Vertigo – Vertigo [1994]
Por Davi Pascale
No início dos anos 1990, o mundo passava pela febre do grunge e no Brasil a situação não foi diferente. Os videoclipes passavam o dia todo na MTV, os cabeludos começaram a andar de bermuda e camisa xadrez, o cast dos festivais refletia a nova era. Se na edição de 1992 do festival “Hollywood Rock”, artistas como Living Colour, Extreme e Skid Row se destacavam, todos os comentários da edição seguinte eram em cima da tal nova geração. Alice in Chains, Nirvana, L7 e Red Hot Chili Peppers (banda que não faz parte do movimento grunge, mas que na época foi abraçada pelo público) eram a bola da vez. Toda essa febre, logicamente, começou a influenciar a cena de música produzida por aqui.
Pois bem… Nesse mesmo ano de 1993, Dinho Ouro Preto se desligava do Capital Inicial. Em matéria publicada na edição 67 da revista Rolling Stone, o cantor relembra o período. “Nosso desentendimento não foi uma simples pausa. Foi: ‘Vamos parar porque nos odiamos’. A relação estava estafada”. A razão para tudo isso? Um dos assuntos mais comuns no universo do rock… “Nosso fim é devido ao excesso de drogas. Um coquetel exagerado, pesado. Tudo que caía na nossa mão, nós usávamos. E isso, misturado com álcool, é uma bomba”.
É capaz que a garotada que segue esses artistas hoje não saiba, mas esse excesso de drogas na turma dos anos 1980 era mais comum do que ver o Datena anunciando uma tragédia ou o Milton Neves anunciando um merchan. Titãs, Lobão, Barão Vermelho, Cazuza, RPM… Todos esses caras estiveram em polêmicas envolvendo o uso de drogas pesadas. Com o Capital não foi diferente. E a coisa não melhorou quando o cantor deixou o grupo. “Quando saí do Capital foi foda. Comecei a sair direto, usei tudo, de LSD a heroína”.
Acredito que Dinho não lembre desse período pessoal com muito saudosismo, mas musicalmente falando estava numa boa fase. Cantando incrivelmente bem, com um belo time por trás, os músicos apresentavam um repertório pesado e altamente competente, calando muitos que os massacravam até então. A banda trazia, além de Dinho, dois nomes já manjado entre os rockers: Kuaker (Yo-Ho-Delic) e Mingau (Ratos de Porão, Ultraje a Rigor). Completava o time, um jovem de 20 anos que mais tarde viria ganhar reconhecimento ao lado do Anjos da Noite (com quem gravou o segundo disco) e do Cavalar, o músico Arnaldo Rogano.
Como disse, muitos grupos deixaram se influenciar pela, até então, nova cena alternativa. Algo que pode ser sentido em álbuns como o Música Calma para Pessoas Nervosas, do Ira!, o Titanomaquia, dos Titãs e, logicamente, nesse álbum da turma de Dinho Ouro Preto. Isso fez com que muitos críticos torcessem o nariz automaticamente para os músicos, os acusando de oportunismo. Mesmo quando o resultado final era alto. Uma pena…
Alguns sites hoje apontam esse álbum como o primeiro trabalho solo do cantor do Capital Inicial. Informação equivocada. Vertigo era uma nova banda. É claro que muitos se dirigiam à eles como “a nova banda do Dinho Ouro Preto”. O músico mais popular da formação. Mas capa, clipes, imagens, sempre giravam em torno dos quatro integrantes. O primeiro álbum solo de Dinho foi o trabalho de 1995, ainda contando com o auxílio luxuoso de Mingau e Kukaer, e trazia o cantor mergulhando no universo da eletrônica.
O Vertigo, contudo, era um álbum bem rock ‘n’ roll. Guitarras repletas de distorção, Arnaldo sentando a mão na bateria, Dinho cantando alto. Entregavam até uma competente versão para “Hush”, clássico do Deep Purle. A única música que tinha um quê meio de Capital Inicial era a balada “Inverno”. Era aquela balada meio dominada pelo violão, como já havia ocorrido anteriormente em “Belos e Malditos” e “Cai a Noite”, saca?
O movimento grunge era um tanto eclético. Tinha bandas que apostavam em uma sonoridade mais punk, outras que faziam um som mais heavy, outras caíam para o hard rock. Vertigo é um álbum meio que variado. “Freiras Lésbicas Assassinas do Inferno” resgatava a veia punk de Dinho Ouro Preto. “Vertigo” apostava em uma levada mais funkeada, enquanto “Dia de Cão” já apostava em uma pegada mais hard rock.
