Discografias Comentadas: Aerosmith – Parte 1

Discografias Comentadas: Aerosmith – Parte 1
Brad Whitford, Tom Hamilton, Steven Tyler, Joey Kramer e Joe Perry. Uma das maiores formações de rock da história

Por Mairon Machado

Uma das grandes bandas de todos os tempos, nascida nos anos 70 e que conseguiu sobreviver aos anos 80 com certa relutância dos fãs, mas que tomou novamente o topo do mundo nos anos 90 e nunca mais saiu de lá até os dias de hoje. Assim podemos resumir a longa carreira dos americanos do Aerosmith, para muitos, a “Maior Banda de Rock ‘n’ Roll da América”. Com 15 álbuns de estúdio, e alguns ao vivo, o Aerosmith é o grupo americano que mais vendeu em toda a história, com mais de 150 milhões de álbuns vendidos ao redor do mundo, sendo 70 milhões somente nos Estados Unidos.

Além disso, vinte e uma músicas no Top 40 da Billboard Hot 100 e nove músicas no topo do Hot Mainstream Rock Tracks. Quatro Grammy Award, dez MTV Video Music Awards, membros do Rock and Roll Hall of Fame, 25 discos de ouro, 18 discos de platina e 12 de multi-platina. Um breve resumo de uma discografia cheia de altos e muitos altos (bem como alguns baixos), que você acompanha a partir de hoje, aqui na Consultoria do Rock, em duas partes.


Aerosmith [1973]

A estreia do quinteto Steven Tyler (voz, piano, harmônica), Joe Perry (guitarra, vocais), Brad Whitford (guitarra, vocais), Tom Hamilton (baixo, vocais) e Joey Kramer (bateria, vocais) é daqueles discos para chamar a galera pra curtir junto. Afinal, como resistir a pegada bluesy de “Somebody”, trazendo um interessante solo de Perry, ou “Write Me” e “One Way Street”, ambas com a presença marcante da harmônica de Tyler, e as três com riffs fáceis de grudar na cabeça, baseados no mais puro e honesto rock ‘n’ roll. O que chama a atenção para quem ouve Aerosmith só há algum tempo é como a voz de Steven Tyler era diferente, mais grave e rouca do que atualmente. Três grandes clássicos saíram daqui, começando por “Mama Kin”, rockzão na linha Stones que foi eternizado pelo Guns N’ Roses no álbum Lies, com destaque para o baixo de Hamilton e a presença do saxofone de David Woodford, a baladaça “Dream On”, que ganhou fama nos anos 90 com uma nova gravação com orquestra, mas que na versão original, é uma arrepiante faixa onde a guitarra dolorida de Perry casa perfeitamente com os vocais agonizantes de Tyler, responsável também por pilotar o mellotron na canção, e “Walkin’ the Dog”, sucesso de Rufus Thomas que tornou-se um dos riffs mais marcantes de Perry e Whitford, na linha de “Come Together” (The Beatles), mas com muito peso e sujeira exalando das caixas de som. Destaco ainda a sensacional “Movin’ Out”, pesada faixa inspiradíssima nos riffs afiados de Paul Kossoff no Free, e a pancada “Make It”, com uma levada peculiar da bateria de Kramer em uma das introduções mais foderosas do grupo. Com certeza, não é para as menininhas que adoram “Cryin'” ou “Crazy”, pois é pancada comendo praticamente o tempo inteiro. Apesar da baixa venda no início, o álbum já conquistou platina dupla (2 milhões de cópias) nos US.


Get Your Wings [1974]

