Cinco Discos Para Conhecer: a obra “O Pedro e o Lobo”
Por Mairon Machado
Em 1936, o compositor russo Sergei Prokofiev, com o objetivo de ensinar às crianças as diferentes sonoridades dos instrumentos de uma orquestra, criou uma peça sinfônica chamada O Pedro e o Lobo. Essa peça, de aproximadamente 25 minutos, tornou-se essencial e clássica no mundo da música, servindo de formação musical para uma infinidade de artistas consagrados. Muitos deles, como forma a homenagear a historinha, decidiram gravar as suas versões de O Pedro e o Lobo, e nesse artigo, vou trazer cinco álbuns pertencentes a nomes importantes na música nacional e mundial, com as suas adaptações para a obra.
Peter and the Wolf [1975]
Com certeza, essa é a mais importante adaptação de Pedro E O Lobo para quem é apreciador de rock. Afinal, aqui houve a união de dinossauros do rock para gravar essa pérola. Dentre os músicos, Alvin Lee e Gary Moore nas guitarras, Manfred Mann e Garry Brooker nos sintetizadores, Keith Tippett no piano, Phil Collins, Cozy Powell e Bill Bruford na percussão, e vários outros fazem a versão rocker da obra de Prokofiev. Os personagens que possuíam, na versão original, sons típicos de orquestra, aqui ganham sons de instrumentos elétricos. Peter, originalmente era a orquestra inteira. Aqui, é a linda slide guitar de Gary Moore. O pássaro (flauta) vira o sintetizador, o pato (oboé) é a guitarra com wah-wah, o gato (clarinete) é o violino. O avô (fagote) é um majestoso saxofone, e o lobo (trompas) é feito pelos sintetizadores de Brian Eno. Ainda, a adaptação é muito boa de se ouvir. Temos blues em “Cat Dance”, progressivo em “Peter’s Theme”, e criações especiais para esse disco, com destaque para “Bird and Peter”, o complexo dedilhado de “Peter’s Chase”, “Cat and Duck” e a ótima “Wolf and Duck”, faixa fantástica com um show do baixo de Percy Jones, da bateria furiosa de Collins e a guitarra alucinada de Chris Spedding. A versão nacional em vinil ainda trazia um luxuoso encarte de 12 páginas, com a história narrada em inglês, francês, português, italiano e espanhol. Um show musical para roqueiro nenhum colocar defeito.
Viv Stanshall (narrador), Gary Moore (guitarra, violão, slide guitar), Pete Haywood (steel guitar), John Goodsall (guitarras), Alvin Lee (guitarra), Robin Lumley (piano elétrico), Julie Tippettts (voz), Erika Michailenko (sinos tubulares), Brian Eno (sintetizadores), Mandred Mann (sintetizadores), Garry Brooker (sintetizadores), Dave Marquee (baixo), Andy Pyle (baixo), Percy Jones (baixo), Cozy Powell (bateria), Phil Collins (bateria, percussão), John Hiselam (percussão), Bill Bruford (percussão), Keith Tippett (piano), Robin Lumley (clarinete, piano, mellotron), Jack Lancaster (saxofone), Stephane Grappelli (violino), English Chorale (coral), Henry Lowther( trompete)
1. Introduction
2. Peter’s Theme
3. Bird And Peter
4. Duck Theme
5. Pond
6. Duck And Bird
7. Cat Dance
8. Cat And Duck
9. Grandfather
10. Cat
11. Wolf
12. Wolf And Duck
13. Threnody For A Duck
14. Wolf Stalks
15. Cat In Tree
16. Peter’s Chase
17. Capture Of Wolf
18. Hunters
19. Rock And Roll Celebration
20. Duck Escape
21. Final Theme
David Bowie Narrates Prokofiev’s Peter And The Wolf / Young Person’s Guide To The Orchestra [1978]
David Bowie também resolveu participar da festa, e acompanhado da Philadelphia Orchestra, comandada por Eugene Ormandy, soltou sua versão para a obra. O marco dessa gravação é ter chegado ao posto 136 da Billboard americana, façanha rara para um disco de história infantil. O belíssimo instrumental é fiel ao proposto pelo compositor russo, sendo o mais próximo do original entre os álbuns aqui apresentados. No lado B, a orquestra interpreta “Young Person’s Guide To The Orchestra Op. 34”, de Benjamin Britten, que é um extra dentro da peça central. Para colecionadores da obra do camaleão, admiradores de uma música clássica de alto calibre e também para servir de aula de inglês para seus filhos entre 06 e 12 anos.
