underground, tendo Kendrick Lamar como o mais criativo e representativo da atual geração. Se Good kid m.A.A.d. city já o colocou em um patamar próximo ao de grandes ídolos do rap, To Pimp a Buttlerfly atesta que o sujeito já é um dos melhores rappers de todos os tempos. Sua habilidade lírica absurda, construindo rimas da forma como bem entende — multissilábicas, cheias de aliterações e com jogo de palavras criativos — são apenas um dos pontos grandiosos do trabalho. A lírica do disco, que versa sobre Kendrick analisando seu próprio sucesso e sua visão de mundo quanto à toda o povo desfavorecido que vive nos subúrbios norte-americanos e suas injustiças diárias (tema recorrente em toda sua trajetória) são tratados de maneira ímpar e das mais diversas formas, seja com otimismo (“Alright”), sarcasmo (“For Free?”) ou até mesmo com pessimismo e desesperança (na experimental “u” e na fantástica “How Much a Dollar Cost”). Todo o disco é sublimemente amarrado por estruturas jazzísticas orgânicas em tom visionário, mas sempre parando para sublinhar todas as influências essencias de sua carreira, seja nas participações de figuras como George Clinton, Snoop Dogg e Dr. Dre (produtor executivo), ou na bizarra entrevista “pós-morte” que Kendrick faz com Tupac Shakur durante o disco inteiro em um momento tão surreal quanto emocionante. Em um momento onde o hip-hop se tornou a música pop da nota geração, Lamar mantém o disco enraizado à proposta primária do estilo enquanto o leva adiante em um disco onde as vezes simplesmente palavras não são suficientes para descrever.

Christiano: Lembro que esse disco já foi indicado em alguma das listas que fizemos por aqui. Também sei que foi elogiado por muita gente. Por isso, juro que escutei com atenção e cuidado. A primeira faixa, “Wesley’s Theory” tem uma pegada meio funk setentista, que é bem interessante. Por outro lado, logo que entram os vocais, a coisa azeda. Em seguida, “For Free” arrisca um jazz, mas, novamente, as vozes estragam tudo. Parece que o sujeito tem como meta pronunciar o maior número de palavras no menor tempo possível. Como narrador de futebol pelo rádio, seria um sucesso. “For Sale” tem um fundo musical interessante, com uma boa linha de baixo, mas é só. Resumindo: às vezes, a sonoplastia é interessante em alguns trechos, mas quando começa a verborragia, fica insuportável. Pode ser que, para um disco de Hip Hop, isso seja bom.

Davi: Não sei o que acontece, mas realmente não consigo me tornar um fã de rap, hip hop e afins. Ouvi o disco. Faz uso de samplers com inteligência, possui algumas bases muito legais (como as que acontecem em “King Kunta” e “i”, por exemplo”), mas é só entrar o maluco falando sem parar para começar a me irritar. Fora as citadas, também citaria “These Walls” como um ponto positivo, transpirando influencias do funk e trazendo um ar meio Prince, o que é sempre super bem vindo. O ponto baixo é o ponto mais baixo que um ser humano pode chegar, lembrar a farsa Eminem. E isso acontece justamente na faixa de abertura, “Wesley´s Theory”. Meu Jesus amado…

Diogo: Ah, “o novo do Kendrick”. Sim, eu sei muito bem que já saiu mais um depois deste, que é o penúltimo, mas saibam que “o ‘novo’ do Kendrick” é muito mais que uma simples convenção temporal. “O novo do Kendrick” é um estado de espírito, uma experiência transcendental, um sentimento de pertencimento que toma conta da gente e nos leva a bradar aos quatro cantos que, SIM, nós ouvimos “o novo do Kendrick”, sorvemos dessa fonte e, nossos olhos que outrora estavam fechados, agora se abrem ante um novo mundo que se revela, daí a importância de vincular a novidade ao “‘novo’ do Kendrick”. As músicas? Meu conhecimento é bem restrito para comentar com propriedade, pois os únicos álbuns de rap feitos no século atual que ouvi são aqueles presentes na série “Melhores de Todos os Tempos”, mas creio ser o melhor. Agora, haja paciência para chegar ao fim do tracklist, pois ele é longo e se torna bastante cansativo em seu miolo. O disco começa bem com “Wesley’s Theory”, “For Free? (Interlude)” e “King Kunta”, mas vai cansando conforme avança. Para os pacientes, as últimas faixas revelam “The Blacker the Berry”, melhor música do álbum. Na maior parte do tempo, o estilo vocal não me agrada, mas as bases instrumentais são sofisticadas, incluindo um uso coerente do jazz, e mostram um bom trabalho de produção e pesquisa musical. É o prog do rap, mas se isso é bom, cabe a você decidir, não a hipsters barbudinhos de coque samurai. Caso queira se iniciar no estilo, NÃO comece por este álbum.

Diego: Admito, sem nenhuma vergonha, que quando o disco do Kendrick Lamar foi sugerido eu já torci o nariz. Detesto hype em cima de qualquer tipo de música, o tipo de coisa que acontece o tempo todo: alguma revista (ou site, nos dias de hoje) grande e ‘descolada’ elogia, logo os hipsters começam a gostar e de repente todo mundo é entendido da música do sujeito e em pouco tempo o disco se torna a melhor coisa que já foi desovada nesse mundo. Pra mim isso é exatamente o que eu sinto quando o nome Kendrick Lamar aparece em qualquer lugar. De certa forma eu não estou errado, To Pimp A Butterfly está longe de ser a abominação que eu estava esperando, mas também está há anos de luz de ser a obra-prima que todos clamam ser. Eu não sou o mais entendido em Hip Hop, então, obviamente, minha base para comparação é pequena. Mas no geral eu ouço música ouvindo a música e não tentando fazer comparação com o próximo grande nome e tentando ser o entendido no assunto. Não ouço o tipo de música que Kendrick Lamar faz e não pretendo começar a ouvir após este disco. Nada mudou. O disco é longo demais, diversos momentos poderiam ter sido limados para criar um disco com maior unidade. As letras? O pouco que eu realmente prestei atenção não me diz nada. Resumindo: ok. Não mudou a minha vida e o hype não foi sustentado.

Fernando: Dificil para mim comentar um disco de hip hop já que nenhuma das minhas experiências com o estilo foi boa. A faixa de abertura tem a participação de George Clinton, seria o mesmo do Funkadelic? Ao meu ver essa tradição dos artistas de hip hop, rap e afins de participarem uns nos discos dos outros me parece uma forma de fortalecer o estilo com um dando aval para a música do outro. “For Free?” até que começou muito bem com uma quebradeira jazz muito legal e quase me enganou, mas foi só entrar o cara “cantando” que tudo caiu por terra. Será que existe alguma competição para quem canta mais rápido. Quem gosta disso não pode criticar um guitarrista que tenta tocar o mais rápido possível, não é?. Aliás… se o fato dele cantar rápido fosse um motivo para acabar logo disco seria ótimo, mas não. Demorou para acabar… Algumas passagens como em “These Walls” há uma mistura de estilos como o soul e o funk que é bom. Mas é pouco para alguém que está revolucionando algo. Prefiro ouvir o Body Count.

Mairon: Ah velho, definitivamente, isso não é para mim. Mais de uma hora de bate-papo e ritmos que não contagiam, pqp!! Só o jazzinho de “For Free” (que letra ridícula) se escapa. Fica a pergunta: qual é a diferença entre o Hip Hop e esse Hip Hop 2010’s? Não vi nenhuma. Ambas são a mesma merd@. Me desculpe o cidadão que recomendou isso aqui, mas bah, que baita perda de tempo.

Ronaldo: Não me considero capaz de opinar sobre o contexto desse álbum no estilo, pois ignoro a quase totalidade da produção de hip-hop. Comentar sobre suas peculiaridades demandaria conhecer o hip-hop de outras décadas. Mas em uma análise absoluta, o trabalho de Kendrick Lamar me pareceu bem mais musical do que todo o filão da música pop que lambe o hip-hop (e que ocupa o que ainda restou das FM’s). Há bases bem interessantes, timbres pouco convencionais de teclados, colagens inteligentes e surpreendentes incursões de instrumentos acústicos. O mérito do trabalho é justamente conseguir diluir a chata verborragia do rap em um conteúdo musical consistente e bastante swingado. Ademais, o trabalho tem uma assinatura bastante contemporânea e convincente.

Ulisses: Transitando tranquilamente por diversos gêneros musicais, Butterfly é um álbum e tanto, em que a produção impecável e o cast de convidados especiais dá vida à um passeio introspectivo pelas experiências e opiniões de Lamar. As letras são ricas em detalhes, entrelaçando tanto a vida do rapper antes e depois da fama quanto fatos históricos da comunidade afro-americana: ouvir a interação das batidas e samplers com as letras, como na depressiva “u” ou no papo com 2Pac em “Mortal Man” é realmente legal. Já musicalmente, faixas como a dançante “King Kunta”, a furiosa “The Blacker the Berry” e a feliz “i” fazem a cabeça do ouvinte, mas não impedem a descida de qualidade em outros momentos, como “These Walls” e “You Ain’t Gotta Lie”, e para mim esse é o problema do álbum: é mais interesse de se explorar e destrinchar do que propriamente de se ouvir – o que, somado à duração de mais de uma hora, torna a audição mais cansativa do que deveria. Ainda assim, por muitos aspectos fica fácil entender porque já é tão aclamado e enaltecido como um dos maiores lançamentos da década.


