O Retorno de Satan
Por Fernando Bueno
(texto originalmente escrito em 2013)
Uma das bandas mais clássicas da New Wave of British Heavy Metal se reuniu e, depois de 30 anos de seu debut, Court in the Act (1983), acaba de nos apresentar um novo álbum, Life Sentence. Muita gente acha que a banda lançou apenas esse disco de 83 e logo depois acabou. Claro que se estivermos falando da parte relevante da história do grupo foi quase isso mesmo, mas o grupo não viveu só de Court in the Act.
Como dito anteriormente o Satan fez parte ativa da NWOBHM. Tocou com quase todo mundo, com as conhecidas e com as desconhecidas e chegou a fazer muito sucesso entre o público. Evidente que estamos falando de sucesso no underground já que o próprio nome do grupo limitava, e muito, o seu crescimento. Tanto que eles chegaram a mudar o seu nome em meados dos anos 80 para tentar atingir o mercado americano. Uma sociedade tão conservadora quanto a americana nunca admitiria um grupo com esse nome fazendo turnês por lá.
Farei a seguir um breve resumo da história do grupo. As constantes mudanças de formação durante esse período acabam deixando tudo muito confuso, mas o grupo teve a dupla de guitarristas Steve Ramsey e Russ Tippins como seu núcleo principal. O vocalista Brian Ross entrou para o Satan apenas para gravar Court in the Act. Ele já tinha um trabalho com o Blitzkrieg e não quis abandoná-lo completamente na época.
Russ Tippins disse que eles tinham o nome Satan desde os tempos da escola. Antes mesmo de terem aprendido a tocar um instrumento. Fãs de Black Sabbath, acharam que seria perfeito chamar o grupo dessa maneira e assim o fizeram quando tiveram oportunidade. Em 1981 tiveram duas de suas músicas em uma coletânea chamada Roxcalibur. Fizeram muito shows, especialmente na Holanda até que “Kiss of Death” saiu em single. Nessa época o vocalista era Trev Robinson. Como Trev não era o vocalista dos sonhos, Louis (Lou) Taylor foi contratado. Porém este ficou pouco mais de seis meses do grupo e saiu dando lugar para Ian Swift, que chegou a gravar a demo Into the Fire. Quando souberam que Brian Ross estava com alguns problemas com o Blitzkrieg não perderam a chance e o chamaram para a banda.
Court in the Act sempre é lembrado como um clássico do período, um disco que marcou demais, principalmente por apresentar um tipo de som que estava bem além do que as bandas tocavam na época. Seus riffs rápidos e enérgicos foram uma das bases para o thrash metal que estava surgindo nos Estados Unidos. Porém a produção deixa muito a desejar. Em algumas passagens há variações dos volumes dos instrumentos, especialmente das guitarras, que nos dá a impressão que aquilo acabou passando sem que ninguém notasse. A voz de Brian também sofreu com a produção, mas não com tanta intensidade. O disco, que foi basicamente uma versão atualizada da demo Into the Fire, foi lançado por uma gravadora holandesa e no país da Heineken eles iam muito bem, mas em solo inglês as coisas não davam tão certo. A formação que registrou Court in the Act foi: Brian Ross nos vocais, Russ Tippins e Steve Ramsey nas guitarras, Graeme English no baixo e Sean Taylor, que era baterista do Raven antes do Satan.
Após o disco Brian Ross saiu do grupo, muito por conta da pouca repercussão que conseguiram na Inglaterra, para se dedicar ao Blitzkrieg, que no fim das contas era a banda em que ele realmente queria focar. Durante todo esse período Lou Taylor formou uma banda com o guitarrista Kevin Heybourne chamada Blind Fury. Com a saída de Brian Ross do Satan, Lou mostrou interesse em retornar ao grupo. Kevin Heybourne acabou formando o Angel Witch, outra banda clássica do movimento. O pessoal do Satan estava interessado em tentar o mercado americano já que na Inglaterra não estava rolando tão bem, mas para isso precisava de um som diferente e, principalmente, um nome mais apresentável. Acabaram ficando com o nome Blind Fury e, sob esse nome, gravaram um único álbum em 1985, Out of Reach, que vale muito a pena ir atrás.
