Melhores de 2017: Por Alisson Caetano
Por Alisson Caetano
Sem tanto compromisso como nos anos anteriores, apenas fui posicionando os discos de acordo com critérios nada rígidos. Os que mais criei uma empatia foram ficando mais altos, assim como aqueles que mais dei o play repetidas vezes. Ao fim da lista, mais cinco menções honrosas com alguns trabalhos que também valem a pena serem conferidos.
Tyler, the Creator – Flower Boy
Tyler enfim encontrou a maturidade artística depois de tanto explorar seus alter egos mais juvenis revoltados, mas que pareciam esconder um ser humano com mais camadas do que apenas “mais um jovem rimando palavrões por aí”. Flower Boy é um disco extremamente sensível e de fácil identificações para pessoas com a mesma faixa etária e com os mesmo dilemas e problemas vividos pelo rapper. Questionamentos sobre sua sexualidade e o tédio inerente dessa geração, tão bombardeada com informações e deveres vazios, são passados através da ótica de alguém que também não sabe quais as respostas para seus dilemas. A música também mostra um amadurecimento grandioso, apostando em arranjos sofisticados de soul, samples mais emocionais e um toque experimental que lembra muito o excelente Blonde, de seu parceiro Frank Ocean. O disco leva o pódio não apenas pela carga emocional e pelo significado que carrega, mas também por pensar tudo isso em uma musicalidade envolvente e, mais importante, sem sacrificar a veia autoral que trouxe Tyler até onde chegou.
Ouça: “See You Again” – “Who Dat Boy”.
Mount Eerie – A Crow Looked at Me
“When real death enters the house, all poetry is dumb”. Não apenas essa, mas o disco está carregado com as mais sinceras e doídas frases que alguém poderia dizer sobre experimentar a morte. Phil Elverum, a mente que leva sozinho o nome do Mount Eerie, compôs o disco pouco tempo após a perda de sua companheira, Geneviève Castrée, falecida após meses lutando contra um câncer no pâncreas. O resultado de A Crow Looked at Me é um diário com todo o sofrimento de Phil pela perda de sua esposa e tendo de reaprender a levar a vida adiante com sua filha de 1 ano sem sua companheira. É um dos melhores exemplos de que a arte não deve ser apenas entretenimento, mas também pode ser o veículo para as mais sofridas e intensas sensações de seu criador.
Ouça: “Real Death” – “Ravens”.
The Ruins of Beverast – Exuvia
Um verdadeiro ritual de desconstruções de gêneros e quebras de expectativas, Exuvia cria um dos climas mais tétricos e sinistros em um disco de metal, fazendo justiça ao legado de discos que põem o ouvinte em uma espiral de medo genuíno e contemplação pura, coisa que apenas discos que trazem inovações e frescor conseguem. O disco infelizmente passou completamente batido até por veículos “especializados”, mas acreditem, muita gente vai se lembrar do que foi feito aqui daqui algum tempo.
Ouça: Como o disco funciona como uma unidade, ouça o disco inteiro.
Vince Staples – Big Fish Theory
Sempre muito versátil em suas rimas, Vince mostra também muita versatilidade e criatividade na escolha do direcionamento musical para seu novo disco. Apostando em uma vibe clubber e beats tirados do dubstep, Big Fish Theory resulta de um trabalho que casa uma estranha contemplação noturna com beats e hits realmente nervosos, como as ótimas “Love Can Be…” e “Yeah Right”. Um disco diferente, mas ao mesmo tempo, familiar.
Ouça: “Love Can Be…” – “Yeah Right”.
Oh Sees – Orc
Barulhento e criativo, com algumas das soluções melódicas mais estranhas que já ouvi em um disco de rock em muito tempo. Tocando como um quarteto, sendo dois bateristas, os Oh Sees registram um de seus discos mais frenéticos e malucos, brincando com rock de garagem, krautrock, psicodelia de uma forma bem solta e até divertida. Falando de ROCK, que é o que vocês gostam mesmo, esse foi o mais interessante que ouvi o ano todo.
Ouça: “The Static God” – “Keys to the Castle”.
Grizzly Bear – Painted Ruins
Não tenho muito o que dizer sobre esse além de ser a audição mais simpática que tive durante o ano. O resultado de um conjunto de músicos que sabem o que fazer com ótimas referências. De ecos de post-punk, a sombra de David Bowie (de todas as suas fases mais essenciais) até os melhores tempos do U2. Tudo trabalhado dentro do som pop psicodélico que a banda vem fazendo desde sua fundação.
Ouça: “Four Cypresses” – “Losing All Sense”.
