A Fase Prog do Journey
Por Daniel Benedetti
Don’t stop believin’
Hold on to that feelin’
Streetlights people
Claro, quando se fala em Journey comumente se pensa nos versos de “Don’t Stop Believin’”, clássico atemporal do grupo presente no álbum Escape, de 1981, e cantada magistralmente pelo vocalista Steve Perry. Mas, hoje, este texto pretende abordar outra fase da banda. Quando o conjunto ainda lutava por reconhecimento e, óbvio, retorno financeiro. A formação do Journey gira em torno dos nomes de Gregg Rolie e Neal Schon. Rolie havia sido o tecladista e vocalista, além de membro fundador, da banda Santana, conjunto liderado pelo guitarrista mexicano Carlos Santana. Com Carlos, Gregg gravou os álbuns Santana (1969), Abraxas (1970), Santana III (1971) e Caravanserai (1972). Nos 2 últimos discos com o Santana (Santana III e Caravanserai), Gregg teve a companhia do guitarrista Neal Schon, um verdadeiro prodígio, que adentrou o conjunto com apenas 15 anos sob a orientação de Carlos Santana.
Em 1972, Schon chegou a tomar parte na banda chamada Azteca, a qual seguia a pegada latina do Santana, antes de se reencontrar com Gregg Rolie, no ano seguinte. Rolie e Schon se reencontram com o intuito inicial de criarem uma banda de apoio para artistas estabelecidos na chamada Bay Area, na Califórnia, Estados Unidos. O baixista seria Ross Valory, o qual tocou no álbum Rock Love (1971) da The Steve Miller Band, além de ter tomado parte do Frumious Bandersnatch.
E justamente do Frumious Bandersnatch viria o outro guitarrista, George Tickner. Prairie Prince, que integrara o The Tubes, foi o primeiro baterista do conjunto. Inicialmente, o grupo se chamava ‘Golden Gate Rhythm Section’, mas logo os caras decidiram abandonar a ideia de ser banda de apoio. Após um mal sucedido concurso de rádio para escolha do nome do conjunto, o roadie John Villanueva sugeriu o nome Journey. A primeira aparição pública do Journey se deu no Winterland Ballroom, na véspera do Ano Novo de 1973. Prairie Prince voltou para o The Tubes, e, pouco depois, a banda contratou o baterista britânico Aynsley Dunbar, que havia recentemente trabalhado com John Lennon e Frank Zappa.
Em 5 de fevereiro de 1974, o novo line-up fez sua estreia no Great American Music Hall e garantiu um contrato com a gravadora Columbia Records. O Journey chegou a gravar um álbum ‘demo’, antes do lançamento de sua homônima estreia,Journey, com as mesmas músicas, embora em ordem diferente, e com Prairie Prince como baterista. Inclusive, havia faixas adicionais, incluindo algumas peças instrumentais, as quais não chegaram ao produto final, dentre elas a faixa título original do ‘álbum demo’, “Charge of the Light Brigade”.
Journey – 1975
Lançado pela Columbia Records em 1º de abril de 1975, com produção de Roy Halee, Journey é a estreia da banda de mesmo nome. O álbum foi gravado no CBS Studios, em San Francisco, na Califórnia, em novembro de 1974. “Of a Lifetime” intercala passagens mais calmas, as quais contam com vocais agressivos de Rolie, e outras mais pesadas – quase um Hard Rock – em que a guitarra de Neal Schon domina completamente em solos que abusam do feeling. “In the Morning Day” se inicia quase como uma balada, mas vai ganhando força com seu desenrolar, graças aos teclados (ao melhor ‘estilo’ Jon Lord) e guitarras. A instrumental “Kohoutek” fecha o lado A com um aspecto bem mais experimental e ‘anárquico’, com destaque para o trabalho do baterista Aynsley Dunbar. “To Play Some Music” é mais curta e direta, faixa criada com clara intenção de ser um single, e com os teclados de Rolie bastante dominantes. “Topaz” tem um aspecto de ‘Jam Session’ o qual é impossível de não se remeter ao álbum de estreia do Santana, sendo a preferida do disco. “In My Lonely Feeling/Conversations” finca um pé no Blues e outro no Jazz, com seu ar boêmio, estando conectados pelo belo trabalho da guitarra de Neal Schon. “Mystery Mountain” encerra o disco em um Prog Rock que flerta deliberadamente com o Hard.
Journey (1975) não repercutiu em termos de paradas de sucesso e esteve profundamente distante de ser um sucesso comercial. Seu principal single, “To Play Some Music”, não esteve sequer próximo de conseguir alavancar o álbum. No entanto, ficam claras as referências musicais do grupo. Obviamente, o Santana é a mais notória delas, mas bandas como Kansas e Styx também são passíveis de apontamento como influências deste trabalho.
