Greta Van Fleet – Anthem Of The Peaceful Army (2018)

Greta Van Fleet – Anthem Of The Peaceful Army (2018)

Por Davi Pascale

O Greta Van Fleet vem dividindo opiniões, não somente entre os ouvintes, mas principalmente entre os críticos. Há quem os considere a salvação do rock n roll, há quem os considere um Led Zeppelin subnutrido. Nenhuma das 2 afirmativas me surpreendem.  Se for contar quantas bandas me recordo de terem sido consideradas ‘a nova cara do rock n roll’, ‘a salvação do rock’ e outras bobagens do tipo, criarei uma lista do tamanho de uma bíblia. E se decidir puxar da memória quantos dos clássicos do rock não foram levados à sério no início de sua trajetória, vou chegar a conclusão que ahnn…. todos!

Sim, meus amigos, a história é antiga. Aerosmith foi considerado uma imitação barata dos Rolling Stones, os Beatles foram considerados uma moda passageira, uma bobeira dos adolescentes. Black Sabbath e o próprio Led Zeppelin tiveram seus álbuns de estreia malhados pela imprensa da época. Por isso, que quando a crítica elogia muito um artista, eu paro para ouvir, e quando malha muito, também. Nem sempre o artista criticado é ruim, muitas vezes, o crítico não está entendendo o que está ouvindo ali.

O Greta Van Fleet é uma banda de Michigan formada pelos irmãos Josh Kiszka (vocal), Jake Kiszka (guitarra), Sam Kiszka (baixo), além do baterista Danny Wagner. Garotos, no sentido literal da palavra. Todos em torno de seus 22, 23 anos de idade. Muito bacana ver uma garotada dessa idade montando uma banda de rock e causando esse alvoroço na mídia. Algo que um grupo de rock não causava há algum tempo. Quais foram os últimos nomes a causarem barulho na mídia? Nem me lembro mais, mas acredito ter sido o White Stripes. Se eu estiver correto, isso nos leva de volta ao ano de 2001 quando o duo liderado pelo amalucado Jack White lançou seu terceiro álbum, White Blood Cells.

Anthem Of The Peaceful Army vem sendo considerado o debut dos garotos. Sei lá, até entendo desconsiderarem o Ep Black Smoke Rising, por ser extremamente curto, mas o trabalho From The Fires já me soa como um álbum de estreia. De todo modo, lembro que quando ouvi os EPS, fiquei impressionado não apenas com a potência vocal de Josh, mas também com a qualidade das composições. Embora canções como “Safari Song” e “Higway Tune” deixassem escancarada a influência de Led Zeppelin, eles empolgavam pelos seus riffs certeiros e suas levadas empolgantes.

Se o trabalho de 2017 começava de maneira explosiva com Josh soltando os pulmões logo de cara, aqui fazem o oposto. “Age of Man” começa calma, sorrateira, apenas com um teclado e o vocal, para somente depois tomar corpo. Sim, ele continua soando como uma mistura de Geddy Lee e Robert Plant. O bacana, contudo, é que, ao que parece, esse é seu timbre natural. A faixa não é pesada, mas é excelente. A linha vocal é que se destaca na primeira canção.

“The Cold Wind” conta com um ótimo riff de Jake e uma ótima levada de Danny. Essa é mais uma daquelas que irritará seus detratores. Ou seja, uma daquelas faixas onde deixam nítido que os garotos ouviram cada disco do Led Zeppelin, umas 100 vezes, ao menos. A música de trabalho “When The Curtain Calls” vem na sequencia mantendo o ar zeppeliano. Assim como acontece com as citadas faixas do EP, as músicas soam matadoras.

Essa é a maior crítica que os garotos vêm obtendo. Muitos os acusam de não serem originais e de não terem o mesmo nível de instrumentista de seus ídolos. Tudo o que tenho a dizer é… vamos com calma!!! Os meninos são bons músicos e, na boa, exigir que tenham o mesmo nível técnico de Jimmy Page, John Bonham, John Paul Jones e Robert Plant é um pouco demais, não acham? Em relação ao fato de não serem originais, não é exatamente uma mentira, mas acho extremamente normal que ainda estejam buscando seu som aos 22 anos de idade. Por enquanto, fico feliz com o alto nível das composições e o trabalho vocal acima da média do que vem sendo apresentado nos dias atuais. Vamos dar tempo ao tempo.

