Discos Que Parece Que Só Eu Gosto: Black Sabbath – Cross Purposes [1994]

Discos Que Parece Que Só Eu Gosto: Black Sabbath – Cross Purposes [1994]

Por Thiago Reis

O Black Sabbath passou por momentos muito difíceis comercialmente falando ao longo do final da década de 1980, principalmente a partir do álbum Seventh Star (1986), quando pela primeira vez Tony Iommi apareceu sem outros membros fundadores da banda. Passando esse momento de turbulência e iniciando um processo de estabilidade com o mesmo vocalista (Tony Martin) em três discos seguidos, além da assinatura de um contrato com a IRS, o Sabbath começava a trilhar caminhos melhores, ao menos na Europa, já que as formações que gravaram os discos Eternal Idol (1987), Headless Cross (1989) e TYR (1990) não tinha expressão em solo americano. A fim de ganhar território novamente na América do Norte, Iommi reuniu a formação do disco Mob Rules (1981), que durou apenas o disco Dehumanizer (1992) e a sua subsequente turnê. Ronnie James Dio e Vinnie Appice saem novamente, deixando Iommi e Geezer Butler à procura de uma nova formação para gravar o próximo disco. Aí que Tony Martin aparece novamente, dessa vez ao lado do baterista Bobby Rondinelli, que junto ao tecladista Geoff Nicholls gravam o disco Cross Purposes (1994).

Para este disco Tony Martin usou uma abordagem mais realista às letras ao invés de mitos envolvendo religião ou a mitologia Nórdica, muito presentes em Headless Cross e TYR, sendo este um dos grandes destaques em Cross Purposes. O disco, lançado em 20 de janeiro de 1994, é daqueles da série Parece Que Só Eu Gosto. Ele abre com uma verdadeira “porrada”, digna de faixa de abertura. Arrisco-me a dizer que desde “Turn up the Night” em Mob Rules que o Sabbath não fazia uma faixa tão enérgica e forte como “opener”. A faixa que estamos falando é “I Witness”, que possui uma excelente intro de guitarra, ótima linha de baixo e bateria precisa de Bobby. Além disso, Tony Martin aborda um tema muito interessante nas letras, destacando o modo de vida do povo Amish, grupo religioso baseado nos Estados Unidos e Canadá. O refrão também é muito forte, com a passagem “I Witness, a time and a place that never dies…”.

Tony Martin, Tony Iommi, Geezer Butler, Geoff Nicholls e Bobby Rondinelli

“Cross of Thorns” mantém o alto nível, com uma introdução enigmática e lenta e letras falando dos confrontos religiosos que o Reino Unido sofre segundo a letra a mais de 400 anos. Grande destaque novamente para o refrão, muito bem construído e que existe desde as demos do álbum Dehumanizer. Tal parte foi aprimorada e se transformou em “Cross of Thorns”. O solo de Iommi é um dos melhores que o riff master já compôs e funcionou muito bem ao vivo, inclusive.

“Psychophobia” também possui uma temática voltada a acontecimentos mais atuais, desta vez sobre o incidente em Waco, Texas no ano de 1993. A faixa possui riffs rápidos, vocais que acompanham os riffs e um bom trabalho de Bobby Rondinelli. O doom metal característico do Sabbath está de volta com “Virtual Death”, clara influência de Geezer Butler, com o baixo em destaque e um riff bem arrastado de Iommi.

A próxima é “Immaculate Deception” que possui um riff bem grudento e refrão que podemos destacar a participação de Tony Martin. Bobby Rondinelli entrega momentos únicos na bateria, com velocidade, criatividade e técnica, mostrando claramente que foi uma ótima escolha para compor o time que gravou o disco. A balada “Dying for Love” destaca a bela introdução, a cargo de Iommi e Geoff Nicholls, além do vocal com muito feeling de Tony Martin. Desta vez as letras falam dos conflitos na antiga Iugoslávia, ou seja, mais uma vez temas recorrentes à época em que o disco foi escrito foram abordados.