Migos – Culture
Três hits incontestáveis: “Slippery”, “Bad and Boujee” e, principalmente “T-Shirt”. Sucesso mundial e um dos grupos mais comentados desse ano. Além de um dos maiores sucessos comerciais do ano, Culture é, além de qualquer coisa, um greatest hits ambulante, onde qualquer uma de suas faixas funcionam perfeitamente em qualquer festa mundo afora. Nem é o disco mais perfeito do ano, possui algumas faixas descartáveis, mas foi um dos discos que mais me divertiu no ano.
Ouça: “T-Shirt” – “Bad and Boujee”.
Brand New – Science Fiction
O grande medo era essa volta parecer um empreendimento com cara de retorno tardio. Ainda há a carga emocional característica do emo, mas nada soa forçado ou juvenil, mas uma emoção passada por caras que já viveram algumas fases da vida para saber como transmiti-la da maneira menos piegas possível. E o resultado nem é um disco impenetrável. Rock melódico de refrões memoráveis e que você cantará na segunda audição, e nas seguintes, como as grudentas “Out of Mana” e “Can’t Get It Out”. Para se sentir um adolescente introspectivo dos anos 90.
Ouça: “Out of Mana” – “451”.
William Basinski – A Shadow in Time
Revisitei esse disco mais vezes até do que eu esperava. Por ter me acompanhado em vários momentos mais complicados desse ano, acabei criando um apego mais íntimo com ele, mesmo que ele passe bem longe dos melhores trabalhos de Basinski. Para quem não acompanha a obra do compositor, ele é conhecido pelo uso de loops musicais e field recordings para criar ambientações e paisagens sonoras que vão se desvendando lentamente em camadas, sem a preocupação de chegar em alguma conclusão. Este disco trabalha em dois espectros distintos. A faixa título apresenta a imprevisibilidade de seus trabalhos mais conhecidos, enquanto que “For David Robert Jones”, dedicada a David Bowie, deixa o conceito de homenagem guiar os loops lo-fi de maneira onipresente, mas sem se fazer sentir tão influente no resultado.
Ouça: O disco inteiro.
Bell Witch – Mirror Reaper
Inspirado pela morte prematura do baterista e vocalista Adrian Guerra, o duo de funeral doom expandiu seu som e as possibilidades do estilo com um disco monumental sobre a morte, a dor da perda e a homenagem a um amigo que não mais está entre nós. A arriscada epopeia musical de mais de 1 hora e 20 minutos poderia cair facilmente na auto indulgência ou no tédio, mas o que nos é entregue é uma obra colossal em seu impacto, mas ao mesmo tempo que deixa transparecer sempre a fragilidade de seus compositores. Sem intervalos, o disco flui do funeral doom mais opressivo para um slowcore acústico sensível, mantendo sempre uma coesão na composição. É o extremo oposto do disco do Mount Eerie em termos de abordagem sonora, mas similares em sua proposta emocional.
Ouça: O disco é uma única faixa de 1 hora e 22 minutos de duração, então ouça o disco todo.
Menções Honrosas:
Foerst Swords – Compassion
Kendrick Lamar – DAMN.
King Gizzard and the Lizard Wizard – Flying Microtonal Banana
Morbid Angel – Kingdoms Disdained
Vários Artistas – Mono no aware [Compilação]
The Creator? Melhor se fosse o Kreator
Piada ruim em D:
Dos que ouvi daí, o Oh Sees foi o que mais gostei de ouvir. Teria entrado no meu top 10 se a segunda metade fosse tão forte quanto a primeira. Mount Eerie eu achei chato mas, como é óbvio durante a audição, não é um disco para entreter. O Bell Witch não “encaixou” comigo, mas não é ruim. Surpresa: Kendrick Lamar de fora da sua lista. :v
Kendrick cai durante a audição, mesmo com umas faixas bem boas ali no meio, tipo XXX e ELEMENT.
Habitamos universos diferentes e não escutei nada citado aqui…o Oh Sees recebi algumas indicações, mas não ouvi a tempo de relacioná-lo na minha amostra…vou tentar ouvir logo mais.
Abraço,
Alisson, sua lista, ainda que bem resenhada, não encaixou com o que eu curto (ouvi todos que listou, como de hábito com todas as listas de vocês), EXCETO por uma pérola que, se não fosse por você, eu continuaria passando batido (veja, estou escrevendo de 2024, quase 7 anos depois): o excelente álbum do Brand New, o “Science Fiction”! Quando você escreve, ao término, “Para se sentir um adolescente introspectivo dos anos 90.”, você acertou em cheio! Eu tinha 15 anos em 1990 e nada mais precisa ser dito… Cara, que bela surpresa esse disco, mal posso esperar para que ele chegue aqui em casa e entre com louvor na minha estante! Muito obrigado, de verdade!