Luciferian Light Orchestra – Luciferian Light Orchestra (2015) (Occult Rock)
Recomendado por Fernando Bueno

Desde que o Ghost apareceu e convenceu, muitas bandas que praticavam um som parecido ou com a mesma temática foram alçados lá das profundezas onde estavam para ganharam um relance de luz do sol. In Solitude, Year of the Goat, Hexvessel, Ancient VVisdom e várias outras poderiam estar aqui representando essa leva de bandas. Escolhi o Luciferian Light Orchestra, que é um projeto do líder do Therion, Christofer Johnsson, não por conta de ineditismo ou pioneirismo, afinal esse som é calcado em sonoridades setentistas – iniciada pelo Coven – que diversas outras bandas trilharam ao longo dos anos. Porém o contraste da sonoridade das belas melodias dos instrumentos e principalmente da voz de Mina Karadzic com o tema de suas letras é algo bastante curioso. Para quem não tem o inglês como língua materna como nós isso pode acabar se perdendo um pouco e fico imaginando como é a percepção disso para os nativos. “Church of Camel” fica na cabeça toda vez que penso nesse disco. Christofer toca diversos instrumentos no disco e a participação de outros músicos não é detalhada. Algumas linhas melódicas me lembra o último registro do Therion em estúdio, o controverso Les Fleurs du Mal (2012). Espero que gostem.

Alisson: Gosto da pegada gótica do instrumental, apesar de não ser empolgante ou memorável. Divertido, e nada mais.

Christiano: Logo no início da audição, uma coisa já fica muito clara: os vocais dessa moça são muito bons! Essa impressão se confirma ao longo do disco, que é ótimo. A adição de flautas em algumas faixas enriquece muito a parte instrumental, basicamente influenciada pela estética Hard/Prog dos anos 70. Em muitos momentos, tive a impressão de estar diante de um Curved Air mais pesado, o que é uma ótima referência. Destaques: “Venus in Flames” e “Dr. Faust on Capri”.

Davi: Nesse trabalho do maluquinho do Therion, os caras me lembraram um pouco o Ghost. Manja aquele som que deveria ser pesado, mas não traz muito peso? Que busca referencia dos anos 70 e faz letra tentando (em vão) assustar os ouvintes? É isso aí que temos aqui. Em “Sex With Demons” eles até tentam soar fantasmagóricos, mas soam Gasparzinho demais. A banda é legalzinha, a menina canta direitinho, mas não consegui falar ‘puuuuuuuuuuuuuta, que som’. A melhor do disco foi “A Black Mass In Paris” que conta com um interessante riff de guitarra. De resto, nada abominável, mas nada memorável também.

Diego: Durante um tempo eu ouvi bastante o Therion. Lembro que um amigo conseguiu com outro amigo um CD com a discografia da banda em MP3 e eu ouvi alguns trechos na casa dele, fiquei curioso, e levei esse CD pra casa. Aacabei ouvindo vários discos da fase inicial da banda: Of Darkness…, Beyond Sanctorum, Lepaca Kliffoth, Theli e A’arab Zaraq – Lucid. Não mudou a minha vida, mas o som que a banda fazia misturando o metal, o gótico e o sinfônico era muito interessante. Com o passar do tempo perdi o interesse, mesmo que sempre ficasse sabendo dos novos discos que a banda lançava nunca parava para ouvir nenhum. Há um ano atrás fiquei sabendo que um dos cabeças do Therion, Christofer Johnsson, tinha lançado um disco de um novo projeto chamado Luciferian Light Orchestra, fui checar do que se tratava e confesso que quando o Youtube me mostrou os vídeos da banda com uma bela moça loira pelada, fui ouvir o disco… A verdade? Bonzinho, mas não passa disso, bem manjado e bem mais-do-mesmo, sem inspiração no geral. A coisa é a seguinte, tive que re-ouvir o disco pra relembrar do que tratava, porque não lembrava de um segundo do disco, pra vocês verem como o disco é de primeira! Outra coisa, occult rock? Não me façam rir..

Diogo: Conhecer este disco foi uma surpresa dupla. Ao ler o nome da banda, pensei se tratar de uma daquelas formações que idolatram bandas como o Coven, adotam aquela estética visual setentista repaginada que se tornou tão batida na virada da década passada para a atual e praticam um som que remete àquilo que se fazia no fim dos anos 1960 e início dos anos 1970 em termos de rock pesado, obviamente sem a mesma desenvoltura dos originais. Quando fui procurar mais informações a respeito, deparei-me com o fato de que Christofer Johnsson é o grande nome por trás desse projeto. Não sou lá muito chegado no Therion, mas gosto do estilo death metal dos primeiros álbuns (especialmente Beyond Sanctorum, de 1992) e admito que o cara tem talento, então criei alguma esperança. Esse foi meu erro, pois seria mais interessante que a banda se encaixasse naquilo que descrevi no início deste comentário. Sob um véu levemente gótico e sinfônico, a sonoridade praticada pelo Luciferian Light Orchestra é um rockzinho insosso com vocais femininos pouco ou nada marcantes, esquecível mesmo após uma audição mais atenta. O que faz disso aqui “occult rock” eu creio que sejam as letras, mas não me interessei em conferi-las mais criteriosamente. Em certos momentos, as ideias são tão simplórias e previsíveis que fazem os caras do Poison parecerem moleques de conservatório. Pelo visto alguém quis surfar a mesma onda do Ghost e se deu mal…

Mairon: Nunca tinha ouvido falar da banda, e tão pouco do tal occult rock. Bom, o por que de ser oculto eu não tenho nem ideia. Quanto a música, não me agradou muito. Vocal feminino chatinho, tecladinhos supérfluos, moderninho demais. Se não fossem os vocais femininos, diria que é um genérico do Ghost. “Taste the Blood of the Altar Wine” tem um peso legal até, “Venus in Flames” tem um bom riff, “Moloch” tem algo de “assustador”, mas cara, na medida que o disco passa, vai ficando sempre repetitivo e chatinho. Esses vocais metidos a coral, ou algo assim, acho de um mal gosto demasiado. Não gostei, desculpe.

Ronaldo: Não creio que occult rock se trate de um estilo próprio, nem nada além de um exercício taxônomico; um termo que funcionaria bem para adjetivar um disco mas sem significar nada além disso. O trabalho de estreia do grupo se equilibra entre diversas vertentes de hard rock, apostando integralmente nos climas sombrios e em letras que falam de diabinhos (de forma bastante caricata, ressalta-se). Se estilo dependesse de temática abordada nas letras, haveria pelo menos umas 500 descrições a mais de gêneros musicais (Frank Zappa seria o sátira-rock; Kiss seria a sacanagem-rock, etc.). Há boas passagens, espertas inclusões de teclados, mas tudo é bastante monocromático, beirando o tedioso.

Ulisses: Rock setentista com pitadas de blues e gothic. É até um pouco estranho ouvir riffs classudos como os de “A Black Mass in Paris” ou uma bela voz feminina em “Church of Carmel” tendo letras dedicadas à via sinistra do esoterismo. Um disco bastante sólido, de fato, trazendo nas harmonias e na produção elementos a mais para prender a atenção do ouvinte. Agora, eu confesso que não ando ligado nas tais bandas de occult rock a ponto de comentar sobre a relevância do LLO no movimento…


Miles Davis – Kind of Blue (1959) (Modal Jazz)
Recomendado por Mairon Machado

O jazz modal destruiu com o bebop e com o hardbop. Aquelas notinhas alegres, seguindo uma progressão de acordes em harmonia, sumiram perante a genialidade das pentatônicas, diatônicas e  as relações dentro de uma mesma escala musical em uma única faixa, que possibilitam ao instrumentista utilizar de sua inspiração para improvisar e criar sua arte. E quer aplicação melhor desse estilo do que um sexteto formado por Miles Davis (trompete), John Coltrane (saxofone), Cannonball Adderley (saxofone), Bill Evans (piano) e Paul Chambers (baixo) e Jimmy Cobb (bateria)? Nunca antes na história da música foi possível unir tantos gênios em um único disco, e o resultado é um show de habilidade musical e claro, um marco para o mundo. A sentimentalidade exalada pelo trompete de Miles em “Blue in Green”, combinada com o piano dolorido de Evans, é de correr lágrimas das caixas de som, assim como os solos de Cannoball e Coltrane na emocionante “Flamenco Sketches”, construída inacreditavelmente sobre modos tradicionais do flamenco, mas que de tão sutis, parecem uma mera balada jazzy. “So What”, faixa que abre o disco, e “All Blues”, a majestosa mini-suíte de quase doze minutos, são com certeza duas das canções mais conhecidas no mundo do jazz, e de complexidades musicais para serem ensinadas em salas de música. Também temos Wynton Kelly tocando piano na linda “Freddie Freeloader”, onde Cannonball e Coltrane são as grandes estrelas nessa constelação. Posso estar errado, mas sem Kind of Blue, não teríamos os improvisos de nomes como Hendrix, Alvin Lee, Keith Emerson, Jaco Pastorius, Carlos Santana, John McLaughlin e tantos outros. Se quiser saber o que é jazz modal, ouça esse disco, e se quiser entender toda a música pós anos-50, OUÇA esse disco!!