Em “Watching Over” o ritmo cai um pouquinho. Não tenho nada contra baladas, mas achei essa uma das menos inspiradas do disco. Os riffs de Jake voltam a chamar a atenção na explosiva “Lover, Leaver (Taker, Believer)”. Na sequencia, temos duas faixas onde a guitarra é deixada um pouquinho de lado e é explorado um pouco mais dos violões. “You´re The One” é bacaninha apenas, mas se diferencia pelo refrão repleto de backing vocal e por contar com um pouco mais de teclados. “The New Day” já conta com uma levada mais para cima e é onde fica mais perceptível a influência de Geddy Lee que citei mais acima.

Acho muito bacana essa cena retrô que está rolando agora, com uma garotada resgatando elementos das bandas clássicas dos anos 60 e 70, fazendo um rock n roll mais puro, mais enérgico, voltando a valorizar riffs e linhas vocais melódicas. Bandas como Blues Pills, Klassik 78 e, é claro, o Greta Van Fleet são bem-vindas.

 

Algo que os músicos do passado faziam, por vezes, era dividir os lados dos LP´s por sonoridades ou temas. Os meninos parecem ter ficado com essa logica na cabeça. A segunda metade do álbum é focada mais em baladas, mas não são baladas mela-cueca, são mais rockers. “Mountain Of The Sun” é excelente e traz Jake brincando, uma vez mais, com seu amado slide. “Brave New World” é um dos destaques do disco, contando com uma pegada um pouco mais arrastada. A semi-acustica “Anthem” fecha o CD em alto nível e conta com um refrão que fica na cabeça.

A única critica que faço é que Josh, embora esteja cantando super bem, poderia não cantar para cima todo o tempo. Causaria mais impacto nos agudos e manteria a potencia de sua voz por mais tempo. Se for inventar de cantar assim por toda a vida, perderá a voz em espaço curto de tempo. Em relação à comparação com o Led, a comparação é inevitável nas faixas mais hard rock, por conta dos riffs de guitarra e da levada de bateria. Nas outras, a semelhança fica mais pelo trabalho vocal. Não temos uma presença fortíssima de blues e folk nas faixas mais lentas, o que automaticamente mata a ideia de clone.

Resumo da opera: trata-se de uma banda bem bacana, com bons instrumentistas, ótimas composições, uma volta ao passado no bom sentido. Referência é natural, todo artista tem. E a tendência, com o tempo, é a banda ir incorporando novos elementos e definindo uma sonoridade própria. Acredito que os garotos tenham um belo futuro pela frente. Não acredito que eles vão mudar o rock como aconteceu com Beatles ou Zeppelin, mas se conseguirem criar uma carreira nível Black Crowes já fico bem feliz…

Faixas:

  • Age Of a Man
  • The Cold Wind
  • When The Curtain Falls
  • Watching Over
  • Lover, Leaver (Taker, Believer)
  • You´re The One
  • The New Day
  • Mountain Of The Sun
  • Brave New World
  • Anthem

28 comentários sobre “Greta Van Fleet – Anthem Of The Peaceful Army (2018)

  1. Talvez por ter essa pegada setentista, gosto muito do Greta Van Fleet. A molecada é talentosa, sim. Eles têm uma sonoridade datada, sim. Mas o que importa é que suas composições são boas, e a parte instrumental é firme. O vocal de Josh, não se pode negar, faz uma diferença enorme. E, às vezes, ele parece ir além do necessário. Com diversos vídeos na internet, o Greta Van Fleet mostra ser uma banda muito boa de palco. Particularmente, gosto muito de uma versão de “Edge of darkness”, gravada no Lincoln Hall, no qual a banda mostra todos os seus predicados, especialmente o longo solo de Jake. No fim das contas, esses rapazes são competentes naquilo que se propõem a fazer. Isso é muito!

