Melhores de 2018: por André Kaminski

Melhores de 2018: por André Kaminski

Não vou negar que achei este ano o mais fraco da década de 10. Ou eu pesquisei muito mal, ou realmente foram lançados pouquíssimos discos que me agradaram. Talvez seja eu ficando velho e rabugento. Eu gosto bastante dos discos que indiquei nesta lista e mais alguns que não entraram entre os dez e que me agradaram, todavia, para quem estava acostumado a ficar em dúvidas entre mais de 20 ou 30, ter essa quantidade tão reduzida me deixou um tanto entristecido. Enfim, torçamos para que ano que vem tenhamos mais lançamentos do que este de 2018.


Groundbreaker – Groundbreaker

O disco do ano para mim é um AOR daqueles mimizentos. O Groundbreaker é um daqueles projetos de gravadora, ao qual integrantes de bandas diferentes se unem para lançarem um disco. Assim temos Steve Overland (vocalista do FM), Robert Säll e Herman Furin (guitarrista e baterista do Work of Art, respectivamente) e o baixista Nalle Pählsson (Therion e Last Autumn’s Dream) em que a Frontier Records os uniu para promoverem uma nova banda. É raro que tais bandas me agradem, entretanto, abri uma exceção ao Groundbreaker e não me arrependi: AOR de encher os olhos e os corações apaixonados de canções a serem cantadas a plenos pulmões e baladas lindíssimas daquelas cheias de sacarose não recomendadas para diabéticos. Steve mesmo quase sessentão, continua cantando como se tivesse 20 anos. Incrível como a voz desse cara não envelheceu absolutamente nada. Belíssimo disco, daqueles de marcar a memória.


Warfield – Wrecking Command

Outra banda nova, o Warfield é uma banda thrash alemã aos moldes do Sodom e do Kreator. Johannes Clemens usa um vocal rasgado parecido com o de Mille Petrozza do Kreator e a sonoridade lembra bastante aquele thrash oitentista com muita velocidade, blast beats e crueza mesmo da produção do disco que optou por deixar a sonoridade bem ao estilo baixo orçamento. Os temas tratados são muito originais e tratam de guerras, destruição e morte. Estranho como nenhuma banda thrash pensou nisso antes. Mas e quem disse que isso é ruim? Aliás, eu até sentia um pouco de falta de algo mais tradicional de um gênero que sempre curti. Como muitas bandas do thrash, não ouviremos aqui nada muito inédito, mas um disco que se lançassem em 1987, seria louvado. Por mim, não tem problema ser lançado com mais de 30 anos de atraso, curti muito mesmo assim.


Bonfire – Temple of Lies

Para quem acompanha o Bonfire há muito tempo, logo que se ouça as duas primeiras canções deste disco tomará um susto com o peso e a velocidade das guitarras e riffs ao estilo heavy metal oitentista, tais como Helloween e Saxon. Claro que o bom hard rock de sempre ainda se faz presente em faixas como “On the Wings of an Angel” e “I’ll Never Be Loved by You”, com aquelas letras piegas que o pessoal que curte o estilo tanto ama. Esses alemães lançam discos com frequência, mas é raro dizer que algum trabalho deles seja considerado fraco ou irregular, visto sempre manterem um bom nível em suas composições. Nada aqui me desagrada, um heavy/hard cheio de energia e disposição feito por uma banda de músicos competentes que se não tentam reinventar a roda, ao menos fazem o possível para que seus discos não soam iguais.


Gryphon – ReInvention

Longos 41 anos depois desde seu último álbum, a clássica banda Gryphon retorna em grande estilo. Os britânicos lançaram seu primeiro disco sendo basicamente um folk europeu que poderia muito bem ter sido tocado uns 3 séculos antes sem causar qualquer estranheza. Com o passar dos anos, a banda foi mordida por um progueiro qualquer e aí esta se tornou nos discos seguintes mais próxima do Jethro Tull e do Gentle Giant. Ainda eram bons discos, porém bem menos folks. Então eles retornam com ReInvention e simplesmente resgatam a magia folk no primeiro disco lançando músicas com muito mandolin, flautas e percussões, obviamente em conjunto com guitarra, baixo e bateria do rock. A sonoridade é simples, divertida, contagiante, deliciosa. Ouça “PipeUp Downsland DerryDellDanko” e apenas pegue sua caneca de chopp para brindar com seus amigos. Belíssimo retorno, nunca deveriam ter acabado.