Este é mais um belo disco dos americanos, praticamente o que os levou a consagração, conquistando a platina tripla em seu país. Aqui surge o famoso logo alado que virou marca consagrada da banda, bem como é o início da grande parceria com o produtor Jack Douglas. O disco é mais trabalhado do que seu antecessor, como atestam a presença do piano – a cargo de Tyler – na dançante “Lord of the Thighs”, os efeitos de ventos assustadores na viajante “Seasons of Wither”, a qual pode se dizer ser a balada do álbum, apesar de estar longe de ser isso, e os efusivos metais na clássica “Same Old Song and Dance” e no groove de “Pandora’s Box”, metais esses a cargo de Michael Brecker (saxofone tenor em ambas), Michael Brecker (saxofone barítono em ambas), Jon Pearson (trombone) e Randy Brecker (trompete) em “Same Old Song and Dance”. “S. O. S. (Too Bad)” é uma faixa próxima ao punk, com as guitarras sujas sendo o centro das atenções, em um ritmo empolgante. Quando o quinteto resolve soltar a mão, apresentam faixas emblemáticas, com o peso de “Spaced” fazendo atiçar os ouvidos para similaridades Zeppelianas. Ponto alto para a longa “Woman of the World”, com sua grandiosa introdução e um show de Perry na guitarra e de Tyler na harmônica, e a foderástica versão para “Train Kept a Rollin'”, a canção original de Tiny Bradshaw, imortalizada pelos Yardbirds e que com o Aerosmith, virou uma surpreendente faixa swingada, que transforma-se violentamente para quebrar o pescoço sem piedade, tendo as participações de Steve Hunter e Dick Wagner nas guitarras. Vale destacar que quando ocorre a mudança para a pancadaria, surgem gritos como se a faixa fosse gravada ao vivo. Na verdade, Douglas resolveu usar um overdub do álbum The Concert for Bangladesh, apesar de que originalmente, a banda queria mesmo ter registrado a faixa ao vivo. “Same Old Song and Dance”, “Train Kept A-Rollin'” e “S.O.S. (Too Bad)” foram lançados em hoje cobiçados singles, mas não emplacaram nos charts americanos. Apesar disso, o caminho do Aerosmith já estava traçado para o sucesso a partir daqui, com um lançamento que até hoje, conquistou platina tripla (três milhões de vendas) nos states.


Toys in the Attic [1975]

Depois de garantido o sucesso, o Aerosmith veio com aquele que vendeu 8 milhões de cópias nos EUA, conquistando uma invejável platina óctupla, e para mim é um dos melhores discos de sua carreira. A começar pela faixa-título, uma violenta avalanche de riffs extraídos por Perry e Whitford, e um refrão perfeito para gastar a garganta gritando em shows, Toys in the Attic é o álbum clássico que deve servir para apresentar uma determinada banda à alguém. Afinal, aqui estão os grandes hits “Walk This Way”, união seminal do rap com o rock, de forma como poucas bandas conseguiram fazer, e “Sweet Emotion”, com um riff dançante similar ao de “Walk This Way”, mas bem mais sujo, destacando o uso do vocoder por Perry, para criar efeitos impressionantes, além do baixão de Hamilton ficar hipnotizando a cabeça do ouvinte por dias, bem como a presença de Jay Messina na marimba, Mas o álbum não vive só delas, afinal, como resistir ao rockzão de “Adam’s Apple”, mais um show de guitarras pela dupla Perry / Whitford, ou o peso descomunal da violentíssima “Round and Round”, uma das melhores faixas da banda, praticamente obscurecida pela grandiosidade dos hits que citei anteriormente, e que seria um adicional interessante no atual set list da banda, já que é daquelas faixas que surpreendem na primeira audição (quem diria que a banda que gravou essa bigorna de 300 toneladas veio a fazer melosidades como “Cryin'” ou “I don’t Wanna Miss a Thing” anos depois?). Nas faixas mais amenas, como “Uncle Salty” e “No More, No More”, predomina uma interpretação segura de uma banda que conseguiu atingir sua maturidade, criando seu próprio estilo onde os riffs rockers e os refrões grudentos serviram de inspiração para várias bandas dos anos 80 (Guns n’ Roses, Skid Row, Ratt e por aí vai). A segurança do grupo era tamanha que eles foram capazes de recriar o jazz embalado de “Big Ten Inch Record” (original de Fred Weismantel) sem deixar a peteca cair, com Scott Cushnie ao piano, Tyler na harmônica e a presença dos metais, dirigidos por Michael Mainieri, que também é reponsável pela orquestra na baladaça “You See Me Crying”, um tapa na cara daqueles que acham que a banda só veio a fazer balada melosa nos anos 90. A diferença é que nessa época, as baladas ainda tinham pitadas hard para serem absorvidas pelos fãs que admiravam a pegada rocker do grupo, mas claro, a voz chorosa de Tyler já servia para molhar calcinhas ao redor do planeta. Teve como singles “Sweet Emotion”, “Walk This Way” e “You See Me Crying” / “Toys in the Attic”. Quer conhecer a banda, vá direto aqui, e não irá se arrepender, apesar de muitos atribuírem ao seu sucessor os méritos para tal.

