Red Hot Chili Peppers – Mother’s Milk [1989]
por Bruno Marise
Em 1988 os Red Chili Peppers sofrem a perda do guitarrista Hillel Slovak de apenas 26 anos, por overdose de heroína, e com a saída do baterista Jack Irons decidem dar uma pausa na banda. No ano seguinte, se reúnem com Chad Smith nas baquetas e o monstruoso John Frusciante (um híbrido de Johnny Ramone, Hendrix e Eddie Hazel), que com apenas 18 anos assume as seis cordas do grupo.
A banda havia tomado a cena de assalto no começo da década com sua mistura de Funk, Punk Rock e Rap, algo totalmente inédito para a época. Com três álbuns na conta, só haviam conquistado um certo prestígio com o último trabalho, The Uplift Mofo Party Plan (1987). A entrada de Smith e Frusciante foi vital para a guinada que o quarteto daria rumo ao mainstream, e Mother’s Milk é o disco que representa essa transição. O novo guitarrista traz uma veia mais melódica, diferente de Slovak que mantinha uma base rítmica sólida. Para completar, Chad casa suas batidas grooveadas com o swing funky de Flea, formando uma das mais afiadas cozinhas do Rock. Originalmente, os substitutos de Irons e Slovak, seriam D.H. Peligro (Dead Kennedys) e Dewayne “Blackbird” Mcknight (ex-Parliament). Peligro ajudou em algumas composições, mas os dois foram demitidos tempo depois, consolidando a formação Kiedis/Frusciante/Flea/Smith, a mais duradoura e consagrada do RHCP.
A pedrada começa com a empolgante “Good Time Boys“, trazendo toda a ignorância de Flea nas quatro cordas e um riff de guitarra pesado e swingado ao mesmo tempo. O cover de “Higher Ground” com distorção e riffs abafados foi o grande responsável por alavancar o álbum nas paradas. “Subway to Venus” retoma os primeiros anos da banda, com um andamento funkeado, e Flea tocando trompete.
A supersônica “Magic Johnson” faz uma homenagem ao lendário jogador da NBA, com Frusciante estuprando a guitarra e mostrando toda sua técnica em um solo visceral. Passamos pela esquecível “Nobody Weird Like Me”, para a melhor canção do álbum, “Knock Me Down“, com refrão grudento e maior ênfase nas melodias. Escrita por Anthony Kiedis, é uma homenagem ao falecido Slovak e uma mensagem sobre o perigo do abuso de drogas, que também afetou o vocalista por um bom tempo.
“Taste The Pain” nos dá uma pausa pra retomar o fôlego, que na sequência já vem mais uma pedrada com “Stone Cold Bush” (que tem um riff semelhante a “Miracle Man”, de Ozzy Osbourne). A faixa é permeada por uma guitarra com wah-wah pulsante e um refrão distorcido. Flea despeja uma avalanche de slaps, e entra a dobradinha Frusciante/Flea que é pra desossar qualquer um.
O anárquico cover de “Fire” (Jimi Hendrix) presente no lado-B do single “Fight Like A Brave” é reprisado aqui, ainda com Slovak e Irons. Na sequência temos a viajante jam instrumental de guitarra/baixo, “Pretty Little Ditty” (que anos mais tarde seria usada como sample pela banda Crazy Town).
Em “Punk Rock Classic” a banda mostra que não é só feita de James Brown, Parliament e Funkadelic, mas de Dead Kennedys, Bad Brains e The Germs, também. Flea ataca o trompete novamente na cadenciada “Sexy Mexican Maid” e entrega mais uma performance visceral em “Johnny, Kick A Hole In The Sky” que fecha o disco, com Frusciante abusando do wah-wah.
Mother’s Milk foi o primeiro sucesso comercial dos Chili Peppers, mas hoje é pouco lembrado. A consagração viria dois anos depois, com Blood Sugar Sex Magik, e seu lado melódico mais aperfeiçoado, mas as bases foram lançadas aqui. Mother’s Milk é o registro de uma banda ainda verde, com todo o tesão e a garra da juventude representado na esquizofrenia Funk/Punk do quarteto californiano e com um gênio da guitarra, ainda em ascensão.
Track list
1. Good Time Boys
2. Higher Ground
3. Subway to Venus
4. Magic Johnson
5. Nobody Weird Like Me
6. Knock Me Down
7. Taste the Pain
8. Stone Cold Bush
9. Fire
10. Pretty Little Ditt
11. Punk Rock Classic
12. Sexy Mexican Maid
13. Johnny, Kick a Hole in the Sky
A versão de “Higher Ground” é uma das melhores faixas da carreira do Red Hot Chili Peppers!
Puta disco, uma verdadeira porrada. Dizem que o Frusciante não gostou muito dessa sonoridade mais heavy do álbum e a julgar pelo resultado obtido no “Blood Sugar” não dá pra criticar o cara, mas curto demais esse disco e acho que a banda subestima muito essa fase que antecedeu o sucesso mundial.
A que mais gosto é “Good Time Boys”, que riff animal.