    1. Concordo.

      Dentro dos padrões atuais, acho a molecada acima da média. Acho que o próximo álbum é o que vai dizer se eles vão pra frente ou se morrem na praia. Vamos ver. De minha parte, torço pela banda…

  2. “Quais foram os últimos nomes a causarem barulho na mídia? Nem me lembro mais, mas acredito ter sido o White Stripes”

    Tame Impala. Foi elogiado em vários lugares e várias bandas recentes citam como influência já.

    “Acho muito bacana essa cena retrô que está rolando agora”

    Rapaz, faz mais de década. Os próprios White Stripes, Tame Impala e Strokes eram um negócio retrô… mas estes ao menos tinham alguma personalidade, goste ou não! Já o GVF aí não dá muita abertura. Se você apenas curte hard rock com tons setentistas, eis uma banda para sua playlist. Caso seja mais exigente, a emulação de Led vai lhe dar nos nervos.

    “muitas vezes, o crítico não está entendendo o que está ouvindo ali.”

    A meu ver, questão não parece ser “entender” (o som é simplório), e sim aceitar que nem toda banda quer mudar o mundo. É verdade que até o Rush brincava de Led nos primórdios, mas como não dá pra prever o futuro, resta dizer que todo alarde – positivo E negativo – ao redor do Greta é injustificável. Tem bandas parecidas tocando por cerveja em bares roqueiros ao montes.

    1. Fala Bruno.

      Concordo que o White Stripes e o Strokes já tinham uma onda retrô. Essa onda retrô sempre existiu de certa forma. O que eu quis dizer é que eu gosto das bandas atuais que fazem parte dessa jogada. Essas bandas retrô do início do ano 2000 eu gostava de alguma coisa, mas não tinha nenhuma que eu achava do caralho. Nem mesmo o White Stripes. Talvez tenha me expressado mal.

      Em relação ao lance da crítica não entender, não me referi apenas ao Greta Van Fleet que, sim, é mais descarado, mas de uma maneira geral é difícil ver os caras abraçando uma banda nova. Ou é o papo do supervalorização, ou do comercial, ou já tivemos fulano que fez isso melhor no passado, etc. De todo modo, acho que o cara tem que ser livre para expressar sua opinião. Tudo o que quis dizer, na real, foi ‘não leve tudo tão a sério, escute e tire suas próprias conclusões’. Vejo muita gente pegando raiva da banda sem ter escutado algo além do clipe, justamente pelo que lê nas críticas.

      Obrigado pela participação. Abraço.

    1. Verdade! O Wolfmother voltou com uma formação diferente, mas está sem o destaque de outrora. O Rival Sons, hoje, está com mais destaque. Tomara que o Greta consiga ir adiante.

  3. Eu curti o disco bastante. Várias faixas remetem ao Led, inclusive as lentas, mas cara, quem não curtir “Lover, Leaver” tem que se catar. Creio que o vocal força muito, é exagerado em alguns pontos, mas a sonoridade é ótima. Para ouvir diversas vezes (eu desde o lançamento, já ouvi umas 20 vezes). E valeu Davi, me poupou uma resenha, hehehe

    1. Não sabia que você estava planejando uma resenha deles…

      O menino canta bem. Inclusive, ao vivo, mas é o que eu disse no texto. Não precisava cantar para cima o tempo todo. Poderia trabalhar mais essa questão. Essas horas faz falta um produtor mais pica das galáxias pra chegar no cara e falar “Brother, você canta bem, mas não precisa se mostrar o tempo todo”. É moleque, né? Deve estar naquela onda de querer mostrar o que consegue fazer… Mas, o disco é bom. As músicas são muito boas e a molecada é talentosa. Com o tempo vão tesourando os exageros….

  4. Houve empolgação parecida com o Rival Sons poucos anos atrás, banda qual tá mantendo uma carreira legal até aqui também. Esse papo de salvação do rock sempre aparece e acho bobo, acho que até atrapalha algumas pessoas a ouvir a banda que é tida assim.