A banda nos anos 70

Rocks [1976]

Com certeza, esse é o principal álbum da fase inicial do Aerosmith. Daqui saíram três singles de extremo sucesso, que colocaram os americanos no Top 3 da Billboard: “Back in the Saddle”, pesada faixa cujo refrão é para jogar o ouvinte na parede, tamanha sua violência, e cujo final é um momento de pura ode à Jimmy Page por parte de Perry, responsável também pelo baixo de seis cordas dessa faixa, a baladaça “Home Tonight”, mais uma vez atestando que o Aerosmith sempre soube fazer baladas desde suas origens, com Tyler abrindo a garganta acompanhado pelo piano, e com um show de Perry na lap steel guitar, e “Last Child”, cuja introdução engana muita gente, já que a leve balada vira um funk suave e cheio de groove com destaque para o grandioso solo de Whitford, mostrando que ele estava muito além de ser um mero guitarrista base. Vale citar que essa canção traz a presença do banjo de Paul Prestopino, de forma bastante experimental. Aliás, as experimentações rolam solta, basta ver que em “Sick as a Dog” Hamilton assume a guitarra, enquanto Perry vai para o baixo, o que em nada prejudica a harmonia da banda, e pelo contrário, cria mais um clássico. Ainda temos mais faixas que nos remetem indiretamente ao Led, como “Combination”, com os vocais dobrados de Tyler e Perry, “Nobody’s Fault”, cuja semelhança não fica apenas no nome”, e que para Kramer é sua melhor performance musical – o que considero uma boa possibilidade – e “Lick and Promise”, bela pancada para acordar aquele vizinho pagodeiro, com pinceladas punk mas com fortes influências zeppelianas na guitarra de Perry. Porém, não é uma cópia pura e simples, existe uma incrementação musical ao som do Led que diferencia bastante o aspecto geral dessas canções, tornando o Aerosmith inovador, seja nas passagens viajantes de guitarra, na levada sempre truculenta e pesada de Hamilton e Kramer, mas acredito que, principalmente, na performance vocal de Tyler, um vocalista bastante injustiçado nas listas de melhores, e que assim como Perry e Kramer, nessa época estava vivendo seu auge musical. As faixas rockers também marcam presença, e esse espaço aqui é dedicado para a excelente “Rats in the Cellar”, rockzão endiabrado para sacudir o esqueleto, na linha da pancada que foi “Train Kept a Rollin'” no disco anterior, inclusive com Tyler abrilhantando a presença da harmônica, e o boogie regado de malícia em “Get the Lead Out”, também com a presença da harmônica. O disco que alcançou platina logo de seu lançamento (e hoje é platina quádrupla), é influência certa para muitas das bandas do hard rock e até mesmo do heavy metal nos anos 80. Slash considera esse seu disco de cabeceira, Vince Neil já afirmou que esse é o disco que fez ele virar músico, e muitos outros nomes da década de 80 – Testament, Metallica, Anthrax, … – babam ovo para Rocks, então, não preciso falar mais nada. Apenas que foi aqui que o excesso de drogas e álcool começou a surtir efeito no grupo, com a imprensa apelidando Tyler e Perry “toxic twins“, e que viria a ter efeito anos depois. Mas antes, outro grande disco chegaria ao mundo.


Draw the Line [1977]

O meu preferido de todos os discos do Aerosmith, é assim que defino esse álbum. Poucos discos do final da década de 70 se dão ao luxo de não ter nada para corrigir, e esse com certeza é um deles. Começando pela faixa-título, um dos riffs mais sujos que Perry e Whitford criaram, já sabemos que o quinteto veio para arrasr o quarteirão, seja pelo abuso dos slides por Perry, ou simplesmente, por que o baixo de Hamilton está socando a cara do ouvinte sem piedade. Depois, somos conduzidos por uma mutação stoniana incansavelmente deliciosa chamada “I Wanna Know Why”, com o piano de Scott Cushnie sendo o centro das atenções, ao lado do saxofone de Stan Bronstein, piano presente também na homogeneidade sonora do viajante boogie “Critical Mass”, onde junto com baixo, harmônica, vozes e muitas guitarras causa uma sensação de hipnose que fará seu corpo balance por vários minutos, ainda mais por que na sequência, o Aerosmith traz mais um daqueles hards-funks que abre o sorriso na boca do pessoal da Motown, com o nome de “Get It Up”, em mais uma assombrosa coleção de notas musicais em uma mesma canção, contando com a participação dos vocais de Karen Lawrence. Por fim, encerrando esse incrível lado A, “Bright Light Fright” é uma faixa punk com o saxofone rasgado de Bronstein e que é a primeira canção a contar com os vocais exclusivos de Perry. Mas calma, estamos apenas no lado A. “Kings and Queens” resgata o banjo de Paul Prestopino e o piano de Tyler, bem como apresenta o produtor Jack Douglas ao mandolin, em uma balada amarga e pesada que está longe das açucaradas canções dos anos 90, e com um riffzão poderoso, bem como uma virada em sua segunda metade, a qual leva para o solo de Perry através de um baixo altíssimo, que arrepia até os cabelos do suvaco, ainda mais com os longos acordes de sintetizadores. Que baita música. O grupo estava tão solto que é impossível descrever o que eles criaram em “The Hand That Feeds”, uma espécie de disco music com guitarras distorcidas, que nunca ouvi nada similar, e com belos solos de guitarra. Voltamos aos hard-funks em “Sight for Sore Eyes” – mais uma canção que nos remete aos Stones, e Draw the Line encerra com o cover para “Milk Cow Blues” (de Kokomo Arnold), boogiezão agitado que fecha com chave de ouro o álbum mais cru, mais punk, mais heavy, mais bom de ouvir que o grupo fez, em toda sua integridade, e que foi bastante criticado pela imprensa quando de seu lançamento, por não ser tão genial quanto Rocks. Que se ralem, o disco é duca, e mesmo tendo apenas conquistado platina dupla nos EUA, deve ser ouvido sem medo.