Creye – Creye

Novamente em se tratando de AOR, mais um dos destaques deste ano (que em minha opinião, foi o gênero que lançou bons discos em maior quantidade em 2018) são os suecos do Creye. Mais uma banda nova, criada em 2015 e com membros até relativamente desconhecidos do cenário, lançou seu primeiro full-lenght auto-intitulado pela gravadora italiana Frontier Records (o porto de salvação do Hard/AOR mundial) que chegou emocionando aqueles que gostam daquele rock mela-cueca tipo eu. Infelizmente, o vocalista Robin Jidhed e o tecladista Joel Ronning deixaram a banda pouco tempo após o lançamento deste disco. Ou seja, é improvável que esta mesma formação toque junto novamente. O álbum, como esperado, traz aqueles típicos teclados oitentistas datados, um vocal cristalino e batidas ritmadas e precisas de bateria para que as canções sejam entoadas como hinos. Europe oitentista é influência clara. O que posso dizer é que a banda foi muito elogiada por várias resenhas que li pela internet e demonstra uma qualidade a mais do que as muitas outras bandas AOR que pipocaram nos últimos anos. “Different State of Mind” é excelente e lembra os melhores momentos do Asia.


Birth of Joy – Hyper Focus

Rock psicodélico dos bons, daqueles de viajar mesmo. Influenciados por Jefferson Airplane, The Doors e Pink Floyd, vemos uma mistura dessa antiga psicodelia sessentista com um tanto do stoner setentista, fazendo um mix de sons inesperados principalmente com o órgão, que é um protagonista muitas vezes até maior do que a guitarra. Hyper Focus segue uma linha um pouco mais psico/prog do que os anteriores, cuja base era muitas vezes o hard e o stoner, sendo assim um disco um tanto mais complexo e que necessita de mais audições para apreciá-lo, algo que é bastante frequente nas bandas kraut alemãs. Ouça “You Are Many” e sinta a energia da percussão. Os caras tem uma postura muito agressiva, algo que de certa forma lembra Emerson, Lake & Palmer dentro do progressivo. Imagine algo similar no psicodélico. É talvez a melhor maneira que tenho em palavras para descrever os holandeses do Birth of Joy e seu Hyper Focus. Infelizmente, a banda anunciou um hiato sem prazo de retorno, com o último show marcado para o dia 03 de janeiro de 2019. É possível que não ouviremos falar deles por um bom tempo. Mas se essa for a despedida, foi com um álbum marcante.


The Record Company – All of This Life

Banda americana nascida em 2011 que lançou o seu segundo álbum este ano. De acordo com a descrição que eles se dão, a base é um blues rock com influências de John Lee Hooker, Rolling Stones e em algumas canções, um jeitão proto-punk tal como os Stooges. Eu ainda incluiria um pouco de country que lembraria em alguns momentos Bruce Springsteen, tal como a faixa “The Movie Song”. O trio já teve seu disco anterior indicado ao Grammy e devido ao maior reconhecimento do público, All of This Life conseguiu o posto 94 nos charts de vendas  da Billboard desse ano, algo que ultimamente tem se tornado raro entre novas bandas de rock. Saiba que quando botar para ouvir este excelente trabalho, prepare-se para ouvir muitas melodias de guitarra, violão, gaita de boca e piano com aquela atmosfera norte-americana que muito me atrai.


Angra – Ømni

Muito, mas muito superior ao Secret Garden [2015], temos aqui um Angra que voltou a usar melhor as orquestrações, quebras de ritmos, riffs de peso e o fato também de Fabio Lione ter se adaptado ao estilo “Angra” (deixando bastante de lado aquele lado mais “afetado” que se caracterizou no Rhapsody of Fire). O produtor sueco Jens Bogren captou de fato o estilo Angra de compor e contribuiu com uma produção limpa em que uniu o peso do instrumental com o lado mais “épico” dos coros e orquestrações. Músicas que nos lembram a época de Rebirth [2001] e Temple of Shadows [2004] junto a outras canções com as tradicionais participações especiais (Alissa e Sandy), temos um disco variado mas ainda com tudo que sempre definiu o Angra. Por sinal, eles trouxeram Marcelo Barbosa para o lugar do Kiko Loureiro. Eu simplesmente sou um grande admirador de Marcelo, um monstro na guitarra, em arranjos e no seu bom gosto para com riffs e melodias. O Angra ganhou um baita músico e espero que ele tenha mais espaço para colocar suas ideias no próximo disco.