    1. A ideia de que o Greta Van Fleet já leva alguns a ouvirem a banda munidos de má vontade. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: a banda tem influências bem perceptíveis, mas isso não é demérito, uma vez que o que é feito o é com enorme competência. Ao mesmo tempo, ninguém é obrigado a seguir o hype. Gosto é sempre uma questão pessoal…

      1. Exato Francisco! O trabalho deles pode não ser inovador, mas é muito bem feito. Acho essa banda muito bacana.

    2. Esse papo de salvação do rock é jogada de marketing, mas já usaram o artifício tantas vezes que está virando piada. Não sei porque insistem. Poderiam criar algo novo. E, realmente, na maioria das vezes é um tiro no pé porque as pessoas acabam criando uma expectativa grande demais. Rival Sons realmente é bem legal. Também curto.

  5. Ainda não ouvi o disco o suficiente para comentar as músicas, mas gostei bastante, como já tinha gostado dos dois EP anteriores. Volta e meia aparece um “salvador do rock”, e a maioria não dá em nada. O Guns’n’Roses apareceu assim, e deu no que deu: uma banda que lançou um excelente álbum de estreia e depois nunca mais conseguiu fazer algo que se aproximasse dele. Espero que o Greta não passe pelos mesmos dissabores.

    1. Legal, Marcello.

      Gostei bastante do álbum, embora ainda goste mais do From The Fires. Em relação ao Guns, gosto bastante dos discos da banda (embora concorde que o Appetite é o melhor). Só lamento que eles sejam tão problemáticos e tenham uma discografia extremamente curta.

  6. Disco ruim demais. Existe o saudosismo que ressurge para criar algo novo, diferente e contextualizado ao seu tempo, como foi o britpop dos anos 90 e bandas garage como o White Stripes. O próprio Royal Blood, que surgiu nesta década, sabe disso. Greta não tem personalidade alguma, não existe nada no som dos caras que os conecte, de alguma forma, a 2018. É o cover mais profissional recente que eu já vi do Led até agora. O som deles é ótimo para alimentar saudosismo. Mas, se for pra ser nostálgico, prefiro ouvir as bandas dos anos 1970.

    Aliás, essa banda é um ótimo gancho para uma discussão boa de até quando vai o saudosismo, de que formas ele é positivo na música e quando ele pode ser um problema para que os artistas (e os próprios ouvintes) olhem para frente em busca do novo.

    1. Discordo totalmente Tiago. POr mais que as influências do Led surjam em quase todo o disco, há sim personalidade no som do Greta. Tenho ouvido direto, e cada vez curto mais o que surge nas caixas de som. É uma música crua, sem frescuras, e ótima para curtir em várias horas do dia.

    2. Eu gostei bastante dessa banda. Sempre escuto um artista novo sem saber o que esperar e se me chamar a atenção, acompanho!
      Não me incomodo se não forem inovadores. Se o trabalho for bem feito e as músicas forem boas, para mim, está valendo.
      Mas legal que os comentários estão demonstrando o que escrevi no texto. Da galera com opinião dividida hehehe. Valeu pela participação, Tiago.

  7. Tudo de inovador ou revolucionário que poderia ser feito no rock já foi realizado. É inevitável que as bandas atuais sejam comparadas às bandas clássicas, mas isso acaba sendo injusto, tendo em vista que se encontram em momentos históricos diferentes. Quanto ao GVF, é uma ótima banda que ainda está desenvolvendo a sua sonoridade. Espero que evoluam cada vez mais.

    1. Mais ou menos, ainda dá para fazer coisas diferentes, mas a tendência é ir diminuindo… Só não dá para esperar que todo mundo seja inovador…
      Mas concordo que cobrar que uma banda nova se equipare à uma clássica seja injusto…

  8. O Menino canta mal…comparar com o R. Plant (mesmo em início de carreira) é uma heresia para com os dois. Espero que ele evolua. No mais o som é bem bacana…tem pra onde crescer.

    1. A comparação com o Plant é por conta do timbre vocal e das linhas vocais, não é por conta de qualidade. Mas, achei que o garoto manda bem. Gostei da performance dele nos vídeos ao vivo que assisti. Não achei ruim, não.

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