Alisson: Não apenas do jazz modal, mas o disco mais representativo de todos os aspectos do jazz em sua perfeição. Das harmonias perfeitas ao campo da improvisação e a completa sintonia entre todos os músicos envolvidos no projeto, um dos times mais bem entrosados que já tivemos o prazer de contemplar. Apesar de ser conhecido como um estilo difícil de digerir pela técnica apurada, chega a ser contraditório que o disco mais representativo do mesmo seja aquele que é o mais acessível dentre todos.

Christiano: É muito complicado ter que comentar um clássico como esse Kind of Blue. Não sou um grande conhecedor de jazz, mas tenho simpatia pelo estilo. Assim, posso dizer que a audição foi muito agradável. Os arranjos são sutis, nunca exagerados e perfeitamente executados por uma banda de ótimos músicos. O início com “So What” é animador, com um belo trabalho de baixo e bateria, que fazem a cama para os demais instrumentos. “All Blues” é uma faixa longa, com alguns belos solos executados pelo Sr. Davis. Só achei as músicas muito parecidas entre si.

Davi: Tenho um enorme respeito pelos músicos de jazz. O conhecimento de música que esses caras têm é de tirar o chapéu, mas confesso que é algo que escuto pouco. Gosto de algumas coisas, alguns artistas, mas não é algo que faz parte do meu DNA. Não é algo que escute todos os dias. Miles Davis é uma lenda do gênero. O trabalho dele no disco é excelente, assim como o de Bill Evans (piano) e de Jimmy Cobb (bateria). Em termos de composição, a que mais curti foi “Freddie Freeloader”. O disco é bonito, a qualidade é inquestionável, mas não é um álbum que me motive a comprar, mas como recomendação de modal jazz está correto. Existe até quem afirme que esse é o primeiro álbum do gênero.

Diego: Kind Of Blue é um daqueles discos seminais. Não importa muito se é bom ou ruim, se você gosta ou não. Kind Of Blue é um daqueles discos que está na história e um daqueles discos que mudou os rumos do jazz. Esse é um daqueles discos que entra no consciente das pessoas independente se elas conhecem o artista ou o gênero musica. O melhor exemplo sou eu mesmo: geralmente eu não ouço jazz, e eu não ouço Miles Davis, mas Kind Of Blue é a exceção! Eu não tenho o respaldo necessário para falar de jazz, geralmente acho chato e sem nexo, é um gênero musical que não conecta comigo. Mas não posso deixar de enaltecer o quanto Kind Of Blue é interessante e até mágico em certos momentos. A verdade é que todo ser que gosta de música tem que ouvir Kind Of Blue, goste de jazz ou não.

Diogo: Não é preciso ser um connoisseur para saber que Kind of Blue é um álbum paradigmático, seminal, extremamente influente (insira aqui todos os adjetivos do tipo que você conhecer) para o jazz em geral e para novos subgêneros paridos posteriormente, em especial o modal jazz. Corrijam-me se eu estiver falando besteira, mas arrisco afirmar que o único disco de jazz em igualdade de importância é A Love Supreme (1965), de John Coltrane (saxofonista em Kind of Blue). Dito isso, não há muito mais considerações a fazer. Trata-se de uma obra que merece ser apreciada mesmo por aqueles que não dão a mínima para o gênero, e isso não requer esforço algum, pois Kind of Blue é magnífico do começo ao fim. Desde o cativante tema principal de “So What” (que você já deve ter ouvido ao menos uma vez na vida) até os últimos segundos de “Flamenco Sketches”, tudo é essencial. É até covardia compará-lo com a quase totalidade do que está presente nesta edição.

Fernando: Um dos grandes clássicos da música e um dos únicos discos de jazz que tenho. Apesar de ser um disco de jazz puro é algo que não demanda muito “esforço” para ser apreciado. Falo isso por que sei que em alguns casos o jazz precisa de mais atenção para ser entendido. Porém toda vez que o ouço penso na mesma coisa. O jazz é muito relacionado com o improviso, assim o que temos gravado nos discos muito provavelmente nunca mais foi reproduzido da mesma maneira ao vivo. Fico imaginando um fã do Miles na época, todo empolgado com o Kind of Blue, indo ao show e relacionando pouco do que ouviu ao vivo com o que ouviu em sua casa. Claro que a melodia segue a sequência de notas definida, mas os solos de Davis, por exemplo, dificilmente se repetiram. Ainda mais contando com uma seleção de músicos em que qualqeur um dos envolvidos poderiam ser o band leader.

Ronaldo: Quem poderia fazer jazz mais elegante que Miles Davis naquelas alturas? o modal jazz buscou colocar novas tinturas harmônicas por sobre a base do jazz e o fez soar inteiramente novo. Tal recurso ainda hoje é utilizado para reler canções sobre outra ótica; naquela ocasião, tal ferramenta permitiu ao jazz vestir novas roupagens e andar por novos territórios, se afastando cada vez mais de ser uma música para dançar (o termo progressivo sempre foi utilizado quando este tipo de situação aconteceu na música popular). O tom introspectivo de Kind of Blue é sua marca registrada, além da soberba interpretação de Miles ao trumpete. Fora isso, começava a fase em que o grupo de Miles Davis seria um dos maiores celeiros de gênios da música do século XX – neste disco o acompanham ninguém menos que Cannonball Adderley e John Coltrane nos saxes e Bill Evans ao piano.

Ulisses: Jazz sublime, destilado em cinco longas faixas que complementam uma à outra de forma suave. Um álbum que impressiona através da destreza sutil dos instrumentistas e da forma como desenvolvem as composições, e não por exibições de virtuosismo – a atmosfera calma é mantida o tempo todo, mas não deixa de enfeitiçar o ouvinte, demonstrando emoções com um apelo quase universal.


Poison – Open Up And Say… Aaaaah (1988) (Hair Metal)
Recomendado por Davi Pascale

O estilo hair metal nunca foi uma unanimidade, nem mesmo entre os roqueiros. Portanto, já espero diversas críticas dos meus colegas. Conhecido também pelo nome de glam metal, o estilo tinha como característica o visual espalhafatoso, as guitarras distorcidas, a aproximação com o pop. A temática girava em torno de garotas, festas e rock. Poucas bandas representaram o estilo tão bem quanto o Poison. Seus três primeiros álbuns são considerados clássicos do gênero. Open Up ainda mantinha o som cru de Look What The Cat Dragged In (outro que seria um ótimo representante do gênero), mas apresentava um repertório mais consistente (a razão da minha escolha). Os hits “Nothing But a Good Time”, “Look But You Can´t Touch” e “Fallen Angel” representam o gênero com maestria. A versão de “Your Mamma Don´t Dance” (da dupla Loggins & Messina. Lembra de Kenny Loggins do hit “Footloose”? O próprio!) e os rocks “Love On The Rocks” e “Good Love” mantêm a alegria. A balada “Every Rose Has It´s Thorn” ainda faz a cabeça das garotas nos shows do conjunto. “Back To The Rocking Horse” e “Bad To Be Good” também agradam. O único filler aqui é “Tearing Down The Walls”. Se você curte um rock n roll simples e para cima, vá sem medo.

Alisson: O significado que o disco tem para todo o estilo glam metal é inversamente proporcional ao significado que o estilo todo possui em minha vida. Não é exclusividade da boy band do Bret Michaels, mas sim de todo o gênero e o que ele representa. O estilo de vida hedonista, curtição adoidada, bebedeira e drogas sequer passam perto de algo que eu julgue minimamente interessante para eu sequer idealizar para mim mesmo. Podia ser qualquer outro disco de glam metal, o comentário seria o mesmo.

Christiano: Ok. Temos aqui um ótimo guitarrista. Parece que, nesse disco, o Poison soa um pouco mais “orgânico” que de costume, o que tem a ver com os riffs C.C. DeVille, que chegam mesmo a lembrar o Free em faixas como “Nothin’ but a Good Time” e “Good Love”. Na verdade, são justamente essas referências meio bluseiras que diferenciam Open Up And Say… Aaaaah dos inúmeros outros discos da época. Não é muito a minha praia, mas confesso que me surpreendeu positivamente.