Journey atingiu a mais que irrisória 138ª colocação na principal parada norte-americana de discos.
Faixas:
- Of a Lifetime
- In the Morning Day
- Kohoutek (Instrumental)
- To Play Some Music
- Topaz (Instrumental)
- In My Lonely Feeling/Conversations
- Mystery Mountain
Formação:
Gregg Rolie – Vocal, Teclado
Neal Schon – Guitarra Solo
George Tickner – Guitarra Base
Ross Valory – Baixo
Aynsley Dunbar – Bateria
George Tickner deixa o grupo antes do lançamento de seu segundo álbum, Look into the Future, mesmo tendo ajudado a compor 2 canções, “You’re on Your Own” e “I’m Gonna Leave You”. O grupo decide não substituí-lo, permanecendo como um quarteto.
Look into the Future – 1976
O segundo disco de estúdio do Journey foi lançado em 1º de janeiro de 1976, também pela Columbia Records e com produção de Glen Kolotkin e do próprio Journey. As gravações ocorreram novamente no CBS Studios, entre agosto e outubro de 1975. “On a Saturday Nite” traz a guitarra de Schon e os teclados de Rolie bem proeminentes, em uma abordagem Rock bem convencional. A versão para “It’s All Too Much”, de George Harrison e presente no álbum Yellow Submarine, dos Beatles, tem personalidade e conta com a guitarra de Schon muito pesada e vocais agressivos de Rolie. “Anyway” é bastante pesada, com um contundente trabalho do baterista Dunbar e do guitarrista Schon. “She Makes Me (Feel Alright)” é direta e flerta com o Hard Rock, e a pesada guitarra de Schon lembra o Deep Purple. “You’re on Your Own” encerra o lado A com uma sonoridade experimental, jazzy, mas profundamente interessante. O lado B é aberto com a faixa-título, “Look into the Future”, e seus mais de 8 minutos. Trata-se de uma composição maiúscula, com essência Progressiva e influência Hard, e na qual Neal Schon está verdadeiramente endiabrado, com solos irretocáveis, embora Dunbar e Rolie também brilhem. “Midnight Dreamer” continua com a influência progressiva, investindo na alternância de dinâmicas, apostando no criativo teclado de Rolie e em um pulsante baixo de Ross Valory. Encerra o álbum outra longa canção, “I’m Gonna Leave You”, um Prog-Hard-Rock de primeira linha!
“On a Saturday Night” e “She Makes Me (Feel Alright)” foram os singles da vez, mas, ambas, falharam em trazer qualquer repercussão para o disco. Mas Look into the Future acabou melhor em termos de paradas de sucesso, com a 100ª posição na Billboard.
No entanto, Look into the Future é um álbum injustiçado. Muito melhor resolvido que seu antecessor, o álbum traz influências Hard e Progressivas consideráveis, além de músicas melhores trabalhadas e arranjadas, merecendo mais (re)conhecimento e divulgação.
Faixas:
- On a Saturday Nite
- It’s All Too Much
- Anyway
- She Makes Me (Feel Alright)
- You’re on Your Own
- Look into the Future
- Midnight Dreamer
- I’m Gonna Leave You
Formação:
Gregg Rolie – Vocal, Teclados
Neal Schon – Guitarras
Ross Valory – Baixo
Aynsley Dunbar – Bateria
Como nenhum dos dois primeiros álbuns atingiram vendas significativas, em busca de melhorias para o som do grupo (entenda-se aumento de vendagens), Schon, Valory e Dunbar começaram a fazer aulas de canto em uma tentativa de adicionarem harmonias vocais à voz principal de Gregg Rolie. Além disso, o próximo disco contaria com 2 faixas em que Neal Schon providenciaria os vocais. O grupo também apostaria em canções mais curtas e diretas, intensificando novas abordagens musicais.
Next – 1977
A Columbia Records, em fevereiro de 1977, lançaria o terceiro disco de estúdio do Journey, Next. As gravações ocorreram entre maio e outubro de 1976, nos estúdios His Master’s Wheels, em San Francisco, no estado norte-americano da Califórnia. O próprio Journey ficaria encarregado da produção. “Spaceman” apresenta uma sonoridade bastante suave em uma abordagem consideravelmente mais Pop, embora a guitarra de Schon continue afiada. “People” se mostra com um andamento mais arrastado, conduzido por uma melodia suave e harmonias vocais sutis. “I Would Find You” possui vocais de Neal Schon e se apresenta bastante experimental, sendo construída com uma mescla de Porg e Hard. “Here We Are” é outra canção de andamento mais arrastado e considerável inclinação Pop. O labdo B se inicia com “Hustler”, a menor faixa de Next, e praticamente um Hard Rock ‘a la’ Led Zeppelin. Já em “Next”, o Journey alterna passagens bem pesadas, nas quais a guitarra de Schon está muito presente, com outras suaves, lideradas pelos teclados de Rolie. “Nickel and Dime” ainda guarda boa influência Progressiva, com os músicos investindo em algumas passagens mais técnicas e alternando movimentos. Por fim, “Karma” encerra o álbum com vocais de Schon, alguma dose considerável de peso e uma boa pegada Hard Blues Rock.