Orquetra: Philadelphia Orchestra; Narração: David Bowie; Condutor: Eugene Ormandy
1. Peter And The Wolf Op.67
2. Young Person’s Guide To The Orchestra Op.34
Pedro E O Lobo [1989]
Essa versão é sensacional. Rita Lee, com toda sua simpatia e capacidade de interpretação (à época), traduz para as crianças (e os adultos) brasileiros a peça de Prokofiev. Como ela diz no início: “Como ainda não existia televisão, Prokofiev resolveu brincar com a imaginação das crianças …”, e assim, ela pede para as crianças apagarem as luzes, sentir os instrumentos, e começa a apresentar a peça. A orquestração da Orquestra Nova Sinfonieta é tão linda quanto as demais citadas anteriormente, cuidadosamente conduzidas por Roberto Tibiriça. O texto ficou a cago de Wladimir Soares, que também foi responsável pelo projeto. Uma raridade da discografia de Tia Rita, que você irá dar muitas risadas, e que apesar de seguir a história original, não trazendo nenhuma canção nova, vale pela divertida interpretação da ex-Mutante.
Orquestra: Nova Sinfonieta; Narração: Rita Lee; Condutor: Roberto Tibiriça
1. Pedro E O Lobo
Peter and the Wolf: A Prokofiev Fantasy [1994]
Em 1994, foi produzido um especial para a TV chamado Peter and the Wolf: A Prokofiev Fantasy. A narrativa da obra ficou a cargo de Sting. O especial foi feito usando pessoas e bonecos para interpretarem os personagens da história, e acabou sendo lançada a trilha sonora de mesmo nome. A principal atração da trilha, além da participação de Sting, é claro, é a excelente performance musical da Chamber Orchestra of Europe, conduzida pelo maestro italiano Claudio Abbado. Os extras musicais são dignos de audição prazerosa e atenta. Sting é um mero narrador, sem ser o centro das atenções, pois são as belas sequências orquestrais que valem a aquisição dessa versão. Quem aprecia música clássica, irá se deliciar com os momentos criados especialmente para o especial, com efusiva melodia em “Just Then … Out Of The Woods Came The Hunters”, e também com as virtuoses “Allegro”, “Larghetto” e “Gavotta”. O especial foi lançado em laser disc e VHS, e chegou a ser apresentado em alguns canais abertos aqui no país, tornando-se bastante emocionante para os nostálgicos.
Orquestra: The Chamber Orchestra of Europe; Narração: Sting; Condutor: Claudio Abbado
1. March In B Flat Major, Op. 99
2. Peter And The Wolf Op. 67 – A Musical Tale For The Children
3. Overture On Hebrew Themes Op. 34b – Un Poco Allegro
4. Classical Symphony Op. 25
5. Allegro
6. Larghetto
7. Gavotta: Non Troppo Allegro
8. Finale: Molto Vivace
Peter and the Wolf in Hollywood [2015]
A versão mais recente para os roqueiros tem narrativa de Alice Cooper, e é totalmente modernizada em relação a história original. Pedro é um menino russo que vai morar com o avô, um velho hippie, em Los Angeles. O velho cria patos, dentre eles, um que até sabe ler. Entre várias novas peripécias, criadas pela dupla Doug Fitch e Edouard Getaz, criadores do grupo Giants Are Small, que recriam grandes clássicos da literatura e da música mundial, há paparazzos e um robô construído pelo próprio Peter, o qual é responsável por capturar o lobo. A orquestração ficou a cargo dos jovens da Germany’s National Youth Orchestra, e a interpretação de Alice é tão engraçada quanto a de Rita Lee. Como curiosidade, a história divide-se musicalmente em duas partes. A primeira é composta por uma recriação total de várias peças clássicas unidas, trazendo referências a autorescomo Mahler, Wagner, Zemlinsky, Grieg entre outros. A segunda é uma adaptação em cima da obra original de Prokofiev. Você ainda pode conferir o Making Off e mais detalhes da nova história em um site exclusivo dessa adaptação (www.giantsaresmall.com). Vale tanto para colecionadores de Alice Cooper quanto para conhecer uma versão nova e divertida de uma obra atemporal.