O hoje raro vinil brazuca

Em “Back to Eden” podemos destacar mais uma vez a participação de Tony Iommi, com belos e criativos riffs. Quem também faz a diferença é Geezer Butler, com linhas de baixo de extremo bom gosto. “The Hand That Rocks the Cradle” possui mais uma introdução em que Geoff Nicholls assume um papel importante, tendo à sua companhia os belos vocais de Tony Martin. Entretanto, o grande momento da música chega com os riffs de Mr. Iommi e o acompanhamento mais do que certeiro de Geezer Butler. Destaca-se o fato de que apenas esta música se tornou single e clipe promocional para o disco.

“Cardinal Sin” é mais cadenciada e sombria, lembrando sons antigos do Sabbath e merecia maior destaque, seja como um possível single ou até mesmo a presença nos set lists da tour de suporte para o álbum. “Evil Eye” possui a curiosidade de ter a participação de Eddie Van Halen, porém o músico não foi creditado por questões contratuais. A música possui um ótimo riff central, uma boa ponte/refrão e ótimos solos. A faixa bônus para a edição japonesa “What’s the Use?” deveria estar na versão normal do disco, já que é energética, possui grande participação de Iommi nos riffs e Bobby na bateria, além de um ótimo refrão. Uma pena que poucos conheçam essa bela faixa.

Encarte com letras

Cross Purposes foi musicalmente muito bem, a ponto de muitos fãs da fase Tony Martin apontarem o disco como o melhor entre os cinco gravados pelo vocalista. A turnê passou pelos Estados Unidos e Canadá, com mais de 20 shows por esses dois países. Na Europa o prestígio continuava o mesmo, com passagens por países como Alemanha, Itália, Inglaterra (inclusive com gravação de disco ao vivo no Hammersmith Apollo em Londres), Finlândia, Suécia, Áustria, Hungria, Holanda, dentre outros. A turnê ainda teve passagens por Japão e América do Sul, inclusive com a participação de Bill Ward (bateria) nos shows realizados na Argentina, Chile e Brasil.

Após o fim da turnê, Bill Ward e Geezer Butler abandonam novamente Tony Iommi, que se vê obrigado a recrutar novamente a formação que gravou o disco TYR, ou seja, Nel Murray no baixo e Cozy Powell na bateria, que juntando-se a Tony Martin e Geoff Nicholls gravaram o disco Forbidden, lançado em Junho de 1995, disco esse que marcou o fim de uma era na história do Black Sabbath.

Contra-capa do vinil inglês

Track list

1. I Witness
2. Cross Of Thorns
3. Psychophobia
4. Virtual Death
5. Immaculate Deception
6. Dying For Love
7. Back To Eden
8. The Hand That Rocks The Cradle
9. Cardinal Sin
10. Evil Eye

24 comentários sobre “Discos Que Parece Que Só Eu Gosto: Black Sabbath – Cross Purposes [1994]

  1. Acho um disco mediano, há bons momentos como “Virtual Death” e “Evil Eye”, sinto falta de um capricho maior nas composições, mas vá lá, é um disco passável dentro da discografia do Sabbath. Poderiam ter evitado de lançar Forbidden e gastarem mais tempo refinando melhor as composições deste disco.

      1. Eu sempre faço esses rankings de álbuns e o Cross Purposes quase sempre está no meu Top 10…inclusive na maioria das vezes está no Top 5 hahahah

    1. Na minha opinião melhor álbum do Sabbath com o Tony Martin é o Headless Cross, a qualidade das músicas é impecável assim como a produção. Muita gente costuma dizer que é “a fase farofa do Sabbath” ou que as músicas tem muito excesso daquelas produções que se faziam na década de 80 mas é justamente por isso que é bom. Quem dera se o Cross Porpuses ou o Forbidden fossem assim.

  2. Gosto do álbum. Com certeza melhor que o Forbidden nesta fase de Tony Martin. Tenho um apreço também pelo The Eternal Idol, mas ainda acho o TYR e Headless Cross bem superiores. O problema de Tony Martin, no meu modo de ver, sempre foi ao vivo. Não reproduzia tudo o que fazia em estúdio, onde ele era excelente. Legal ter lembrado Cross Purposes!

    1. Ao vivo o Tony Martin teve problemas principalmente nessa tour do Cross Purposes. Entre 1987 e 1990 ele era um monstro…Já na tour de 1995, apresentou melhoras significativas em relação à turnê anterior.

