Judas Priest – Point of Entry (1981)
Por Ari Santos
Depois do mega sucesso de British Steel (1980), o Judas Priest começa a preparar seu sucessor. A banda levou todo seu equipamento para um estúdio em Ibiza e iniciou uma nova experiência, que resultaria no álbum Point Of Entry. Enquanto os outros discos os ingleses costumava ter boa parte das canções compostas antes de entrarem em estúdio, desta vez a eles decidiram compor e gravar tudo na ilha espanhola, de forma bastante espontânea.
As músicas ganharam uma pegada mais melódica e radiofônica. Muitos fãs se decepcionaram, por compará-lo ao disco anterior, mas Point Of Entry é muito bom se ouvido sem comparações com os demais. A banda lançou três singles e fez vídeo clipes para todos eles: “Heading Out To The Highway”, “Don’t Go” e “Hot Rockin'”. O albúm contém duas capas diferentes, sendo que a europeia tem um objeto pontiagudo e a americana tem uma estrada feita de papel formulário contínuo, ambas com o horizonte ao fundo. Na versão remasterizada, contém duas faixas bônus: “Thunder Road” (inédita de estúdio) e “Desert Plains” ao vivo (nunca antes lançada ao vivo em disco). Depois desse disco, no ano seguinte, a banda lançou o mega clássico Screaming For Vengeance.
Point Of Entry foi lançado em 26 de fevereiro de 1981 e produzido por Judas Priest e Tom Allom, que já tinha trabalhado em vários discos clássicos da banda. Quando a banda lançou o álbum British Steel, foi um marco na história do heavy metal. Um disco é pesado e relativamente simples de se tocar. Qualquer guitarrista iniciante conseguia tocar o riff de “Breaking The Law”, que é um dos maiores sucessos da banda e nem possui solo de guitarra na versão original de estúdio. O disco tem outras pérolas como “Metal Gods”, “Grinder”, “United” e “Living After Midnight”, mas até as faixas mais lado B são poderosas, como “Rapid Fire”, “The Rage” e “Steeler”. Foi o maior sucesso da banda até então.
O que os fãs naturalmente imaginavam é que a banda fosse seguir a mesma fórmula no álbum seguinte, mas Point Of Entry se mostrou uma das primeiras experimentações feitas pelo Judas Priest ao longo de sua discografia, saindo do óbvio e partindo para novos e improváveis rumos. Depois do marco do heavy metal British Steel, o sucessor não só seguiu um caminho diferente como nem totalmente heavy metal é. Está mais para um disco de classic rock do que qualquer outra coisa. Tem menos peso e uma pegada bem mais suave, tanto no som quanto no contexto geral, incluindo letras e até mesmo os vídeo clipes, que são bem-humorados!
O álbum abre com a clássica “Heading Out To The Highway”, que se mantém forte no repertório da banda até os dias atuais. O vídeo clipe mostra um racha de carros entre os guitarristas Glenn Tipton e KK Downing, com o vocalista Rob Halford dando a largada. Por essas e outras que quando Rob assumiu sua homossexualidade oficialmente em 1999, muitos fãs nem ligaram, porque muitos já suspeitavam. Os trejeitos do vocalista no clipe deixam quase nenhuma dúvida. A faixa seguinte é “Don’t Go”, que também ganhou vídeo clipe e mostra a banda basicamente dentro de estúdio de filmagem tocando, é uma faixa mais cadenciada (para não dizer parada), com um solo de guitarra a partir de 02:13min que salva a música. “Hot Rockin’” chega em seguida e é a terceira e última faixa do disco a ter ganho vídeo clipe. Mostrando a banda malhando na academia, cantando nos chuveiros da academia em boxes um do lado do outro em uma tentativa bem fracassada de “sensualizar”, mas a faixa é um rock n’ roll bem empolgante e também se mantém forte no repertório da banda até os dias de hoje.
Depois o disco segue rock n’ roll até o fim. “Turning Circles”tem uma quebra de ritmo bem interessante aos 01:57min e depois retoma o loado roqueiro até seu fim em fade out. “Desert Plains” vem como um dos pontos mais altos do disco, com sua letra que aborda romance, aventura e motociclismo. Não se tornou single oficial, mas sempre funcionou bem ao vivo e se tornou uma das queridinhas dos fãs, que a consideram umas das melhores, se não a melhor faixa do álbum. “Solar Angels” tem uma pegada mais agressiva do que as outras faixas, mas creio que ainda assim, não se pode chamar de uma faixa heavy metal. Tem uma intro marcante de guitarra e uns agudos do Rob nos finais de várias frases. “You Say Yes” tem uma base simples, mas eficiente e é outra faixa animada do álbum, principalmente no refrão, que é simples e marcante. Também tem uma quebra de ritmo interessante aos 01:23min. “All The Way” é bem rock n’ roll e não deve nada para faixas mais animadinhas de bandas como Kiss e AC/DC, com direito a palmas e tudo mais. “Troubleshooter” tem uma intro simples e assim como praticamente todas as faixas do disco, tem graves muito bem dosados, com o baixo simples e “na cara” de Ian Hill e um solo que valoriza a música. “On The Run” fecha o disco como ele foi na maior parte: um rock n’ roll simples para os padrões de uma banda como o Judas Priest, com uma cozinha simples e eficiente, sem muitas viradas ou virtuosismo por parte do baterista Dave Holland, um baixo simples e marcante de Ian Hill, guitarras com bases e riffs simples de Glenn Tipton e KK Downing, mas com solos bem colocados aqui e ali e bons vocais de Rob Halford, com seus agudos característicos, mas sem aquela “selvageria” dos álbuns anteriores.
