Capital Inicial – Sonora (2018)
Por Davi Pascale
Desde que o Capital Inicial invadiu as rádios Brasil afora com seu Acústico MTV que a preocupação dos garotos é a mesma. Manter a pegada jovem, comercial e continuar com seus dois pés firmes e fortes no circuito mainstream. Pensando por essa ótica, Sonora é mais um acerto em sua discografia.
O Capital Inicial surgiu no início dos anos 80, pouco após o fim do grupo Aborto Elétrico. Dinho Ouro Preto, hoje uma figura importante na trajetória da banda, era simplesmente um fã do grupo. Grande admirador de Renato Russo (algo que continua até os dias atuais), não perdia uma apresentação do conjunto. Não por acaso, os primeiros sucessos do Capital Inicial – “Música Urbana” e “Fátima” – eram canções que tinham a mão de Renato.
Se hoje figuram entre os principais grupos de rock do país (se fomos pensar na ótica de publico, é provável que sejam o número 1), naquela época, a história era outra. Embora tenham tido canções de sucesso nas rádios, não eram levados tão à sério. Claro que estou falando de como a mídia os tratavam, não de qualidade do trabalho. Justiça seja feita: Capital Inicial, Todos os Lados e Eletricidade são ótimos discos.
Depois da saída de Dinho Ouro Preto, a coisa piorou feio para ambos os lados. Dinho não teve o sucesso esperado como artista solo e por pouco não desistiu da música. A banda viu seu publico diminuir cada vez mais, chegando a encerrar as atividades por um breve momento. O inesperado sucesso de uma coletânea com suas principais canções, acendeu a curiosidade dos músicos. “Que tal uma ultima tentativa? Se o disco está vendendo sem ter nada de inédito e sem nenhuma propaganda é porque há interesse no que construímos”. E eles estavam certos.
2 fatores ajudaram o Capital Inicial a se tornar mais forte após o retorno do que no auge do BRock. O fato de continuarem laçando novas canções e o fato de não terem medo de se aproximar de uma linguagem mais pop. Rosas e Vinho Tinto marcava o início de uma nova era, Sonora também chega com uma pegada de novos ares. Os músicos se aproximaram de artistas da nova geração, utilizaram estratégia de marketing atual. Ou seja; independente das inovações sonoras, eles querem continuar dialogando com a juventude. Portanto, não espere um álbum volta às raízes.
O CD chegou às lojas em 7 de Dezembro de 2018, contudo, o projeto começou em Maio. Ao invés de soltar o disco no mercado e depois começarem a trabalhar as canções, como funcionava a indústria décadas atrás, os músicos fizeram o oposto. Começaram a soltar as músicas nas plataformas online no mês de Maio. Foram soltando aos poucos. Quando o disco chegou ao mercado, seus fãs já conheciam o conteúdo. Estratégia comum entre os artistas gringos e que vem sendo adotada pelos artistas brasileiros nos últimos tempos.
Os músicos não soltaram as canções na sequencia do disco. A primeira faixa a chegar ao ouvido de seus admiradores foi “Não Me Olhe Assim”, a oitava do CD. Faixa certa para ser utilizada como canção de trabalho, contudo. Pensando na lógica padrão FM, essa é a que tem maior cara de hit e já dava um aperitivo do que estava por vir. Eles continuam querendo agradar as massas, ao mesmo tempo em que buscam modernizar seu som.
Para que conseguissem seu intuito, foram atrás de um músico mais jovem para a produção. O escolhido foi Lucas Silveira, mais conhecido por seu trabalho frente ao Fresno. Embora seja criticado por muitos, por conta do início de sua trajetória, a verdade é que o rapaz é, sim, talentoso e chegou a fazer bons álbuns, principalmente depois que se tornou um artista independente.
Contudo, Lucas não foi o único artista que buscaram ajuda. Para que conseguissem fazer um trabalho rock, que pudesse ser compreendido pela nova geração, arriscaram parcerias com Scalene, Far From Alaska e CPM 22. E, sim, Lucas canta no álbum também. Dinho Ouro Preto, em recente entrevista à Rolling Stone, declarou que lidar com essa galera mais jovem, ajudou eles a enxergarem uma nova maneira de fazer as coisas, sem precisar de mesa de som de trocentos canais e coisas do tipo. Bacana ver um cara da geração dele querendo entender como funciona o mundo da música nos dias de hoje.
Para quem curte o Capital Inicial mais roqueiro, com uma pegada mais crua, quase punk, canções como “Tudo Vai Mudar”, “Velocidade” e “Tempestade” devem agradar. Essa última é certamente a mais forte das três e uma das melhores do disco. Contudo, para quem for ouvir o trabalho na íntegra, já aviso que esse não é um trabalho pesado. É um disco comercial. Diria que é mais voltado para os fãs de Eu Nunca Disse Adeus e Das Kapital do que aos fãs de Atrás dos Olhos ou Saturno.