      1. Ah sim. Realmente não cheguei a ouvir material ao vivo dele no fim dos anos 80. A maioria dos que conheço são do início da década. Isso explica então o que acontecia. Obrigado!

  3. Como já comentei em outras oportunidades, o único disco do Black Sabbath que me desagrada de verdade é “Forbidden”. De resto, sempre dá para tirar ao menos algumas músicas boas. Em “Cross Purposes”, minhas preferidas são “I Witness”, “Cross of Thorns”, “Virtual Death” e “Evil Eye”, todas elas boas adições ao extenso catálogo do grupo. De certa forma, representa até um certo retorno à sonoridade mais setentista do grupo, pois tem bem menos a ver com o que a banda fez na década de 1980, inclusive em comparação com os anteriores gravados por Tony Martin. Dito tudo isso, acho coerente a inclusão desse álbum nessa seção.

    1. Eu destaco “I Witness”, “Cross of Thorns”, “Psychophobia”, “Virtual Death”, “Dying for Love”, “Cardinal Sin” e “What’s the Use?”

    2. Eu demorei um pouco pra efetivamente acostumar e gostar desse disco. Meus ouvidos sempre se interessaram mais por Headless Cross e TYR. No entanto, faz alguns anos que “The hand that rocks the cradle” é no toque do meu celular rsrs

    1. Sou suspeito para falar do Forbidden…acho um disco sensacional. Aliás, gosto de todos com Martin…

      1. Forbidden muito bom,diversificado cada faixas,o que falar de Kiss Of Death, I Won’t Cry For You e Sick And Tired ,Iommi da uma aula,só consigo presta atenção na guitarra nesta musica

  4. Comprei quando saiu o CD, e até hoje eu gosto dele. Claro que não se compara com os clássicos da banda, mas não decepciona. Sempre defendi que músicas como Psychofobia ou The Hand that Rocks the Cradle, se tivessem sido gravadas com o Dio no vocal, seriam mais lembradas pelos fãs do Sabbath. Muita gente tem um certo ranço com o Tony Martin, mas para mim ele não compromete.

  5. Cara.. sei q nêgo vai me xingar… mas prefiro ouvir o Cross do que qualquer álbum com o Dio! Possuo toda a discografia e os cd´s da fase Dio quase não ouço… pra mim eh OZZY e o Cross.

    1. Talvez porque esse disco seja um pouco mais cru e direto que os anteriores, acho que é por isso que tu curte mais. Os anteriores são mais trabalhados, tem uma pegada tem heavy metal e hard rock dos anos 80, ou como o Bizzoto sabiamente classificou como AOR sombrio em algumas músicas daquele período.

  6. O mais estranho de tudo é que o Geezer Butler só gravou esse disco com o Tonhão digo Tony Martin nos vocais. Dizem que ele não se dava bem com o Tony Martin não é isso? O Geezer só voltaria novamente para a banda na reunião da formação original do Sabbath em 1998 no Reunion. Tony Martin é o vocalista mais injustiçado dessa banda, e tudo bem, ele podia não cantar tudo isso ao vivo mas gravou discos mais do que memoráveis com os caras.

  7. Cross Purposes e Forbiden são os meus favoritos da era Martin, em parte pelas composições e em parte por toda a atmosfera e produção ser mais semelhante ao Sabbath clássico. Aliás coloco esses dois discos acima do Born Again e do Seventh Star também.

  8. Como eu gostaria de adquirir o encarte deste álbum. Mesmo que seja uma cópia fiel.
    Se alguém puder dar uma ajuda, meu whatz 69981196877
    Obrigado

  9. Eu me lembrei dessa reportagem por um motivo inusitado. Há algum tempo, assistindo ao documentário “O Cerco de Waco”, na Netflix, lembrei que o fanático David Koresh também era músico e gravou uma canção chamada “Mad Man Livin in Waco”. Quando ouvi a música recentemente, pensei ao ouvir o refrão: eu já ouvi isso. E lembrei da frase do riff principal de “The Hand that Rocks the Cradle”, desse disco – gravada uns três anos depois! Será possível que Tony Martin tenha criado esse vocal inspirado em Koresh…?

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