Se você gostar de um bom rock n’ roll e ouvir este disco sem compará-lo com seu antecessor, seu sucessor ou outros clássicos do Judas Priest, certamente terá uma boa audição e, quem sabe, passe a ter um carinho maior pelo Point Of Entry!
*Point of Entry foi o terceiro disco do Judas Priest que eu comprei, depois do Turbo e do Screaming for Vengeance, e gostei bastante dele. Depois consegui os discos anteriores e, embora não tenha mudado de opinião, acabei achando que era um pouco mais fraco do que os anteriores e os dois imediatamente seguintes. Hoje em dia eu o vejo mais ou menos como muita gente encara o Fireball do Deep Purple: um disco bom que acaba perdendo na comparação porque está no meio de dois clássicos absolutos. Desert Plains, Solar Angels e Heading Out to the Highway estão sempre na minha lista das músicas que mais gosto do Priest. Espero que a resenha motive outras pessoas a ouvirem (ou ouvirem de novo) o álbum!
O vinil brasileiro vinha com a capa americana, com a “trilha” de formulário contínuo – mas não trazia o encarte do original.
Como sempre, o Brasil podando as coisas … Tenho essa versão também!!
Grande resenha, Marcelão! Este álbum do Judas Priest já ganhou anteriormente uma resenha (excluída pela maldita UOL) para o quadro “Discos que Parece que Só eu Gosto”, não sei quem a escreveu… Mas enfim, gosto de quase tudo que a banda fez, incluindo este tão subestimado álbum do Priest lançado em 1981, que veio depois do sucesso enorme de British Steel (1980), o álbum que foi a minha porta de entrada para a obra dos Metal Gods há quase dez anos atrás. Mas, cá entre nós: se Point of Entry fosse apenas um single com “Hot Rockin” e “Heading Out to the Highway”, seria sim um dos meus discos preferidos do ano de 1981 e da própria banda.
Na verdade, a “trinca de ouro” do quinteto inglês em sua melhor fase é formada pelo já citado British Steel, Screaming for Vengeance (1982) e Defenders of the Faith (1984). Vamos ver agora se alguém vai resenhar o disco novo do grupo lançado neste ano, o super aclamado Firepower, que pode até ser o derradeiro álbum da banda, mas que pra mim ficará registrado como uma despedida emocionante á altura dos verdadeiros “Deuses do Metal” que são os caras do JUDAS PRIEST.
Belo texto, Ari! Quanto ao disco, apesar de contar com algumas faixas mais fracas a meu ver, tem muita coisa boa nele, e Heading Out To The Highway e Hot Rockin’ são clássicos absolutos e maravilhosos!!! Point Of Entry é um belo disco sim!
Desculpa, gente! Eu pensei que fosse o Marcello que comentou primeiro aqui fosse o autor da resenha, mas agora eu vi que foi o Ari quem a escreveu e postou!
Disco injustiçado do Judas Priest é o ótimo Ram It Down, e sinceramente não consigo compreender porque tem tanta gente até do metal que implica com aquele disco. Ram It Down é mil vezes melhor do que o Turbo.
Eu até gosto do Ram it Down (isto é, sem aquele horroroso cover de “Johnny B Goode” feito pelo grupo), mas se for pesar bem, ele está em uma posição bem mais modesta no meu ranking pessoal do melhor ao pior disco do Judas Priest. É um disco subestimado sim (como Point of Entry, Turbo, Nostradamus, etc.), mas não é de jeito nenhum um dos piores da banda.
E no Ram it Down já se tem uma prévia do que viria no álbum seguinte o Painkiller. Digo em relação aos solos de guitarra, cada vez mais técnicos e precisos. Os solos de “Heavy Metal”, ” Hard as Iron” são solos mais do que perfeitos.
Engraçado é dizer que a música que mais gosto do Ram it Down é a última “Monsters of Rock”… Mas está valendo!