Da longa turnê de promoção do álbum pelos Estados Unidos nasce Live! Bootleg, o primeiro ao vivo da banda lançado em 1978. No mesmo ano, o grupo participou do filme Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, bem como da trilha do mesmo, registrando uma versão impecável de “Come Together” que ficou tão famosa quanto a original do The Beatles.


Night in the Ruts [1979]

Em meio há muita turbulência, chega às lojas o sexto álbum da banda. Nesse período, Tyler tomava drogas desde o café da manhã até a ceia, e estava com grandes dificuldades de compôr. Além disso, as baixas vendas de Draw the Line fizeram com que a gravadora da banda os obrigasse a sair em turnê mais uma vez, com o objetivo que conseguir ressarcir os gastos da gravação. Essa turnê gerou ainda mais brigas internas, com os músicos praticamente separando-se de suas esposas. Perry foi o que mais sofreu com isso, e consequentemente, o resultado final foi um atraso de dois anos no lançamento de Night in the Ruts. Esse longo período acabou afetando o processo de conclusão das canções, com o grupo tendo que apegar-se a três covers para fechar um track list bastante curto, que originalmente, sem as covers, ficaria com apenas vinte minutos. O grande sucesso do disco foi a baladaça “Mia”, com a participação de Richard Supa nas guitarras, substituindo Perry (conforme explico a seguir) e trazendo Tyler ao piano para dar um tapa na cara daqueles que insistem em dizer que a banda só fez baladas pós-Pump. Aliás, dentre as covers, há mais uma balada, “Remember (Walking in the Sand)”, de George Mothon, um grande sucesso das The Shangri-las e que aqui ganhou um singelo mas belo solo de Perry, além de uma exímia interpretação vocal de Tyler e da participação de uma das Shangri-las nos backing vocals, no caso Mary Weiss. Os outros covers são o sensacional blues de Jazz Gillum, em parceria com Joe Bennett e Lester Melrose, “Reefer Head Woman”, com um maravilhoso solo de harmônica por Tyler, e a versão para “Think About It”, na mesma linha do último registro oficial dos The Yardbirds, até com Perry encarnando Page e aumentado ainda mais sua paixão pelo Led. Aliás, falando em Led, Three Mile Smile”, poderia tranquilamente estar presente em Presence (Led Zeppelin), enquanto o slide guitar de “Cheese Cake” sempre me remete à “In My Time of Dying”, mas com um refrão grudento para diferenciar dos deuses britânicos. Há os rocks sujos que consagraram os americanos, como a ótima “No Surprize” (com Z mesmo), tendo também a participação de Supa no lugar de Perry, o ritmo dançante mas pesado da quase disco “Chiquita”, com muita distorção nas guitarras e uma importante participação do naipe de metais de George Young (saxofone alto), Lou Delgotto (saxofone barítono), Lou Marini (saxofone tenor) e Barry Rogers (trombone), bem como as explícitas referências disco em “Bone to Bone (Coney Island White Fish Boy)” (certamente o The Clash deve ter ouvido essa faixa para fazer algumas de suas canções fase Combat Rock e Sandinista!. O nome do disco é um trocadilho com Right in the Nuts (direto nas bolas), e em termos de vendas, conquistou platina apenas em 1994, tendo como ponto máximo de colocação a 14a posição na Billboard.