Uriah Heep – Living the Dream

Mick Box continua liderando os veteranos que não parecem dar sinais de aposentadoria mesmo nos quase 50 anos de carreira da banda britânica. Living the Dream é o 25º álbum de estúdio da banda que continua mantendo uma pegada que mistura hard rock com uns temperos progressivos, muito teclado e muito Hammond fazendo uma sonoridade que mesmo hoje soa única. As harmonizações vocais lembram muito a época setentista, mesmo que Bernie Shaw soe muito diferente do inesquecível David Byron. É um disco bem pesado para os padrões heepianos, e muito bom. Fico muito contente que mesmo após tantas décadas, o Uriah Heep demonstre que tem muito ainda a oferecer.


Burning Gates – New Moon

Esta banda italiana iniciou suas atividades na metade dos anos 90 e lançaram discos até 2001, quando a banda encerrou suas atividades. Após conversas entre os membros originais, eles resolveram fazer uma reunião em 2015 para celebrar os 20 anos do lançamento do primeiro disco deles. Gostaram do retorno e lançaram um ao vivo em 2016. E após 17 anos, voltam com este ótimo álbum New Moon, trazendo um rock gótico pesado, em alguns momentos com riffs quase metálicos. A sonoridade me remeteu aquela época gótica do The Cult. Não conhecia esses italianos e gostei muito do que ouvi, principalmente da energia da sonoridade. Se você gosta de The Cult, pode ir tranquilo neste disco que vai te agradar em cheio.


Outros bons lançamentos de 2018

Mythic Sunship – Upheaval [psychedelic rock]

Kikagaku Moyo – Masana Temples [psychedelic rock]

Clutch – Book of Bad Decisions [stoner rock]

Judas Priest – Firepower [heavy metal]

First Aid Kit – Ruins [folk]

Riverside – Wasteland [progressive rock]

Galahad – Seas of Change [progressive rock]

Seventh Wonder – Tiara [progressive metal]

Widek – Dream Reflection [progressive metal]

17 comentários sobre “Melhores de 2018: por André Kaminski

    1. Sim, da esquerda para a direita: Nalle Pählsson, Robert Säll, Steve Overland e Herman Furin.

  1. Dito pelo autor :
    Não vou negar que achei este ano o mais fraco da década de 10. Ou eu pesquisei muito mal, ou realmente foram lançados pouquíssimos discos que me agradaram.

    Realmente eu tive essa sensação que esse ano foi ruim. Ano que vem ficará melhor. A década de 10 fechará com chave de ouro com grandes álbuns !

    1. Também acho, pelo menos em se tratando dos medalhões, há a previsão de algumas bandas grandes lançarem discos em 2019. Mas mesmo as médias e pequenas, eu realmente espero que surja trabalhos melhores.

  2. Dessa lista só ouvi o Birth of Joy, que achei um bom disco. Vou procurar sacar os demais…vc chegou a ouvir o Ring Van Mobius, André?

  3. conheci a banda Gryphon nao faz muito tempo, nem imaginava que a banda ainda existia muito menos que lançou um álbum novo. Da sua lista só escutei o Uriah Heep que curti bastante. Ouvi poucos discos lançados nesse ano.

    1. A banda ficou mais de três décadas parada, aí se não me engano, eles retornaram em 2012 (ou 2016, não lembro o ano exato agora), e foram só lançar um disco inédito esse ano.

    1. Olha, quando eu vi a tua lista, lembrei que não tinha ouvido o disco do Saxon, mas aí já era tarde demais para eu conseguir ouvir e resenhar. Mas agradeço pelo questionamento porque é uma banda que vale a pena dedicar-se um tempo a ela.

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