Diego: Antes de mais nada deixa eu tirar isso do caminho: Não é preciso nem ler/ver uma entrevista com o guitarrista C.C. Deville pra saber que ele era um daqueles adolescentes americanos obcecados por Kiss (estilo Detroit Rock City, o filme), basta ouvir seu timbre de guitarra e seus riffs pra ver isso. Confesso que tenho um preconceito absurdo em relação ao tal do Hair Metal (ou como eu carinhosamente o chamo, Metal Farofa). Ainda não ouvi um único disco decente dessa safra de bandas. Os únicos discos que eu me lembro de ter gostado desse estilo são The Final Countdown (Europe) e Screw It! (Danger Danger). O resto que eu ouvi simplesmente não faz minha cabeça, a produção quase pop dos anos 80 e peso que, por diversas vezes, não existe. Open Up and Say… Ahh!, segundo disco do Poison, não muda minha opinião, legalzinho se estiver tocando de fundo em alguma reunião de amigos ou no Rock Bar que você foi tomar uma cerveja, e só. ‘Nothin’ But A Good Time’ é uma baita faixa bacana, e ‘Every Rose Has Its Thorn’ é a balada obrigatória do disco (todo disco de metal farofa precisa de uma balada). Como eu disse, no final, esquecível depois de uma audição.

Diogo: O Poison deve ser uma das bandas mais odiadas de que se tem notícia, sejam bons ou maus os motivos. Por mais que tenham bem pouco de metal, o grupo e seus dois primeiros discos tornaram-se sinônimos do glam metal oitentista, como esta indicação confirma. Para mim, tanto Open Up and Say… Ahh! quanto Look What the Cat Dragged In (1986) apresentam um rock ‘n’ roll bem básico, mais próximo de alguns nomes do glam rock setentista do que de bandas como Ratt, Mötley Crüe e Dokken, que considero muito mais representativas do estilo. Aliás, não fosse a roupagem espalhafatosa, tanto visual quanto musical, além do contexto da época, tenho certeza que muitas pessoas que odeiam o Poison veriam o quarteto de uma forma um pouco mais simpática. Sobre o disco em questão, salva-se por três músicas: “Nothin’ But a Good Time” (que poderia estar em algum álbum do Kiss), “Fallen Angel” (melhor com sobras) e “Your Mama Don’t Dance” (cover inesperado que acabou combinando muito bem). O resto você pode ignorar. Mesmo “Every Rose Has Its Thorn”, tida por muitos como uma balada representativa do estilo, nunca me conquistou. O Poison que vale a pena está nos dois álbuns seguintes, Flesh & Blood (1990) e Native Tongue (1993). Bret Michaels seguiu sendo um vocalista fraquinho, mas os músicos se aperfeiçoaram e criaram faixas bem mais interessantes, além de Richie Kotzen ter substituído C. C. Deville em 1991.

Fernando: Eu me lembro de ver esse disco na prateleira de rock e heavy metal durante muito tempo desde as primeiras vezes que eu comecei a comprar discos em uma das lojas de Itapetininga. Claro que a capa sempre chamou atenção e certamente eu teria comprado se eu não tivesse ficado os primeiros anos da minha vida metálica tentando adquirir todos os discos possíveis do Iron Maiden e Metallica. A grana era curta. Só fui saber o que era Poison muito tempo depois quando eles vieram ao Brasil em 1994. Claro que eu estranhei o som pois tinha a capa desse disco gravado na memória e eu o relacionava com algo totalmente diferente e muito mais agressivo e radical. Sei que a maioria vai execrá-lo, mas eu não tenho problema algum com esse hard rock mais pop da banda. Não o considero o melhor da banda (está em terceiro na minha escala pessoal), mas acho que a escolha foi muito feliz. Músicas como “Nothing’ But a Good Time” representam muito o hard rock californiano. Além disso o álbum ainda possui duas outras músicas de ótimo nível: “Fallen Angel” e a baladona “Every Rose Has Its Thorn”.

Mairon: Bret Michaels, C.C. DeVille, Bobby Dall e Rikki Rockett, o quarteto mais purpurinado dos anos 80 se fazendo presente para representar o hair metal. Olha, existiam muitas bandas boas na época do Poison, melhores que eles até, mas eu confesso que não sou um fã da música da banda. Deste disco saiu a clássica baladinha “Every Rose Has Its Thorn”, e tanta coisa braba de aturar, vide “Fallen Angel”, “Love on the Rocks”, “Tearin’ Down the Walls”, “Bad to Be Good” e por aí vai. Acho muito comunzinha, e muito Kiss, só que sem a espontaneidade e honestidade do Kiss, se é que me entendem (fala sério, “Nothin’ but a Good Time” só pode ter sido composta por Paul Stanley ou Gene Simmons). Ainda me fazem uma versão totalmente desnecessária de “Your Mama don’t Dance”, da saudosa dupla Loggins and Messina, toda afrescalhada. Pra que? Enfim, mesmo com os descréditos, em termos de estilo, acho que ninguém superou o que esses aí fizeram (Cinderella, talvez). Vale o recomenda, ok. Vale sim. Chutaria que o Davi indicou este álbum, que não pretendo ouvir novamente. E que capa tosca, pqp!!!

Ronaldo: Musicalmente, o Poison é uma atualização do som do Kiss e do Aerosmith, que por sua vez ajoelhou no milho anos antes para os Rolling Stones. O rock do Poison é quente, divertido, despreocupado, mas também limitado a um pequeno redil de ideias. Algo pra se ouvir sem muita atenção, como uma trilha sonora para festa na qual as pessoas falam e riem mais alto do que a música, ou então dirigindo por uma avenida enquanto buzina para as cocotas. Também há que se destacar o quão este tipo de som está cravado no coração dos anos 1980 e há, naturalmente, um transporte do ouvinte para aquela atmosfera libertina da costa oeste norte-americana.

Ulisses: Eu associo o glam metal (ou hair metal, whatever) bem mais ao Mötley Crüe, mas achei esta indicação até interessante. Open Up me pareceu um álbum bem equilibrado, entregando algumas composições que, ainda que não sejam o supra-sumo do rock, são divertidas e não se entregam a exageros. Mesmo a balada “Every Rose Has Its Thorn” não chega a territórios tão açucarados. O problema é que falta garra na performance de outras faixas, como “Nothin’ But A Good Time” e “Love on the Rocks”, fazendo com que, no geral, a audição seja meramente agradável, mas pouco cativante – a exceção fica para “Fallen Angels”, uma faixa excelente.


Portishead – Dummy (1994) (Trip Hop)
Recomendado por Christiano Almeida

Geralmente, quando falamos em Trio Hop dois nomes são obrigatórios em qualquer lista: Portishead e Massive Attack. Pessoalmente, acho que Dummy é um belo exemplar do que foi feito dentro estilo, trazendo algumas batidas características do Hip Hop acompanhadas por um instrumental bastante rico. No geral, temos uma atmosfera bastante sombria que permeia todo o disco, o que é realçado pelos vocais introspectivos e tristonhos de Beth Gibbons. Por essa descrição, pode parecer que estamos diante de uma bad trip sem fim, o que não deixa de ter um pouco de verdade. No entanto, o disco é tão sombrio quanto bonito, o que explica seu valor artístico. Se você nunca ouviu nada da banda, indico duas faixas: “Sour Times” e “Glory Box”.

Alisson: É um disco que, no calor do momento, pode gerar muito desgosto em quem quer algo de absorção imediata. O nome do estilo em que se enquadra é bem adequado para esse disco, que exige calma do ouvinte para que ele “viage” por suas nuances e colagens sonoras, sempre sombrias e misteriosas, intercalando synths volumosos com beats de drum machine. Tudo fazendo o contraponto para que Beth Gibbons brilhe absoluta com um desempenho vocal maravilhoso.

Davi: Lembro que tinha escutado o Third (2008) do Portishead para alguma dessas recomendações e ter ficado um tanto quanto traumatizado. Escutar aquele disco me gerou pesadelos por noites e noites. Graças à Deus, o trabalho de estreia do trio britânico é menos traumatizante. Mais bem acabado, aposta em uma sonoridade low-fi, repleta de batidas eletrônicas e um bonito trabalho vocal. A melhor música do disco é, sem dúvidas, o hit “Glory Box”, mas há alguns momentos positivos como “Sour Times” e “It´s a Fire”. Não comprá-lo-ei, mas diminuiu o medo.