Gosto da ideia de artistas de diferentes gerações interagirem, acho que fortalece a cena e ajuda a derrubar certos estereótipos da cabeça dos ouvintes, mas é incrível como conseguimos saber a faixa que eles estão participando sem mesmo olhar a capa do disco. Não sei se a orientação da banda foi ‘toque como se fosse uma música sua’, mas consigo facilmente imaginar o Fresno cantando “Universo Paralelo” e o Far From Alaska mandando “Invisível” em alguma apresentação por aí. As composições são muito boas, contudo. Quem eu acho que conseguiu fazer melhor o mix e realmente adaptar o som do Capital foi o Scalene em “Parado No Ar”
O Capital Inicial sempre foi bom de baladas. Não importa a fase. Sempre souberam entregar baladas bacanas, sem ser muito meloso, e com ótimas melodias para embalar as rodas de violão. E seu publico gosta dessa brincadeira. Sendo assim, não poderiam faltar algumas em Sonora. A minha preferida é “Só Eu Sei”. Faixa que me lembrou as baladas que o U2 escrevia na fase All Tha You Can´t Leave Behind/How To Dismantle An Atomic Bomb. Outra que vale prestar atenção é “Nada Vai Te Machucar”.
As parcerias de composição não trazem grandes surpresas. O velho parceiro Alvin L continua sendo o nome principal. Thiago Castanho (guitarrista do Charlie Brown Jr, que fez segunda guitarra na última turnê do grupo) também dá as caras, assim como o velho amigo/parceiro Kiko Zambianchi. Como sempre fui fã do Capital Inicial, gostei bastante do resultado final. Entretanto, como já disse acima, esse trabalho é voltado para aqueles que curtem a segunda fase da banda. Se você curte o Capital da fase Loro Jones apenas, não será dessa vez que você voltará a segui-los.
Faixas:
- Parado No Ar (ft. Scalene)
- Atenção
- Tudo Vai Mudar
- Universo Paralelo (ft. Lucas Silveira)
- Seja o Céu
- Nada Vai Te Machucar
- Tempestade
- Não Me Olhe Assim
- Velocidade (ft. CPM 22)
- Invisível (ft. Far From Alaska)
- Só Eu Sei
O Capital Inicial nunca foi grande coisa, o único álbum deles que eu realmente acho interessante e até curto as músicas é aquele que eles resgataram as músicas do Aborto Elétrico da qual Fê e Flávio Lemos fizeram parte, o embrião da Legião Urbana. Pelo menos naquele disco se a banda não causou tanto impacto, ao menos tentou soar como uma banda de rock mesmo, e não com cançõezinhas bobinhas pra embalar namoricos de adolescentes com calcinhas molhadas.
Se você curte eles fazendo um som mais pesado, vale escutar o Rua 47 (com o Murilo Lima nos vocais), o Atras dos Olhos, o Saturno e o Vertigo (projeto do Dinho nos anos 90).
Outro dia o Fê Lemos em uma entrevista ao Minha Brasília(excelente canal aonde o entrevistador entrevista convidados dentro de uma volks brasília andando pelas ruas da cidade de Brasília) falou que o Capital Inicial atual se tornou apenas um projeto solo do Dinho, que tanto ele como o irmão não dão mais pito nenhum na banda. E que quem decide o direcionamento musical da banda é o Dinho. Nem seria preciso ele dizer isso, já que o Dinho possui mesmo mais inclinação ao pop. Se duvidar, até os dois trabalhos solos do Dinho são melhores que muita coisa que o Capital gravou depois do AcústiCUzinho da emotv.
Eu assisti isso aí. Inclusive, ele confessou que o Dinho foi expulso do Capital na década de 90…
Chega a ser um absurdo isso, os caras contam com o grande Yves Passarel na guitarra, um sujeito eclético que sabe tocar qualquer tipo de rock, e ao invés disso eles nunca tentaram realmente soar como uma banda de rock consistente, poderiam meter as caras como os Titãs na década de 90 fizeram e tentarem gravar um disco pesado e sem baladinhas. Yves é um talento desperdiçado!
O Thiago Castanho do Charlie Brown Jr. é realmente um grande músico, ele toca muito, mas muito mesmo! Fizeram bem de tê-lo integrado à banda.
Manda bem, sim, mas acho que ele não fica na banda. Acho que ele era um convidado para aquela turnê somente, assim como foi o Kiko Zambianchi na fase Acustico.. Ainda não vi nenhum show da nova turne para saber se ele ainda está com eles, mas suspeito que não…
O Capital Inicial é uma banda muito “nhé”. Nunca me empolgou. Uma que considero muito superior, mas que nunca teve o merecido respeito: Zero, do Guilherme Isnard.
Gosto mais do Capital, mas também curto o trabalho do Zero. É uma banda bacana, sim. Talvez escreve alguma coisa sobre eles mais pra frente.
Pior que o Fresno deu uma bela evoluída e tem entregue bons álbuns com uma sonoridade que nada tem a ver com a fase Rick Bonadio. Bastante influência de Muse, Queens of The Stone Age…. Virou uma banda interessante…
Olha isso… https://www.youtube.com/watch?v=zr6Dq7vN4Ck
Parabéns pela resenha. Gosto do Capital, mesmo com a amaciada pop dos últimos cds e o retrocesso da postura política em relação a mostrada nos primeiros álbuns. Na década de 80, Fellini foi uma das principais bandas e merece uma análise da consultoria