“Spaceman” foi escolhida como single e, mais uma vez, nada de repercutir nas paradas de sucesso. Next ficou com, apenas, o 85º lugar na principal parada norte-americana de álbuns, a Billboard 200.
Next investe em uma sonoridade mais acessível e amistosa, embora ainda guarde resquícios dos 2 álbuns iniciais do grupo.
Faixas:
- Spaceman
- People
- I Would Find You
- Here We Are
- Hustler
- Next
- Nickel and Dime (Instrumental)
- Karma
Formação:
Gregg Rolie – Teclados, Vocal
Neal Schon – Guitarras, Vocal em “I Would Find You” e “Karma”
Ross Valory – Baixo
Aynsley Dunbar – Bateria, Percussão
A vendagem de álbuns do Journey não melhora e a Columbia Records resolve que o grupo deveria mudar seu estilo musical, além de recomendar a adição de um frontman, com quem o tecladista Gregg Rolie poderia compartilhar os vocais principais. O Journey acabou por contratar o vocalista Robert Fleischman e fez uma transição para um estilo mais popular, inspirando-se nos grandes sucessos de bandas como Foreigner e Boston faziam naqueles tempos.
O Journey saiu em turnê com Fleischman como vocalista em 1977 e, juntos, a nova encarnação da banda escreveu o sucesso “Wheel in the Sky”, mas, no entanto, as diferenças na gestão dos negócios do grupo resultaram na saída de Fleischman, o qual permaneceu por apenas um ano com o grupo.
A saída de Fleischman se revelaria o momento crucial para a vida do Journey. No final de 1977, o grupo contratou Steve Perry como seu novo vocalista, o que se resultou como o fator decisivo para os novos caminhos do conjunto. Perry acrescentou um som limpo e potente vocal à banda, tornando-a um verdadeiro ato popular, como ficaria provado no seu futuro quarto álbum, Infinity, de 1978.
Texto muito bom.
Muito obrigado plea generosidade, Renato!
Esse Journey com o Gregg é legalzinho mas não tem jeito: com Steve Perry, a banda simplesmente me arrebatou. Desses ouvi mais o Next e pouquíssimo dos dois primeiros.
Eu também curto muito o Journey com o Perry. Esta fase inicial parece até outra banda mesmo. Obrigado pelo comentário!
Gosto muito dessa fase da banda e não tenho paciência pro restante (açúcarado demais pra minha dieta). O Neil Schon, minha nossa, como toca! o cara é da pesada! e essas 4 eram sensacionais, Dunbar e Rollie animalescos em suas posições também. Discordo do comentário sobre a música “People”, que tem um groove bacana e uma certa velocidade, não diria se tratar de uma música arrastada.
Abraços,
Valeu, Ronaldo. Críticas construtivas são sempre bem-vindas para que possa aprimorar. Abraço!
Ronaldo, mais doce que isso, só Ambrosia …
Por coincidência adquiri recentemente o primeiro do Journey e ouvi há poucos dias. Muito bom!!!
A melhor canção gravada pelo Journey, na minha opinião, atende pelo nome de “Who’s Crying Now” (do disco Escape, 1981), superando fácil a famigerada “Don’t Stop Believing”.
Dos 3 primeiros álbuns do Journey achei o Look Into The Future o melhor,mesmo assim, não é uma maravilha.
Só descobri o site agora. Bem sou um apaixonado por música e a Banda Journey é uma da minha primeiras seleção de cabeceira. Todos os discos são excelentes em suas fase e épocas, claro que a fase do Steve Perry e depois da entrada do Jonathan Cain só fez com que a banda tenha vivido seus melhores momentos. E pela evolução continua, outros vocalistas entregaram seus melhores, hoje houve uma pequena equiparação,não perfeita, mas o sonho não acabou. Espero que o projeto com os ex-integrantes de certo!
Seja bem-vindo à Consultoria, Josafá.
Acredito que a trilha sonora Dream ,After Dream de 1980 já com Steve Perry se encaixa também no som progressivo , um som bem legal, merecia estar nessa lista.