Diego: Quando o hype não compensa! Em meados da década de 90, o trip hop foi considerado algo cool, ele acabou durou até o início dos anos 00. O gênero era considerado uma música para pessoas modernas e ‘descoladas, basicamente para a galerinha ‘hypada’. Muitas pessoas apenas ouviram esse disco por que era a moda do verão. E a verdade é que muitas dessas pessoas nunca realmente ouviram o disco. O fato de Dummy ser considerado um clássico é algo que só pode ser explicado devido ao fato de que todos os ouvintes do disco estavam chapados demais pra fazer nexo das coisas. Dummy atraiu a atenção das pessoas por causa do enorme sucesso de ‘Glory Box’ uma música que, ninguém pode negar, é muito boa. Mas quem escuta música, não só os hits do momento no rádio, no Youtube ou no Spotify, sabe que discos são feitos de um pacote completo, não apenas uma ou duas músicas boas. Eu creio que o status de disco clássico vem do fator nostalgia. As pessoas vivem um período de suas vidas e seguem lembrando desse período pelo resto de suas vidas como os melhores anos. E a música está associada com esses momentos. Mas se essas mesmas pessoas ouvissem Dummy pela primeira vez hoje em dia o disco passaria batido. Beth Gibbons tem uma boa voz, não vou negar isso, um tipo sensível de voz sussurrada que pode ser sexy e um veludo para os ouvidos, mas o esqueleto das músicas não ajuda a cantora em momento nenhum. ‘Numb’ é uma boa faixa e ‘It’s A Fire’ foi a única música do disco (fora ‘Glory Box’) que me deixou animado. E adivinha só? ‘It’s A Fire’ nem mesmo está no disco original, ela foi lançada apenas na versão em K7 do disco… Em suma, é um álbum deprê. Eu gosto muito de discos deprês, mas eu também preciso de algo mais, não só a melancolia fabricada. E Dummy me cheia a depressão fabricada.

Diogo: Este é o álbum mais difícil de avaliar nesta edição. Já foi complicado comentar a respeito de Third na edição da série “Melhores de Todos os Tempos” dedicada a 2008, e desta vez não é diferente. Felizmente, Dummy é uma audição mais tranquila em relação ao terceiro álbum da banda, que soa menos experimental, mas ainda assim desafiadora se levarmos em conta que estamos falando de um disco lançado em 1994, não em 2008. Mesmo o vocal de Beth Gibbons, que me desagradou em Third, mostra-se bem mais coerente em Dummy. “Glory Box”, grande hit do grupo, faz parte de seu tracklist e é uma boa música, que certamente está na memória de muitos que sequer sabem que se trata de uma obra do Portishead. Em geral, não é uma sonoridade que me agrada muito, mas seu clima introspectivo é envolvente. Não sei mensurar sua importância para a definição e o desenvolvimento do trip hop, pois não conheço quase nada do gênero. Sei, porém, que é um álbum mais relevante que outros aqui apresentados para seus estilos correspondentes.

Fernando: Não sei muito o que dizer sobre esse disco. Não é algo que eu vou ouvir sempre, ou melhor, não tenho intenção de ouvir novamente, mas falar que é ruim talvez seja demais. A primeira faixa me parece que nunca começa de verdade, mas foi na segunda que entendi o espírito da primeira por conta da levada mais tranquila da música. Depois de um tempo as coisas me pareceram bastante iguais. A voz da garota é ótima, mas me parece que está deslocada pelo fato da base musical ser fraquinha.

Mairon: Bom, perto do que foi aguentar Third na edição de Melhores de 2008, até que foi interessante ouvir o álbum que realmente, deu origem ao trip hop. As canções me lembraram um pouco de Madonna nessa mesma época, e apreciei, de certa forma, “Sour Times” e “It Could Be Sweet”, sendo que essa última deu até para dar uma viajadinha. Realmente, gostei de “It’s a Fire” e principalmente de “Glory Box”, onde a guitarra aparece com relevância. A voz feminina aqui não me soou desagradável. Ok, não virei fã, não vou comprar um disco, mas como é para indicar algo que represente, sim, Dummy representa os ritmos arrastados do Trip Hop.

Ronaldo: O nome não me é novidade, mas o contato com o estilo é mínimo de minha parte. Tanto que não saberia apontar seus elementos; mas me atendo ao disco apresentado, há um foco forte nas batidas que emulam algo do funk/soul (e acabam mirando no rap/hip-hop), mas sendo usadas por baixo de composições dramáticas e catárticas, fazendo o resultado soar bastante original e intenso. Também há uma clara vontade em soar lo-fi, com sons frequentemente abafados e ruidosos. O mais interessante do disco do Portishead é usar coisas de décadas passadas (tecladinhos que já conhecemos de outros estilos, guitarras fuzz, órgão Hammond, etc.) de uma forma inteiramente nova. Os vocais sussurados seriam impensáveis para esse peso de batida percussiva; contudo, são peças-chave para tornar o disco algo distinto em sua época.

Ulisses: A atmosfera gélida de Dummy, construída por algo que está entre música eletrônica, batidas de hip hop, jeito jazzístico e vibe sombria, tem como ponto central o vocal expressivo de Beth Gibbons e as ótimas letras. Mas não demora muito para perceber que é tudo fumaça e espelhos: as composições são interessantes, mas são pouco envolventes e não cativam. Trip hop sempre me parece mais forma do que substância, e mesmo o pioneirismo de Dummy não muda isso.


Renato Borghetti – Gaita Ponto (1984) (Música gaúcha)
Recomendado por Diego Camargo

Talvez seja difícil o impacto que Gaita Ponto (nome do instrumento que Borghettinho toca, diferente do acordeão normal) teve na história da música instrumental e da música nativista. Pra começo de conversa, deixe-me explicar que a música gaúcha reúne de um tudo e não é apenas um estilo musical, ela também vai de artistas tão díspares como Teixeirinha (nos anos 60), Noel Guarany (nos anos 70), Os Serranos (anos 70 e 80), Gaúcho Da Fronteira (anos 70 e 80), Os Nativos (anos 90) até coisas recentes que misturam música gaúcha com forró, no que se calhou chamar ‘festchê’ (simplesmente abominável). Também chamada música tradicionalista ou nativista, a música gaúcha compreende um sem número de estilos como a vanera, a polca, o chamamé, a milonga, o xote, o rasqueado e muitos outros. Gaita Ponto foi gravado por um menino Borghetti de apenas 21 anos e mudou o cenário da música instrumental no Brasil. Foi o primeiro disco de música instrumental a vender 100 mil cópias (disco de ouro), e trouxe com ele muitos outros discos de ouro com Gaúcho da Fronteira e Os Serranos. Gaita Ponto é um tratado de como se fazer música gaúcha de raíz e não soar somente sulista. Só por isso já valeria a pena, mas o disco ainda traz “Kilômetro 11”, “Merceditas” “O Sem Vergonha” e o hino ‘Milonga Para As Missões”. Borghetti hoje é nome de respeito na música instrumental internacional e todo ano se manda para a Europa para fazer turnês de mais de 2 meses. E como se tudo isso não bastasse, Borghetti fundou o Instituto Renato Borghetti de Cultura e Música, que ensina, de graça, crianças de 7 a 15 anos em 7 municípios diferentes do Rio Grande do Sul a tocar a gaita de oito baixos que são fabricadas na fábrica que o próprio Renato fundou alguns anos atrás. Se isso tudo não fizer você se interessar pela música do Gaúcho Borghetti, nada mais fará!

Alisson: Só me resta reconhecer a técnica cirúgica do instrumentista nessas composições. Pois de resto é um tipo de música que simplesmente não me diz nada.

Christiano: Não conhecida nada do Renato Borghetti. Confesso que fiquei muito surpreso quando comecei a escutar esse disco. É um tipo de música que não sei classificar, embora seja muito agradável. O instrumental é calcado na música regional sulista (posso dizer isso?), com violões e baixos acompanhando a sanfona de Borghetti. As músicas são cheias de detalhes interessantes, com arranjos bastante ricos. Isso contribui com a audição, que é bastante agradável. Enquanto dica, foi a melhor da lista, pois me apresentou um novo universo.

Davi: Caraca, olha o que pintou por aqui. Algo totalmente inusitado para um site de rock. Mas não tem problema, gosto desse tipo de ousadia. Renato Borghetti é mestre. Puta músico. Sei de sua importância, mas tenho um álbum só em casa. Nunca fui muito à fundo em sua discografia. Lembro que cheguei a assistir ele dando uma canja em um show do Engenheiros do Hawaii no Palace (SP) e fiquei impressionado com o cara tocando. Esse é seu LP de estreia que trouxe seu primeiro hit “Milonga Para as Missões”. Trabalho instrumental com uma sonoridade regional e muito bem feita. Gaita-de-ponto e violão e nada mais. Minhas favoritas são “Kilometro 11”, “Bailinho na Capela”, “Minuano” e “Tio Bilia Na Oito Baixos”. Respeito eterno.

Diogo: Poucas pessoas popularizaram o nativismo gaúcho além das fronteiras do Rio Grande do Sul como Renato Borghetti. Fora do Brasil, talvez ninguém como ele. Seu primeiro álbum é uma verdadeira coletânea de clássicos do cancioneiro local, daqueles que estão eternizados na memória até de quem não dá a mínima para a música folclórica feita no Rio Grande do Sul. Algumas delas, inclusive, são referências do gauchismo a milhares de quilômetros do Estado. Ou vai dizer que nem mesmo em algum programa de televisão você ouviu algum trecho de “Milonga para as Missões” e “Merceditas”, sem saber o nome da canção ou quem era o gaiteiro responsável por aquilo? Aliás, mérito não apenas de Borghetti, mas do violonista Enio Rodrigues, seu principal assecla nessa empreitada. Não foram poucas as canções que despertaram minha memória. “Llegada”, “Kilometro 11” (excelente), “Bailinho na Capela” e “Minuano” são conhecidíssimas, mas soam frescas até hoje. O fato de ser o único álbum instrumental brasileiro a conquistar disco de ouro (mais de 100 mil cópias vendidas) é merecidíssimo.