Parecia que o problema com o grupo era mesmo o posto de vocalista. Lou Taylor saiu de novo da banda e eles contrataram Michael Jackson, que obviamente não é aquele da coreografia de zumbi. Com essa nova mudança eles retomam o nome Satan e gravam mais um álbum, Suspended Sentence, e um EP, Into the Future, tudo em 1987. Essa época é o período da história do Satan que poucas pessoas conhecem já que essa retomada durou pouco mais de um ano, pois uma nova mudança foi feita, agora para Pariah. Como esse nome saíram dois discos, The Kindred em 1988 e Blaze of Obscurity, o melhor deles, em 1989.
Até então, mesmo com as diversas mudanças de formação e nomes da banda o núcleo Steve Ramsay e Russ Tippins sempre se mostrou forte. Porém em 1990 a dupla se dividiu. Ramsay montou outra banda, o Skyclad, uma das pioneiras do folk metal enquanto Tippins sumiu um pouco do mapa até que em 2009 apareceu com a The Russ Tippins Eletric Band. Ainda reativaram o Pariah no final dos anos 90 com o vocalista Alan Hunter do Tysondog, banda que Tippins chegou a integrar por um tempo, e o baterista Ian McCormack, que já tinha sido da formação da banda no início da sua história chegando a gravar a demo Into the Fire.
Mesmo com essas idas e vindas o nome Satan e o disco Court in the Act sempre eram lembrados. Brian Ross demonstrava orgulho toda vez que era reconhecido pelo seu trabalho no disco e sentia que sua contribuição poderia ter sido maior e mais consistente. Até que em 2004 os organizadores do Wacken Open Air sugeriram uma reunião da formação clássica e eles aceitaram mesmo sem Sean Taylor, que estava com uma contusão no joelho. De lá para cá fizeram alguns shows esporádicos e participaram de outros festivais.
Mas todo mundo só pensava mesmo em um novo lançamento com Brian Ross novamente nos vocais. Demorou, mas aconteceu! E o resultado é talvez melhor do que o esperado. Life Sentence dá a impressão que foi lançado em 1984 tamanha é a afinidade de seu repertório com as músicas de Court in the Act – e de certa forma com Suspended Sentence também. Claro que dessa vez a produção foi anos luz melhor que a do disco de estréia e essa é a maior diferença entre os álbuns.
Brian Ross mostra em Life Sentence o por que de tantos fãs lembrarem dos tempos áureos do Satan com ele nos vocais. Agradável timbre de voz e uma facilidade invejável de alcançar tons mais altos sem nenhum tipo exagero como em “Incantations”, em que o refrão se transforma totalmente pela adição perfeita de seus agudos.
A dupla de guitarras mostra que tantos anos trabalhando junto faz a diferença. Os duelos de guitarras são perfeitos e harmônicos com uma unidade que só quem viveu e foi parte importante dentro do núcleo do movimento oitentista poderia fazer. Na verdade é que os integrantes da banda viveram e vivem cercados do mesmo ambiente que tinham lá no início dos anos 80. Como nenhum deles chegou ao estrelato e não seguiram para diferentes caminhos musicalmente eles conhecem o que os fãs esperam quando procuram uma banda daquela época.
Se pegarmos os três álbuns que foram lançados sob o nome Satan e entregar para alguém que nunca os ouviu certamente essa pessoa não acreditará que estamos falando de 30 anos de história entre os discos. A impressão é de que a banda não envelheceu nenhum ano. O Satan atual trouxe a atmosfera de 1983 para fazer um dos melhores discos de 2013.
Matheus Duarte Coelho
Grande materia ,parabéns mesmo.
Like · Reply · Nov 3, 2013 4:20pm
Ulisses
Que capa linda desse novo álbum, PQP!
RESPONDER4 de setembro de 2013 às 11:57
Marco Gaspari
Um disco futurista, enquanto o primeiro é vade-retro. O Fernando Bueno na sua fase machadiana: enchendo o texto de detalhes, hehe…
RESPONDER4 de setembro de 2013 às 12:48
O título da matéria vai fazer a crentalhada idiota pensar que você são uma página satanista.
hahahahahahaha Tô brincando rapaziada!
Admito que a intenção era chamar a atenção mesmo….