Sangue Novo: Heavy Feather
Por Ronaldo Rodrigues
Os entusiastas do rock clássico tem um novo nome para se ocupar. Se o Greta Van Fleet foi capaz de ser assunto nas rodinhas roqueiras, o grupo sueco Heavy Feather tem pleno potencial para gerar o mesmo burburinho. Sim, vindos da iluminada Suécia, o grupo mantém acessa a tradição sueca das duas últimas décadas de ser um dos principais celeiro de grupos de orientação vintage: Lotus, Black Bonzo, Siena Root, Graveyard, Blues Pills, Hallas…são muitos e de indiscutível qualidade. Além das qualidades como instrumentistas e vocalistas, os suecos são especialistas na recriação da sonoridade setentista, o que traz um charme especial para a apreciação da música.
Esses predicados todos estão presentes na sonoridade dessa banda da nova safra. Formada em Estocolmo e contando com o guitarrista Mate Gustavsson, também membro do Siena Root, com a vocalista Lisa Lystam, o baixista Morgan Korsmoe e o baterista Ola Göransson, a banda cita em sua suscinta descrição as influências de Free, Cream e Lynnyrd Skynyrd. Mas ao ouvir sua estreia, recém-lançada pelo selo sueco Sign Records no último dia 5 de abril, é possível encontrar um mergulho profundo em muitas referências do rock norte-americano e de suas respectivas releituras britânicas dos anos 1960 e 1970.
Débris & Rubbles é o nome do primeiro disco do Heavy Feather. A abertura é trazida por um groove contagiante e um riff blueseiro de guitarra, com a malícia da gaita e das vocalização de Lisa Lystam e seus parceiros, um excelente começo. Em seguida, com a faixa “Where Did you Go” (veja o clipe aqui), as virtudes da voz de Lisa Lystam são postas na mesa – um vocal potente e equilibrado, com uma interpretação absolutamente convincente, sem maneirismos desnecessários; a faixa em si é um rock cativante (assim como o são todas as faixas do álbum), cheio de groove e instrumentação refinada, destacando-se os excelentes solos de guitarra e a levada de bateria enriquecida pelo cowbell. Já “Waited All My Life” soa como algo que pode ser perfeitamente apreciado fora dos domínios do rock – uma faixada swingada, pegajosa e cheia de influências de blues, que poderia ser confundida com algum excelente momento da carreira de Sheryl Crowl.
As influências do Free como citadas pela banda ficam claras em faixas como “Dreams”, uma das melhores do disco, que alterna com maestria momentos mais distorcidos, com outros embebidos na soul-music. A performance de Lisa transita sutilmente de um vocal rascante para a cândura de algo na linha de Dust Springfield ou dos momentos mais calmos de Maggie Bell. Novamente a seção de solos faz os altos falantes soltarem faíscas com a interação do baixo de Morgan Korsmoe com a bateria de Ola Göransson. “Tell me Your Tale” e “Whispering Things” são as baladas do disco, e são faixas simplesmente emocionantes. “Hey There Mama” traz a tona outro rock empolgante, que se sintoniza bem com Black Crowes (outra banda que, assim como o Heavy Feather, era um caldeirão de influências do rock anglo-americano) seguida de “Please Don’t Leave Me”, que começa blueseira e depois vai se dissolvendo em uma linda sequência de acordes, com solos psicodélicos e suaves improvisos vocais.
A sonoridade do álbum é 100% orgânica e faz jus aos trabalhos mais bem gravados da década de 1970. A simplicidade dos riffs sob os quais algumas canções se assentam são surpreendentes. O Heavy Feather é um tipo de banda que não tem medo de soar simples, buscando nesta simplicidade o sumo da eficácia de uma comunicação efetiva com seu público. Ter bandas do quilate do Heavy Feather em ação é sinal claro do quanto um estilo de mais de cinco décadas pode continuar existindo com frescor e resgatar novamente a atenção de uma fatia maior do público consumidor de música. Débris & Rubbles conquistou o coração deste que vos escreve e tem potencial para fazer o mesmo com você, leitor, caso o dê uma chance.