Fernando: Algumas vezes eu acho que o ecletismo do nosso grupo de consultores extrapola os limites pouco bem definidos – é verdade – do site. Obviamente o tema escolhido pelo Ronaldo facilitou a entrada de um disco como esse. Porém se engana quam pensa que isso é algo que está totalmente fora das coisas que ouço normalmente já que a família da minha esposa é quase toda sulista e esse tipo de música é frequente nas reuniões. Achei que Renato Borghetti seria um compositor, mas pelo jeito está mais para um intérprete já que poucas faixas foram escritas por ele. O mais curioso é este ser um disco instrumental que realmente não precisaria de voz. A sanfona, ou gaita, como chamam os gaúchos, é suficiente e passa a mensagem que o músico quer. o CTG pira!!!

Mairon: Com certeza esse foi um dos primeiros vinis que ouvi na minha vida. Meu pai tem o LP, e desde pequeno colocava para nós escutarmos. Lembro que eu imitava Borghettinho, e queria ser um gaitista como ele. O cara é uma fera, e levou as tradições dos CTGs do Rio Grande do Sul para o Brasil, e por que não, o mundo. Gaita Ponto é um álbum instrumental, levado por dois violões, baixo e os dedos afiados de Borghetitnho. Aqui ele apresenta rancheiras animadas (“Redomona” e “O Rancho / Cerca de Pedra”), vaneiras empolgantes (“Bailinho na Capela” e “Minuano”), xote (“O Sem Vergonha” e “Tio Bilia Na Oito Baixos”) e temas ligados a cultura castelhana (“Llegada” e “El Toro”). Ou seja, os principais ritmos gauchescos condensados em canções para dançar, e que demonstram o virtuosismo de Borghetti e do violonista Enio Rodrigues. Mas a nata dos ritmos gauchescos são o chamamé e a milonga. Sempre curti um bailão gaudério, e dançar um chamamé como “Kilómetro 11” e a clássica “Merceditas”, ou uma milonga ligeira como “Carreirada” dão uma satisfação muito grande ao corpo e à mente. A épica “Milonga Para as Missões” é uma das peças mais belas e complexas do cancioneiro gaúcho. Serranos, Leonardo ou Cesar Passarinho seriam outras boas opções para a música gaúcha, mas a escolha aqui feita – e surpreendente aliás, pois não tenho ideia de quem indicou – é digna de ser uma referência para nossa cultura local.

Ronaldo: Toda música regional tem como característica principal a associação imediata do som a um determinado local. Por consequência, se não há uma conexão imediata do ouvinte com aquele local (por pertencimento ou por identificação), a apreciação fica prejudicada. Linguagens como o rock ou a música eletrônica são mais universais e se tornam muito felizes quando agregam os naturalmente ricos conteúdos regionais. Neste caso, o som de Renato Borghetti é uma bela demonstração dos pampas gaúchos em violões e acordeões. É nítida a influência européia (Portugal, Espanha e Itália) na estrutura das músicas – há passagens que rememoram fado, flamenco, polka e valsas, com um ritmado que pode ter herança indígena e que constitue uma blenda bastante própria. A instrumentação é habilidosa e agradável, mas o disco, ao longo de sua duração, acaba se tornando naturalmente repetitivo. O objetivo proposto aqui (discos representativos de um estilo) é atingido com tranquilidade por este disco.

Ulisses: Não esperava ouvir música regional por aqui, mas a escolha é boa. A interação da gaita-ponto (ou gaita de botão) com o violão é interessante e figura como eixo do registro; em alguns momentos o violão até toma a dianteira. As faixas têm suas variações, mas o registro não escapa de soar repetitivo numa tacada só.


Survivor – Vital Signs (1984) (AOR)
Recomendado por Diogo Bizotto

O Survivor pode não ter ajudado a parir aquilo que ficou conhecido como AOR, mas define o estilo como nenhuma outra formação. Nasceu desse ventre e trilhou esse caminho como nenhuma outra banda. Volte-se para o passado e pense nos grupos que realmente definiram o AOR e diferenciaram essa sonoridade daquilo que vinha sendo feito no rock setentista. O Boston cristalizou o estilo com sua estreia, mas o disco não fugia tanto assim de um hard rock de influência mista (EUA e Inglaterra), destacando-se pela produção diferenciada. O Journey começou como uma banda fusion e só tomou a forma pela qual hoje é conhecido em 1978, com a entrada de Steve Perry e o lançamento de Infinity. O REO Speedwagon praticava um hardão cheio de boogie e só foi cair de cabeça no AOR com seu sétimo álbum, You Can Tune a Piano, But You Can’t Tuna Fish (1978). Styx e Kansas começaram fazendo rock progressivo à moda do Meio-Oeste norte-americano antes de começarem a brincar de AOR, após cinco ou seis lançamentos. Apesar da aura AOR e da produção condizente desde o primeiro álbum, o Toto sempre praticou uma mescla de estilos que refletia as influências múltiplas de seus integrantes, com muito funk, prog, jazz e hard rock, tudo com o indefectível carimbo “smooth”. Talvez o Foreigner também se encaixe em condições parecidas com as do Survivor, mas, ao menos para mim, Jim Peterik e Frankie Sullivan são os compositores que melhor trabalharam com as ferramentas do estilo, cunhando melodias de perfeito encaixe com letras e instrumental. Entre as obras paridas por essa dupla, nenhuma é tão boa e representativa quanto Vital Signs. Talvez muitos discordem e prefiram indicar Eye of the Tiger (1982), mas tenho uma leve queda por Vital Signs, que soa muito redondo e mostra que uma troca de vocalistas não precisa ser traumática quando estamos falando de alguém com o talento de Jimi Jamison. Quem não gosta de teclados em evidência vai odiar, mas quem, como eu, não resiste a harmonias bem construídas e melodias vocais perfeitamente ajustadas a um instrumental eficiente, equilibrando-se no limiar do hard e do pop rock, vai amar faixas como “I Can’t Hold Back”, “High on You” e “Broken Promises”. Aqueles que não se importam com o lado mais açucarado do estilo têm a balada “The Search Is Over” à disposição. Jim Peterik e seus teclados são importantíssimos para o grupo, mas Frankie Sullivan também se impõe e coloca sua guitarra mais à frente, caso da ótima “First Night” (que chega a enganar no início) e “Popular Girl”, além de ter mais destaque ao vivo. Falando em destaque, as duas melhores faixas ficaram para o fim do tracklist: “It’s the Singer Not the Song” e “I See You in Everyone”. A primeira, com um show de Sullivan (e um belo solo final), é um grande exemplo de como esses caras sabiam lapidar suas melodias ao máximo e criar músicas extremamente cativantes. A segunda é minha provável canção favorita do grupo, o auge de sua dramaticidade, rivalizada apenas por “I’m Not that Man Anymore” (Eye of the Tiger). Seu único defeito é contar com apenas quatro minutos e meio, pois tinha tudo para se tornar um pequeno épico. Ao vivo, porém, a banda caprichava em um merecido interlúdio instrumental. Já estava sendo injusto: Marc Droubay (bateria) e Stephan Ellis (baixo) também fazem um bom trabalho, segurando tudo com firmeza e dando o devido espaço para que o restante do grupo brilhasse.

Alisson: Ouvir AOR na rádio FM do Roadstar do Passat nos fins de semana é uma memória afetiva que eu nunca tive. Sequer idade pra ter essa memória eu tenho. Então me transportar para o período histórico para tentar apreciar algo daqui é impossível. Falo isso porque o disco não envelheceu bem, é como se ele estivesse preso a um período histórico e simplesmente não funcionasse em outros tempos. Tanto em timbres de piano e sintetizadores (ultra-datados) quanto ao approach pop do período mesclado ao rock, tudo é produto de um momento que parece nunca funcionar nos tempos atuais, apenas para quem viveu aquilo tudo.

Christiano: O Survivor ficou marcado como a banda de uma música só: “Eye Of The Tiger”, um dos maiores hits dos anos 80. Mas o grupo tem uma discografia bem legal, sendo que Vital Signs é um de seus pontos altos. O Hard Rock/AOR com forte presença de teclados oitentistas, ótimos vocais e instrumental impecável dá as caras em todas as faixas, que hoje em dia soam como uma viagem no tempo. Para quem gosta desse tipo de som, não tem como ignorar músicas como “Broken Promises” e “High on You”. O único ponto negativo é o excesso de baladas, que são até interessantes, mas ocupam boa parte do disco.

