Suzi Quatro – Your Mama Won’t Like Me [1975]
Por André Kaminski
Há tempos queria escrever um pouco sobre a senhora Susan Kay Quatrocchio, mais conhecida como Suzi Quatro. Nascida em Detroit nos Estados Unidos, os empresários que a descobriram, lá no começo dos anos 70, resolveram levá-la para o Reino Unido para gravar, compor e se apresentar. Suzi Quatro fez praticamente toda a sua carreira muito mais na Europa do que nos Estados Unidos. Ela ainda mora na Inglaterra até os dias atuais.
Suzi é uma das primeiras rockstars que se tem notícia visto que Janis Joplin só viveu um ano após o primeiro disco solo dela ter sido lançado. Não que mulheres já não estivessem no rock. Mas normalmente eram na posição de vocalistas junto a outros membros dentro de uma banda, e nem sempre como líderes das tais. Suzi Quatro foi a primeira mulher que liderou a própria banda, tocava baixo e fazia solos nos shows, cantava, compunha músicas, liderava as apresentações e principalmente fez sucesso e pôde se aproveitar disso. Basicamente ela é a Rita Lee do hemisfério norte.
Querendo ou não, o que parece é que a Suzi Quatro foi meio que um David Bowie do lado inverso. Ambos tocavam um glam rock em alta no início dos anos 70 (porém, ela preferiu caminhos mais pesados do hard, enquanto Bowie buscou diversos outros estilos), se vestiam de maneira colorida (mas eu gosto mais das fotos dela vestida de preto) e Suzi possuía um comportamento mais “tomboy”. Infelizmente ela não conseguiu manter-se tão em alta quanto o britânico no mundo todo, mas criou sua legião de fãs fiéis que compravam seus discos principalmente na Europa e na Austrália (onde também fez um sucesso considerável).
Este terceiro registro surpreendeu aos fãs e a crítica que estavam acostumados ao glam/hard barulhento e enérgico de Suzi. Aqui ela aposta em melodias mais vagarosas e um estilo mais funk e bluseado, mostrando uma faceta diferente de sua formação musical que foi muito influenciada pelos estilos negros de sua terra natal. Além de Suzi nos vocais e no baixo, temos também Len Tuckey (guitarras), Alastair McKenzie (teclados) e Dave Neal (bateria). Essa formação é a que gravou os seus álbuns de maior sucesso.
O disco se inicia com a funky “I Bit Off More than I Could Chew”, com a voz aguda e jovial de Suzi cantando de uma forma mais sacana e malandra. Há um belíssimo uso de metais como o saxofone e o trompete dando aquele ar jazzístico e americano que Suzi queria trazer para sua música. Já “Strip Me” possui um sintetizador moog dando o ritmo principal da canção que a deixou muito divertida. A terceira faixa “Paralyzed” já se foca mais na guitarra de Len Tuckey, o futuro marido e pai dos filhos de Suzi ao qual se casariam no ano seguinte e divorciariam em 1992. Muito solo de guitarra e pedal wah-wah por aqui.
Já na quarta faixa, o baixo de Suzi é que manda em uma semi-balada funkeada como “Prisoner of Your Imagination” ao qual ela então se entrega a gritos ao final da canção. Mais um funk rock com a canção título “Your Mama Won’t Like Me” entrega mais moog e brass. Em ‘Can’t Trust Love”, temos Suzi preferindo mostrar seus dons agora pegando algo do jazz fusion, soando bem ao estilo Herbie Hancock.
Após a boa música “Never Day Woman” e uma versão mediana de “Fever” gravada por muitos artistas do funk e do blues, Suzi encerra com a sessentista “You Can Make Me Want You” e com a ótima balada “Michael” com um arranjo de teclados, backings e interpretação vocal de Suzi não menos do que brilhantes.
Após este disco, Suzi conseguiu mais alguns hits de sucesso até o final dos anos 70. As décadas posteriores já foram um período mais duro para ela, com apenas dois álbuns gravados na década de 80 e apostando em uma mistura que variava de um country para um synth pop, com resultados fracos. Na década de 90 não foi muito diferente, com ela ainda lançando discos de pop rock bem esquecíveis. Dos anos 2000 em diante as coisas melhoraram para a baixista que compôs mais álbuns, voltou a pesar as guitarras e segue fazendo shows principalmente na Austrália que praticamente a adotou após o fim da exposição no mainstream. Ela inclusive lançou um álbum no final do ano passado junto a Andy Scott e Don Powell ao qual ainda não ouvi, mas pretendo fazer logo. Ouçam este e os dois primeiros discos da americana. É rock setentista dos bons que eu recomendo muito.
Tracklist
- I Bit Off More than I Could Chew
- Strip Me
- Paralyzed
- Prisoner of Your Imagination
- Your Mamma Won’t Like Me
- Can’t Trust Love
- New Day Woman
- Fever
- You Can Make Me Want You
- Michael
Como diria Gessinger: surpresa surpreendente esta materia do AK. Gostei muito. Parabéns.
Eu sei que eu sou conhecido pelos METÁU do site, mas eu também gosto muito de ouvir o rock setentista. Valeu pela consideração, Antonio.
Ótimo texto, bela lembrança da grande Suzi! esse disco ainda não conheço…vamos ouvir. Abraço!
Esse disco dela é bem diferente de quem aprecia músicas como “Can the Can” e tal. Mas acho que você vai curtir sim.
Suzi Quatro não era apenas um rostinho bonito…
Realmente, nem de longe cara, era (e ainda é) uma grande baixista. Aliás, para quem gosta de ver o baixo protagonizando no rock, os discos da Suzi Quatro são um prato cheio.
Além de baixista, Suzy foi sim “vocalista junto a outros membros de uma banda”. No caso, The Pleasure Seekers, banda garagera formada por duas de suas irmãs nos anos 60. Aqui um vídeo dela em ação nessa época: https://www.youtube.com/watch?v=mD0JRdIGwoo
Então Marco, eu me referia no sentido de “vocalista junto a outros membros de uma banda” mais no sentido de que eram mulheres fazendo apenas vocais em bandas em que homens lideravam ou co-lideravam.
Só para constar, o irmão mais velho de Suzi, Michael Quatro é um exímio tecladista e formou a Michael Quatro Band. No seu primeiro disco, a banda cometeu uma versão de “Court of Crimson King”, com a participação de Ted Nugent (https://www.youtube.com/watch?v=0jdA4o10Exk).
The Pleasure Seekers, depois de algum tempo, mudou o direcionamento e passou a fazer um som mais pesado. Mudou de nome para Cradle. Em uma de suas apresentações, o produtor Mickie Most viu Suzi e a convidou para ir para o Reino Unido. Eis uma das poucas gravações da banda Cradle: “Ted” (https://www.youtube.com/watch?v=kHAe4Dll8Co)