Neon Records: Indian Summer [1971]
Por José Leonardo Aronna
Dando continuação a minha análise de alguns discos lançados pelo lendário selo Neon Records, vamos falar do grupo Indian Summer e seu primeiro e único homônimo Lp. A banda foi formada em Coventry, West Midlands, Inglaterra, no verão de 1969 pelo tecladista e vocalista Bob Jackson, o guitarrista Colin Williams, baterista Paul Hooper e o baixista Malcolm Harker. Antes do line up se estabilizar, passaram pelo grupo, Al Hatton (baixo), Steve Cottrel (guitarra), e Roy Butterfield (?). De início a banda começou a fazer o circuito de faculdades e universidades locais em sua Midlands nativa, onde deliciavam sua plateia com um hard prog com bastante ênfase no som do hammond organ, antes de ser descobertos pelo empresário Jim Simpson, que também gerenciava o Black Sabbath e Bakerloo entre outros.
Assim, Jim Simpson recomendeu a banda a Olav Wyper, ex-empresário da Vertigo e fundador da Neon Records (conforme detalhei em texto anterior). Depois de vê-los numa explosiva apresentação no Henry’s Blues House em Birmingham, Olav Wyper decide contratar o grupo para o seu novo selo. Aliás, na capa interna do Lp, há um pequeno texto assinado pelo Olav Wyper, contando essa história. Juntamente com o produtor Rodger Bain, que tinha produzido o álbum de estréia do Black Sabbath, a banda agendou umas datas no lendário Trident Studios, em Londres, com a finalidade de gravar seu primeiro disco. O LP Indian Summer foi lançado no início de 1971, mas um single, “Walking On Water” que foi programado para promover o LP, não conseguiu ver a luz do dia até então. A arte da capa do Lp é de autoria do célebre Keef, o mesmo responsável por outro discos do período, como por exemplo, Gasoline Alley (Rod Stewart), Black Sabbath (1° Lp), Valentyne Suíte (Colosseum), Asylum (Cressida), e muitos outros. Uma curiosidade: foi um, de apenas dois Lps lançados pela Neon Records nos Estados Unidos (o outro foi Septober Energy do grupo Centipede), mas não apareceu antes de 1974, três anos após o lançamento original britânico.
O álbum abre com “God Is The Dog”, que parece ser uma canção anti-religião. O destaque aqui são a voz e o órgão de Bob Jackson. Sua voz atinge crescendos muito interessantes que me fazem lembrar algo do Deep Puprle. A próxima canção, “Emotions Of Men”, é uma das melhores do disco, com um excelente trabalho de guitarra de Colin Willians, num solo altamente inspirado. Como sempre, os teclados de Jackson dão o feeling à canção. Em “Glimpse”, a peça mais complexa do álbum, temos uma sonoridade mais jazzy, e mais uma vez, o trabalho de guitarra de Williams é destaque. Esta música me lembrou alguns dos momentos mais cerebrais de Steve Winwood junto ao Traffic. “Half Change Again”, que encerra o lado A, começa com violões e percussão e depois muda, apresentando ótimos solos de órgão, para depois se encerrar com um belo tema melódico.
Virando o disco, temos “Black Sunshine”, com um prolongado solo de teclado, bateria e várias mudanças de acordes lentos. A seguir temos “From The Film Of The Same Name”, um belo tema instrumental que apresenta, mais uma vez, excelente interação entre guitarra e teclado, acabando num solo magistral. “Secrets Revealed” é o tema lento, místico e pensativo do LP. “Another Tree Will Grow” termina o álbum de forma adequada, com uma boa melodia e riff marcante, mais uma vez destaque para o solo de Colin Willians. Enfim, o álbum não é nenhuma obra-prima, mas um ótimo representante da genial música que era criada no início da década de 70. Também temos que dar crédito para a grande voz de Bob Jackson, que pode ir de um tom mais profundo a alguns gritos realmente impressionantes, com a maior facilidade.
Imediatamente após o lançamento do álbum, Harker abandona o grupo para assumir a empresa de engenharia de seu pai (ele atualmente vive nos Estados Unidos). Seu posto é assumido por Wez Price, ex-The Sorrows. Com ele a banda realizou algumas apresentações já previamente agendadas, incluindo algumas datas na Suíça. No entanto, ao retornar de um show no início de 1972, sem dinheiro, a banda sentiu que algo estava errado e decidiu por encerrar suas atividades.
Colin Williams se retirou totalmente do meio musical para ter um emprego na indústria automotora. Paul Hooper tocou em várias bandas de Midlands antes de juntar-se com Bob Jackson no The Dodgers, que lançou o Lp Love On The Rebound, em 1978. Até 2010 ele estava tocando com o The Fortunes. Após de desvincular do contrato com Jim Simpson, Bob Jackson uniu-se com Alan Ross (ex-John Entwhistle Band) formando o grupo Ross, que lançou dois discos, Ross (1973) e The Pit & The Pendulum (1974). Depois disso, integraria o grupo Moon, no seu Lp Too Close for Comfort (1976) antes de ser contratado pelo Badfinger, onde ficou por quase três anos. Ele então formou o Dodgers com Paul Hooper, como citei acima, e logo depois participaria da banda do David Byron (ex-Uriah Heep), tocando no Lp On The Rocks (1981). Desde então, ele também tocou com nomes como The Motors, The Searchers, Jeff Beck, Jack Bruce e Pete Brown, e ainda toca em bandas locais, como por exemplo The Fortunes, onde está até hoje, além de dar aulas de música.
Tracks Listing
1. God Is The Dog
2. Emotions Of Men
3. Glimpse
4. Half Change Again
5. Black Sunshine
6. From The Film Of The Same Name
7. Secret Reflects
8. Another Tree Will Grow
Gosto desse tipo de matéria porque apresenta alguma obscuridade, muitas vezes interessante, muitas vezes apenas uma curiosidade, do melhor período do rock (o começo dos anos 70). Já fui mais “garimpeiro”, procurando bandas que lançaram um ou dois discos antes de sumirem, e achei muita coisa boa, mas acabo sempre voltando às minhas bandas favoritas. Honestamente, penso que essa verdadeira explosão de bandas do início dos anos 70 nunca mais vai se repetir, pois as gravadoras estão perdendo espaço, e sem a divulgação que ofereciam, provavelmente tem coisa boa rolando por aí e a gente não fica sabendo; é claro, tem outros meios de divulgação, mas quem começou, como eu, a colecionar discos nos anos 80 (e muita gente bem antes…), ainda tem saudade de ter o LP ou o CD nas mãos. Vou parar por aqui, tenho que ir atrás do Indian Summer, hehehehe…
Obrigado pelo comentário. Ah, vai atrás que vale a pena!
Faz um certo tempo que não revisito o Indian Summer mas já os ouvi bastante e aprecio. Acho que a descrição pelo texto é bem justa – não é uma obra prima, mas é uma boa amostra do período!
Os teclados são muito bons e o clima todo é meio dark…abraço!
Valeu pelo comentário! Abs