Davi: Para quem acha que a carreira dos caras se resume à “Eye Of The Tiger” e “Burning Heart”, só uma palavra: tooooooma. Gosta daquela sonoridade meia Journey, meia Toto, meia Phenomena? Então pode ir sem medo de ser feliz. O saudoso Jimi Jamison cantava pra cacete. Jim Peterik e Frankie Sullivan mandavam muito bem também. “I Can´t Hold Back”, “High On You” e a lindíssima “The Search Is Over” tocaram bastante nas rádios e são excelentes. “Broken Promises” e “It´s The Singer, Not The Song” não ficam abaixo. Só não vou dizer que o disco é perfeito porque ficou de fora o clássico “The Moment Of Truth”, trilha do Karate Kid, lançada no mesmo ano.

Diego: O tal do ‘Adult Oriented Rock’ não é um estilo ao qual eu me identifico e são pouquíssimos os discos que eu gosto dentro do estilo. Mas pra tirar essa pedra do caminho. ‘Vital Signs’ não é o melhor representante ao meu ver. Eye Of The Tiger é superior em todos os sentidos. Eu conheço o Survivor desde que um belo dia encontrei uma cópia de Eye Of The Tiger em um sebo em São Paulo por 1 Real. Como conhecia muito bem a faixa-título (sendo eu um grande fã de Stallone) levei pra casa o disco e BUM! Todas as faixas são matadoras. A banda continua na ativa até hoje, e Vital Signs foi o primeiro disco com o vocalista Jimi Jamison (que antes fazia parte do Cobra). É fato de que Vital Signs leva o AOR muito a sério e todas as músicas foram minuciosamente compostas para todas na Rádio FM Americana dos anos 80. E em alguns momentos como “I Can’t Hold Back” e “It’s The Singer Not The Song” a banda acerta perfeitamente, refrões pegajosos, guitarras pseudo-pesadas e um vocal cantando no máximo da voz. No entanto o disco desliza demais ao tentar ser o disco perfeito de AOR. As baladas são sofríveis e algumas faixas são simples releituras de músicas dos outros discos. Um bom disco, e se você gosta de AOR com certeza é um prato cheio. Mas como maior representante do estilo ele falha muito.

Fernando: Confesso que só conhecia o Survivor por conta de Eye of the Tiger (1982). A faixa título ficou gravado na memória popular muito mais por conta do filme do que por conta do álbum ou da banda em si. Até considerava a banda como mais um One Hit Wonder. Porém esse disco mudou esse meu pensamento. “I Can´t Hold Back” começa o disco com clima lá no alto com é de se esperar de um disco AOR. Já em “High on You” os clichês do estilo se mostram com o timbre do teclado bastante datado, porém longe de ser ruim. Entretanto, achei que faltou alguma coisa para esse disco estar em um patamar suficiente para o qualificar como o representante de um estilo, ainda mais com discos fantásticos de grupos como Journey ou Foreigner, mas eu gostei do que ouvi.

Mairon: Dos mais fáceis de acertar quem indicou (DB), esse é um clássico disco dos anos 80. Estreia de Jimi Jamison nos vocais, no lugar do imortal Dave Bickler, e logo de cara, dois grandes sucessos, chamados “The Search Is Over” e “I Can’t Hold Back”. Como essas músicas tocaram nas rádios dos anos 80, putz. Existem faixas aqui que são o mais representativo do AOR, com tecladinhos sintéticos, bateria em uma levada mais simples do que arroto depois de uma coca, refrãos grudentos e pronto para uma trilha da Sessão da Tarde, como “Broken Promises”, “Everlasting”, “High on You” e . Tem aquelas animadinhas, para agitar a cabeleira, como “First Night”,e “It’s the Singer, Not the Song”, e tem aquelas que você irá ver um Steven Guttenberg da vida passando na telinha da TV enquanto come um lollo e bebe um Tang, principalmente “I See You in Everyone”, baladinha para a mocinha ficar grudada de abraços no seu peposo, e “Popular Girl”, essa para balançar o bambolê no corpo. Diogo, por que “The Moment of Truth” não entrou no original? A melhor música do Survivor fase Jamison, só entrou no relançamento (Daniel San e Sr. Miyagi lamentam muito). Anos 80 mais que típico, e apesar de que para representar o AOR, Asia, Kansas fase “elefante”, Boston, Journey  ou o lindíssimo Paradise Theater (Styx) cairiam bem, esse não fica atrás não. Boa escolha.

Ronaldo: O AOR é uma síntese maximizada do som desenvolvido por grupos norte-americanos da metade da década de 70, que começaram a diluir a exuberância instrumental do rock progressivo em uma estrutura mais convencional de canção, com fortes refrões, vocalistas de grande envergadura de agudos e guitarras mais orientadas para o hard rock. Para compreender isto em suma, basta perceber que todas as bandas precursoras e que fizeram história no AOR vieram de um passado claramente progressivo – Kansas, Journey e Styx. Do rock progressivo, o AOR herdou principalmente o apreço pelos teclados e o capricho nos arranjos. Em Vital Signs, temos um resumo muito conciso do AOR, com a condensação de todos os elementos que tornaram este estilo tão popular no início dos anos 80. Refrões pegajosos pululam o disco todo e todas as faixas poderiam ser singles em potencial.

Ulisses: Como é que a banda consegue colocar duas excelentes faixas no mesmo álbum (“I Can’t Hold Back” e “First Night”), cantadas de forma empolgante e com teclados equilibrados, para depois escorregar no restante do tracklist, cheio de rocks mid-tempo entediantes e baladinhas chatas? Fosse um álbum com a qualidade das composições supracitadas, aí eu entenderia a escolha de Vital Signs.


Wolf – Evil Star (2004) (NWOTHM)
Recomendado por Ulisses

O cenário metálico underground viu, especialmente durante a década de 2000, o surgimento de um notável número de bandas que promoviam o ressurgimento global do bom e velho metal oitentista, tradicional e velho de guerra, levando suas influências de Iron Maiden e Judas Priest não como uma base de aprendizado para alçar vôos maiores e mais desafiadores, mas como um template limitado para toda a sua sonoridade, sendo que boa parte delas não propõe nem mesmo a atualização das timbragens utilizadas na época. Trata-se de um revival; uma xerox nostálgica obviamente propensa à repetição e morte prematura, mas que inegavelmente revelou algumas jóias sonoras àqueles que se aventuram em uma exploração. A Suécia lidera essa tal “nova onda do metal tradicional”, apresentando as bandas mais icônicas da cena: Ambush, Enforcer, Helvetes Port, In Solitude, Steelwing, dentre outras. A minha favorita é o Wolf, que apesar do nome genérico sempre entrega álbuns com uma notável variação sonora entre cada um, mas sem fugir das influências de Accept, Helstar e Mercyful Fate. Evil Star, terceiro álbum de estúdio, é impressionante do começo ao fim e deixa seus pares comendo poeira: instrumental competentíssimo, riffs de derreter os ouvidos, linhas vocais memoráveis e composições empolgantes que forçam o ouvinte a cantar junto – um grande avanço em relação aos álbuns anteriores, em que ainda não soavam tão inspirados.

Alisson: Seguiram a risca a cartilha do metal britânico 80’s, sem em momento algum sair do previsível (é um disco que não corre riscos, e nem tinha um por que também). Como todo movimento de “revival”, eu sempre prefiro manter distância e ouvir o original, mesmo que metal tradicional passe longe do meu gosto. Mas ainda funciona pra quem gosta, de todo modo.

Christiano: Não sabia da existência de uma “New Wave Of Traditional Heavy Metal”, mas, após escutar esse Evil Star, posso dizer que a tal nova onda existe e está muito representada pela banda. O disco é ótimo do início ao fim, com ótimos riffs, solos marcantes e um vocalista muito carismático. Para quem gosta de heavy metal tradicional, é uma ótima pedida. Difícil não ficar feliz ao escutar uma faixa como “The Avenger”, por exemplo, que transborda energia e boas sacadas, com uma linha de baixo marcante que pontua toda a música, coisa cada vez mais rara em bandas novas do estilo. Confesso que fiquei com vontade de comprar o disco depois de escutar. Ótima dica!

Davi: A banda é boa. Com bons riffs, bastante influência de Iron Maiden. A influência maior é percebida justamente na guitarra como demonstram faixas como “American Storm” ou “Transylvanian Twilight”. O cover de “(Don´t Fear) The Reaper” do Blue Oyster Cult ficou bem satisfatório. Vocal manda bem. Tudo certinho. O único é senão é a falta de uma musica emblemática, que marque a audição do CD. No geral, bonzinho.