Embora tenha sido lançado pela multinacional EMI, o disco chegou ao mercado como parte do catálogo do selo Rock It, capitaneado por Dado Villa-Lobos (Legião Urbana). Tal atitude garantiu uma liberdade maior para os músicos. Afinal, o disco não é exatamente comercial. Isso talvez tenha afastado os velhos fãs do Capital colaborando para que o CD se tornasse um fracasso comercial. Vale lembrar que o rock nessa época já não era mais a bola da vez. O cenário estava predominado pela axé music e por uma nova leva de sertanejos. Zezé Di Camargo & Luciano e Daniela Mercury ditavam as regras. Os roqueiros viam sua salvação na recém-chegada MTV…
O disco é repleto de ótimos momentos e conta com experimentos meio ousados como a distorção na voz de Dinho em “Vida Selvagem”. O repertório foi escrito pelos próprios músicos. A única parceria de fora foi o velho parceiro de Dinho, Alvin L. Já entendeu agora por que o Sex Beatles gravou “Freiras Lésbicas Assassinas do Inferno” em seu segundo trabalho, certo? Os melhores momentos, contudo, ficam por conta de “Vertigo”, “Dia de Cão”, “I+I”, “Lost”, “Avenida Paulista” e “Noiaba Carlos”.
Assim como acontece com Titanomaquia, trata-se de um grande álbum que é injustamente malhado por críticos e leitores que nunca sequer pararam para ouvir o disco na íntegra. Aqueles que, assim como eu, tiveram a sorte e a esperteza de adquirir o CD na época, guarde com carinho. Atualmente, esse CD está custando em torno de R$ 800. É… Pelo visto, quem não teve a sorte de viver a época terá que fazer a audição através de downloads e streamings. Faça! Afinal, trata-se de uma pérola perdida do rock nacional que, sem dúvidas, merece uma nova chance. Vá sem medo!
Tracklist:
- Vertigo
- Vida Selvagem
- Noiaba Carlos
- Dia de Cão
- Freiras Lésbicas Assassinas do Inferno
- I + I
- Hush
- Suzi Suicida
- Lost
- Avenida Paulista
- Inverno
O Dinho Ovo Preto sofre de um mal: síndrome de Peter Pan. Mas fiquei curioso em ouvir esse play com atenção. Mais tarde eu volto aqui para emitir minha opinião. É bem provável que eu não goste, porque eu sempre detestei o Capital Inicial com excessão de algumas músicas que eles gravaram naquele disco com músicas do repertório do Aborto Elétrico assim como Psicopata e Veraneio Vascaína.
Não precisa ser fã do Capital para gostar desse disco. A sonoridade é bem diferente. Outra pegada.
Nem lembrava dessa banda. Fui ouvir no Youtube. O som é legal. A voz do Dinho que às vezes atrapalha rsrs… Vou ouvir mais.
Caramba… Acho que sou um dos poucos que gosta do Dinho kkkk Mas, sim, esse disco é muito legal.
Esse disco é muito bom. Melhor que muita coisa do Capital Inicial. Lembro que tocava bastante nas rádios, a faixa-título. Davi, se não me engano este disco também saiu em LP. Não tenho certeza, mas 80% de chances de sim. Chegou a ver algo?
Mairon,
Acho que não saiu LP, não. Pelo menos, nunca vi. Nem na época. Vou tentar confirmar para você.
Top!!! gostei pegada forte!!!!
Caraca, achei que só eu lembrava desta banda KKK todos meus amigos e conhecidos que curtem rock nunca ouviram falar… E não saiu em LP, eu comprei o CD, era o auge do CD, meu primeiro emprego eu era adolescente e não perdia um dia o Clip Trip da Gazeta as 18 kkk
Legal!! Lembro do Clip Trip, rolava algumas coisas bacanas por lá. Realmente, não lembro do LP, mas era possível. O Brasil lançou vinil até 1996. Eu tenho LP do Paulo Ricardo, da Marina Lima, e mais alguns já dessa fase de 95, 96 na minha coleção. As gravadoras realmente estavam privilegiando o CD. Colocavam bonus tracks, distribuíam em uma quantidade maior e tal, mas algumas coisas ainda saíam em vinil, nesse período.
Playzaço! Dinho cantando como nunca 🤘
Realmente, Alexandre, esse disco é muito bacana. E também gosto do Dinho cantando…