Perry acabou deixando a banda no meio das gravações de Night in the Ruts, e por isso Supa ocupou seu lugar, mas não por muito tempo, já que para a turnê de divulgação do álbum, Jimmy Crespo foi o escolhido. Foi um tiro na perna para os fãs da geração antiga, já que Crespo possuía um visual bastante “colorido” e diferente, exibindo bastante seu corpo jovem e cheio de pelos, o que atraiu a mulherada, mas mandou embora muito dos fãs antigos. Durante essa turnê, em 1980, Tyler teve um colapso em pleno palco, no que ficou conhecido como o Incidente de Portland. O Aerosmith estava no fundo do poço, e a solução encontrada pela gravadora Columbia, detentora dos direitos do grupo, foi lançar a coletânea Greatest Hits, que vendeu mais de 11 milhões de cópias somente nos Estados Unidos. Quando parecia que o grupo voltaria ao normal, Tyler sofreu um grave acidente de moto no outono de 1980, ficando hospitalizado durante dois meses.

Tyler desmaiado durante apresentação em Portland

Decepcionado, Whitford abandonou a barca grupo, surpreendendo o mundo ao formar o Whitford / St. Holmes ao lado de Derek St. Holmes, pouco depois das gravações iniciais do novo álbum começar. Para seu lugar, o francês Rick Dufay foi o homem escolhido, devido principalmente pelo bom trabalho no seu álbum solo, Tender Loving Abuse (1980), e também pelo visual ser muito similar ao de Crespo. Era uma nova era que começava para o grupo.


Rock in a Hard Place [1982]

Depois de muita água passar por debaixo da ponte nesse período, e com a entrada oficial de Jimmy Crespo e Rick Dufay, o grupo entrava em um período reciclado, que culminou em um disco bastante contestado e depreciado pelos fãs. Porém, como muitos outros, aos poucos o pessoal vem entendendo as qualidades de Rock in a Hard Place, um disco sensacional, com muita força, que mostra que mesmo a base de drogas pesadíssimas, ainda eram capazes de criar obras atemporais como a violenta “Jailbait”, a swingada e pegada “Bolivian Ragamuffin”, uma das melhores faixas do Aerosmith nos últimos 35 anos, com um show de Crespo no slide. A presença dos teclados na bizarra vinheta “Prelude to Joanie”, e principalmente em “Lighting Strike’s” dá um ar oitentista ao som da banda, sendo que na última temos a única participação de Whitford. O prelúdio de Joanie leva para “Joanie’s Butterfly”, faixa trabalhada em um clima oriental e trazendo como convidados John Lievano nas guitarras e nos violões e o violino de Reinhard Straub. Como sempre, umas referências ao Led tem que rolar, e elas aparecem em “Jig Is Up”, assim como uma baladinha, e novamente o grupo se apega para um cover, fazendo uma emocionante interpretação bluesy para “Cry Me a River” (Arthur Hamilton), onde a interpretação de Tyler é de tirar o chapéu e comê-lo sem sal, já que suas lágrimas irão temperar o chapéu com esse gosto, blues esse que embriaga a casa na chapante “Push Comes to Shove”, outra faixa seminal de um disco impecável. Ainda temos a pegada Aerosmith de sempre em “Bitch’s Brew”, apresentando um enganador dedilhado de violão, e da sensacional faixa-título, com a presença do saxofone de John Turi. Vale destacar que Dufay não participou de nenhuma faixa do disco, apesar de ter sido creditado no mesmo, pois quando ele foi oficializado como o quinto membro, o disco já havia sido concluído. Considerado o maior fracasso comercial da banda (o único disco que conquistou apenas ouro em termos de vendas), Rock in a Hard Place está aí para ser ouvido por novas mentes dispostas a superar o preconceito e deparar-se com uma incrível obra, a qual considero um Top 3 na discografia da banda.

Formação de 1979: Kramer, Hamilton, Tyler, Whitford e Jimmy Crespo

Sua turnê não foi das melhores, com Tyler novamente passando problemas durante uma apresentação em Worcester. A Columbia despediu o grupo, e o fim era a saída mais óbvia. Mas, como uma Fênix, em 14 de fevereiro de 1984, Perry e Whitford voltaram ao grupo, o que veremos em quinze dias como o grupo volta ao cenário mundial com toda a força, conquistando uma nova geração de fãs e se tornando uma das bandas mais vendidas de todos os tempos, gerando mais uma penca de álbuns essenciais.

