Shaaman – Reason [2005]
Por Adrian Dragassakis
Após a separação da primeira formação clássica do Angra, o Shaaman (antes grafado como “Shaman” e posteriormente, novamente dessa forma), formado por Andre Matos (vocal), Hugo Mariutti (guitarras), Luis Mariutti (baixo) e Ricardo Confessori (bateria), gravariam em 2002, umas das obras mais importantes de suas carreiras e uma das mais icônicas do Metal brasileiro, que foi o disco Ritual. A boa recepção do álbum resultou em um DVD ao vivo em São Paulo, o Ritualive, que contou com participações do tecladista Fabio Ribeiro, Sascha Paeth (produtor do álbum e também guitarrista do Heaven’s Gate), Andi Deris e Michael Weikath (Helloween) e Tobias Sammet (Edguy e Avantasia) e que até hoje é lembrado como um dos melhores DVDs ao vivo produzido por uma banda brasileira no estilo.
Três anos após o lançamento do Ritual, o Shaaman (que alterou seu nome por medidas legais, ou até por superstições, segundo algumas fontes), apostaria em uma nova sonoridade. Algo bem diferente do seu primeiro trabalho, que era basicamente Metal Melódico, com diversos elementos durante as músicas, com o conceito do xamanismo, sem toda aquela virtuose que existia no Angra, apostando mais na mensagem e nas melodias. Lançado em 2005, o Reason abriu essa nova fase da banda, que apostaria em um som mais moderno, mais pesado e mais denso. Isso pode ser conferido de cara na primeira faixa do álbum, “Turn Away”. Diferente do Ritual, não há uma faixa instrumental abrindo o disco, sendo essa, uma forma mais direta de abrir o álbum. A canção é como uma porrada na orelha do ouvinte, positivamente falando. As guitarras de Hugo Mariutti carregam o peso nos riffs, apostando em uma afinação mais baixa, o que ajudou Andre Matos a caracterizar uma voz diferente, utilizando alguns drives e menos agudos, como de costume. O que pode agradar a muitos que de alguma forma, não gostam, ou enjoaram desse estilo de vocal.
A faixa-título começa como uma semi-balada ao piano e um acorde aberto de guitarra ao fundo, seguindo pelos vocais serenos acompanhados de um violão durante os versos. Vale a pena prestar atenção e destacar a letra, que é uma das melhores da carreira dos músicos. Aos poucos, a canção vai alcançando profundidade e o peso característico do álbum.
Um cover inusitado, que foi uma grata surpresa, é “More”, originalmente, da banda de Gothic Rock, Sisters of Mercy. Na época, algumas pessoas mais próximas a mim, até começaram a rotular o Shaaman como Gothic Metal misturado com Power Metal, ou coisas assim. A banda adaptou o som de “More” com a intenção de soar moderno e pesado. Matos mais uma vez surpreendendo, utilizando vocais mais rasgados e não abusando de notas altas. O instrumental também ficou excelente e como não é comum, nem precisou de um solo de guitarra para chamar a atenção. A canção ganhou um videoclipe e foi transmitido várias vezes durante a programação da extinta MTV.
O primeiro single do álbum, é a quarta faixa, “Innocence”. É uma balada com piano e voz, que conforme o andamento, é acompanhada pelos outros instrumentos. Mais uma vez, valorizando a melodia e a mensagem, através do “feeling” da composição, Hugo Mariutti escreveu mais um solo simples e bem executado. Um dos pontos fortes do guitarrista. A canção ganhou um videoclipe, gravado nas madrugadas do centro de São Paulo, que assim como “More”, foi muito bem recebido. Inclusive, entre 2002 e 2005, os clipes do Shaaman tinham uma boa demanda na MTV, contando com as músicas “For Tomorrow” e “Fairy Tale” (que até virou tema de novela da Rede Globo).
O álbum segue com “Scarred Forever” e “In the Night”, com uma vibe mais oitentista, mixando com elementos modernos de sintetizadores. “Rough Stone” é mais lenta, e até mais depressiva, em relação às outras, mas não deixa de ser uma excelente composição, que apesar de lenta, é pesada e tem uma forte mensagem.
“Iron Soul” dá aquele up novamente no ouvinte, com uma melodia mais animada e uma letra inspiradora, mais uma vez, com uma bela interpretação de Matos, um belo solo de guitarra de Hugo, sem falar da “cozinha” de Luis e Ricardo, que até então, eram companheiros desde os primórdios do Angra e foram destaques mundiais pela qualidade do som que faziam juntos.
“Trail of Tears” é mais uma faixa pesada e rápida do álbum, apostando na fórmula do disco, é mais uma grande composição que demonstrava essa nova fase da banda, dando passagem para “Born to Be”, que com seu inicio sendo tocado no piano, prepara o ouvinte, para uma das melhores canções do álbum, sendo essa a mais trabalhada, até possuindo alguns elementos de Metal Progressivo. É também, junto com “Rough Stone”, a faixa mais longa do álbum, com seus quase 6 minutos, enquanto as demais possuem em média, seus 4 ou 5 minutos de duração.
Mesmo alguns fãs torcendo o nariz para a nova fase do Shaaman (e até para a nova forma de escrever o nome da banda), Reason rendeu boas vendas e uma boa tour, sendo essa, a última com os membros originais. Por motivos de desgaste e alguns desentendimentos por parte dos integrantes, a banda acabaria em Outubro de 2006, retornando algum tempo depois, com outra formação, sendo o único membro original, o baterista Ricardo Confessori. Os irmãos Mariutti seguiriam acompanhando Andre Matos em sua carreira solo.
Recentemente, por conta de alguns boatos na internet sobre a possível volta da banda em sua formação original, alguns fãs iniciaram uma campanha, intitulada #VoltaShaman nas redes sociais, deixando cientes também, os integrantes da banda. Resta aguardar se essa volta será concretizada. No mínimo, temos dois bons álbuns de estúdio que deixaram um bom legado nessa formação.
Tracklist:
- “Turn Away” – 04:21
- “Reason” – 04:40
- “More” (cover de The Sisters Of Mercy) – 04:02
- “Innocence” – 04:37
- “Scarred Forever” – 05:20
- “In The Night” – 05:54
- “Rough Stone” – 05:56
- “Iron Soul” – 05:24
- “Trail Of Tears” – 03:47
- “Born To Be” – 06:00
Acho Reason tão bom quanto Ritual, embora diferente. Todas as faixas são impecáveis, embora eu ache o cover de “More” desnecessário. Ritual, RituAlive e Reason são alguns dos discos mais importantes da minha vida.
Um álbum impecável… Não é tão amado quanto o Ritual, mas é tão bom quanto, de uma maneira diferente! Grande disco!
Tenho uma relação estranha com esse disco: até hoje o álbum não me vai, ainda mais quando eu ouço a perfeição que é o Ritual.