Orquestra: Germany’s National Youth Orchestra; Narração: Alice Cooper; Condutor: Alexander Shelley
1. Peter Arrives And Settles In Los Angeles
2. Peter’s Birthday
3. The Wolf Hunt Begins
4. Peter Builds The Robot
5. The Hunt Continues
6. Back At Grandfather S Home
7. Peter Is Greeted By The Bird
8. The Duck Waddles Over
9. Peter Notices The Cat
10. Grandfather Warns Peter
11. The Wolf Reappears
12. The Duck Is Caught
13. The Wolf Stalks The Bird And The Cat
14. Peter Prepares To Catch The Wolf
15. The Bird Diverts The Wolf
16. Peter Catches The Wolf
17. The Paparazzi Arrive
18. The Procession To The Zoo
Muito interessante. A dúvida que ficou é qual ouvir primeiro.
Fernando, comece pelo primeiro da lista. É o mais rock. Deixe o do Sting por último.
Que maravilha, Mairon! Tomara tenhamos mais matérias do tipo na Consultoria. Imagino que tenha tido dificuldades para escolher as versões, pois deixou de lado outro ídolo, Roberto Carlos, que lançou sua narração de Pedro e o Lobo em 1970.
Obrigado Marco. Eu tive dificuldades mesmo, pois são várias interpretações interessantes. A do Roberto eu acho muito “brasa mora”, e não consigo apreciar. Desculpe. Mas sua audição é necessária, com certeza. Por outro lado, há outras versões que o pessoal pode curtir, algumas bem surpreendentes. Além da do Roberto então, cito mais 4 para a galera
Sean Connery e Royal Philharmonic Orchestra (1965) ÓTIMO
Ralph Richardson e London Symphony Orchestra (1971) – EXCELENTE
Sharon Stone e Orchestra of St. Luke’s (2001)
Antonio Banderas e Sophia Loren com a Russian National Orchestra, em espanhol (2003)
Hum… antipático!
O ano de 1970 foi um dos mais fracos do Roberto Carlos na minha opinião, tirando a incomum e inusitada ideia de narrar a história de Pedro e o Lobo (que é o tema desta resenha), o disco homônimo que lançou neste ano é um dos mais fracos da discografia do Rei, na minha concepção.
O de 1970 o mais fraco?
Uma palavra amiga
Vista a roupa meu bem
O astronauta
Jesus Cristo
120… 150… 200km por hora
Só essas 5 (quase metade do disco) já deixam no chinelo tudo que o RC gravou pós 75.
Sem contar que O Astronauta e Uma palavra amiga são músicas pra recomendar pra qualquer um que não conheça o RC dos anos 70.
Concordo o ano de 1970 foi diferenciado. Nao sei de onde concluiu que foi fraco.
Já ouvi falar muitíssimas vezes da peça, mas confesso que nunca a ouvi. Ignorância minha. Por esse e muitos outros motivos, essa é uma das mais oportunas e criativas edições dessa seção, fugindo completamente do óbvio. Para meu gosto, a primeira indicação parece ser a mais interessante, mas também quero conferir a obra tal como o compositor a idealizou. Excelente mesmo, Mairon.
Então Diogo, dos aqui citados, o mais fiel ao original é o do Bowie. Agora, se você quiser ouvir uma orquestração muito bonita, e uma narração arrepiante, busque esse do Ralph Richardson
Cara, essa obra é mais famosa do que eu imaginava. Baita seleção hein Mairon. Qual dos discos acha que encaixa mais no meu gosto?
Valeu André. Acho que vc vai curtir só a adaptação com o Manfred Mann. Se curte uma boa orquestra, a do Bowie tb
“Só essas 5 (quase metade do disco) já deixam no chinelo tudo que o RC gravou pós 75. Sem contar que ‘O Astronauta’ e ‘Uma palavra amiga’ são músicas pra recomendar pra qualquer um que não conheça o RC dos anos 70.” (Diego Camargo)
Não diga essas asneiras, Diego! “Vista a Roupa Meu Bem” é pra mim uma das piores músicas que o Rei gravou (a interpretação vocal dele é tão terrível que nem parece ele cantando); e “Jesus Cristo” é outra chatice, muito sem-graça, enjoativa e repetitiva ao extremo, não entendo como tem gente que gosta dessa música (costumo dizer que “Jesus Cristo” é mil vezes pior do que aquela música da “Metralhadora”). Agora, “Uma Palavra Amiga” e “120, 150, 200 KM por Hora” são clássicos eternos da MPB, e “O Astronauta” é talvez a música que salva todo esse disco de 1970 do RC, um soul bem arranjado com alguns toques de psicodelia que lembra muito as experimentações que o Pink Floyd fazia na época. Aliás, foi em 1970 que a banda lançou aquele chatíssimo disco que tem uma vaca na capa…