Diego: Se NWOBHM (New Wave Of Brittish Heavy Metal) já é um termo ridículo e inapropriado quem dirá NWOTHM… Não fazia ideia de que essa banda da Suécia existia, ao começar minha audição de ‘Evil Star’ no Deezer a primeira coisa que noto é que Niklas Olsson poderia ser o novo vocalista do Rush, tamanha a semelhança nas vozes. Se o nome da banda (existem pelo menos 10 bandas com o mesmo nome) não mostra nenhuma originalidade, o som também não. A banda toca heavy metal, nos moldes clássicos do metal anos 80. A diferença sendo o já citado vocal. Mas veja bem, em alguns casos a falta de originalidade pode não ser uma coisa negativa (ora bolas, e bandas clássicas como Ramones, AC/DC e Motorhead não gravaram o mesmo disco 20 vezes?!?), e o Wolf apesar de soar parecido com 300 outras bandas, é uma boa surpresa. Bem tocado, bem composto e cheio de vontade. É verdade que o vocal, o tempo todo muito alto (num estilo meio King Diamond as vezes), pode cansar a audição em algumas partes. Mas no geral o disco tem uma pegada forte e te prende do começo ao fim. Bela descoberta!

Diogo: Muito já havia ouvido falar do Wolf e do fato de apostar em uma sonoridade que remete ao heavy metal tradicional dos anos 1980, mas nunca havia escutado nada da banda. Desde o logo (que lembra o mais clássico do Picture), a banda remete a formações de terceiro escalão que tiveram breves momentos de glória na década mágica, e eu admito que gosto desse charme. Claro, isso não adianta de nada se o grupo não for capaz de parir um mínimo de composições cativantes, que puxem o gatilho da nostalgia, mas não soem como mero pastiche. Pela breve experiência que foi ouvir este disco, dá para afirmar que o intento desses suecos foi cumprido, pois há algumas músicas bem boas de se ouvir. A abertura, com a faixa-título, foi bem escolhida, pois deixa o ouvinte de primeira viagem curioso com o que está por vir. “American Storm” é mais puxada para o speed metal é provavelmente é a melhor. “Devil Moon”, mais longa e trabalhada, traz uma sequência de solos que pode não ser um primor de técnica, contudo empolga bastante. Outras também agradam, como “The Avenger”, “Black Wind Rider” e a instrumental “Transylvanian Twilight”. O vocalista não é grande coisa, mas quantos eram realmente bons no auge do estilo? Gostei do fato do baixo estar bem destacado na mixagem, além de executado a contento. Abusando de um dos clichês mais desavergonhados que existem: não mudará o mundo (nem o heavy metal), mas vale a ouvida sim.

Fernando: Sei que a NWOTHM vai ser classificada como uma mera cópia ou até mesmo falarão sobre uma hipotética falta de criatividade. Porém, sou um entusiasta dessas bandas e acredito que é um contrasenso criticar essas bandas nesse sentido já que a idéia é exatamente soar como os grupos oitentistas. Como gosto muito do metal dos anos 80 para mim é um deleite. Cada uma das músicas me lembra uma banda, um disco, ou alguma outra música clássica dos anos 80. Por exemplo “Transylvanian Twilight” inicia como se fosse uma irmã mais nova de “Losfer World (Big Orra)” do Iron Maiden. Algumas bandas brasileiras estão nessa seara como o Battalion e o Helish War, ambas já apresentadas por mim aqui no site. Ahhh…não confundir com o clássico Wolf oriundo da NWOBHM.

Mairon: Conhecia pouco do Wolf, músicas individuais, e nunca tinha ouvido um disco completo dos suecos. Gostei do que saiu das caixas do computador. Um metal pegado, com fortes influências nos grandes nomes da NWOBHM (aliás, nem sabia que existia uma NWOTHM). A instrumental “Transylvanian Twilight” lembra muito a instrumental “Transylvania”, misturada com “Losfer Words (Big ‘Orra)”, ambas do Iron Maiden. Ouvir o riff de “American Storm” e “Out Of Still Midnight” é ser transportado para os álbuns do Judas no final dos anos 70,  “The Avenger” tem uma quebrada surpreendente, no meio de tanta pancadaria. Melhores faixas para a veloz faixa-título, a pegada “Black Wing Rider”, a melódica “Wolf’s Blood” e o belo trabalho instrumental de “Devil Moon” . Só não curti muito “The Dark”, meio longuinha demais, e o cover de “(Don’t Fear) The Reaper”, que apesar de ter ficado similar a original, não tem a potência de um Blue Öyster Cult. Destaque positivo também para o dono da banda, o vocalista e guitarrista Niklas A. Olsson, que canta muito bem e toca pacas. Ah, e a versão que ouvi ainda tinha os bônus para “I’m Not Afraid Of Life” (Ramones) e “Die by the Sword” (Slayer), ambas também desnecessárias.Outro fácil de acertar quem recomendou: Ulisses!! Se não me engano, ele estreou aqui na Consultoria com a DC desse grupo.

Ronaldo: Apesar de ser um bom disco de heavy metal, não consegui identificar algum porquê este disco representaria um estilo ao qual a banda (que é sueca, e não inglesa) não pertenceu estritamente (nem na perspectiva temporal nem na geográfica). Apesar de que frequentemente bandas do chamado “retro-rock” estudam um estilo tão a fundo que conseguem fazer uma compilação de todo um conjunto de bandas e álbuns que definiram um estilo. Creio que aqui até seja o caso, mas seria quase que como trocar um álbum de estúdio por uma coletânea de sucessos.

24 comentários sobre “Consultoria Recomenda: Discos representativos de estilos diversos

  1. Muito boa lista, creio que elogiaria a maioria.

    A música gauchesca tradicional tem várias canções muito boas de se ouvir. É difícil avaliar quando se é novo porque é algo comum aqui no sul do Brasil quando os tios as colocam para ouvirmos em qualquer reunião de família. Mas com o tempo, percebe-se que é uma música bem feita, animada, de ótimas letras e muito bem tocada. Mas normalmente, coletâneas de clássicos gravados pelas melhores bandas do estilo (tipo Os Serranos) são as melhores opções para quem deseja conhecer o estilo.

    No mais, o disco do Hawkwind e o disco do Poison são aqueles que também considero como os principais marcos de seus estilos, independente de gosto pessoal. No AOR, eu recomendaria o Escape do Journey, embora eu goste muito do Survivor.

  2. tem aquelas que você irá ver um Steven Guttenberg da vida passando na telinha da TV enquanto come um lollo e bebe um Tang

    Eu ri até mais do que devia.

  3. Diogo, por que “The Moment of Truth” não entrou no original? A melhor música do Survivor fase Jamison, só entrou no relançamento (Daniel San e Sr. Miyagi lamentam muito).

    Não faço ideia, Mairon, mas isso deve ter ocorrido em razão da música não ser cria dos integrantes ou (mais provavelmente) por um possível contrato de exclusividade. “Burning Heart” também não entrou em “When Seconds Count”, apenas na trilha de “Rocky IV”, e olha que essa é composição da banda mesmo.

  4. Se estilo dependesse de temática abordada nas letras, haveria pelo menos umas 500 descrições a mais de gêneros musicais (Frank Zappa seria o sátira-rock; Kiss seria a sacanagem-rock, etc.).

    Concordo. É como falar em “música romântica”, quando na verdade romantismo, seja de que tipo for, pode ser expresso sob as mais diversas estéticas musicais.

  5. Os únicos discos que eu me lembro de ter gostado desse estilo são The Final Countdown (Europe) e Screw It! (Danger Danger). O resto que eu ouvi simplesmente não faz minha cabeça, a produção quase pop dos anos 80 e peso que, por diversas vezes, não existe.

    Acho essa informação um pouco irônica, pois considero que esses dois álbuns citados, apesar de bons, representam justamente algo mais pop dentro do glam/hair metal.

          1. Rapaz, então você nunca ouviu George Lynch DERRETENDO, ESMERILHANDO em “Mr. Scary”? Nunca ouviu o RIFFAÇO de “Kiss of Death” botando tudo abaixo e mostrando quem manda na porra toda? Nunca ouviu “Tooth and Nail”, speed metal disfarçado de glam metal pra poder entrar na festa? AAHHHHHH!!!!

  6. Uma vergonha que ninguém citou aqui um disco qualquer do meu querido e tão falado RICHARD CLAYDERMAN, para minha tristeza!

        1. Com todo o respeito, Igor, Mr. Clayderman não representa nem clássicos de churrascaria, quanto mais easy listening. Liberace, só para citar um pianista, foi pioneiro e muito mais representativo para o gênero. Ele já fazia o que o seu herói faz pelo menos 2 décadas antes.

  7. Comentário genial by Davi Pascale:
    “O ponto baixo é o ponto mais baixo que um ser humano pode chegar, lembrar a farsa Eminem.”

  8. Questionamento genial by Fernando Bueno:
    “Quem gosta disso não pode criticar um guitarrista que tenta tocar o mais rápido possível, não é?.”

  9. Pra quem disse que Nothing but a Good Time do Poison parece que foi composta pelo Paul Stanley, ele até que tentou, mas só em 2009 com a faixa Never Enough do Sonic Boom. Ali não da nem pra disfarçar.

  10. Até considerava a banda como mais um One Hit Wonder.

    A banda emplacou nada menos que sete singles entre as 20 mais da Billboard, sendo cinco entre as dez mais.

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