24 comentários sobre “Discografias Comentadas: Aerosmith – Parte 1

  1. Até o “Nine Lives” acho tudo deles sensacional e o “Rocks” é certamente o disco que mais amo na vida junto ao “Physical Graffiti” do Led.

    Dessa fase as faixas que mais curto são “Nobody’s Fault”, “Round and Round” e o cover de “Train Kept a Rollin”.

    1. Parabéns MM. Excelente análise da primeira fase da banda, que é muito boa, superando com folga os discos lançados a partir de 1990. Fico na expectativa pela segunda parte.

    2. Valeu Luiz Fernando. O Physical Graffitti para mim é o melhor disco de todos os tempos. Abraços

  2. Nunca gostei do Aerosmith. As únicas músicas que curto deles é a versão para Train Kept a Rollin e a porrada meio stoner Round and Round. O Steven Tyler é tão arrogante que já falou mal do Kiss, dizendo que eles são “banda de histórias em quadrinhos”. Como se a banda dele fosse grande coisa. As babas radiofônicas que o Aerosmith compôs deveriam virar caso de polícia e até de processo. Brother, o que é aquilo lá? Se o cara tá depressivo e liga a porra do rádio no momento que estiver tocando Cryin e outros lixos que esses medíocres compuseram o sujeito se suicida! Estou falando sério! hahahaha

  3. Depois desse artigo bacana sobre o Aerosmith, vou tentar ouvir esses discos mais antigos com a devida atenção e conferir se existe algumas músicas dessa banda que me agradem.

  4. O Aerosmith seria uma espécie de Titãs americanos. Gravaram alguns discos bons, e depois não se cansaram mais de serem medíocres e comporem canções de supermercado.

    1. Davi, dá outra chance para o Rock in a Hard Place. Tem muitos pontos positivos por lá, mais que negativos. Abraços

  5. Depois que conferi o “Rocks” pude constatar que “Nobody1s Fault” possui um solo de guitarra perfeito! Muito bom mesmo!

  6. Não sou fã do Aerosmith, mas reconheço que esse material tem qualidade. Insuportável é a fase pós-2000.

  7. Perdão, mas nada como ser testemunha auricular da história. Os Aerosilva apareceram praticamente juntos com o Bad Co, sua co-irmã inglesa. Só que a estreia dos ingleses, pelo menos por aqui, causou um impacto muito maior. Claro que é preciso dar o desconto dos anos de janela de Paul Rodgers e Simon Kirke. Bad Co, no entanto, perdeu o encanto logo, enquanto o genérico dos Stones foi ganhando tímpanos. Bom, isso enquanto tinham nariz. Muito boa a DC, Mairon.

    1. Valeu Marco. Eu acho que o Bad Company não se manteve no nível por que as brigas internas levaram a banda a fundo do poço. E faltou tb o apoio da Swan Song.

  8. O Aerosmith é outra daquelas bandas que menos aprecio, mas ao mesmo tempo reconheço o valor e o potencial deles e respeito os fãs que seguem a banda. A verdade é que não consigo gostar de quase nada do que Steven Tyler e cia. lançou, incluindo aquele disco cuja capa me lembra aquela do “Chato Rato que Mata”.

  9. Acho que os caras não tem nenhum disco ruim de tudo. Até o Just push play tem algo que se salva. Mas essa fase abordada na matéria é a nata da banda. Só clássico.

    1. Valeu Tiago. Confesso que não sou grande fã do Done With Mirrors. Os demais tem mas de 50% de material bom, mas isso fica para a próxima DC

  10. Curto o velho e bom classic rock há 03 décadas. Já ouvi todas as fases do Aerosmith, mas sem sombra de duvidas os primeiros discos são os melhores em termos de qualidade, preferencialmente o álbum de estréia deles (1973), repletos de porradas, petardos como Movin’ Out, a minha predileta. Anos 80 pra cá, sem comentários né ..

  11. Cara, eu já ouvi a discografia inteira do Aerosmith e inclusive tenho o Rocks e o Toys In The Attic. Mas pqp, nunca consegui gostar da banda. Acho eles MUITO mais ou menos.

    E sabe uma das minhas maiores queixas? O Joe Perry, de riff ele e o Brad Whitford são bons, mas o Perry não tem UM solo memorável. Para pra pensar, toda banda famosa tem pelo menos um solo que você pode assobiar junto, pensa em Led, Sabbath, Eagles, Queen, etc etc etc. O Aerosmith não tem nenhum. Todos os solos são estranhos e meio sem nexo.

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